O Espiritismo, conforme a concepção do próprio Kardec, é uma ciência experimental que deriva em uma filosofia de cunho moral. Filosofia que não é nova, mas que se encontra dispersa através dos ensinamentos dos principais mestres espirituais da humanidade, no Ocidente ou no Oriente. Tal ciência, como salientamos, se realiza através do intercâmbio mediúnico com os Espíritos (os seres incorpóreos), que nada mais são do que todos aqueles que já se desvencilharam do invólucro carnal.
Como afirmava Sidarta, o Buda, as doutrinas religiosas são como canoas para chegarmos ao outro extremo do rio. Porém, assim que a travessia termina, elas devem ser abandonadas para o uso de outras pessoas, e não carregadas sobre os ombros. E Deus é misericordioso e abençoa todos os caminhos que buscam a regeneração da Terra e a purificação do espírito eterno. Assim, todas as religiões se complementam, pois cada uma trabalha com uma determinada faixa energética ou vibração, adequada para cada alma em provação na Terra. Dessa forma, cada uma possui uma missão cósmica distinta, como se cada uma fosse uma especialidade médica preparada para atender as necessidades de cada ser humanizado. E a espiritualidade, por não ser monopólio de nenhuma religião, está presente e atua em todas, mesmo naquelas que negam a mediunidade ou o intercâmbio com os ditos “mortos”.
Paradoxalmente, constatamos também que, freqüentemente, as doutrinas religiosas (que também são provações para o espírito humanizado) embaçam nossa experiência única com Deus e, muitas vezes, até a impedem. Devido ao nosso individualismo (ego), costumamos julgar a nossa religião como a “certa” e as demais como as “erradas”. Dessa forma, as religiões que poderiam nos conectar a Deus, ou seja, preparando o neófito para o grande mergulho na realidade suprema e inefável de um Deus vivo, acolhedor e misericordioso, transformam-se em “bezerros de ouro”. Muitos passam a idolatrar a religião ou seus criadores, esquecendo-se de amar a Deus acima de todas as coisas e o próximo como a si mesmo.
Porém, não resta dúvida que os Espíritos estão por todos os lugares. Uma pessoa sensitiva é capaz de sentir a presença de Deus e dos Espíritos em todas as coisas e se maravilhar, caso seja agraciado pelo dom da vidência (seja por mérito ou por prova), ao ver em uma igreja evangélica o trabalho dos Espíritos dando passes nos freqüentadores, quando estes oram e colocam as mãos em recipientes com água que os pastores dizem que é para curar. Ou, ao adentrar em uma casa holística que aplica Reiki, observar vários Espíritos protetores utilizando a forma perispiritual de samurais, protegendo a entrada do lugar, e uma equipe de médicos desencarnados utilizando diferentes recursos de tratamento como fitoterapia, cromoterapia etc., enquanto enfermeiros vestidos como monges fazem curativos nos pacientes. Da mesma forma, em uma casa que pratica Yoga, um vidente tem a oportunidade de observar vários Espíritos volitando sobre coloridas almofadas e pulverizando nos praticantes luzes coloridas (verdes, douradas, lilases etc.) enquanto estes meditam. Sei de sensitivos que já presenciaram até operações espirituais durante a prática de Hatha-Yoga, realizadas de forma tão sutil que o praticante nem percebeu que passou por uma cirurgia.
Se o Espiritismo se encontra por toda a parte, obviamente que ele também se encontra no Reiki, na Umbanda, na Apometria ou em qualquer outra prática onde o intercâmbio com os Espíritos de todos os graus, de forma oculta ou patente, se realizam.
A passagem abaixo torna ainda mais evidente tal reflexão:
“... Uma vez que, por toda parte que haja homens, há almas ou Espíritos, que as manifestações são de todos os tempos, e que o relato se encontra em todas as religiões, sem exceções. Pode-se, pois, ser católico, grego ou romano, protestante, judeu ou muçulmano, e crer nas manifestações dos Espíritos, e por conseqüência, ser Espírita; a prova é que o Espiritismo tem adeptos em todas as seitas.” (OE, p. 189*).
Em suma, se compreendermos que a espiritualidade não é monopólio de nenhuma religião e nem mesmo de filosofias espiritualistas codificadas, como é o próprio Espiritismo, pois, como sempre lembrou Kardec, o Espiritismo não inventou os Espíritos, apenas estuda as relações entre o mundo espírita, ou seja, dos Espíritos, e o mundo material, podemos aceitar com naturalidade que o sentido profundo dos valores espirituais encontra-se sempre em uma dimensão pessoal e intransferível, e que cada espírito humanizado sempre possui o seu livre arbítrio respeitado, escolhendo a religião que melhor corresponda ao seu grau de evolução e compreensão espiritual.
* OE – O que é Espiritismo. Araras/SP: IDE, 33ª. edição, 1974.
Texto retirado de estudo feito pelo “Centro Ecumênico de Cultura e Educação para a Paz” e que pode ser visto na íntegra no link: http://www.csf.org.br/Biblioteca/reikiespirito.pdf
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