30 de jun. de 2019

O Espiritismo é Subversivo?



Por Jacques PeccatteAo contrário da idéia comum que torna o Espiritismo uma religião, os espíritas do Cercle Spirite Allan
Kardec, da França, não aceitam os conceitos demasiado simples, que não permitem refletir sobre a
evolução do mundo atual.
O Espiritismo deve integrar-se à vida de nosso tempo, a fim de questionar os eventos culturais, sociais e
políticos à luz de nosso conhecimento espírita.
Tudo o que acontece no planeta merece interesse e reflexão por parte de todos os seres humanos,
sobretudo hoje, porque vivemos mais ou menos conscientemente, num modo transnacional dentro do
qual a situação de cada país é interdependente dos outros. A globalização econômica é uma realidade
atual e a exploração dos países pobres pelos ricos segue, como nos tempos da colonização.
O Espiritismo de Allan Kardec nunca aceitou esse processo de injustiça nem a resignação diante das
misérias. É essencial que, dentro da atualização do Espiritismo, levemos em conta as evoluções coletivas
de nossas sociedades.
Vemos que no neoliberalismo atual, todas as partes da Terra são dependentes desse sistema mundial,
incapaz de procurar o bem-estar de todos. As desigualdades se ampliam a cada dia, desigualdades entre
os países e entre os indivíduos. A riqueza global aumenta consideravelmente e, paralelamente, a pobreza
é cada vez maior.
A filosofia espírita incorpora conceitos de solidariedade e de fraternidade que estão totalmente ausentes
das sociedade humanas, apenas na forma de organizações caritativas. Desgraçadamente a caridade é o
único meio de solidariedade que deve preencher as deficiências das sociedades fundadas no egoísmo. O
objetivo de cada sociedade deve ser o desenvolvimento econômico, o que é perfeitamente normal e
evidente, mas os países pobres estão condenados a abastecer os países ricos, sem benefícios nem

desenvolvimento. É um intercâmbio de sentido único.
Existe uma estratégia dos países desenvolvidos, em particular dos Estados Unidos, que consiste em
dirigir o mundo segundo seus próprios interesses e benefícios. É uma política muito evidente, por
exemplo, no tocante ao continente africano.
A geopolítica mundial não é estabelecida ao acaso. Não existe fatalidade, mas vontades muito bem
calculadas por parte dos poderes econômicos.
Como espírita, não posso calar-me diante dessas realidades. Se os habitantes da Terra são irmãos, como
aceitar tais diferenças? Penso que esses problemas fazem parte da filosofia espírita em seu aspecto
moral.
Não podemos nos contentar com uma moral individual dentro da qual cada um se preocupa com sua
família e de seu vizinho (que é, sem embargo, muito bom). Mas devemos também, como espíritas,
considerar o enfoque espírita dentro de uma moral universal. A famosa evolução intelectual e moral
definida por Kardec significa que não devemos esquecer o aspecto intelectual, quer dizer, uma
compreensão real do mundo atual, a fim de situar-se moralmente frente a um conjunto humano que sofre
de sua inferioridade geral.
Pensamos, aqui na França, que o papel do espírita moderno é refletir, falar, denunciar eventualmente e
participar da luta contra o mal, seja qual for a sua forma. Nesse sentido, segundo o título deste artigo,
penso que os espíritas podem ser subversivos, não aceitando uma resignação comum e nenhuma
fatalidade. Creio que o Espiritismo é uma luta contra todas as injustiças que constatamos na condição
humana, participando das mudanças e progresso do mundo.
Nos séculos passados, o poder foi essencialmente das religiões. Depois despertaram-se sistemas laicos,
um pouco mais democráticos. No século 19 foi fundado o Espiritismo por Allan Kardec. Mas,
lamentavelmente, constatamos que atualmente o Espiritismo não tem uma verdadeira influência cultural
intelectual e moral dentro das sociedades.
No conjunto, as religiões mantém uma influência preponderante em certos países. E os sistemas sociais e
políticos não avançam no sentido da participação. Qual poderia ser o papel do Espiritismo diante da
evolução das sociedades atuais no mundo? É uma pergunta que merece ser considerada e eu a
proponho a todos os espíritas preocupados com o futuro do planeta.
Fonte: Jornal de cultura espírita “Abertura”, maio de 2000, ano XIII, nº 148, Santos-SP.Jacques Peccatte, líder espírita francês, um dos fundadores e dirigentes do Círculo Espírita Allan
Kardec, de Nancy, França, é diretor-responsável e redator do periódico trimestral “Le Journal
Spirite”.
Retirado do site: http://www.viasantos.com/pense/arquivo/1321.html

25 de jun. de 2019

Questões da mediunidade


A Doutrina Espírita ensina que todas as pessoas são médiuns, porém, com graus diferentes de
sensibilidade e produtividade. Todos somos médiuns, mas médiuns ostensivos, capazes de transmitir as
comunicações dos espíritos, faladas, escritas, ou produzir fenômenos de ordem física, é um número bem
menor.
Ao tempo de Kardec surgiram algumas teorias sobre sinais físicos que indicassem as pessoas que
possuem mediunidade ostensiva. Kardec, depois de observar e se aprofundar nessas teorias, desmentiuas, dizendo que não existe nenhum sinal físico que indique a mediunidade das pessoas. Afirma ele que
somente a experimentação pode determinar se uma pessoa tem ou não faculdades mediúnicas
ostensivas, ou mediunato, conforme ele classificou em O Livro dos Médiuns.
Ele comenta, ainda, sobre a instabilidade das faculdades mediúnicas, que podem aparecer ou serem
suspensas num dado momento, quando a pessoa menos espera. Diz o Mestre, que fisicamente a
faculdade mediúnica depende da assimilação mais ou menos fácil, dos fluidos perispirituais do encarnado
e do espírito desencarnado. Moralmente, está na vontade do espírito em se comunicar, e ele se comunica
quando lhe apraz, e não pela vontade do médium.
Concluímos que, teoricamente, todos os médiuns podem se comunicar com espíritos de todas as ordens,
contudo, é preciso que exista afinidade fluídica e vontade do espírito, assim como disponibilidade, pois o
espírito pode estar impossibilitado de se comunicar por estar ocupado em outras tarefas ou impedido por
outras causas.
Abordamos este assunto porque as vezes, espíritas dedicados, nos perguntam por que familiares
queridos desencarnados, nunca se comunicaram com eles, nunca enviaram uma mensagem por algum
médium. Outros querem saber por que espíritas que realizaram grandes trabalhos aqui na Terra, que
foram líderes destacados, não se comunicam após a desencarnação.

Acreditamos que pela exposição que fizemos já estão respondidas as duas questões. Entretanto,
gostaríamos de salientar que não vemos motivos para suspeitar de espíritas conhecidos não se
comunicarem porque estão em dificuldades no plano espiritual, por terem conduta excursa aqui na Terra,
ou duplicidade de comportamento, dentro e fora do centro.
Logicamente deve existir os que estão nessas condições, mas generalizar é perigoso. Se aqui na Terra é
difícil ajuizarmos sobre a conduta moral das pessoas que conhecemos, imaginem como é muito mais
difícil conhecermos as condições morais de quem já reside em outro plano vibratório.
Mediunidade é ferramenta de trabalho para produzir em benefício de todos e não para atender caprichos
deste ou daquele. Méritos e deméritos é algo muito difícil de ser avaliado por nós, mas pode ser avaliado
pelos espíritos superiores.
Esta matéria está baseada no livro, O Que É O Espiritismo — segundo diálogo — O Céptico — item –
Meios de Comunicação – 3ª pergunta.


Por Amílcar Del Chiaro Filho 

 

23 de jun. de 2019

O Espiritismo e a Investigação Científica.



Já ouvimos dizer, mais de uma vez, que "o Espiritismo parou no século XIX", em matéria de estudos
científicos. Depois de uma fase realmente notável, fase em que refulgiram os nomes de CROOKES,
AKSAKOF, ZOELLNER, por exemplo, nunca mais se fez um trabalho de cunho científico, na acepção
exata. É o que se diz. Até certo ponto, sinceramente, honestamente, devemos reconhecer que a crítica
tem alguma procedência, não há duvida. Das últimas décadas do século passado ao começo do nosso
século[1], é inegável, houve experiências rigorosas, comunicações e relatórios de alto teor científico. De
certo tempo em diante, parece que se deu uma espécie de arrefecimento do espírito científico no campo
mediúnico. Isto não quer dizer que não haja material. Há, sim.
Bons médiuns existem por toda parte, ocorrem fenômenos relevantes, mas a impressão que se tem, hoje
em dia, é de que não há mais investigadores do tipo de Crookes, Gibier, Bozzano e outros. Quase não se

fazem registros nos trabalhos experimentais, nem há certos cuidados, na maioria dos casos. Muito
fenômeno importante fica sem anotação, sem documento para exame ou verificação.
Queremos crer que haja homens de envergadura intelectual para investigações sérias, mas talvez não
haja condições, ambiente favorável, em grande parte, pois nem todas as pessoas que se dedicam a parte
experimental do Espiritismo tem mentalidade científica. Há muita diferença entre mentalidade científica e
cultura científica. É certo que a cultura abre horizontes largos e pode contribuir muito para a formação da
mentalidade, mas é preciso não perder de vista que muitas pessoas adquirem boa cultura científica, tem
muita leitura, fazem cursos especializados, etc., etc., mas não tem a verdadeira mentalidade científica.
Pode parecer um contra-senso. Quem, por exemplo, fica logo deslumbrado diante de um fenômeno ou de
uma comunicação "sensacional" sem qualquer análise, não tem mentalidade científica, pois está
procedendo apenas emocionalmente, não analiticamente. E quanta gente há, por aí, que procede assim,
apesar de possuir currículos universitários?... Há pessoas que são muito rigorosas noutros campos de
pesquisa, mas quando entram no campo mediúnico procedem mais como místicos do que propriamente
como homens de ciência. Não basta, portanto, ter a formação científica dos livros ou dos cursos de
Universidade, é preciso ter atitudes científicas diante dos fenômenos. E é o que muita gente não tem. Há
pessoas, no entanto, que não fizeram uma cultura científica regular, não dispõe de certos instrumentos de
pesquisa, mas apresentam reações diferentes, dando a impressão de que tem muito mais espírito
científico do que muitos laureados. Mas não se pode dizer que não haja, atualmente, gente capaz de
realizar trabalhos científicos.
Talvez essas pessoas não encontrem compreensão nem apoio para certos tipos de sessões. É outro
problema. Em que sociedade, em que ambiente organizar uma sessão com médiuns preparados para
determinadas experiências? Não é fácil, digamos a verdade. Por isso mesmo, e sem analisar o problema
também por outros ângulos, é que algumas pessoas dizem que "o Espiritismo parou no século passado".
Não parou, pois a mediunidade não se acabou, mas a preocupação científica, em grande parte, está
sendo prejudicada pelas atitudes devocionais, atitudes que pretendem muito mais divinizar os espíritos e
santificar os médiuns do que, a rigor, procurar a verdade pelo fio da razão esclarecida.
O problema comporta ainda outras considerações, não pode ser colocado apenas dentro de uma faixa de
crítica. Aqui mesmo, no Brasil, onde o Espiritismo não ficou apenas na pura comprovação mediúnica, já
se deram fenômenos de grande valor científico, mas não se fez relatório, não se deu divulgação, a bem
dizer. Indiscutivelmente, nós nos descuidamos de anotar, confrontar, registrar em ata, testemunhar. Tudo
isso faz parte do legítimo espírito científico, que é sempre cauteloso. Nosso temperamento geralmente
não dá muito para esperar com paciência, aguardando que as primeiras impressões se confirmem.
Somos indiferentes em determinadas coisas e, ao mesmo tempo, somos precipitados noutras coisas: ou
não damos a devida importância a manifestações realmente significativas ou somos capazes de nos
arrebatar com pouca coisa... A experiência que o diga. O lado místico, por sua vez, também pesa muito
na prática mediúnica e, por isso mesmo, não é fácil imprimir uma orientação metódica em determinados
grupos, ainda que haja médiuns de possibilidades aproveitáveis. A legião de sofredores é muito grande,
em todas as camadas sociais, e a maior parte do público, por isso mesmo, recorre aos "canais
mediúnicos" simplesmente como fonte de consolações ou à procura de esclarecimentos imediatos para
suas situações; nunca, porém, como elemento de pesquisa, com visão científica ou filosófica.
Tudo isso, afinal-de-contas, deve ser objeto de consideração, pois há vários fatores confluentes no campo

mediúnico. Então, voltemos ao ponto de partida: o Espiritismo não parou, mas as condições, hoje, são
bem diferentes das condições em que pontificaram certos homens de ciência. Não se pode pensar em
investigação científica sem pensar, necessariamente, no material humano que deve ser utilizado em
trabalhos de tal natureza, muito específica e de muita complexidade.
No século passado[2] - vejamos bem - havia uma preocupação dominante, absorvente: provar ou negar a
comunicação dos espíritos. Não havia outra alternativa. O Espiritismo enfrentava o desafio da ciência,
muito mais relevante do que a sistemática oposição religiosa. Alguns homens de ciência entraram nesse
campo exclusivamente para tirar a limpo a questão da comunicação entre vivos e mortos. Não tinham
outro fito. E, por isso mesmo, empregaram todos os meios, forraram-se de cuidados especiais, amarraram
médiuns, fiscalizaram sessões com vigilância implacáveis, mediram, pesaram, confrontaram, fizeram
tudo.
E era necessário. Chegaram às provas. A maioria deles ficou apenas no terreno experimental, deu
testemunho, colocando-se corajosamente acima de preconceitos e conveniências, mas verdade é que
não se dedicou à especulação filosófica, não chegou à Doutrina, em suma. Grande contribuição,
indiscutivelmente, no campo experimental. Não foi o caso, entretanto, de Gabriel Delanne. Este, sim, tinha
embocadura de experimentador, era homem de formação científica, mas também fez obra doutrinária, na
linha intelectual de ALLA KARDEC, LÉON DENIS, por exemplo.
DELANNE partiu do fenômeno, como vários outros, mas entrou na indagação, fez estudos filosóficos,
tirou conclusões válidas e lúcidas. A todos, no entanto, de um lado e do outro lado, isto é, tanto do lado
puramente fenomênico quanto do lado doutrinário, muito deve o movimento espírita, pois todos eles são
figuras clássicas na história do Espiritismo.
De certo tempo em diante (devemos compreender bem a situação), uma vez provada e comprovada a
comunicação entre vivos e mortos, naturalmente já não havia tanto interesse pelo campo experimental,
diante dos depoimentos de homens de projeção científica, sem qualquer compromisso de ordem
sentimental, religiosa ou doutrinária. Passou, até certo ponto, a fase das experiências objetivas, porque a
própria expansão das idéias espíritas começou a provocar interesses de outra natureza, devido às
necessidades humanas.
Abriram-se, na realidade, dois focos de atenção: o fenomênico e o doutrinário. A divulgação da Doutrina
criou a bem dizer uma polarização muito intensa, justamente porque muita gente queria mensagem,
reclamava uma filosofia de vida, não se contentava somente com a prova direta das comunicações. Os
estados de angústia, a desorientação espiritual, a falta de segurança interior, a deficiência de cultura
religiosa, tudo isso, realmente, levou o homem, depois de algum tempo, a procurar a mensagem espírita
em estado de quase sofreguidão e, por isso, deixou de se concentrar muito nas experiências científicas.
Veio, daí, a popularização do Espiritismo, trazendo certos prejuízos, é inegável, porque se desprezou
muito o estudo sério, a pesquisa, o raciocínio analítico para enveredar pela simples crença nos espíritos,
como que abrindo caminho para a formação de mais uma seita... Esse desvirtuamento, convenhamos,
afastou certos homens afeitos a estudos científicos. Tudo isto é aceitável na consideração do problema.
Há, porém, outro aspecto, e este deve ser levado em conta. É justamente o aspecto humano. O
Espiritismo, hoje em dia, não é apenas um campo de experiências mediúnicas, é uma doutrina de vida,

representa a solução de muitos problemas do homem moderno. As necessidades humanas vão
aumentando cada vez mais, na medida em que a sociedade se torna mais complexa. E o Espiritismo,
para boa parte da sociedade atual, é a "última esperança", é a grande resposta, que o homem não
encontra noutras doutrinas, apesar de haver batido em muitas portas... É uma realidade diferente daquela
realidade, que, na segunda metade do século XIX, viveram grandes experimentadores da fenomenologia
mediúnica.
Justamente por isso, o problema, não pode ser apresentado apenas por um prisma, seja qual for, mas
através de vários angulos de observação, sobretudo quanto às peculiaridades de cada país. Podemos,
pois, chegar a estas sumárias conclusões:
Em primeiro lugar, pelo fato de não haver, hoje, ao que conste, experiências do tipo de Crookes, Geley,
Lombroso e outros, isto não significa que não haja médiuns nem tampouco nos permite concluir que o
ciclo experimental do Espiritismo tenha deixado de ser necessário;
Em segundo lugar, se é verdade, até certo ponto, que a falta de interesse pela investigação científica é
prejudicial à compreensão e ao conceito do Espiritismo, também é verdade que o homem atual é
absorvido por uma série de problemas prementes e, por isso, o aspecto doutrinário tem, para ele, maior
interesse no momento, por causa da mensagem, que vai ao sentimento, aliviando as feridas da alma.
De tudo isso, afinal, podemos inferir que é necessário encarecer e estimular as pesquisas, a experiência
científica, que teve sua razão de ser no século passado[2] e ainda se faz indispensável nos dias atuais,
mas não devemos perder de vista o lado verdadeiramente humano do Espiritismo diante do sofrimento e
da profunda decadência moral que se observa em todos os níveis sociais. Não nos esqueçamos de que o
Espiritismo atende, ou deve atender, ao mesmo tempo, a necessidades diversas: necessidades
científicas, necessidades sociais, necessidades emocionais e assim por diante.
Texto publicado no Anuário Espírita 74 do "Instituto de Difusão Espírita" de Araras, São Paulo,
Brasil.
Observações:
[1] Deolindo Amorim escreveu este texto em 1974 assim ele se refere ao período que vai das
últimas décadas do século XIX ao início do XX.
[2] Século XIX
 


Por Deolindo Amorim

21 de jun. de 2019

Você pode consultar os espíritos para mim?



Esta pergunta é muitas vezes dirigida aos espíritas. Imaginam, os que desconhecem o Espiritismo, que os
centros espíritas são autênticos consultórios do além. Meros equívocos.
Vamos por partes. Diz o Codificador da Doutrina Espírita que toda pessoa que sente, em qualquer grau, a
influência dos espíritos, é por esse fato, médium. Está correto, pois a mediunidade é um dom humano
presente em todas as criaturas humanas e não exclusiva dos espíritas.
Ocorre que, por mera questão de entendimento, são considerados médiuns aqueles que ostensivamente
são utilizados pelos espíritos como intermediários de suas manifestações. Vale dizer que essas
manifestações ocorrem de inúmeras formas (psicografia, psicofonia, vidência, audiência, etc) e que os
espíritos nada mais são do que as criaturas humanas antes e depois da morte, guardando consigo suas
conquistas morais e intelectuais. Este fato, por si só, já indica que os espíritos se apresentam nas
manifestações de acordo com a moral e intelecto que possuem.
Portanto, o processo de consulta aos espíritos é algo que requer muita prudência, bom senso e
redobrados cuidados. Afinal, eles não estão aí para satisfazer curiosidades ou resolver problemas
materiais. Aconselham sim, sempre com muita reserva, atendem muitas vezes cuidados com a saúde,
mas abstêm-se de informações de cunho material. Somente respondem a estas questões espíritos
ignorantes, estouvados ou propensos a brincadeiras
Por outro lado, é preciso sempre lembrar que os médiuns, espíritas ou não, são pessoas comuns, apenas
dotados da faculdade de intercâmbio com o mundo espiritual. A mediunidade é uma autêntica ferramenta
de trabalho para o bem da coletividade. Seu uso independe da idade, sexo, crença ou condição social,
mas o fator moral de seu portador é fator determinante para sua prática equilibrada e condizente com sua
autêntica finalidade de auxílio aos seres humanos.
Seu desenvolvimento obedece a programação prévia estabelecida antes da reencarnação, mas é aqui
mesmo, no plano terreno, que a dedicação, a disciplina, a fidelidade aos princípios humanitários e
cristãos, a farão grandiosa e a constituirá em benção para seu portador e beneficiados de sua atuação.
Por estas razões todas, a consulta aos espíritos é questão absolutamente secundária. Já temos a teoria à
disposição, para estudar e compreender. E ao mesmo tempo, o comportamento ético e moralizado darão
guarida à sua expansão e uso correto.

Os espíritos vivem ajudando as criaturas humanas. Fazem-no pela intuição, através dos sonhos, pela
presença constante ao nosso lado – desde que com eles estejamos sintonizados pelo bom
comportamento e pelos bons pensamentos ou pela aquisição permanente de virtudes – e pelo próprio
entendimento que já possuem (os esclarecidos), da importância da solidariedade...

Por Orson Peter Carrara

19 de jun. de 2019

Kardec e Darwin



Kardec e Darwin foram dois grandes cientistas que vieram ao mundo no alvorecer do Século 19. O
primeiro, um médico francês e aluno de Pestalozzi, foi o Codificador do Espiritismo, o segundo era um
naturalista e fisiologista inglês. Kardec pesquisou a evolução dos espíritos, Darwin, a dos corpos
biológicos.
Nós somos espíritos imortais. E o Nazareno disse que nós devemos buscar a perfeição de Deus, o Pai.
Nós somos hoje os espíritos dos homens de ontem, inclusive os dos homens das cavernas. E depois de
inúmeras reencarnações, chegamos à evolução e perfeição em que nos encontramos atualmente. Se não
houvesse evolução e as reencarnações que a possibilitam, seríamos forçados a pensar que Deus foi
muito injusto com aqueles espíritos de outrora dos homens da caverna, que só teriam vivido mais como
bichos do que como seres humanos propriamente ditos! A evolução é, pois, uma lei natural tão real como
o é a da Gravidade, e é até sagrada.
A Igreja, como afirma o sábio francês padre François Brune, acredita na vida após a morte, ou a chamada
vida eterna, mas na prática, tem agido como se ela não existisse, pois não a estuda, e é até contrária ao
seu estudo. A mesma coisa se pode dizer dos nossos irmãos protestantes. Isso nos faz lembrar do que o
Mestre afirmou, ao referir-se aos sacerdotes judeus de sua época: "Não entram no reino dos céus, e não
deixam outros entrarem!". É necessário, pois, que os católicos e protestantes despertem também para o
estudo do espírito, e não só do corpo, como vêm fazendo há séculos, pois o espírito é mais importante do
que o corpo. "A carne para nada aproveita, o que importa é o espírito que dá vida" (João 6, 63).
Foi revolucionário o livro de Darwin: "Da Origem das Espécies" (1859), principalmente porque ele entrou

em choque com as idéias da interpretação literal da Bíblia, quando a exegese e a hermenêutica ainda
eram muito elementares e tímidas. A Igreja estava, pois, sem força moral para enfrentar aquele poderoso
materialismo efervescente, após a Revolução Francesa, o que se agravava mais ainda pelo fato de ela
estar, justamente naquela época, deixando a Inquisição. Foi quando surgiram também os não menos
revolucionários livros científicos e espiritualistas de Kardec, entre eles o "O Livro dos Espíritos" (1857), os
quais deram um verdadeiro "chega-pra-lá" nas idéias materialistas e anti-religiosas de Darwin e de seus
contemporâneos Marx e Compte. Por isso dizemos com o escritor e pastor presbiteriano do Rio de
Janeiro, Neemias Marien": "O maior reformador do Cristianismo não é Lutero, mas Allan Kardec." De fato,
até Kardec, não se tinha feito ainda um estudo racional e científico da Bíblia.
Darwin foi um dos grandes cientistas da evolução da vida material, e Kardec o foi da evolução da vida do
espírito na matéria e fora da matéria!
*Autor do livro "A Face Oculta das Religiões" (Ed.Martin Claret) 


  Por José Reis Chaves

15 de jun. de 2019

Um Apelo de Kardec



15 de janeiro de 1862, Kardec publicou a brochura intitulada “O Espiritismo na sua mais simples
Expressão", e fez um apelo:
“Contamos com o zelo de todos os verdadeiros espíritas para ajudar na sua propagação.”Já em "O Livro dos Médiuns", segundo livro da Codificação Espírita, verificamos a importância dada a
questões que hoje têm sido ignoradas e relegadas por boa parte daqueles que se dizem espíritas nos

dias de hoje, facilitando a ação nefasta de espíritos pseudossábios e/ou mistificadores, que não só
poderão enganar a esses com suas falsas ideias como também a muitas outras pessoas, disseminando e
rapidamente promovendo toda uma série de noções contrárias aos elevados propósitos do Espiritismo.
O resultado disso tem sido a desinteligência entre os espíritas e a consequente formação de redutos
seitistas, com interpretações próprias e muitas das vezes demasiado exóticas e heterodoxas sobre a mais
variada gama de questões que a Codificação, por sua vez, ensina com cristalina clareza, dispensando os
adereços advindos das paixões e arroubos de imaginação de caráter puramente terreno e especulativo.
Leiamos alguns comentários a esse respeito proferidos por Allan Kardec constantes da Revista Espírita
de janeiro de 1861:
"A primeira edição do Livro dos Médiuns, publicada no começo deste ano, esgotou-se em alguns meses,
o que não é um dos traços menos característicos do progresso das ideias espíritas. Nós mesmo
constatamos, em nossas excursões, a influência salutar que essa obra exerceu sobre a direção dos
estudos espíritas práticos. Assim, as decepções e mistificações são muito menos numerosas do que
outrora, porque ela ensinou os meios de descobrir as astúcias dos Espíritos enganadores. Esta segunda
edição é muito mais completa que a precedente. Ela encerra numerosas instruções novas muito
importantes e vários capítulos novos. Toda a parte que concerne mais especialmente aos médiuns, à
identidade dos Espíritos, à obsessão, às questões que podem ser dirigidas aos Espíritos, às contradições,
aos meios de discernir os bons e os maus Espíritos, à formação de reuniões espíritas, às fraudes em
matéria de Espiritismo recebeu desenvolvimentos muito notáveis, frutos da experiência. No capítulo
das dissertações espíritas adicionamos várias comunicações apócrifas acompanhadas de observações
adequadas a dar os meios de descobrir a fraude dos Espíritos enganadores que se apresentam com
falsos nomes.
Devemos acrescentar que os Espíritos reviram a obra inteiramente e trouxeram numerosas observações
do mais alto interesse, de sorte que se pode dizer que é obra deles, tanto quanto nossa.
Recomendamos com instância esta nova edição, como o guia mais completo, quer para os médiuns, quer
para os simples observadores. Podemos afirmar que seguindo-a pontualmente evitar-se-ão os escolhos
tão numerosos contra os quais se vão chocar tantos neófitos inexperientes. Depois de a ter lido e
meditado atentamente, os que forem enganados ou mistificados certamente não poderão queixar-se
senão de si mesmos, porque tiveram todos os meios para se esclarecerem.
 


   Por Artur Azevedo

13 de jun. de 2019

Mediunidade – relações horizontais e verticais



A mediunidade é uma abertura na percepção que temos de nós mesmos e do outro. Bem cultivada,
assentada sobre o desenvolvimento de valores morais sólidos, ela nos põe em estado de lucidez
permanente. É possível captar melhor quem somos, pelas intuições mais ou menos claras de nosso
passado espiritual, pelos insights do nosso eu integral. Sabe-se que a consciência do Espírito fora do
corpo é sempre maior que a consciência mergulhada na matéria. Além da possibilidade de comunicarmonos com outras mentes, a mediunidade é a abertura para si, o acesso ao próprio eu. Diz J. Herculano
Pires: “A mediunidade não é apenas uma comunicação com os Espíritos. Ela é comunicação plena,
aberta para as relações sociais e para as relações espirituais. No capítulo destas, figura em destaque,
pela importância que assume em nosso comportamento individual e social, a atividade mediúnica interior,
em que a essência divina do homem se comunica com sua essência humana. É esse o mais belo ato
mediúnico, o fenômeno mais significativo da mediunidade, aquele que mais distintamente nos revela a
nossa imortalidade pessoal.” (Pires, J. Herculano. Mediunidade, Vida e Comunicação, São Paulo: Paidéia,
2004, p 121.)
Esse tipo de percepção mais lúcida da existência e da possibilidade de acessarmos — mesmo que na
forma de intuição — a bagagem do nosso eu integral, pode ser cultivada, pela elevação de pensamento,
pela oração e por um estado mental de alerta e observação. Viver mediunicamente, assim, é estar mais
acordado, menos condicionado pelas limitações da matéria.
E nesse sentido, a percepção não aumenta apenas em relação a nós mesmos, mas ao outro, às relações
humanas, às circunstâncias da vida. A mediunidade é também a capacidade de captar com maior
precisão o tônus vibratório dos que nos cercam (encarnados e desencarnados), conhecer suas intenções,
com certo grau de certeza, e enxergar a face espiritual do ser, por trás das máscaras sociais.
O médium bem afinado pode perceber as forças positivas e negativas de um dado ambiente e identificá-
las depois de certa análise. Desse modo, pode se situar melhor no labirinto das situações e das pessoas
e dispor de mais elementos para atuar corretamente.
Até agora, estamos nos referindo ao plano da intuição e da percepção extra-sensorial, ou seja, à
mediunidade usada pelo próprio dono, como instrumento de captação do real. Mas também devemos
lembrar a mediunidade ativa, em que Espíritos desencarnados usam do médium, para comunicar-se com
os vivos. Então, as relações humanas se estendem mais claramente além das barreiras da carne. O
médium é veículo — nunca passivo — do diálogo entre dois mundos.

Nessa ocasião, apresenta-se-lhe uma oportunidade estimulante de entrar numa mente alheia. O ato
mediúnico, principalmente o da psicografia ou da psicofonia, é sempre uma união telepática, uma sintonia
momentânea de duas inteligências. Ao receber, portanto, um Espírito, obsessor ou iluminado, um sofredor
ou um mestre da Espiritualidade, a mente do médium como que se vê apropriada pela mente do
desencarnado. Ao final de anos de mediunidade ativa, o médium guardará um arquivo mental fascinante
de personalidades — que conheceu mais intimamente. Cada ser é único no universo e a singularidade
humana é uma das facetas mais ricas da Criação. E o médium tem o privilégio de vivenciar
telepaticamente outras singularidades (que estão acima ou abaixo de seu grau evolutivo), mas todas elas
portadoras de experiências e sentimentos únicos.
Se ele bem souber aproveitar esse manancial de estudos psicológicos, ele aumentará sua capacidade de
compreender o ser humano e mesmo sua capacidade de amá-lo — pois sempre poderá constatar,
mesmo nas consciências mais criminosas, a centelha divina, o germe do amor universal, a ânsia de
perfeição, que estão latentes em todos os seres.
Condições éticas da mediunidadeKardec dedicou um capítulo inteiro do Livro dos Médiuns à questão da “influência moral do médium”,
(Cap. XX), estudando as condições éticas, necessárias para a prática mediúnica. É bem verdade que a
capacidade mediúnica independe do grau de moralidade do médium. Mas não se dá o mesmo quanto aos
resultados e quanto ao uso dessa capacidade.
Dividamos essa questão em três partes:
1) O compromisso sério de auto-aperfeiçoamento do médium e a posse de certos valores morais
básicos facilitam a comunicação dos Espíritos superiores e garantem a sua proteção constante, não por
uma questão de privilégio, mas por uma afinidade vibratória natural entre os que estão no Bem e o
médium que está procurando o Bem. De fato, a própria lucidez para discernir os Espíritos e as situações
depende de uma sintonia fina, que só se alcança mediante a elevação de sentimentos e a serenidade
existencial. Quem se rende ao orgulho, é facilmente mistificado por Espíritos bajuladores e dominadores.
Quem se rende à sensualidade desenfreada procura comparsas no plano espiritual, que lhe acompanhem
as preferências. Estamos, por toda parte, buscando as companhias que desejamos, de acordo com
nossas atitudes, palavras e pensamentos. Por isso, a moralização do médium é o melhor caminho para
que seus acompanhantes espirituais — ou a nuvem de testemunhas, a que se referia Paulo — sejam
também moralizados. É evidente que essa moralização está longe de significar a adoção de atitudes de
fachada, de voz mansa, humildade pretensiosa e santidade forçada. O médium é um ser humano normal
e deve agir com naturalidade e bom senso. Atitude ética é firmeza de princípios e aplicação na própria
melhoria e não pretensão à santidade.
2) Não basta a intenção séria, porém. É preciso certo equilíbrio emocional, para que a mediunidade
flua como deve, no seu exercício existencial.
O médium é invadido diariamente por avalanches de
emoções desencontradas, vindas de todas as partes. Pode captar a depressão de alguém, a irritação de
outros, a obsessão de terceiros… além do ataque de seus próprios inimigos espirituais, ligados ao seu
passado ou adversários gratuitos de sua tarefa. Se ele mesmo não estiver centrado em si, se não possuir
um reduto íntimo de serenidade e usar a cada instante as armas da oração e da vigilância, acabará sendo

levado de roldão. Por isso, ao mesmo tempo em que a mediunidade propicia o autoconhecimento, é
preciso que o médium esteja constantemente analisando a si próprio, para distingüir o que é seu do que
vem de fora e saber edificar uma fortaleza interior.
3) O engajamento do médium num processo de auto-educação significa também que ele usará as
suas potencialidades psíquicas de forma responsável e benéfica.
O Livro dos Médiuns fala em
“desejar o bem e repelir o egoísmo e o orgulho”. (Cap. XX, ítem 226, n. 11). Ora, o uso responsável da
mediunidade pressupõe o abandono de todo interesse pessoal e isso engloba dinheiro, poder, fama ou
mesmo retribuição psíquica e afetiva. É importante frisar esse aspecto, porque a tentação diária a que o
médium se vê submetido é muito grande. Dado o atavismo milenar da humanidade de procurar gurus e
agarrar-se a pajés, oráculos e ledores de sorte, existe a tendência de se projetar esses anseios de
dependência para os médiuns contemporâneos — e alguns se comprazem nisso. Pelo fato de possuírem
um conhecimento mais preciso de dadas situações ou pessoas ou mesmo do passado e do futuro, esse
conhecimento muitas vezes é usado como meio de manter os outros em dependência psíquica ou em
estado de idolatria. O médium e seu cliente entram num jogo de vampirismo mútuo, em que o primeiro se
alimenta da adoração servil e o segundo se vicia nas orientações e conselhos para sua vida particular.
Portanto, uma relação de poder, em que o orgulho e o egoísmo entram como atores principais. Para se
evitar esse tipo de desvirtuamento das relações sociais mediúnicas, propomos alguns cuidados para
reflexão dos médiuns e dos espíritas em geral:
Nem tudo que se percebe deve ser dito. É preciso considerar as circunstâncias, as pessoas e as
situações. O médium pode ajudar com dicas, orações e ações concretas, mas não deve interferir
na liberdade alheia.
É preciso evitar os laços de dependência. Se observado algum traço de fanatismo ou idolatria
entre aqueles que convivem com o médium, alertá-los e chamar atenção para o fato de que
ninguém é infalível. Se preciso for, usar de franqueza contundente para afastar a bajulação, ao
invés de incentivá-la com acolhimento piegas. Melhor a humildade rude que a vaidade
sorridente.
Usar a mediunidade sempre em sentido educacional. Através dela, podemos consolar, aliviar,
curar, orientar moralmente, mas jamais devemos satisfazer curiosidades, interferir na vida alheia,
traçar diretrizes impositivas ou deixar pessoas perplexas, assustadas ou confusas com
informações que elas não podem ainda digerir.
O médium não deve fazer da mediunidade sua única atividade na vida (mesmo obedecendo à
Ética espírita da gratuidade mediúnica), mas deve dedicar-se a várias atividades e desenvolver
diversas potencialidades, para afastar-se do fanatismo e ser uma pessoa integral.
Se o médium vier a construir uma liderança pessoal num dado ambiente, que essa liderança não
seja baseada na mediunidade. Diz O Livro dos Médiuns que “um médium é um instrumento que,
como indivíduo, importa muito pouco” (Cap. XX, ítem 226, n. 5). Observe-se que Kardec, na
maioria das vezes, nem revelava o nome dos médiuns que atuavam na Sociedade Parisiense de
Estudos Espíritas. Ao contrário, no Brasil, lideranças são construídas com fundamento na
mediunidade. O valor do líder deve estar no próprio líder e não no fato de ele servir de
intermediário entre dois mundos. Um líder pode ser médium, mas não deveria ser líder por ser
médium.

É preciso sempre e em tudo conservar a autonomia de julgamento. Os Espíritos podem nos
trazer idéias, orientações; os médiuns podem vislumbrar algo por meio de uma percepção
extrafísica, mas o julgamento e a ação cabem ao homem encarnado, que está na Terra
justamente para desenvolver-se, usando sua liberdade de pensar e de agir e afinal de construir a
si mesmo.

Por Dora Incontri

11 de jun. de 2019

A Dificuldade de Aceitar o Novo



A ciência conseguiu, neste século 20, proezas antes não sonhadas. Em qualquer aspecto da vida e do
conhecimento, as proposições, investigações e pesquisas científicas revisaram os conceitos consagrados
nos séculos passados.
Apesar desse avanço científico, queimando etapas e ganhando terreno em tempo cada vez menor, a
repercussão social parece longe de abalar os velhos conceitos espiritualistas.
Para a grande maioria das pessoas, as descobertas científicas só têm sentido imediato quando produzem
remédios e desenvolvem tecnologias para curar doenças, resolver problemas físicos e mentais.
Por isso, permanece o espiritualismo difuso de nossos dias. Principalmente no âmbito das religiões e
crenças, sejam do mundo ocidental como do oriental.
A fé da massa não é abalada por essas descobertas, a não ser a longo prazo, pois a pressão dos fatos
modela a cultura, levada a aceitá-los e mudar.
E ainda que a crença em Deus seja obscura e baseada em temor, para a maioria deixar de crer num
deus, seja o Alá do Islã ou Jeová dos cristãos e judeus, precipita a pessoa num vazio e num vácuo de

insegurança.
No cenário confuso da atualidade, coexistem, paralelamente, com os avanços jamais sonhados da
ciência, ledores de mãos, jogadores de búzios, adivinhadores, salvadores carismáticos. As igrejas
continuam com seus rituais, pessoas participam de sessões de macumba, vudu, umbanda, quimbanda e
outras formas sinergéticas e animastes de crenças, ao lado de aparelhos de ressonância magnética,
viagens interplanetárias, teorias sobre o início do Universo e na era da cibernética, da comunicação por
satélites, enfim, como diria o humorista, um verdadeiro ”samba do crioulo doido”.
É Preciso Atualizar a DoutrinaDiante dessa realidade insofismável, como o Espiritismo se posiciona? Sua mensagem, sua postura, sua
forma de atuar está compatível com as novas perspectivas não apenas científicas, mas humanas do
mundo atual ?
Falamos de uma quantidade de exigências morais, de valores que foram deixados de lado, principalmente
após a 2ª Guerra Mundial. Seriam esses valores apenas repressores? Todas as doutrina religiosas teriam
falhado ?
É preciso atualizar o Espiritismo?
Essa pergunta, óbvia para quem segue o pensamento de Allan Kardec, é rechaçada pelo sistema
doutrinário. Por que essa proposta de Kardec permanece no limbo das proibições? Será que o projeto de
um Espiritismo dinâmico capaz de evitar o imobilismo, sujeito ao progresso era um sonho irrealizável, uma
proposta sem sentido?
Ao dizer que foi Jesus Cristo quem elaborou a Doutrina, com o pseudônimo de Espírito da Verdade,
reduzindo o papel de Kardec a um escrevente inteligente, imobilizou-se o pensamento doutrinário,
porque, então, como afirmou o Conselho Federativo Nacional, ninguém pode atualizar o que veio do
“alto”.
Engessou-se o Espiritismo ficando semelhante aos evangélicos que se fixaram nas letras sagradas da
Bíblia e do Novo Testamento e dali não arredam o pé. O que está escrito não pode ser mudado, porque
os livros bíblicos foram inspirados por Deus e quem pode desdizer Deus? E a Igreja Católica, que, apesar
de encíclicas e perdões históricos, mantém sua doutrina com persistência, para justificar o seu alegado
legado de representante de Deus na Terra.
A recusa em aceitar que a Doutrina Espírita é capaz de modificar certos conceitos sem perder sua base,
mostra como foi descaracterizada, desviada do sentido que lhe deu seu fundador.
A partir do momento que o Espiritismo foi institucionalizado, começou sua descaracterização,
transformado numa seita ligada ao modelo judaico cristão do pecado e do castigo.
A descaracterização básica do Espiritismo iniciou-se bem no começo, pela introdução do roustainguismo.
Este está muito mais enraizado do que se supõe, pois até os mais ferrenhos anti-roustanguista, mesmo
que não o admitam, foram influenciados pelo apelo cristolatra, base do pensamento de Roustaing,

referendado pelo Espírito Emmanuel, um adorador de Jesus Cristo.
Calcado nessa cristolatria, que Allan Kardec jamais admitiu, os egressos do catolicismo encontraram um
movimento espírita, de modo geral, tão parecido, em termos, com as características das igrejas, que não
precisaram de muito esforço para adaptar-se.
Isso pode ser constatada na prática. Presidentes de Mocidades e Centros Espíritas casam-se no ritual
católico, fazem missa de sétimo dia, alguns chegam a batizar seus filhos na Igreja. Não se trata de
sectarismo, mas de definição. E centenas de freqüentadores assíduos, participantes e médiuns, na hora
“h “correm para os braços da Madre Igreja, de onde, estruturalmente, nunca saíram.
O Espiritismo para eles é uma grande capa que os agasalha, mas jamais o aceitaram como uma
mudança revolucionária na visão de homem e de mundo.
A idéia de atualizar irrita e amedronta os que estão mergulhados nessa visão cristã do Espiritismo.
Artigo de Julho de 2000 

  Por Jaci Régis

9 de jun. de 2019

A Bíblia: um Livro de Origem Mediúnica.



Sem dúvida que os religiosos literais ficarão escandalizados com esta afirmação, mas, terão que reler a
Bíblia, pois, esta afirmação está lá.
São fatos registrados na própria Bíblia que denuncia ser este, um livro cheio de fenômenos mediúnicos.
A verdade é que aqueles que adoram gritar de Bíblia em punho, que a reencarnação não tem bases
Bíblicas e nem a sobrevivência da alma, na verdade não conhecem uma coisa nem outra.
Ignoram o que seja a Bíblia e não fazem a mínima noção do que seja Doutrina Espírita, prova é que
confunde espiritismo com todos os ramos espiritualistas.

Todo espírita é espiritualista, mas nem todo espiritualista é espírita.
O que encontramos na Bíblia? Temos materialização de espíritos, levitação, clarividência e todos os
fenômenos estudados pela doutrina espírita, e classificados posteriormente pela ciência parapsicológica.
Entretanto, quem declarou que a Bíblia é de origem Mediúnica foi o apóstolo Paulo. Atos;7:53
Vós que
recebestes a lei por ministério de anjos.
Confirmado em Hebreus 1:14 Não são todos eles espíritos
ministradores enviados para serviço.
O que é um fenômeno mediúnico?A mediunidade é o nome atribuído a uma capacidade humana que permite uma comunicação entre
homens e espíritos. Ela se manifestaria independente de religiões, de forma mais ou menos intensa em
todos os indivíduos.
Assim, um espírito que deseja comunicar-se entra em contato com a mente do médium e, por esse meio,
se comunica oralmente (psicofonia), pela escrita (psicografia), ou ainda se faz visível ao médium
(vidência).
Vamos aos fenômenos mediúnicos. Deuteronômio cap. 4 :22 a 31 aqui temos ectoplasma
(Materialização)
“no monte, do meio do fogo, da nuvem e da escuridade”. Este fenômeno foi estudado por
William Crooks quando fotografou a materialização do espírito de Katin King, por um período de 3 anos
ele documentou seu estudo com 44 fotografias.
Atos 8:26 e 29.
Então disseram o espírito a Felipe aproxima-se deste carro e acompanha-o. Daniel 5:5No
mesmo instante apareceu uns dedos de mão de homem, e escreviam, defronte.
Atos 12:7 Eis, porém que sobreveio um anjo do senhor, e uma luz iluminou a prisão.O que temos aqui nestas passagens: vidência, psicofonia e materialização.
Mas o que salta ao olhos é que os espíritos eram considerados anjos, como hoje são considerados
santos. Entretanto são apenas espíritos, os mesmos espíritos como os que provocaram uma onda de
fenômenos que acabou por dar origem à ciência espírita.
Na verdade, nem anjos, nem demônios; muito menos santos, apenas espíritos.
As maiorias das pessoas não conhecem a Bíblia através de uma leitura crítica, mas apenas pela
interpretação de terceiros, e são levadas a acreditar em todo tipo de interpretação esdrúxula e aceitam
sem cogitar de sua veracidade.
O que é a Doutrina Espírita?O Espiritismo é a ciência que trata da natureza, origem e destino dos espíritos, bem como de suas
relações com o mundo corporal.
Não é nem pretende ser uma religião social, visto que não disputa lugar entre as igrejas e seitas e muito

menos adeptos, vem apenas auxiliar as religiões na obra de espiritualização dos homens.Pois, a finalidade das religiões é arrancar o homem da animalidade e leva-lo à moralidade.Nisto que a
doutrina espírita vem contribuir com seus estudos e suas pesquisas sobre a mediunidade.
Todavia muito antes de Kardec escrever
O Livro dos Médiuns, a Bíblia já ensinava como proceder em
uma reunião Espírita.
( I corintios cap.14 a 15).Clarividência na Bíblia encontra-se em (Ezequiel cap.22 v.8), mais adiante levitação (Ezequiel cap.3 v.
14 e 15).
Materialização e Escrita direta se encontram em (Daniel cap.5 v.4,5 e 6).
A Doutrina Espírita foi a primeira a estudar todos os eventos mediúnicos que aparecem por toda a Bíblia,
os quais ocorrem por toda a história da civilização, e que foram classificados ora por sobrenaturais, ora
por obra do demônio.
Cabia ao espiritismo como doutrina cientifica e filosófica, revelar que não existem anjos e nem demônios,
e que o sobrenatural era apenas a ignorância de certas leis até então desconhecidas.
Mas, e a proibição de evocar os mortos?
Esta proibição por si já é a prova que os espíritos poderiam
se comunicar,
pois como proibir algo que não existe?
( Deuteronômio cap.18 ), o que a Bíblia condena, também o Espiritismo condena.
O Evangelho Segundo o Espiritismo:
“Não soliciteis milagres nem prodígios ao Espiritismo porque ele
declara formalmente que não os produz”.
Todavia vamos indo mais adiante, se existia a proibição de evocar os mortos que são espíritos como na 1
epistola de João cap4 v1, a recomendação é a seguinte;
“Amados, não deis crédito a qualquer espírito:
antes, provai os espíritos se procedem de Deus”.
Porque esta recomendação se existia uma proibição de consultar os mortos?Em A Gênese, e em O Livro dos Espíritos, Kardec esclarece que a finalidade da prática espírita é
moralizar os homens e os povos; E quem conhece o Espiritismo sabe que todo o interesse pessoal,
particular, é rigorosamente condenado. Adivinhações, agouros, feitiçaria, encantamentos, consultas
interesseiras, são praticas de magia antiga, que Moisés condenou, como o Espiritismo condena hoje.
Na verdade, é que
aqueles que declaram de Bíblia em punho, que o Espiritismo é condenado na
bíblia, não conhecem uma coisa nem outra,
pois existe uma diferença enorme entre a capacidade de
reconhecer palavras, e a capacidade de ler compreensivamente.
O que se percebe com facilidade é a multiplicação de seitas forjadas por videntes e profetas de ultima
hora ungidos pelo Deus mamon, na sua maioria leigos, que se apresentam como missionários de olhos
mais voltados para os bens terrenos do que para os tesouros do Céu.

São míopes conduzindo cegos para o precipício da ignorância e do fanatismo, no qual fatalmente cairão.
O que todos devem ter em mente é que quando não existe questionamento e crítica, quando não há
debate transparente, certamente haverá dominação, ignorância, apatia e graves entraves à autonomia da
razão humana e ao desenvolvimento espiritual da humanidade.


Por Francisco Amado

7 de jun. de 2019

O Livro dos Espíritos e a História



Poucas vezes avaliamos a luta heróica para se divulgar e implantar uma idéia. Por exemplo: quando
lemos
O Livro dos Espíritos não fazemos idéia da extraordinária jornada do pensamento humano para
chegar até este ponto.
Esta jornada teve início com a chegada do homem na Terra, desde as épocas mais recuadas, passando
pelas várias idades da humanidade, como a idade da pedra polida, pré-história, a invenção da escrita,
pelas outras fases como a litolatria, a fitolatria, a zoologia, o politeísmo, o Código de Hamurabi, o
Monoteísmo de Moisés com o seu código de Talião - olho por olho - dente por dente, trazendo os
princípios da justiça, e a defesa do mais fraco contra a força do mais forte, com o Torá.
Surge, então, a era dos profetas hebreus, com suas linguagens austeras, implantando a justiça pelo medo
do castigo. A história foi pisada pelas patas dos cavalos dos bárbaros, como Tarmelão, Gengis Khan, e
brilhou no ferro das espadas de grandes conquistadores, como Alexandre, Amílcar Barca, Anibal, Júlio
César.
Espalhou-se pelo mundo com as legiões romanas, e consagrou altares nos sacrifícios de vários cultos, de
Baal a Jeová, de Zeus a Júpiter. Passou por corações mansos e pacíficos como Buda, Confucio,
 

 
culminando numa manjedoura com Jesus de Nazaré, que, ao caminhar pelas estradas do mundo, deixou
desprender-se de suas sandálias poeira de estrelas, que nunca mais puderam ser apagadas.
Veio depois a diáspora e os judeus se espalharam pelo mundo, levando em seus corações as esperanças
de uma pátria. Maomé surge no Levante e ergue o estandarte do islamismo.
Depois aconteceu a terrível nódoa das cruzadas, e mais à frente a negra noite da idade média, com o
Tribunal da Santa Inquisição, quando, em nome de Jesus de Nazaré, que deu sua própria vida para
iluminar o mundo, torturou-se e matou-se em defesa da fé e da salvação das almas
Coisa maravilhosa foi a invenção da imprensa e a reforma protestante, marcos indeléveis desta
caminhada, pois, sem elas, não haveria o Espiritismo
Nesta caminhada fabulosa veio a revolução francesa, os Iluministas e grandes inteligências. Infelizmente
houve, também, a mancha da escravidão negra e o colonialismo explorador das nações fortes sobre as
fracas, até que o plano espiritual determina que os espíritos invadam a Terra, e surge a primeira ponta de
lança desta invasão a aldeia de Hidesvylle, com as meninas Fox e o espírito Charles Rosma.
É chegado o momento! Em abril de 1857 é lançada em Paris a primeira edição deste livro que agora
compulsamos e consultamos em nossa língua, com todas as facilidades e toda a liberdade. Mas para
chegar a esse direito de ser livre, quanto sangue foi derramado, quantos morreram, quantas fogueiras da
intolerância foram acesas e alimentadas com a carne humana, e com os ideais daqueles que caminham à
frente da humanidade
Por tanto, meu amigo e minha amiga; reverencie este livro! Ame-o profundamente, pois ele não é
somente um livro impresso, é toda uma história apaixonante e de extrema coragem. Se você penetrá-lo
com o seu olhar, além das suas páginas, verá todo esse caminhar da humanidade. Depois dele ainda
aconteceram muitas guerras, e duas conflagrações mundiais, mas com certeza, você que o leu e meditou
nos seus ensinamentos, já não é mais o mesmo
Agora você sabe de onde veio, o que faz na Terra e para onde vai quando deixá-la. Hoje você sabe que a
morte não existe, pois esse livro matou a morte, e agora você sabe que é imortal, e porque, mas
sobretudo para quê
Apure a sua audição parapsiquica, encoste seus ouvidos espirituais na capa deste livro e ouvirá os
gemidos da história, o sibilar das flechas, o tropel dos cavalos, o bater das ondas no casco dos navios de
Colombo, o troar dos canhões, as terríveis explosões atômicas sobre Iroshima e Nagazaki, o lamento dos
negros nos porões dos navios negreiros, os discursos de Sócrates e Platão, o cântico dos anjos: Glória a
Deus Nas Alturas e Paz na Terra, e Boa Vontade para com os homens. Mas sobretudo o Sermão da
Montanha, as bem aventuranças..
Você ainda pode ser o mesmo? NÃO! Nunca mais!
 


Por Amílcar Del Chiaro Filho

5 de jun. de 2019

Sonhos Premonitórios



Discute-se, frequentemente, sobre a possibilidade de se conhecer o futuro. Dizem alguns que o futuro a
Deus pertence. Entretanto, existem situações através das quais algumas pessoas entram numa
determinada faixa vibratória, por revelação feita díretamente por Espíritos, sonhos ou claravidência
sonambúlicas (o espírito fica parcialmente liberto do corpo físico), e elas têm acesso a informações sobre
o futuro.
Não é tão raro quanto se imagina. Embora a maioria desses fenômenos não seja divulgada, quando
acontece entre pessoas ilustres despertam mais interesse e divulgação.
Como exemplo, lembramos dois casos bastante conhecidos: o de Martin Luther King e o de Abraham
Lincoln.
a) Martin Luther KingRevela o jornal parisiense France-Dimanche em seu número 1.130, que dois dias antes de ser
assassinado, o líder negro tivera um sonho em que se via estendido em um caixão mortuário e cercado
de milhares de pessoas. Impressionado como sonho chamou seu amigo Andy Young e telefonou para a
sua esposa informando sobre o acontecido.
Na véspera da tragédia, ele se encontrava discursando para os membros das associações sanitárias em
Memphis, quando surpreendeu a todos falando:
"muitas vezes penso na minha morte e no meu enterro.
Se um dia alguém de vós falar sobre a minha campa, diga que Martin Luther King deu a vida pelos seus
irmãos, para vestir os pobres e alimentar os esfomeados".
Parecia sem sentido o que falara. Porém, a
previsão tornou-se realidade; algum tempo depois, ele foi assassinado.
b) Abraham LincolnAlguns dias antes de ser assassinado, Lincoln teve um sonho que o deixou impressionado. Numa
oportunidade onde se encontrava com algumas pessoas, Inclusive a sua esposa, ele contou:
"Há-uns dez dias recolhi-me muito tarde. Pouco tempo depois de estar deitado, caí em sonolência, pois
estava fatigado e, em breve, comecei a sonhar. Parecia haver, à minha volta, um silêncio de morte.
 

   Subitamente ouvi soluços convulsivos, como se muitas pessoas estivessem chorando. Julguei ter deixado
a cama e que vagueava pelo andar inferior. Aí o silêncio foi quebrado por dolorosos soluços, embora a
pessoa que assim se lamentava estivesse invisível. Andei de sala em sala. Não havia à vista qualquer
pessoa viva, mas, onde quer que passassse, esperavam-me os mesmos lamentos de dor, todos os móveis
me eram familiares. Onde estávam, contudo, aquelas pessoas que assim se lamentavam como sê seus
corações estivessem dilacerados? Sentia-me em verdade, confuso e alarmado. Que significaria tudo
aquilo? Decidido a descobrir a causa do mistério, continuei deambulando até a sala oriente.
Ali me esperava uma surpresa macabra.
Diante de mim erguia-se um cadafalso, no qual repousava um cadáver envolto em vestes fúnebres. Em
volta perfilavam-se soldados, fazendo guarda, e uma enorme multidão. Outros contemplavam
lamentosamente o corpo cuja face estava coberta. Outros soluçavam piedosamente.
- Quem morreu na Casa Branca? - perguntei a um dos soldados. - O Presidente - foi a resposta.
- Ele foi assassinado.
"Da multidão veio, então, uma explosão ruidosa de dor que me despertou do sonho. Não dormi mais
naquela noite e, se bem que se trate de um sonho; desde então encontro-me estranhamente
indisposto".
Não demorou mais do que alguns dias, em 14 de abril de 1865, no Teatro Ford, de Washington, Abraham
Lincoln, era alvejado por um tiro de pistoola, vindo a falecer no dia seguinte.
Sejam quais forem as definições dadas para os sonhos, se não se considera a participação do Espírito,
tornam-se estas sem consistência.
Para uma explicação mais lógica, que elucide este mistério dos sonhos (inalcançável pela Ciência
materialista), trazemos a lume definição de Allan Kardec: "Os sonhos são efeito da emancipação da alma,
que mais independente se torna pela suspensão da vida ativa e de relação. Daí uma espécie de
clarividência Indefinida que se alonga até os mais afastados lugares, até mesmo a outros mundos" (O
Livro dos Espíritos, p. 216).
Neste estado de liberação, provisória (pelo sono), também o Espírito poderá ter acesso aos arquivos do
inconsciente, onde se encontram registrados episódios importantes de sua vida, tanto com relação ao
passado, como ao planejamento com relação ao futuro. Como parte integrante deste, a data e o gênero
de morte.

F. Altamir de Lima

Conceito de Mediunidade




Médium quer dizer medianeiro, intermediário. Mediunidade é a faculdade humana, natural, pela qual se
estabelecem as relações entre homens e espíritos.
Não é um poder oculto que se possa desenvolver através de práticas rituais ou pelo poder misterioso de
um iniciado ou de um guru. A Mediunidade pertence ao campo da comunicação. Desenvolve-se
naturalmente nas pessoas de maior sensibilidade para a captação mental e sensorial de coisas e fatos do
mundo espiritual que nos cerca e nos afeta com as suas vibrações psíquicas e afetivas. Da mesma forma
que a inteligência e as demais faculdades humanas, a Mediunidade se desenvolve no processo de
relação. Geralmente o seu desenvolvimento é cíclico, ou seja, processa-se por etapas sucessivas, em
forma de espiral. As crianças a possuem, por assim dizer, à flor da pele, mas resguardada pela influência
benéfica e controladora dos espíritos protetores, que as religiões chamam de anjos da guarda. Nessa
fase infantil as manifestações mediúnicas são mais de caráter anímico; a criança projeta a sua alma nas
coisas e nos seres que a rodeiam, recebem as intuições orientadoras dos seus protetores, às vezes vêem
e denunciam a presença de espíritos e não raro transmitem avisos e recados dos espíritos aos familiares,
de maneira positiva e direta ou de maneira simbólica e indireta. Quando passam dos sete ou oito anos
integram-se melhor no condiciona-mento da vida terrena, desligando-se progressivamente das relações
espirituais e dando mais importância às relações humanas. O espírito se ajusta no seu escafandro para
enfrentar os problemas do mundo. Fecha-se o primeiro ciclo mediúnico, para a seguir abrir-se o segundo.
Considera-se então que a criança não tem mediunidade, a fase anterior é levada à conta da imaginação e
da fabulação infantis.
É geralmente na adolescência, a partir dos doze ou treze anos, que se inicia o segundo ciclo. No primeiro
ciclo só se deve intervir no processo mediúnico com preces e passes, para abrandar as excitações
naturais da criança, quase sempre carregadas de reminiscências estranhas do passado carnal ou
espiritual. Na adolescência o seu corpo já amadureceu o suficiente para que as manifestações
mediúnicas se tornem mais intensas e positivas. É tempo de encaminhá-la com informações mais
precisas sobre o problema mediúnico. Não se deve tentar o seu desenvolvimento em sessões, a não ser
que se trate de um caso obsessivo. Mas mesmo nesse caso é necessário cuidado para orientar o
adolescente sem excitar a sua imaginação, acostumando-o ao processo natural regido pelas leis do
crescimento. O passe, a prece, as reuniões para estudo doutrinário são os meios de auxiliar o processo
sem forçá-lo, dando-lhe a orientação necessária. Certos adolescentes integram-se rápida e naturalmente
na nova situação e se preparam a sério para a atividade mediúnica. Outros rejeitam a mediunidade e
procuram voltar-se apenas para os sonhos juvenis. É a hora das atividades lúdicas, dos jogos e esportes,

do estudo e aquisição de conhecimentos gerais, da integração mais completa na realidade terrena. Não
se deve forçá-los, mas apenas estimulá-los no tocante aos ensinos espíritas. Sua mente se abre para o
contato mais profundo e constante com a vida do mundo. Mas ele já traz na consciência as diretrizes
próprias da sua vida, que se manifestarão mais ou menos nítidas em suas tendências e em seus anseios.
Forçá-lo a seguir um rumo que repele é cometer uma violência de graves conseqüências futuras. Os
exemplos dos familiares influem mais em suas opções do que os ensinos e as exortações orais. Ele toma
conta de si mesmo e firma a sua personalidade. É preciso respeitá-lo e ajudá-lo com amor e
compreensão. No caso de manifestações espontâneas da mediunidade é conveniente reduzi-las ao
círculo privado da família ou de um grupo de amigos nas instituições juvenis, até que sua mediunidade se
defina, impondo-se por si mesma.
O terceiro ciclo ocorre geralmente na passagem da adolescência para a juventude, entre os dezoito e
vinte e cinco anos. É o tempo, nessa fase, dos estudos sérios do Espiritismo e da Mediunidade, bem
como da prática mediúnica livre, nos centros e grupos espíritas. Se a mediunidade não se definiu
devidamente, não se deve ter preocupações. Há processos que demoram até a proximidade dos 30 anos,
da maturidade corporal, para a verdadeira eclosão da mediunidade. Basta mantê-lo em ligação com as
atividades espíritas, sem forçá-lo. Se ele não revela nenhuma tendência mediúnica, o melhor é dar-lhe
apenas acesso a atividades sociais ou assistenciais. As sessões de educação mediúnica (impropriamente
chamadas de desenvolvimento) destinam-se apenas a médiuns já caracterizados por manifestações
espontâneas, portanto já desenvolvidos.
Há ainda um quarto ciclo, correspondente a mediunidades que só aparecem após a maturidade, na
velhice ou na sua aproximação. Trata-se de manifestações que se tornam possíveis devido às condições
da idade: enfraquecimento físico, permitindo mais fácil expansão das energias perispiríticas; maior
introversão da mente, com a diminuição de atividades da vida prática, estado de apatia neuropsíquica,
provocado pelas mudanças orgânicas do envelhecimento. Esses fatores permitem maior desprendimento
do espírito e seu relacionamento com entidades desencarnadas. Esse tipo de mediunidade tardia tem
pouca duração, constituindo uma espécie de preparação mediúnica para a morte. Restringe-se a
fenômenos de vidência, comunicação oral, intuição, percepção extra-sensorial e psicografia. Embora seja
uma preparação, a morte pode demorar vários anos, durante os quais o espírito se adapta aos problemas
espirituais com que não se preocupou no correr da vida. Esses fatos comprovam o conceito de
mediunidade como simples modalidade do relacionamento homem-espírito. Kardec lembra que o fato de
o espírito estar encarnado não o priva de relacionar-se com os espíritos libertos, da mesma maneira que
um cidadão encarcerado pode conversar com um cidadão livre através das grades. Não se trata das
conhecidas visões de moribundos no leito mortuário, mas de típico desenvolvimento tardio de
mediunidade que, pela completa integração do indivíduo na vida carnal, imantado aos problemas do dia
a-dia, não conseguiu aflorar. A sua manifestação tardia lembra o adágio de que os extremos se tocam. A
velhice nos devolve à proximidade do mundo espiritual, em posição semelhante à das crianças.
Na verdade, a potencialidade mediúnica nunca permanece letárgica. Pelo contrário, ela se atualiza com
mais freqüência do que supomos, passa de potência a ato em diversos momentos da vida, através de
pressentimentos, previsões de acontecimentos simples, como o encontro de um amigo há muito ausente,
percepções extra-sensoriais que atribuímos à imaginação ou à lembrança e assim por diante. Vivemos
mediunicamente, entre dois mundos e em relação permanente com entidades espirituais. Durante o sono,
como Kardec provou através de pesquisas ao longo de mais de dez anos, desprendemo-nos do corpo
que repousa e passamos ao plano espiritual. Nos momentos de ausência psíquica de distração, de

cochilo, distanciamo-nos do corpo rapidamente e a ele retornamos como o pássaro que voa e volta ao
ninho. A Psicologia procura explicar esses lapsos fisiologicamente, mas as reações orgânicas a que
atribui o fato não são causa e sim efeito de um ato mediúnico de afastamento do espírito. Os estudos de
Hipnotismo comprovam isso, mostrando que a hipnose interfere constantemente em nossa vigília,
fazendo-nos dormir em pé e sonhar acordados, como geralmente se diz. A busca científica de uma
essência orgânica da mediunidade nunca deu nem dará resultados. Porque a mediunidade tem sua
essência na liberdade do espírito.
Chegando a este ponto podemos colocar o problema em termos mais precisos: a mediunidade é a
manifestação do espírito através do corpo. No ato mediúnico tanto se manifesta o espírito do médium
como um espírito ao qual ele atende e serve. Os problemas mediúnicos consistem, portanto,
simplesmente na disciplinação das relações espírito-corpo. É o que chamamos de educação mediúnica.
Na proporção em que o médium aprende como espírito, a controlar a sua liberdade e a selecionar as suas
relações espirituais, sua mediunidade se aprimora e se torna segura. Assim o bom médium é aquele que
mantém o seu equilíbrio psicofísico e procede na vida de maneira a criar para si mesmo um ambiente
espiritual de moralidade, amor e respeito pelo próximo. A dificuldade maior está em se fazer o médium
compreender que, para tanto, não precisa tornar-se santo, mas apenas um homem de bem. Os objetivos
de santidade perseguidos pelas religiões, através dos milênios, gerou no mundo uma expectativa
incômoda para todos os que se dedicam aos problemas espirituais. Ninguém se torna santo através de
sufocação dos poderes vitais do homem e adoção de um comportamento social de aparência piedosa. O
resultado disso é o fingimento, a hipocrisia que Jesus condenou incessantemente nos fariseus, uma
atitude permanente de condescendência e bondade que não corresponde às condições íntimas da
criatura. O médium deve ser espontâneo, natural, uma criatura humana normal, que não tem motivos para
se julgar superior aos outros. Todo fingimento e todo artifício nas relações sociais leva os indivíduos à
falsidade e à trapaça. A chamada reforma - íntima esquematizada e forçada não modifica ninguém,
apenas artificializa enganosamente os que a seguem. As mudanças interiores da criatura decorrem de
suas experiências na existência, experiências vitais e consciências que produzem mudanças profundas
na visão íntima do mundo e da vida.
Essa colocação dos problemas mediúnicos sugere um conceito da mediunidade que nos leva às próprias
raízes do Espiritismo. A Mediunidade nos aparece como o fundamento de toda a realidade. O momento
do Fiat, da Criação do Cosmos, é um ato mediúnico. Quando o espírito estrutura a matéria para se
manifestar na Criação, constrói o elemento intermediário entre ele e a realidade sensível ou material. A
matéria se torna o médium do espírito. Assim, a vida é uma permanente manifestação mediúnica do
espírito que, por ela, se projeta e se manifesta no plano sensível ou material. O Inteligível, que é o
espírito, o princípio inteligente do Universo, dá a sua mensagem inteligente através das infinitas formas da
Natureza, desde os reinos mineral, vegetal e animal, até o reino hominal, onde a mediunidade se define
em sua plenitude. A responsabilidade do Homem, da Criatura Humana, expressão mais elevada do
Médium, adquire dimensões cósmicas. Ele é o produto multimilenar da evolução universal e carrega em
sua mediunidade individual o pesado dever de contribuir para que a Humanidade realize o seu destino
cósmico. A compreensão deste problema é indispensável para que os médiuns aprendam a zelar pelas
suas faculdades.

Por José Herculano Pires

4 de jun. de 2019

Conversando com Espíritos


Já que o Espiritismo não admite, em hipótese alguma, a fé cega, o fanatismo, o crer por crer, o aceitar
com base na influência dos outros e a prática religiosa sem racionalidade, cumpre ao espírita sério
orientar as pessoas acerca dessa questão de falar com espíritos, falar com pessoas que “já morreram”,
participar de uma “sessão espírita”, de um “trabalho mediúnico”, que é coisa que muita gente tem
curiosidade em saber.
Em princípio, a pessoa não deve se deixar levar por certas argumentações baseadas em “a Bíblia diz”,
porque determinadas pessoas, “conselheiras” religiosas, se referem muito ao “a Bíblia diz” sem
analisarem profundamente o mesmo questionamento em várias outras passagens da mesma Bíblia.
Por exemplo: Dizem que Moisés proibiu a comunicação com os “mortos”. Todavia ele mesmo, que já
havia morrido, apareceu e comunicou-se com Jesus, Pedro e Tiago, no Tabor, para deixar bem claro que
a história foi mal contada ou mal interpretada. Detalhe: Jesus concordou, porque conduziu a comunicação
normalmente, com a testemunha dos apóstolos.
O Vaticano, recentemente, através de longa entrevista do Cardeal Gino Cosseti, no “Oservatore
Romano”, órgão oficial da Santa Sé, afirmou categoricamente que existe, que é possível e que deve ser
feita a comunicação com os chamados “mortos”, desde que feita com responsabilidade, com motivos
úteis, com seriedade e sem brincadeira ou má intenção.
É exatamente isso que o Espiritismo ensina, há mais de 150 anos.
Apesar da seriedade com que a Doutrina Espírita apresenta a questão e recomenda aos praticantes do
Espiritismo, infelizmente existe ainda muita gente em busca de notoriedade às custas dela, querendo
aparecer de qualquer maneira, fazendo do Centro Espírita um verdadeiro picadeiro de circo.
É aí quando você vê em alguns centros, rotulados com o nome de “espírita”, médiuns fungando, batendo
nas mesas, sacudindo as pessoas, dando puxões nos braços dos frequentadores, aperta aqui aperta ali,
gesticula, fala alto, sacode a cabeça, respira forte e faz um monte de trejeitos.
É Espiritismo isso?

Não! É palhaçada mesmo. Exibicionismo! É a necessidade de ser o centro das atenções para os
frequentadores da casa.
Quando o centro “espírita” coloca um monte de gente para participar do trabalho mediúnico, inclusive
pessoas que vão à casa pela primeira vez, maioria por curiosidade e abrindo esse trabalho para o público;
com todo respeito aos dirigentes dos centros que praticam isso, a verdade é que estão cometendo um ato
de muita irresponsabilidade, desconsideração ao frequentador e desrespeito para com a Doutrina
Espírita.
Em determinados “centros”, quando o freqüentador tem dinheiro, é alguém de certo destaque na
sociedade, todas as atenções são voltadas para essa pessoa, que é convidada a participar da sessão e
sentar na tal mesa que muitas casas adotam, sempre forradas com toalhas brancas (não sei porque
insistem tanto em ter que ser branca).
Aí aparece um monte de “espíritos” com mensagens para o “ilustre” visitante e toda aquela xaropada.
É bom salientar que esse puxa saquismo existe também em tudo quanto é religião, principalmente
naquelas que adoram os cifrões.
Repito que o Centro Espírita não pode ser apresentado como se fosse um picadeiro de circo.
O Centro Espírita não é lugar para curiosos. Ele aceita, sim, a visita de pessoas que desejam pesquisar,
observar, checar, perguntar e questionar, sem problema algum, desde que com seriedade e
responsabilidade, jamais com deboche.
Para participar de um trabalho mediúnico, a pessoa deve já estar, indispensavelmente, orientada sobre o
que é o Espiritismo, qual a sua razão, os seus objetivos, as suas propostas, quais os seus postulados,
como vivem os espíritos, como se processa uma comunicação de um desencarnado com um encarnado
etc.
Essas coisas só podem ser conhecidas com a leitura das obras básicas do Espiritismo, a começar por “O
Livro dos Espíritos” e em seguida pelo “Livro dos Médiuns”.
Quero esclarecer que são livros de mais de 400 páginas, cada um. Se você tem preguiça de ler, não
gosta de ler, não está disposto a ler, é melhor esquecer que existe alguma coisa que você chama de
“sessão espírita”. Não vá!
Alguém que não quer, de forma alguma, aprender a dirigir, não pode querer pegar no volante de um carro
e sair por aí, porque correrá o sério risco de se ferir e até se matar, além de ferir ou matar os outros.
Ao contactar com o espírito no Centro, em primeiro lugar é bom checar se é um espírito desencarnado
mesmo que está se comunicando ou se é o médium que está mistificando ou praticando animismo. Isso
você só vai saber o que é, estudando os livros propostos. Identificar espíritos e suas intenções é fácil
demais. Só mesmo quem não tem qualificação racional e é possuidor de inteligência de minhoca, é capaz
de dizer que todos os espíritos são demônios ou que todos são bons orientadores.

Espírito verdadeiramente bom e honesto jamais ficará aborrecido se você questioná-lo, duvidar, recusar
determinadas orientações e conversar naturalmente com ele, como se fosse com uma outra pessoa
qualquer.
Se começar a se irritar, pode ter certeza de que é mistificação, desequilíbrio do médium e palhaçada
mesmo.
Enfim, gente. Espiritismo é coisa séria, ética, sensata, racional e de muita responsabilidade.
 

Por Alamar Régis Carvalho

Principais Fatores que Impedem o Desenvolvimento da Ideia Espírita.


Porque se Mantém Vigente o Velho Mundo Espiritual e Social
O mundo contemporâneo é um mundo adequado ao tipo de sensibilidade que responde aos interesses
das instituições atuais, mantidas por aqueles que participam “interessadamente” deste mundo “estanque”
do presente. Existem acordos gerais consistentes em não permitir a transformação dos organismos
sociais, sejam estes filosóficos ou religiosos. Por exemplo, em religião só se admite o que diz a Igreja
visto que, no atual estado de coisas, ela é a verdade e nenhum outro princípio religioso é permitido, já que
a verdade religiosa, para a situação social contemporânea, é a católica (atualmente também um pouco a
protestante).
Se aparece um pensador ou escola que apresente ao mundo de hoje um novo tipo de religião, é de
imediato rechaçado e perseguido por ser atentatório à “única verdade religiosa” que é a que representa o
dogma, uma vez que, para a ordem atual, o dogma é tão sustentável quanto a lei da gravidade e, por
essa razão, o homem religioso-dogmático fala de Deus trino, do Inferno, do diabo etc., como se estivesse
tratando de questões tão reais e positivas como a eletricidade. Para comprovar o que afirmamos, basta
falar com qualquer membro da Igreja e constataremos a anquilose mental (1) em que se encontra.
Todavia, qual ê a causa essencial desta situação neste mundo “estanque” do presente? Cremos que tudo
isso ocorre em razão do que esses dogmas representam para os interesses materiais da sociedade, uma
vez que apóiam espiritual e psicologicamente a ordem geral e particular do atual estado de coisas.

Uma ideia de Deus como a que apresenta o conceito espírita determinaria um grande estremecimento na
ordem eclesiástica e derrubaria tudo quanto agora se conhece no seio da Igreja, como “sistema de
hierarquia”. De modo que o mais conveniente é manter de pé esse “sistema” e não a verdade religiosa
que o Espiritismo revela ao pensamento do homem. Por esse motivo a ideia espírita, tanto para a Igreja
como para a presente ordem espiritual e social, é um perigo e uma ameaça para as velhas instituições
eclesiásticas, que durarão até que as forças do progresso não as substituam por uma nova visão do
Universo.
No mundo contemporâneo o avanço da verdade, em todos os aspectos, está paralisado pelos interesses
comuns das velhas instituições sociais. Vem daí que a evolução, ao ser detida em seu processo normal,
se torna violenta até converter-se em revolução agressiva.
A causa do extremismo comunista tem sua origem neste fenômeno repressivo da evolução, já que a
transformação das estruturas sociais são necessárias em virtude da própria evolução do indivíduo e
também porque o que deveria operar-se insensivelmente se vê na necessidade de ocorrer violentamente.
Por tal motivo, em Allan Kardec lê-se a reflexão seguinte:
“Sendo o progresso uma condição da natureza humana, não está no poder do homem opor-se-lhe.
É uma força viva, cuja ação pode ser retardada, porém não anulada por leis humanas más.
Quando estas se tornam incompatíveis com ele, despedaça-as juntamente com os que se esforcem
por mantê-las. Assim será até que o homem tenha posto suas leis em concordância com a justiça
divina, que quer que todos participem do bem e não a vigência de leis feitas pelo forte em
detrimento do fraco.” (2)
Pois muito bem: todos sabemos que estamos vivendo em uma época de total transformação. Os sistemas
e valores seculares deverão ceder ante o novo espírito da humanidade. Entretanto, o mundo atual se
aferra às velhas instituições, tratando de convencer o homem que tudo já foi oferecido definitivamente e
que as estruturas atuais são inamovíveis e imutáveis. Mas esta atitude dos que assim sentem, ao mundo
é antinatural, dando com isso origem à violência revolucionária.
Esta é a causa pela qual o comunismo nega a Deus e a toda ideia transcendente do homem e da história,
apresentando-nos um Estado totalmente naturalista, baseado no que se denomina “Materialismo
Histórico”. A força revolucionária do comunismo passa por cima de toda concepção ideológica espiritual
por considerá-la um sustentáculo da propriedade privada. Mas se os que dizem representar a democracia
facilitassem o curso da evolução, esse fenômeno de violência que vemos na tática comunista seria
interrompido sem dúvida alguma, uma vez que a modificação das coisas se daria com naturalidade e sem
alterações bruscas nem dolorosas.
Pelo que vemos podemos dizer que o comunismo é a consequência da repressão da evolução natural por
parte dos que pretendem manter o estado atual do mundo. O próprio Espiritismo, que não emprega a
violência para a propagação de seus ideais, sofre também a reação da velha ordem, pois que sua
concepção religiosa e filosófica determina modificações radicais nesse aspecto. E aqueles que vivem
como altos hierarcas, ocupando suntuosas posições no temporal e espiritual, tão pouco podem aceitar o
Espiritismo como uma ideia amiga e como expressão da verdade. A respeito, vejamos o que diz “O Livro
dos Espíritos”, na questão 798:

O Espiritismo se tornará crença comum ou ficará sendo partilhado como crença apenas por
algumas pessoas?
— Certamente que se tornará crença geral e marcará nova era na história da humanidade, porque
está na natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos. Terá,
no entanto, que sustentar grandes lutas, mais contra o interesse do que contra a convicção,
porquanto não há como dissimular a existência de pessoas interessadas em combatê-los, umas por
amor-próprio, outras por causas inteiramente materiais. Porém, como virão a ficar insulados,
seus contraditores se sentirão forçados a pensar como os demais, sob pena de se tornarem
ridículos.
Nos parágrafos transcritos encontra-se a causa da tergiversação que se faz em torno da ideia espírita,
desfigurando-a ante a opinião pública, a qual lamentavelmente é guiada e governada pelos que
representam a antiga ordem do mundo. Por tal motivo o poder material atual nunca admitirá o Cristo tal
como ele era, aceitando, em contrapartida, um Cristo-Deus vinculado a um representante terreno. E este
tipo de Cristo-Deus é o único real para o poder oficial; os demais são heréticos ou, quando não,
inspirados por Satanás, até mesmo o Cristo de amor e de verdade que a filosofia espírita nos apresenta.
Mas, para que exista um monarca religioso na Terra, é necessário aceitar um tipo de Cristo como o que
nos apresenta o dogma. Para que haja involução e imutabilidade espiritual e social, é preciso negar a
pluralidade de existências; e para que nosso planeta seja o centro do universo, como ainda o aceitam os
escolásticos e ortodoxos, é necessário negar a pluralidade dos mundos habitados. Sem estas duas
pluralidades o Universo, o Ser e a História permanecerão fixos e a antiga ordem não correrá o risco de
ser alterada em nenhum ponto de vista.
Por esse motivo, o Espiritismo explode como um vulcão, resultando disso como que uma constrição
através da qual se manifestam as forças reprimidas da evolução, ainda que desfiguradas pela violência.
Daí sucede que toda ideia evolucionista é ocultada e não se lhe dá acesso nas universidades nem nos
grandes órgãos de publicidade pois, para a cultura contemporânea só e aceitável aquilo que não afete o
dogma nem a sociedade presente, já que estas duas instituições deverão manter-se indefinidamente tal
como são, uma vez que representam os grandes interesses dos poderosos, os quais sem solução de
continuidade, transmitem de família a família os bens e benefícios que os povos produzem para todos em
geral.
A velha ordem do mundo é o fato determinante do estado caótico em que vivem os povos de nossa
época. Quando as leis de evolução sofrem reação, alteram-se os cursos naturais do progresso e
sobreveem as mais terríveis catástrofes, as guerras e os procedimentos chamados totalitários e
imperialistas. Enquanto a velha ordem não se decida a evoluir com o espírito do homem e da
humanidade, haverá comoções sociais e revoluções violentas. É necessário que a velha ordem
reconheça que deve promover a evolução da religião e da sociedade e, com elas, todas as estruturas
materiais e espirituais.
Enquanto existir um organismo mundial que pretenda representar a verdade divina, os valores religiosos e
filosóficos do Espiritismo serão considerados ilegais, errôneos e inspirados pelo demônio. A massa de
crentes, educada e conduzida por esse organismo eclesiástico mundial, como é lógico, levá-lo-á mais em
conta do que a palavra dos que divulgam as verdades espíritas. Dir-se-á o contrário de tudo quanto o
Espiritismo é e representa. Dir-se-á que os espíritas conversam com os mortos e que este ato é herético e

sacrílego, já que para a Igreja os mortos são intocáveis, pertencem-lhe e são de sua absoluta
incumbência. E a massa de crentes acreditará antes em seus pastores religiosos do que nos espíritas, no
que respeita à verdadeira situação que ocupam os mortos na vida do mais além.
A Igreja e os agora denominados “irmãos separados” (3) sabem impressionar bem os seus fiéis no que se
refere aos mortos. Para eles são seres totalmente distanciados da Terra e recolhidos alhures, na
ultratumba. Daí este conceito carente de toda base filosófica: “os mortos não falam nem se comunicam
com os vivos” o que é arma indispensável na prédica antiespírita que realizam. Argumentam, ante os fiéis,
que os mortos só podem comunicar-se com os vivos no seio da Igreja, pois que fora dela, não têm
nenhuma relação com o homem como indivíduo, nem com a sociedade como instituição histórica e
espiritual. E, desta forma, o Espiritismo é apresentado como “coisa repugnante” ante os que vivem mental
e espiritualmente dentro da velha ordem, supondo que não passa de necromancia praticada por pessoas
alienadas e cultores da magia negra.
Eis aqui, pois, onde se situa a origem da resistência que o Espiritismo encontra na cultura
contemporânea. Mas não nos esqueçamos de que toda “cultura” só merece aprovação quando não
diverge do dogma e da sociedade presente. E também assim ocorre relativamente à democracia: esta é
apenas “democrática” quando as liberdades que outorga não afetam o dogma e os interesses do
sociedade. Mas, nem bem as liberdades concedidas denunciam os fenômenos contraditórios da ordem
imperante, a democracia retira a livre expressão de pensamento por considerá-la atentatória à
estabilidade social e religiosa. E passa, então, a ser julgada comunista.
Mas, por que o Espiritismo, como movimento social, goza da liberdade em quase todos os países de
caráter cristão? A resposta é fácil: o Espiritismo é tolerado em sua ação porque tende a aliviar a situação
das massas trabalhadoras que os referidos países cristãos não se decidem solucionar. Pois, enquanto o
Espiritismo secunda o Estado nesta tarefa de auxiliar aos indigentes e trabalhadores, mas sem entrar na
análise da origem da miséria social, será bem visto, especialmente nos países chamados
subdesenvolvidos. Entretanto, nem bem o Espiritismo inicie uma investigação de visu (4) no que respeita
à origem da pobreza e da miséria que sofrem os povos, reclamando uma solução ante tão pavoroso
problema, e a ideia espírita passará a ser perseguida, proibida e até mesmo qualificada de comunista.
Pois que, ao fazer uma análise dos fenômenos sociais, bem como a do homem e do pauperismo em
todos os aspectos, o Espiritismo se colocaria contra o dogma e a sociedade. Se duvidarmos, recordemos
o episódio da crucificação de Jesus.
Tenha-se presente que a ideia espírita forma no homem uma nova mentalidade, por meio da mais pura
essência cristã da verdade e da justiça. Se bem que seja certo que a escola espírita ensina a tolerância,
isto não impede que o homem espírita faça uso do sentido crítico no que respeita ao curso normal ou
anormal da evolução e do progresso. E, este sentido crítico, não obstante a prática da tolerância, é o que
impulsionará o espírita a refletir sobre os diversos fatos sociais e espirituais, para verificar que fatores
favorecem ou não seu desenvolvimento.
De maneira que as condições unilaterais que caracterizam a ordem atual não são as mais adequadas
para o conhecimento da verdade, nem para um normal desenvolvimento da evolução e do progresso.
Enquanto a cultura contemporânea só considerar como direitos sociais o conhecimento oficial, isto é, o
que respeita ao dogma e sociedade antigos, a ideia espírita deverá desenvolver-se à margem da cultura
do Estado, pois que, em caso de ser adotada pela Universidade como verdade real e demonstrada, seria

recusada e rechaçada pelos interesses do dogma e da sociedade atuais, cujas bases se consideram as
únicas reais e válidas.
Não obstante, por que motivo o mundo está em plena comoção espiritual e social? Assim se encontra
porque o processo histórico da evolução não pode ser detido pelos interesses terrenos de classes e
castas que se arremetem obstinadamente contra a lei do progresso. E o que deveria realizar-se, sobre a
base da compreensão e da paz, se realiza por meio de ásperas lutas, entre o passado e o futuro. A
cultura oficial, o “realismo católico” e o “realismo socialista”, bem como o “realismo oficial” combatem o
Espiritismo e isto tendo em vista a nova dimensão que ele descobre no Ser, na História e no Universo.
Tanto para o “materialismo ateu” como para o “espiritualismo eclesiástico”, o Espiritismo não é uma
verdade, já que sua visão difere tanto de um como de outro. E porque não enxergamos como
“materialistas ateus” e “espiritualistas dogmáticos”, ambos se unem na negação dos princípios espíritas.
Pois tanto em um como em outro setor existe uma mentalidade de classe social que vê neles fatores
inadequados para a manutenção de suas respectivas posições ideológicas. Daí, pois, que o Espiritismo,
através de seu movimento, deveria organizar-se mediante a união internacional dos espíritas, sobre a
base dos postulados kardecistas. Esta união internacional lhe daria um poder espiritual e social, com o
que se lhe abriria espaço para caminhar por entre a cultura contemporânea, cujo único interesse consiste
em manter de pé o dogma e a sociedade presentes.
Visto que o Espiritismo, por ser a verdade, não se mescla com nenhuma doutrina de nosso tempo; sua
visão do mundo é completamente distinta tanto do capitalismo e do comunismo quanto do catolicismo,
uma vez que cria um novo tipo humano, isto é, o Novo Homem, sobre a base firme da evolução, a qual
dará nascimento ao mesmo tempo a uma nova ordem social onde o amor e a verdade, cristãos, serão
seus mais sólidos alicerces.
Buenos Aires, abril de 1968.NOTAS
(1) O mesmo que ancilose: falta de movimento em alguma articulação, rigidez de ideias.
(2) “O Livro dos Espíritos”, Allan Kardec. Comentário à questão 783.
(3) “Irmãos Separados” é uma frase usada pelos católicos para se referirem aos cristãos adeptos das
igrejas reformadas ou protestantes.
(4) “De visu” é uma expressão latina que significa “de vista”. Aplica-se à pessoa que presenciou o fato, à
testemunha ocular, denominada testemunha “de visu”.
Fonte: RIE - Revista Internacional de Espiritismo, Matão-SP.
Humberto Mariotti (1905-1982),
poeta, escritor, jornalista, conferencista e intelectual espírita argentino.
Presidiu a Confederação Espírita Argentina em 1935/1937 e 1963/1967. Esteve, junto com Manuel S.
Porteiro, no Congresso Espírita Internacional de Barcelona (1934). Foi também vice-presidente da
Confederação Espírita Pan-Americana (CEPA) em duas gestões. Escreveu, dentre outras obras:
Dialéctica y Metapsíquica; Parapsicologia y Materialismo Histórico; El Alma de los Animales a Luz de la
Filosofia Espírita; En Torno al Pensamiento Filosofico de J. Herculano Pires; Victor Hugo, el Poeta del 
Más Allá.


Por Humberto Mariotti