15 de out. de 2014

Que é a verdade?




Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”. Disse-lhe Pilatos: “Que é a verdade?” (João, 18:37).

Decorridos dois mil anos, essa inquirição de Pilatos a Jesus ainda ressoa em nossa consciência.

Que é a verdade? E Ele se calou, talvez porque o legítimo Prefeito da província romana da Judéia não contasse com acervo psíquico-moral para aceitar e compreender as verdades emudecedoras que pudessem brotar dos lábios dúlcidos do Mensageiro Divino.

A verdade de Jesus, naquele tempo, não cabia em nossas almas, e ainda hoje não há espaço para ela. Espíritos de terceira ordem na escala espírita – conforme nos ensina o codificador da Doutrina Espírita Allan Kardec – somos incapazes de aceitar a mensagem de Jesus, e vivê-la em sua plenitude e simplicidade. Talvez pelo fato de ser tão simples, não conseguimos nos ajustar emocionalmente ao seu intrincado valor moral.

Somos criaturas viventes no século 21, atreladas ao falso intelectualismo, que nos afasta sobremaneira do pensamento Crístico do primeiro século.

Jesus personifica a justiça, e nós amamos a injustiça porque andamos pari e passu com seus benefícios efêmeros.

Jesus expressa o amor absoluto, e somos símbolos, estereótipos e nos desenvolvemos arquétipos das paixões atrofiantes.

Jesus inspira liberdade, e estamos nos atrelando aos velhos conceitos de dominação e subjugação pela matéria e através da mente.

A verdade de Jesus ainda está presa aos lábios dele: ouça quem tiver ouvidos de ouvir.

Que é a verdade? E Jesus mais uma vez contou com os emissários a fim de não violentar nossa mente, um tanto quanto infantil. Aos surdos é preciso gradativamente acostumar-se com o som.

Quando da vinda do Mestre ao Orbe terrestre, contou com João, o Batista, para aplainar o caminho. Não o Seu Caminho , mas o caminho ascensional daqueles que queriam seguir a verdade.

E, mesmo assim, a verdade permanece abafada, conspurcada, camuflada e, por fim, distanciada do pensamento Crístico.

Que é a verdade? Clama a multidão oprimida e massacrada pela descrença e cientificismo do século 19.

As vozes do céu empreendem novos esforços, novas luzes, novos caminhos. Jesus, na sua soberania de Governador Espiritual da Terra, destaca para o trabalho árido e renovador o pedagogo Hippolyte Léon Denizard Rivail, oferecendo a todos que desejarem a mensagem imortalista e consoladora, capaz de libertar as consciências, com as verdades universais.

O codificador Allan Kardec, pseudônimo por ele adotado visando não vincular a Doutrina dos Espíritos nascente a nenhuma personalidade, se vê em momentos angustiantes diante dos caminhos a trilhar. Por onde começar? Pelas conclusões científicas tão discutidas pelos homens da época ou pelas indagações filosóficas tão em evidência no meio cultural? Pensaria ele: seria justo desligar a doutrina dos espíritos do caráter religioso e consolador? Não.

A Doutrina Espírita, renovadora por sua natureza, corporifica-se e estampada na primeira questão de O Livro dos Espíritos a célebre interrogação: Que é Deus?

Desta forma, deixa o legado de um patrimônio universal sobre a verdade, obrigando-nos a todos – cientistas, filósofos, religiosos – a responder tal inquirição, não fugindo à verdade, nunca dantes tão clara e profunda.

Que é a verdade? E o Espirito de Verdade responde: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, em usar de violência ou precipitação, sem se arvorar em juiz ou defensor, sem constranger ou afastar as criaturas de Deus. A Verdade é! Simplesmente é...


Jane Maiolo 

14 de out. de 2014

Atentado à dignidade


Quando você comete um equívoco qualquer, o que espera dos outros, com relação ao seu ato infeliz?

Salvo os casos patológicos, as pessoas esperam que os outros tolerem e desculpem seus erros, ou, então, que as ensinem a fazer o certo, não é verdade?

Todavia, mesmo com esse entendimento, não é assim que agimos com relação aos equívocos das outras pessoas.

Um exemplo disso é o infeliz sistema de recuperação de presidiários, vigente em nosso país e em outras nações da Terra.

É um sistema que atenta contra a dignidade humana e dificulta a recuperação do delinquente, tornando-o ainda mais rebelde e mais criminoso.

Abandonado pela sociedade, o presidiário busca apoio naqueles que lhe inspiram ódio contra esta, que lhe parece injusta, acumulando sentimentos de agressividade e ressentimento para descarregar, mais tarde, naqueles que considera responsáveis pelo seu encarceramento.

Ao invés de entender a prisão como uma forma de reparação do mal praticado, nela vê somente um instrumento de punição e de crueldade, que mais o degrada e enlouquece.

Não raro, indivíduos que cometem pequenos delitos são obrigados à convivência com pessoas inescrupulosas, em pequenas celas, onde aprendem, com requinte de detalhes, a criminalidade.

Nesses casos, em vez de se resolver o problema, se cria um ainda maior, aumentando o número e o grau da delinquência.

Já é tempo de se pensar em resolver problemas e não agravá-los com métodos remanescentes dos tempos medievais, de torturas e degradações contra o ser humano.

De um modo geral, isso se dá por causa do conceito que se faz do mal, sob seus vários aspectos, confundindo-se o mal, propriamente dito, com aquele que o pratica.

Talvez seja por isso que não temos sido eficientes nesse combate.

Para agir corretamente em prol do saneamento moral, é preciso não confundir o crime com o criminoso, o vício com o viciado, a rebeldia com o rebelde, do mesmo modo que não confundimos o doente com a doença.

Do mesmo modo que se combatem as enfermidades e não os enfermos, assim também se deve combater o crime, o vício, a rebeldia, e não o criminoso, o viciado, o rebelde.

O mal não é intrínseco no indivíduo, não faz parte da natureza íntima do Espírito, mas é uma anomalia, como são as outras enfermidades.

O bem, tal como a saúde, é o estado natural inerente ao ser. Um corpo doente constitui um caso de desequilíbrio, precisamente como um Espírito transviado, rebelde, viciado ou criminoso.

Portanto, os distúrbios psíquicos devem ser tratados com o mesmo cuidado que se tratam as doenças do corpo.

Assim como não resolvemos o problema das doenças batendo no enfermo e punindo-o, também não devemos combater os problemas morais espancando e punindo o delinquente.

Pode-se e deve-se envidar esforços para que o criminoso se restabeleça e se integre nasociedade como um cidadão sadio, cumprindo as penas estabelecidas pelas leis, com dignidade e confiança, e não como um ser imprestável, pois ele também é filho de Deus.

Agindo assim daremos o devido valor às palavras do Cristo quando recomenda que amemos os nossos inimigos e façamos o bem aos que nos fazem mal, porque Ele não proclamou somente um preceito de alta humanidade, proferiu uma sentença profundamente pedagógica e sábia.

A benevolência, contrastando com a agressão, é o único processo educativo capaz de corrigir e regenerar o equivocado.

Num tempo, não muito distante, os processos arbitrários e injustos cederão lugar a mecanismos de educação e de reeducação, assim como de crescimento moral, através dos quais aqueles que delinquirem encontrarão misericórdia e amor, conduzindo-os ao equilíbrio e à paz.

13 de out. de 2014

A MEDIUNIDADE NA ÉPOCA DE JESUS!



A mediunidade é uma faculdade humana que consiste na sintonia espiritual entre dois seres. Normalmente, a usamos para designar a influência de um Espírito desencarnado sobre um encarnado, entretanto, julgamos que, acima de tudo, por se tratar de uma aquisição do Espírito imortal, pouco importa a situação em que se encontram esses dois seres, para que se processe a ligação espiritual entre eles.
É comum que ataques ao Espiritismo ocorram por conta desse “dom”, como se ele viesse a acontecer exclusivamente em nosso meio. Ledo engano, pois, conforme já o dissemos, é uma faculdade humana, e assim sendo, todos a possuem, variando apenas quanto ao seu grau.
Os detratores querem, por todos os meios, fazer com que as pessoas acreditem que isso é coisa nova, mas podemos provar que a mediunidade não é coisa nova e que até mesmo Jesus dela pode nos dar notícias. É o que veremos a seguir.

A mediunidade e Jesus

Quando Jesus recomenda a seus doze discípulos a divulgação de que o “reino do Céu está próximo” fica evidenciado, aos que estudaram ou vivenciam esse fenômeno, que o Mestre estava falando mesmo era da faculdade mediúnica. Entretanto, por conta dos tradutores ou dos teólogos, essa realidade ficou comprometida no texto bíblico. Entretanto, como é impossível “tapar o sol com uma peneira”, podemos perfeitamente identificá-la, apesar de todo o esforço para escondê-la.
O evangelista Mateus narra o seguinte:
“Eis que eu envio vocês como ovelhas no meio de lobos. Portanto, sejam prudentes como as serpentes e simples como as pombas. Tenham cuidado com os homens, porque eles entregarão vocês aos tribunais e açoitarão vocês nas sinagogas deles. Vocês vão ser levados diante de governadores e reis, por minha causa, a fim de serem testemunhas para eles e para as nações. Quando entregarem vocês, não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês o que vocês devem dizer. Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. (10,16-20).
A primeira observação que faremos é que por ter tentado a Eva, dizem que a serpente seria o próprio satanás, entretanto, isso fica estranho, porquanto o próprio Jesus nos recomenda sermos prudentes como as serpentes. Esse fato demonstra que tal associação é apenas fruto do dogmatismo que só produz o fanatismo religioso.
Essa fala de Jesus é inequívoca quanto ao fenômeno mediúnico: “não fiquem preocupados como ou com aquilo que vocês vão falar, porque, nessa hora, será sugerido a vocês”, e arremata: “Com efeito, não serão vocês que irão falar, e sim o Espírito do Pai de vocês é quem falará através de vocês”. A tentativa de esconder o fenômeno fica por conta da expressão “o Espírito do Pai”, quando a realidade é “um Espírito do Pai” a mudança do artigo indefinido para o artigo definido tem como objetivo principal desvirtuar a fenomenologia em primeiro plano e em segundo, mais um ajuste de texto bíblico para apoiar a trindade divina copiada dos povos pagãos.
O filósofo e teólogo Carlos Torres Pastorino abordando a questão da mudança do artigo, diz:
“...Novamente sem artigo. Repisamos: a língua grega não possuía artigos indefinidos. Quando a palavra era determinada, empregava-se o artigo definido ‘ho, he, to’. Quando era indeterminada (caso em que nós empregamos o artigo indefinido), o grego deixava a palavra sem artigo. Então quando não aparece em grego o artigo, temos que colocar, em português, o artigo indefinido: UM espírito santo, e nunca traduzir com o definido: O espírito santo”. (Sabedoria do Evangelho, volume 1, pág 43).
Se sustentarmos a expressão “o Espírito do Pai” teremos forçosamente que admitir que o próprio Deus venha a se manifestar num ser humano. Pensamento absurdo como esse só pode ser pela falta de compreensão da grandeza de Deus. Dizem os cientistas que no cosmo há 100 bilhões de galáxias, cada uma delas com cerca de 100 bilhões de estrelas, fazendo do Universo uma coisa fora do alcance de nossa limitada imaginação, mas, mesmo que a custa de um grande esforço, vamos imaginar tamanha grandeza. Bom, façamos agora a pergunta: o que criou tudo isso? Diante disso, admitir que esse ser possa estar pessoalmente inspirando uma pessoa é fora de proposto, coisa aceitável a de povos primitivos, cujos conhecimentos não lhes permitem ir mais longe, por restrição imposta pelo seu hábitat.

A mediunidade no apostolado

Um fato, que reputamos como de inquestionável ocorrência da mediunidade, aconteceu logo depois da morte de Jesus, quando os discípulos reunidos receberam “como que línguas de fogo” e começaram a falar em línguas, de tal sorte que, apesar da heterogeneidade do povo que os ouvia, cada um entendia o que falavam em sua própria língua. Fato extraordinário registrado no livro Atos dos Apóstolos, desta forma:
“Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles estavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como o sopro de um forte vendaval, e encheu a casa onde eles se encontravam. Apareceram então umas como línguas de fogo, que se espalharam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Acontece que em Jerusalém moravam judeus devotos de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho, todos se reuniram e ficaram confusos, pois cada um ouvia, na sua própria língua, os discípulos falarem”. (Atos 2, 1-6).
Aqui podemos identificar o fenômeno mediúnico conhecido como xenoglossia, que na definição do Aurélio é: A fala espontânea em língua(s) que não fora(m) previamente aprendida(s). Mas, como da vez anterior, tentam mudar o sentido, para isso alteram o artigo indefinido para o definido, quando a realidade seria exatamente que estavam “repletos de um Espírito santo (bom)”.
Fato semelhante aconteceu, um pouco mais tarde, nomeado como o Pentecostes dos pagãos:
“Pedro ainda estava falando, quando o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a Palavra. Os fiéis de origem judaica, que tinham ido com Pedro, ficaram admirados de que o dom do Espírito Santo também fosse derramado sobre os pagãos. De fato, eles os ouviam falar em línguas estranhas e louvar a grandeza de Deus...” (At 10, 44-46).
Episódio que confirma que “Deus não faz acepção de pessoas” (At 10,34), daí podermos estender à mediunidade como uma faculdade exclusiva a um determinado grupo religioso, mas existindo em todos segmentos em suas expressões de religiosidade.

A mediunidade como era “transmitida”
 
A bem da verdade não há como ninguém transmitir a mediunidade para outra pessoa, entretanto, pelos relatos bíblicos, a imposição das mãos fazia com que houvesse sua eclosão, óbvio que naqueles que a possuíam em estado latente. Vejamos algumas situações em que isso ocorreu.
Em Atos 8, 17-18:
“Então Pedro e João impuseram as mãos sobre os samaritanos, e eles receberam o Espírito Santo. Simão viu que o Espírito Santo era comunicado através da imposição das mãos. Deem para mim também esse poder, a fim de que receba o Espírito todo aquele sobre o qual eu impuser as mãos”.
Simão era um mago que, com suas artes mágicas, deixava o povo da região de Samaria maravilhado. Mas, ao ver o “poder” de Pedro e João, ficou impressionado com o que fizeram, daí lhes oferece dinheiro a fim de que dessem a ele esse poder, para que sobre todos os que ele impusesse as mãos, também recebessem o Espírito Santo.
Em Atos 19, 1-7:
“Enquanto Apolo estava em Corinto, Paulo atravessou as regiões mais altas e chegou a Éfeso. Encontrou aí alguns discípulos, e perguntou-lhes: ‘Quando vocês abraçaram a fé receberam o Espírito Santo?’ Eles responderam: ‘Nós nem sequer ouvimos falar que existe um Espírito Santo’. Paulo perguntou: ‘Que batismo vocês receberam?’ Eles responderam: ‘O batismo de João’. Então Paulo explicou: ‘João batizava como sinal de arrependimento e pedia que o povo acreditasse naquele que devia vir depois dele, isto é, em Jesus’. Ao ouvir isso, eles se fizeram batizar em nome do Senhor Jesus. Logo que Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e começaram a falar em línguas e a profetizar. Eram, ao todo, doze homens”.
Será que podemos entender que o batismo de Jesus é “receber o Espírito Santo”, conseguido pela imposição das mãos? A narrativa nos leva a aceitar essa hipótese, apenas mantemos a ressalva feita anteriormente quanto à expressão “o Espírito Santo”.

A mediunidade como os dons do Espírito

Na estrada de Damasco, Paulo, que até então perseguia os cristãos, numa ocorrência transcendente, se encontra com Jesus, passando, a partir daí, a segui-lo. Durante o seu apostolado se comunicava diretamente com o Espírito de Jesus, demonstrando sua incontestável mediunidade.
Aliás, o apóstolo Paulo foi quem mais entendeu do fenômeno mediúnico, tanto que existem recomendações preciosas de sua parte aos agrupamentos cristãos de então. Ele o chamava de “dons do Espírito”. “Sobre os dons do Espírito, irmãos, não quero que vocês fiquem na ignorância” (1Cor 12,1), mostrando-se interessado em que todos pudessem conhecer tais fenômenos.
E esclarece o apóstolo dos gentios:
“Existem dons diferentes, mas o Espírito é o mesmo; diferentes serviços, mas o Senhor é o mesmo; diferentes modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. Cada um recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um, o Espírito dá a palavra de sabedoria; a outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé; a outro ainda, o único e mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de falar em línguas; a outro ainda, o dom de as interpretar. Mas é o único e mesmo Espírito quem realiza tudo isso, distribuindo os seus dons a cada um, conforme ele quer”. (1 Cor 12,4-11).
Novamente, mudando-se “o Espírito” para “um Espírito”, estaremos diante da faculdade mediúnica, basta “ter olhos de ver”.
Ao que parece, naquela época, os médiuns se preocupavam mais com a xenoglossia Paulo para desfazer esse engano novamente faz outras recomendações aos coríntios (1Cor 14,1-25). Disse ele:
“...aspirem aos dons do Espírito, principalmente à profecia. Pois aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas a Deus. Ninguém o entende, pois ele, em espírito, diz coisas incompreensíveis. Mas aquele que profetiza fala aos homens: edifica, exorta, consola. Aquele que fala em línguas edifica a si mesmo, ao passo que aquele que profetiza edifica a assembleia. Eu desejo que vocês todos falem em línguas, mas prefiro que profetizem. Aquele que profetiza é maior do que aquele que fala em línguas, a menos que este mesmo as interprete, para que a assembleia seja edificada...”.

Conclusão

Como apregoa a Doutrina Espírita o fenômeno mediúnico nada mais é que uma ocorrência de ordem natural. Podemos identificá-lo desde os mais remotos tempos da humanidade, e não poderia ser diferente, pois, em se tratando de uma manifestação de uma faculdade humana, deverá ser mesmo tão velha quanto a permanência do homem aqui na Terra.
Mas, infelizmente, a intolerância religiosa, a ignorância e, por vezes, a má vontade, não permitiu que fosse divulgada da forma correta, ficando mais por conta de uma ocorrência sobrenatural, que só acontecia a uns poucos privilegiados. Coube ao Espiritismo a desmistificação desse fenômeno, bem como a sua explicação racional. Kardec nos deixou um legado importantíssimo para todos que possam se interessar pelo assunto, quando lança O Livro dos Médiuns, que recomendamos aos que buscam o conhecimento dessa fenomenologia, ainda muito incompreendida em nossos dias.

12 de out. de 2014

A RELAÇÃO DOS ESPÍRITAS COM MARIA DE NAZARÉ!


Você acha que pelo fato do catolicismo fazer aquela reverência exagerada a Maria, na prática da Mariolatria, citando-a mais do que ao próprio Jesus, represente motivos para pessoas de outras crenças e filosofias, não católicas, obviamente, fazerem restrições a esse espírito que Deus confiou a missão de ser a mãe de Jesus quando encarnado?

Nos segmentos protestantes é muito comum a gente ver aquela reação terrível. Qualquer personalidade do velho testamento é mais importante do que Maria, qualquer personalidade do Evangelho, dos atos dos apóstolos e das epístolas é mais importante que Maria. Pouco se ouve, em uma igreja protestante, a escolha de um trecho do Evangelho, (já que os pastores escolhem a bel prazer o trecho da Bíblia que deve ser o assunto do culto), que tenha alguma citação de Maria.

Inclusive eu tive a infeliz oportunidade de ouvir, certa vez, em Belém do Pará, um pastor maluco, que fazia um programa numa emissora de rádio daquela cidade, conclamar o seu povo a sair à rua para quebrar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, no segundo domingo de outubro, quando se pratica a maior romaria católica do Brasil, que é o Círio de Nazaré, que sempre coloca mais de um milhão de pessoas na rua, numa movimentação religiosa gigantesca.

O fato não se consumou por causa de uma eficiente ação da polícia que agiu, com muita cautela e prudência, no local onde os que “aceitaram Jesus” estavam se reunindo. Se a coisa fosse levada em frente, certamente seria uma tragédia, por irresponsabilidade de um religioso insensato.

E no movimento espírita, como é a relação dos espíritas com Maria?

Em princípio vamos relembrar Chico Xavier, um nome extraordinário que Deus nos privilegiou em fazê-lo encarnar em nosso País e que serviu para todos nós como um exemplo de amor. Chico sempre se dirigiu a Maria com muito respeito, carinho, afeto e devoção. Nunca deixou de ser espírita por causa disso, muito menos de ser médium. Nunca deixou de ser fiel a Kardec, mesmo porque o seu espírito orientador, o Emmanuel, que fora padre em encarnação passada, fez questão de orientá-lo nos primeiros momentos da relação de ambos, quando lhe deu conhecimento da obra que seria passada ao mundo pela sua mediunidade: “Se eu lhe passar algum conceito que lhe deixe alguma dúvida, fique com Kardec”.

Só que no movimento espírita você não encontra, ou encontra muito raramente, esse respeito e consideração a Maria, como Chico teve e como ela merece.

Não estou falando em idolatria nem reverências exageradas, como fazem os católicos, estou falando em respeito e tratamento a um espírito que há dois mil anos esteve aqui, ainda mais na condição de mãe do próprio Jesus, posição que não é pra qualquer um.

Talvez alguns queiram argumentar que ela não valorizou o seu filho o quanto deveria ter valorizado e que, inclusive, ele não dera bola para ela e seus irmãos, naquele momento do Evangelho em que foram chamá-lo, para atendê-los, quando ele respondeu com o: “Quem é minha mãe? Quem são meus irmãos?”, citação que todo espírita conhece.

E daí? Ela teria que ser a perfeição absoluta? E você, que busca este argumento, por acaso valoriza os seus entes mais próximos o quanto deveriam ser valorizados? Ama-os o quanto deveria amá-los? Não esqueça do ditado popular que todos nós praticamos, em relação aos nossos entes: “santo de casa não faz milagres”, relembrando que quem não os deixa brilhar somos nós mesmos. Como é que poderíamos querer exigir esta perfeição dos outros?

Registramos casos de expositores serem criticados e até afastados de palestras de centros espíritas, pelo fato de terem citado Maria, com o valor que ela merece.

Pessoas são chamadas atenção, em vários centros espíritas, porque proferem preces citando Maria.

Há cobranças a determinados espíritas, pelo fato de terem em suas casas algum quadro na parede com um retrato de Maria ou, principalmente, alguma imagem de uma das inúmeras representações dela.

Acham sempre que essas pessoas não são espíritas ou que estejam enxertando o catolicismo no Espiritismo.


Eu já vi um espírita receber a determinação da diretoria do centro, onde trabalhava, para que retirasse um adesivo da imagem de Nossa Senhora Aparecida do vidro do seu carro.

Por que essas coisas acontecem? Que segurança doutrinária é essa, das pessoas que agem com tanta intolerância?

É claro que um espírita consciente jamais rezará uma “... Santa Maria, mãe de Deus...”, porque ela de fato nunca foi mãe de Deus e sim de Jesus. Claro, não podemos nos curvar aos equívocos católicos, em que pese encontrarmos, por incrível que pareça, espíritas orando, em alguns centros (poucos, é claro, mas existem) até mesmo o “Credo”, dizendo“creio na “santa” igreja católica, na comunhão dos anjos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na vida eterna, amém.”

É um absurdo e é coisa de gente que ainda não entendeu o que é o Espiritismo.

Mas daí a tratar o Espírito Maria sem o devido valor, é lamentável.

Temos carinho especial por Paulo de Tarso, muito citado por nós espíritas, que sem dúvida tem o seu valor, por tudo que fez pela difusão do Evangelho. Todavia não podemos desconsiderar que no tempo de Jesus ele ainda era um homem que matava e mandava matar, como fez com Estevão. Maria já era a mãe de Jesus.

Amamos intensamente o nosso querido Emmanuel que, na época de Jesus foi o Senador romano Públio Lentulos.

Temos carinhos especiais por espíritos que hoje são, de fato, trabalhadores e benfeitores na causa espírita, mas que bem depois de Jesus promoveram atos não muito recomendáveis, quando Maria, há séculos e séculos atrás, já era um espírito de amor.

Será que não dá pra nós espíritas analisarmos com mais carinho a realidade desse espírito?

Não precisa enaltecê-la com aquela conversa de virgindade não, que aquilo ali é uma das maiores bobagens que a igreja já inventou, mesmo porque a presença ou ausência de hímen não tem absolutamente nada a ver com a dignidade ou qualquer influência moral na mulher.

Tratemos a mãe de Jesus pelo menos com o carinho que temos para com a Meimei, a Sheila, a Joanna de Ângelis, Amália Domingos Soler, Maria Angélica e tantos outros espíritos que animaram corpos femininos, com tanto amor e tanta dignidade. 

Maria não é patrimônio da igreja católica nem tem qualquer responsabilidade pelo endeusamento que dão a ela.

É simplesmente um espírito evoluidíssimo que deve ser considerado por nós no nível em que está, porque, se foi escolhida por Deus para ser a mãe do próprio Jesus, o bom senso nos demonstra que um valor muito especial ela tem.

Esteja conosco, Maria.

Alamar Régis Carvalho

10 de out. de 2014

GÊMEOS SIAMESES SOB A ÓTICA ESPÍRITA!



Os gêmeos siameses, assim chamados popularmente, são gêmeos idênticos que nascem ligados por um segmento físico, compartilhando alguns órgãos. A medicina oficial os denomina “gêmeos xifópagos”, porque os primeiros casos estudados no passado foram de gêmeos ligados pelo tórax, onde se situa o xifóide, um apêndice do osso esterno, que faz as ligações entre as costelas. 

Atualmente, embora se estudem casos de ligações com compartilhamento dos mais variados órgãos, ainda permanece essa nomenclatura.
 Normalmente, no processo de fecundação que dá origem a gêmeos idênticos, dois Espíritos se ligam ao óvulo materno, atraindo o espermatozóide mais propício para fecundá-lo. O óvulo assim fecundado (zigoto), sob a influência de dois campos energéticos distintos, tende a se bipartir durante a embriogênese e as duas células distintas assim formadas, prosseguirão se multiplicando, originando dois organismos geneticamente idênticos em sua origem, embora pertencentes a indivíduos diferentes (são os chamados gêmeos univitelinos).
 No caso dos gêmeos xifópagos ou siameses, que também são gêmeos univitelinos, a separação em duas células distintas no início da embriogênese não ocorre, de modo que os gêmeos permanecem unidos durante toda a gestação, originando uma ligação física em determinado ponto de seus organismos, que perdurará até o nascimento. Essa ligação pode ser pouco ou muito profunda, originando, consequentemente, o compartilhamento de parte de alguns órgãos ou até o de um único órgão vital, como o coração ou o cérebro, nos casos mais graves. Dependendo da gravidade do caso ou da região do planeta onde nasçam (com poucos ou muitos recursos médicos), essas crianças podem ter pouco tempo de vida ou pode-se tentar separá-las. Há casos em que a separação não é possível e, então, os gêmeos são obrigados a conviver ligados um ao outro, aprendendo a solidariedade, a tolerância e o respeito mútuos. 
O Espiritismo traz-nos elucidações muito importantes sobre os gêmeos siameses. Tudo começa com um processo obsessivo longo e profundo, em que as duas partes envolvidas não conseguem se perdoar e retroalimentam-se mentalmente com o ódio e o desejo de vingança. Com o passar do tempo, o intercâmbio doentio de energias patológicas faz com que desenvolvam uma espécie de campo simbiótico de compartilhamento de emoções, sentimentos e pensamentos, que não possibilita aos técnicos responsáveis por suas reencarnações separá-los satisfatoriamente, sem o comprometimento de suas mentes e de seus perispíritos.

Sendo o perispírito o Modelo Organizador Biológico do corpo físico por ocasião da reencarnação de qualquer pessoa, nesse caso específico teremos a dificuldade de separação de seus perispíritos dando origem a corpos ligados também no plano físico (gêmeos siameses). 
A reencarnação surge para esses Espíritos, inimigos pertinazes do passado, como uma oportunidade abençoada de reajuste perispiritual e mental, de perdão, de tolerância e de solidariedade, através da convivência íntima e inevitável na maioria dos casos, mesmo com os avanços da atualidade. Em geral, os pais que recebem por filhos os Espíritos nessas condições, foram no passado os copartícipes do processo, pessoas que estimularam o início ou o agravamento do ódio entre eles, e que na atual encarnação são abençoados pela oportunidade de semear a reconciliação entre eles e de obter o seu próprio perdão.
 A compreensão espiritual do processo pode confortar e melhor orientar as famílias que passam pela problemática de ter gêmeos siameses em sua composição, através da evangelização, dos passes e das preces.
 No futuro, que acreditamos esteja próximo, a Ciência Médica também passará por grandes mudanças em seus paradigmas e, consequentemente, em seus métodos de tratamento e profilaxia, quando então, não apenas os corpos, mas também as almas dos homens serão tratadas, em busca da cura real.
 Fonte: Verdade e Luz, edição n. 301, Fevereiro de 2011

O PRECONCEITO RACIAL NA VISÃO ESPÍRITA!





A imprensa apresenta, constantemente, fatos relacionados a manifestações de racismo, fora e dentro do Brasil. E mostra, também, cenas terríveis de miséria nos países mais devastados da África, onde homens, mulheres e crianças de pele negra parecem mais esqueletos vivos, semelhantes às fotos dos seis milhões de judeus exterminados nos campos de concentração nazistas.
Não seriam as esquálidas criaturas de hoje os mesmos homens que provocariam o genocídio da Alemanha de Hitler, agora em novos corpos?
O racismo é, antes de tudo, uma demonstração de atraso espiritual e desconhecimento das leis divinas. Aquele que diminui ou persegue o irmão pela cor da pele ou por qualquer outra característica étnica, viola o grande mandamento, síntese de toda a lei e dos profetas, "amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo."
Pela lei do carma, ou de causa e efeito, o racista sofrerá, em si próprio, a inteireza do sofrimento provocado ao semelhante. Pagará até o último ceitil, pois todo homem será punido naquilo em que pecar. "Quem com ferro fere, com ferro será ferido"- na expressão do próprio Cristo.


Ensina "O Livro dos Espíritos" que os homens atuais são os mesmos Espíritos que voltaram, para se aperfeiçoar em novos corpos, estando, ainda, muito longe da perfeição. A raça de agora, que por seu crescimento tende a invadir toda a Terra e substituir as raças que se extinguem, terá, também, a sua decadência. Outras raças a substituirão, descendentes dela mesma, como os civilizados contemporâneos descendem dos seres brutos e selvagens das eras primitivas. A origem das raças perde-se na noite dos tempos. Como todas pertencem à grande família humana, puderam misturar-se e produzir novos tipos. As múltiplas variedades de um mesmo fruto não impedem que constituam uma só espécie. 
No final de 1939, justamente quando o racismo nazista contra o povo judeu era um dos determinantes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, o espírito de Emmanuel começava, no Grupo Espírita Luiz Gonzaga, de Pedro Leopoldo, Minas Gerais, a psicografar, através de Francisco Cândido Xavier, o livro "O Consolador". Na obra, editada no ano seguinte pela Federação Espírita Brasileira, Emmanuel considera justo o agrupamento nos países de múltiplas coletividades pelos laços afins da educação e do sentimento. A política do racismo, todavia, é encarada como um erro gravíssimo, que pretexto algum justifica. O racismo não tem nenhuma base séria nas suas alegações que, na realidade, só encobrem o propósito tenebroso do separatismo e da tirania.
 
Se todavia, nenhum dos argumentos acima convence o leitor, lembramos as recentes descobertas da Arqueologia, dando-nos conta de que todos nós, seres humanos, de qualquer raça, somos originários do Continente Africano.

O ESPÍRITA TEM QUE SER APOLÍTICO?




Esta abordagem decorre de vivências junto a grupos espíritas que, a título de serem isentos, se preservarem de “armadilhas”, ou temerem vinculações por recebimento de verbas assistenciais de governos, argumentam contra o envolvimento de pessoas ou instituições espíritas com questões políticas.




Esse posicionamento decorre, em primeiro lugar, de uma interpretação equivocada de neutralidade, que em nosso meio, virou omissão. Segundo, pelo desconhecimento do que realmente é a política e seus nobres objetivos, que devem resultar em corretas atitudes na organização e no exercício do poder. É que, infelizmente, estamos acostumados ao seu lamentável avesso: a politicagem.




O “Pequeno Dicionário da Língua Portuguesa” de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, define a política como “um ramo das Ciências Sociais que trata da organização e do governo dos Estados; a ciência de governar os povos, a arte de dirigir os negócios públicos e estabelecer relações civilizadas.”




No Livro dos Espíritos, a Questão 132 indaga: “Qual o objetivo da encarnação dos Espíritos?” Em parte, a resposta é: “(...) a encarnação tem também outro objetivo, que é o de colocar o Espírito em condições de cumprir sua parte na obra da criação (...) de tal sorte que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta”.




Somente envolvendo-nos em atividades sociais e políticas poderemos transformar a sociedade e por extensão a Terra, elevando seu nível. Hoje, podemos agir politicamente através das várias organizações não governamentais (ONGs) que procuram realizar o que instituições públicas e especialmente as religiões, sempre tentaram e não conseguiram: justiça social, respeito aos diferentes e à natureza em geral.




As melhores conquistas da humanidade surgiram por conscientização e ação política, não decorreram de meras convicções e discursos. As idéias de igualdade, liberdade e fraternidade, não se originaram em órgãos de governo, nem no seio das igrejas, embora seu permanente discurso e clamor por justiça. Idem, quanto à abolição da escravatura, da censura à segregação racial, da aceitação de minorias estigmatizadas, da preservação do meio ambiente, etc. Sempre foram as ações de cidadania, decorrentes da mobilização dos interessados, que pressionaram as organizações sociais para as mudanças, resultando hoje, no que se define como conceitos e comportamentos “politicamente corretos”.



Apesar desses avanços, a grande maioria dos espíritas defende a idéia de que espiritismo e política não se misturam. Contrariando essa interpretação, entendemos que a filosofia espírita é eminentemente política, já que explica a inter-relação dos espíritos encarnados e desencarnados durante sua evolução, neste ou em outros mundos das dimensões física ou espiritual. Portanto, participar e contribuir para a melhoria das condições sociais atuando politicamente, é promover o aperfeiçoamento geral, uma das tarefas da nossa condição de “co-criadores”. Afinal, temos responsabilidade parcial no processo.




Embora deva ser lamentado, é interessante notar que, em geral, espírita não vota em espíritas que se propõem a fazer política partidária. Temos vários exemplos de companheiros que postularam cargos eletivos, contaram com votos dos espíritas e não se elegeram.




Nas cidades brasileiras, existem milhares de seguidores da doutrina; entretanto, são poucos os vereadores, deputados e senadores espíritas.Tão ruim quanto não participar, é boicotar os espíritas que se candidatam a um cargo eletivo, especialmente se o argumento está baseado em um “artigo de fé” que não se sustenta, e em detrimento do melhor resultado que certamente adviria do engajamento de um homem de bem.




Sem entrar no mérito de suas propostas, precisamos aprender algumas lições com os evangélicos, cuja capacidade de mobilização lhes dá expressiva representatividade. O conceito de que “política é coisa suja” está de tal modo arraigado em nosso meio, que nos recusamos a admitir que ela só será limpa quando a participação de honestos e bem intencionados puder fazer a faxina moral de que ela necessita. A questão 932 de “O Livro dos Espíritos” trata do assunto: “– Por quê, no mundo, tão amiúde, a influência dos maus sobrepuja a dos bons?” Resposta: “– Por fraqueza destes. Os maus são intrigantes, os bons são tímidos. Quando estes quiserem, preponderarão”.




Não devemos defender a idéia de fazer proselitismo através da ação política, nem ter como objetivo difundir a doutrina no âmbito governamental para chegar a um “Estado Espírita”. A separação entre Igreja e Estado é uma conquista que não devemos abandonar, pois seria um retrocesso. É também um equívoco, tentar afirmar social e politicamente uma fé, com propósitos de conversão, visando o intuito macro de formar rebanho de adeptos, por julgar que as pessoas, para serem boas, têm que pertencer a um determinado sistema de pensamento, laico ou religioso. Sobre isso, ousamos dizer que Kardec, por estar demasiadamente envolvido com os ideais espíritas, nos comentários da Questão nº 798 do Livro dos Espíritos, foi ufanista e visionário, ao afirmar que após duas ou três gerações, o espiritismo se firmaria em âmbito mundial, ainda mais rapidamente do que o cristianismo se desenvolveu. Usando as próprias teses e métodos kardecistas, o bom senso evidencia, que o espiritismo não é “a” solução para os problemas humanos; é apenas “um dos” vários e bons caminhos existentes para uma conscientização ética e moral, transformadora dos homens e de seus sistemas sociais.




É porém, adequado e justo, o propósito de mostrar a excelência dos conceitos espíritas, visando embasar leis e políticas públicas. Assim, se queremos progresso e justiça, devemos mudar o discurso vigente de que “espiritismo e política não se misturam” pois não há como falar de cidadania sem incluir ação política e não há como falar de ação política sem comunicação.




Temos que nos comunicar e agir politicamente com a base ética da Doutrina Espírita, atuando coerentemente segundo as convicções humanistas nela adquiridas, em nossa vida comunitária e no âmbito das instituições governamentais; fora ou dentro dos partidos com os quais tenhamos afinidades ideológicas - porém sem propósitos exclusivistas, discriminantes.




Se nos isolarmos nas casas espíritas apenas orando e esperando que Deus e os bons espíritos transformem o mundo em que vivemos, jamais promoveremos mudanças. Nelas, nossa função primordial é a de formar líderes conscientes para atuar em sinergia com todos. E não a de sermos meros consoladores, devido ao insucesso dos governos que geram as desgraças sociais que nos atingem, quase sempre em virtude de nossas próprias omissões.