SEF – Sociedade Espírita Fraternidade
Estudo Teórico-prático da Doutrina Espírita
Unidade 39Tema: DESENVOLVIMENTO MEDIÚNICO
Desenvolvimento da Mediunidade. Processo e Fundamentos para o Desenvolvimento Mediúnico.
Introdução:
No Cap. XVII do livro dos Médiuns, Allan Kardec, esclarece se tratar este capítulo, “Da formação dos Médiuns”, ao desenvolvimento dos médiuns escreventes, por se tratar do gênero de mediunidade mais simples, mais cômodo, que dá resultados mais satisfatórios e mais completos e, especialmente por ser o mais espalhado na época. No entanto, não iremos nos limitar ao desenvolvimento apenas deste tipo de mediunidade porque o objetivo desse estudo é verificar o desenvolvimento dos médiuns em geral (psicógrafos, psicofônicos, etc). Assim. Tiraremos do capítulo acima citado, as instruções que servem como normas gerais de desenvolvimento e passaremos em seguida ao estudo do processo de desenvolvimento mediúnico espírita-cristão.
Orientação Geral do Desenvolvimento da Mediunidade:
Têm-se procurado processos para a formação de médiuns, como se têm procurado diagnóstico para a mediunidade. Porém é importante que procuremos orientações nitidamente espíritas, esclarecedoras e seguras, a fim de que o desenvolvimento da mediunidade se efetue normal e equilibradamente e, ainda, que o médium o faça com conhecimento de causa, para evitar os percalços e os desenganos.
O candidato à médium deve antes de tudo verificar se possui a faculdade, através de indícios que poderão ser caracterizados como sintomas da mediunidade. Todavia, é importante saber que estes sintomas não são uniformes e padrozinados, mas, se apresentam de múltiplas maneiras, não se podendo diagnosticar a existência da faculdade mediúnica com absoluta certeza, apenas por estes sintomas.
Porém, se a faculdade for identificada, o candidato à médium deverá recorrer a meios seguros, em locais que lhe inspirem segurança e certeza da real prática mediúnica espírita, pois uma faculdade em vias de desenvolvimento requer boa orientação, pois em caso contrário, ou seja, mal orientada é canal de perturbação.
“O desejo natural de todo aspirante a médium é o de poder confabular com os Espíritos das pessoas que lhe são caras; deve, porém, moderar sua impaciência, porquanto a comunicação com determinado Espírito apresenta muitas vezes dificuldades materiais que a tornam impossível ao principiante”. (Obstáculos da própria organização mediúnica em desabrochamento e das condições espirituais da entidade). Daí o não aconselhamento da evocação ostensiva de certos Espíritos, deixando à Sabedoria Divina agir através dos Orientadores Espirituais do desenvolvimento da faculdade do médium.
“Para que um Espírito possa comunicar-se, preciso é, que haja entre ele e o médium relações fluídicas, que nem sempre se estabelecem instantaneamente. Só a medida que a faculdade se desenvolve, é que o médium adquire pouco a pouco a aptidão necessária para pôr-se em comunicação com o Espírito que se apresente. Pode dar-se, pois, que aquele que o médium deseje comunicar-se, não esteja em condições propícias a fazê-lo, embora se ache presente, como também pode acontecer que não tenha possibilidade, nem permissão para acudir ao chamado que lhe é dirigido. Daí a razão pela qual ninguém deva teimar em chamar determinado Espírito, “pois amiúde sucede não ser com esse que as relações fluídicas se estabelecem mais facilmente, por maior que seja a simpatia que lhe vote o encarnado. Antes, pois, de pensar em obter comunicações de tais ou tais Espírito, importa que o aspirante leve a efeito o desenvolvimento de sua faculdade, para o que deve fazer um apelo geral e dirigir-se principalmente ao seu anjo guardião.
As condições mais importantes que devem ser observadas no desenvolvimento de uma faculdade mediúnica são: “a calma e o recolhimento, juntas ao desejo ardente e a firme vontade de conseguir-se o intuito. Por vontade, não entendemos aqui uma vontade efêmera, que age com intermitências e que outras preocupações interrompem a cada momento; mas, uma vontade séria, perseverante, contínua, sem impaciência, sem febricitação. A solidão, o silêncio e o afastamento de tudo o que possa ser causa de distração favorecem o recolhimento” (concentração). O exercício com regularidade, assíduo, e sério é fundamental no desenvolvimento mediúnico.
“Para se evitarem tentativas inúteis, pode consultar-se, por outro médium, um Espírito sério e adiantado”. A pergunta, entretanto, deve ser bem elaborada para que o Espírito possa responder exatamente o que se quer saber, pois se inquirirmos aos Espíritos se somos médiuns, eles responderão afirmativamente, uma vez que a mediunidade é inerente ao ser humano. Porém, se perguntarmos exatamente se somos escreventes a respostas poderá ser mais clara. “Deve-se levar em conta a natureza do Espírito a quem é formulada a pergunta. Há os tão levianos e ignorantes, que respondem a torto e a direito, como verdadeiros estúrdios”.
O desenvolvimento mediúnico dentro de um grupo organizado para tal fim, apresenta uma série de condições favoráveis.”Os que se reúnem com um intento comum formam um todo coletivo, cuja força e sensibilidade se encontrem acrescidas por uma espécie de influência magnética”, que satura o ambiente de fluidos propícios e, “entre os Espíritos, atraídos por esse concurso de vontades, estarão, provavelmente, alguns que descobrirão nos assistentes o instrumento que lhes convenha”.
“No médium aprendiz, a fé não é a condição rigorosa; sem dúvida lhe secunda os esforços, mas não é indispensável; a pureza de intenção, o desejo e a boa-vontade bastam. Têm-se visto pessoas inteiramente incrédulas ficarem espantadas de escrever a seu mau grado, enquanto que crentes sinceros não o conseguem, o que prova que esta faculdade se prende a uma disposição orgânica.
Nos médiuns psicográficos, “o primeiro indício de disposição para escrever é uma espécie de frêmito no braço e na mão. Pouco a pouco a mão é arrastada por um impulso que ela não logra dominar. Muitas vezes, não traça senão riscos insignificantes; depois, os caracteres se desenham cada vez mais nitidamente e a escrita acaba por adquirir a rapidez da escrita ordinária. Em todos os casos, deve-se entregar a mão ao seu movimento natural e não oferecer resistência, nem propeli-la”.
“Alguns médiuns escrevem desde o princípio correntemente com facilidade, às vezes mesmo desde a primeira sessão, o que é muito raro. Outros, durante muito tempo, traçam riscos e fazem verdadeiros exercícios caligráficos. Dizem os Espíritos que é para melhor soltar a mão. Em se prolongando demasiado esses exercícios, ou degenerando na grafia de sinais ridículos, não há duvidar de que se trata de um Espírito que se diverte, porquanto os bons Espíritos nunca fazem nada que seja inútil. Nesse caso, cumpre redobrar de fervor no apelo à assistência destes. Se, apesar de tudo, nenhuma alteração houver, deve o médium parar, uma vez reconheça que nada de sério obtém... Há médiuns cuja faculdade não pode produzir senão esses sinais. Quando ao cabo de alguns meses, nada mais obtém do que coisas insignificantes, ora um sim, ora um não ou letras sem conexão é inútil continuarem.. São médiuns, mas médiuns improdutivos.
“O escolho com que topo a maioria dos principiantes é o de terem de haver-se com Espíritos inferiores (veja a Escala Espírita em “O livro dos Espíritos”) e devem dar-se por felizes quando não são Espíritos levianos. Toda atenção precisam pôr, em que tais Espíritos não assumam predomínio, porquanto, em acontecendo isso, nem sempre lhes será fácil desembaraçar-se deles. É ponto esse de tal modo capital, sobretudo em começo, que, não sendo tomadas às precauções necessárias, podem perder-se os frutos das mais belas faculdades”.
“A primeira condição é colocar-se o médium, com fé sincera, sob proteção de Deus e solicitar a assistência de seu anjo de guarda, que é sempre bom... A segunda condição é aplicar-se, com meticuloso cuidado, a reconhecer, por todos os indícios que a experiência faculta, de que natureza são os primeiros Espíritos que se comunicam e dos quais manda a prudência sempre se desconfie. Se forem suspeitos esses indícios, dirigir fervoroso apelo ao seu anjo de guarda e repelir, com todas as forças, o mau Espírito, provando-lhe que não conseguirá enganar... Por isso é que indispensável se faz o estudo prévio de teoria, para todo aquele que queira evitar os inconvenientes peculiares à experiência”.
“Se é importante não cair o médium, sem o querer, na dependência dos maus Espíritos, ainda mais importante é que não caia por espontânea vontade. Preciso, pois, se torna que imoderado desejo de ser médium não o leve a considerar indiferente dirigir-se ao primeiro que apareça, salvo para mais tarde se livrar dele, caso não convenha, por isso que ninguém pedirá impunemente, seja para o que for, a assistência de um mau Espírito, o qual pode fazer que o imprudente lhe pague caro os serviços”.
O médium, mesmo com a faculdade desenvolvida, jamais poderá “crer-se” dispensado de qualquer instrução mais, porquanto apenas terá vencido uma resistência material. Do ponto a que chegou é que começam as verdadeiras dificuldades, é que ele mais do que nunca precisa dos conselhos da prudência e da experiência, se não quiser cair nas mil armadilhas que lhe vão ser preparadas. Se pretender muito cedo voar com suas próprias asas, não tardará em ser vítima de Espíritos mentirosos, que não se descuidarão de lhe explorar a presunção ”.
“Uma vez desenvolvida a faculdade, é essencial que o médium não abuse dela... Devem (os iniciantes) lembrar-se de que ela lhes foi dada para o bem e não para satisfação de vã curiosidade. Convém, portanto, que só se utilizem dela nas ocasiões oportunas e não a todo o momento. Não lhes estando os Espíritos ao dispor a toda hora, correm o risco de serem enganados por mistificadores. Bom é que, para evitarem esse mal, adotem o sistema de só trabalhar em dias e horas determinados, porque assim se entregarão ao trabalho em condições de maior recolhimento e os Espíritos que os queiram auxiliar, estando prevenidos, se disporão a prestar esse auxilio.
“Se, apesar de todas as tentativas, a mediunidade não se revelar de modo algum, deverá o aspirante renunciar a ser médium, como renuncia ao canto quem reconhece não ter voz”.
Processo de Desenvolvimento Mediúnico Espírita-Cristão:
Allan Kardec define como ESPIRITA CRISTÃO, ou verdadeiros Espíritos, aqueles que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as conseqüências. Aproveitam todos os breves instantes da vida terrena para avançar pela senda do progresso, esforçando-se por fazer o bem e coibir seus maus pensamentos. A caridade é tudo, a regra de proceder a que obedecem. ( O Livro dos Médiuns, 1a. Parte, capítulo III, item 28).
Sob o ponto de vista espírita a mediunidade é uma iniciação religiosa das mais sérias; é um mandato que nos é outorgado pela Espiritualidade superior, a fim de ser fielmente desempenhado. Dessa forma, o aspirante à mediunidade, à luz da Doutrina Espírita, deve partir da conscientização de seus ensinamentos e esforçar-se desde o início de sua formação e informação mediúnica, por ser um ESPIRITA CRISTÃO.
Fundamentos para o Desenvolvimento Mediúnico:
O desenvolvimento mediúnico deve fundamentar-se nos processos que se seguem:
O culto do Evangelho no Lar:
“É a renovação do clima espiritual do lar sob as luzes do Evangelho Redivivo, porque o lar é a usina maior das energias de que somos carentes para o nosso trânsito terreno e é onde compensamos nossas vibrações psíquicas em reajustamento... Evangeliza os Espíritos, nossos desafetos que se julguem conosco em todas as nossas atividades cotidianas”.
Para o culto, as providências são simples:
I Um volume de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”;
II Um dia certo por semana;
III Um cômodo onde todos os familiares se reúnem.
Sua realização também é singela:
a) Inicia-se por uma prece, preferentemente uma oração feita de improviso por um dos presentes, por ser mais afetivo;
b) Abre-se o livro ao chamado acaso;
c) Leitura em voz alta do trecho aberto;
d) Comentários sobre o mesmo pelos presentes;
e) Encerramento com uma prece de agradecimento pela orientação noturna, podendo alongar-se os comentários, depois, sobre a lição, enquanto houver interesse e for oportuno. Evitar no culto, qualquer manifestação que o confunda com sessão mediúnica ”.
O culto da Assistência:
“Rompimento com o egoísmo, compelindo-nos a interessar-nos pelo próximo, auxiliando-o nos seus lances expiatórios, probatórios ou missionários, até o limite de nossa capacidade de servir” (grupo de costura, socorro fluídico pelo passe, visita aos enfermos, amparo aos órfãos, cooperação com as obras de assistência, conforto moral aos desesperados, etc).
Reforma Íntima:“Revisão e reconstrução dos hábitos, permutando os vícios por virtudes legitimamente cristãs que são as únicas que sobreviverão eternamente e que nos abrirão as portas de Planos mais elevados que os atuais”.
Templo Espírita:
“Aniquilamento do orgulho, levando-nos a viver em circunstâncias e agrupamentos humanos que nos permitirão o exercício da humildade legítima, entrosando-nos em trabalhos de equipe com esquecimento de nós mesmos. Evitemos as sessões espíritas nos lares. A organização espiritual não se improvisa”. O ambiente do Centro Espírita esta em permanente ação e é formado como um posto de socorro diverso, sob a orientação e desempenho dos bons Espíritos.
Estudo Coletivo:“Reunidos semanalmente aos companheiros, evitaremos, no compulsar os livros doutrinários, de emprestar-lhes o colorido de nossas paixões e preferências particulares e, apesar de sua suficiente clareza, evitaremos emprestar-lhes interpretações laterais ou desvirtuadas”.
Dentro destes critérios de desenvolvimento da mediunidade, mesmo que nenhuma faculdade venha a desabrochar, tenhamos a certeza que estaremos desenvolvendo-nos espiritualmente e capacitando-nos para a verdadeira mediunidade com Jesus – a Mediunidade do Bem.
Bibliografia:
Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns – 2.ª parte, capítulos XVII.
Xavier, Francisco Candido. Missionários da Luz – Capítulos III
Jacinto, Roque. Desenvolvimento Mediúnico – Capítulo VII.
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