Encontramos em A Gênese, no seu primeiro capítulo, item
55 a cristalina opinião do Codificador quanto ao caráter dinâmico progressista
da doutrina espírita ao asseverar que “o Espiritismo, marchando com o
progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas demonstrarem
estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria sobre esse ponto; se uma
verdade nova se revelar, ele a aceitará”.
Consideramos aceitável e
mesmo indispensável o zelo pela doutrina, no entanto, estranhamos a visão ortodoxa e, em alguns
casos extremos, fundamentalista de alguns adeptos, mesmo que baseadas em
opiniões de alguns respeitáveis pioneiros da doutrina no Brasil, que tendo
deixado o corpo físico provavelmente repensaram seus paradigmas.
Prefaciando a excelente obra
Perispírito e Corpo Mental de Durval
Ciamponi, o também escritor Ary Lex, escreve que “o Espiritismo não é, no
conjunto, uma doutrina pétrea, inalterável, parada no tempo e no espaço. Suas linhas mestras, estas sim, representam
o que surgiu de mais perfeito na história das religiões e não serão alteradas,
sob pena de o Espiritismo fracassar no papel de reformador da humanidade”.
A posição de Kardec e dos
Espíritos Superiores responsáveis pela codificação está bem clara quando da
revisão e ampliação de O Livro dos
Espíritos em 1860, somente três anos após a primeira edição. As ciências
hoje, mais que naquela época, seguem seu ritmo vertiginoso de investigações e
descobertas comprovadas pelos seus métodos de pesquisa. Portanto, qual o motivo
do engessamento de nossa visão sobre alguns conceitos doutrinários? O que é
verdade divina é pura e imutável por excelência e não pertence a nenhuma
doutrina. Onde se sustentar para uma defesa da pureza doutrinária baseada na
intolerância?
Não se pode prescindir do
espírito de investigação e estudo desta doutrina encantadora que nos cativou,
sobretudo, pela sua capacidade de aliar razão e fé na construção de nossa religiosidade.
Não podemos abrir mão da tríade de sustentação do Espiritismo: ciência,
filosofia e religião, sob pena de vermos nossa doutrina caminhar capenga rumo
ao museu das religiões onde já se encontram algumas e se destinarão todas as doutrinas estruturalmente dogmáticas.
Lúcio Silva Cavaca