Este espaço foi criado com o objetivo de falar um pouco a respeito do Espiritismo, trazer alguns esclarecimentos a respeito desta doutrina tão consoladora.
23 de jul. de 2013
Curas das Obsessões
Escrevem-nos de Cazères, a 7 de janeiro de 1866:
“Eis um segundo caso de obsessão, que tomamos a nós e levamos a bom termo no mês de julho findo.
A obsidiada tinha vinte e dois anos; gozava de saúde perfeita; entretanto, de repente foi acometida de um acesso de loucura.
Os pais a trataram com médicos, mas inutilmente, pois o mal, em vez de desaparecer, tornava-se mais e mais intenso, a ponto de, durante as crises, ser impossível contê-la.
Vendo isto os pais, a conselho dos médicos, obtiveram sua internação num hospício de alienados, onde seu estado não apresentou qualquer melhora.
Nem eles nem a doente jamais haviam cogitado do Espiritismo, que nem conheciam; mas, tendo ouvido falar na cura de Jeanne R… de que vos falei, vieram procurar-nos e saber se algo poderíamos fazer por sua filha infeliz. Respondemos nada poder garantir antes de conhecer a verdadeira causa do mal.
Consultados em nossa primeira sessão, os guias disseram que a jovem era subjugada por um Espírito muito rebelde, mas que acabaríamos trazendo-o ao bom caminho e que a cura conseqüente nos daria a prova desta afirmação.
Assim, escrevi aos pais; residentes a 35 km de nossa cidade, dizendo que a moça seria curada e que a cura não demoraria muito, sem, contudo, precisarmos a sua data.
“Evocamos o Espírito obsessor durante oito dias seguidos e fomos bastante felizes para mudar suas más disposições e fazê-lo renunciar a atormentar a vitima. Com efeito, a doente ficou curada, como os guias haviam anunciado.
“Os adversários do Espiritismo repetem incessantemente que a prática desta doutrina conduz ao hospício. Ora! nós lhes podemos dizer, nesta circunstância, que o Espiritismo dele faz sair aqueles que lá haviam entrado”.
Entre mil outros, este fato é uma nova prova da existência da “loucura obsessional”, cuja causa é outra que não a loucura patológica, e ante a qual a ciência falhará enquanto se obstinar em negar o elemento espiritual e sua influência sobre a economia.
Aqui o caso é bem evidente: uma jovem, de tal modo apresentando os caracteres da loucura, a ponto de se enganarem os médicos, e que é curada a léguas de distância, por pessoas que jamais a viram, sem nenhum medicamento ou tratamento médico, pela só moralização do Espírito obsessor.
Há, pois, Espíritos obsessores cuja ação pode ser perniciosa à razão e à saúde. Não é certo que se a loucura tivesse sido ocasionada por uma lesão orgânica qualquer, esse meio teria sido impotente?
Se se objetasse que essa cura espontânea pode ser devida a uma causa fortuita, responderíamos que se se tivesse de citar apenas um fato, sem dúvida seria temerário daí deduzir a afirmação de um principio tão importante, mas os exemplos de curas semelhantes são muito numerosos.
Não são o privilégio de um indivíduo e se repetem todos os dias em diversos lugares, sinal indubitável de que repousa sobre uma lei da natureza.
Citamos várias curas do mesmo gênero, notadamente em fevereiro de 1864 e janeiro de 1865, que contém duas relações completas eminentemente instrutivas.
Eis um outro fato, não menos característico, obtido no grupo de Marmande.
Numa aldeia a algumas léguas dessa cidade, havia um camponês atingido por uma loucura tão furiosa, que perseguia as pessoas a golpes de forcado, para as matar, e que, em falta de pessoas, atacava os animais do galinheiro. Corria incessantemente pelos campos e não voltava mais para casa. Sua presença era perigosa; assim foi fácil obter autorização para o internar no hospício de Cadillac.
Não foi sem vivo pesar que a família se viu obrigada a tomar esse partido. Antes de o levar, tendo um dos parentes ouvido falar das curas obtidas em Marmande, em casos semelhantes, foi procurar o Sr. Dombre e lhe disse: “Senhor, disseram-me que curais os loucos. Por isso vim vos procurar.” Depois contou-lhe de que se tratava, acrescentando: “Como vedes, dá tanta pena separarmo-nos desse pobre J…, que antes quis ver se não havia um meio de o evitar.”
– “Meu bravo homem, disse-lhe o Sr. Dombre, não sei quem me dá esta reputação; é verdade que algumas vezes consegui dar a razão a pobres insensatos, mas isto depende da causa da loucura. Posto não vos conheça, não obstante verei se vos posso ser útil.”
Tendo ido imediatamente com o indivíduo a casa de seu médium habitual, obteve do guia a certeza de que se tratava de uma obsessão grave, mas que com perseverança ela chegaria a termo. Então disse ao camponês: “Esperai ainda alguns dias, antes de levar o vosso parente à Cadillac vamos ocupar-nos do caso; voltai de dois em dois dias para dizer-nos como ele se acha.”
No mesmo dia puseram-se em ação. A princípio, como em casos semelhantes, o Espírito mostrou-se pouco tratável; lentamente acabou por se humanizar e, por fim, renunciou a atormentar aquele infeliz.
Um fato muito particular e que declarou não ter qualquer motivo de ódio contra aquele homem; que, atormentado pela necessidade de fazer o mal, havia-se agarrado a ele como a qualquer outro; agora reconhecia estar errado, pelo que pedia perdão a Deus.
O camponês voltou depois de dois dias, e disse que o parente estava mais calmo, mas ainda não tinha voltado para a casa e se ocultava nas sebes. Na visita seguinte, ele tinha voltado, mas estava sombrio e mantinha-se afastado; já não procurava bater em ninguém.
Alguns dias depois, ia a feira e fazia seus negócios, como de hábito. Assim, oito dias haviam bastado para o trazer ao estado normal, e sem nenhum tratamento físico. É mais que provável que se o tivessem encerrado com os loucos ele houvesse perdido a razão completamente.
Os casos de obsessão são tão freqüentes que não é exagero dizer que nos hospícios de alienados mais da metade apenas tem a aparência de loucura e que, por isto mesmo, a medicação vulgar não tem efeito.
O Espiritismo nos mostra na obsessão uma das causas perturbadoras da economia e, ao mesmo tempo, dá-nos o meio de a remediar: é um de seus benefícios. Mas como foi reconhecida essa causa, senão pelas evocações? Assim, as evocações servem para alguma coisa, digam o que disserem os seus detratores.
É evidente que os que não admitem a alma individual, nem a sua sobrevivência, ou que, admitindo-a, não se dão conta do estado de Espírito após a morte, devem olhar a intervenção de seres invisíveis, em tais circunstâncias, como uma quimera; mas o fato brutal dos males e das curas lá está.
Não poderiam ser levadas a conta da imaginação as curas operadas a distância, em pessoas que jamais foram vistas, sem o emprego de qualquer agente material.
A doença não pode ser atribuída a prática do Espiritismo, desde que atinge os que nele não acreditam, bem como crianças que dele não tem qualquer idéia. Entretanto, aqui nada há de maravilhoso, mas efeitos naturais, que existiram em todos os tempos, que então não eram compreendidos, e que se explicam do modo mais simples, agora que se conhecem as leis em virtude das quais se produzem.
Não se vêem, entre os vivos, seres maus atormentando outros mais fracos, até os deixar doentes e até matá-los, e isto sem outro motivo senão o desejo de fazer mal?
Há dois meios de levar a paz à vítima: subtraí-la a autoridade de sua brutalidade, ou neles desenvolver o sentimento do bem. O conhecimento que agora temos do mundo invisível no-lo mostra povoado dos mesmos seres que viveram na Terra, uns bons, outros maus.
Entre estes últimos, uns há que se comprazem ainda no mal, em conseqüência de sua inferioridade moral e ainda não se despojaram de seus instintos perversos; eles se encontram em meio a nós como quando vivos, com a única diferença que, em vez de ter um corpo material visível, tem-no fluídico, invisível; mas não deixam de ser os mesmos homens, no sentido moral pouco desenvolvidos, buscando sempre ocasiões de fazer o mal, encarniçando-se sobre os que lhes são presa e que conseguem submeter a sua influência.
Obsessores encarnados que eram, são obsessores desencarnados, tanto mais perigosos quanto agem sem ser vistos. Afastá-los pela força não é fácil, visto que não se pode apreender-lhes o corpo.
O único meio de os dominar é o ascendente moral, com cuja ajuda, pelo raciocínio e sábios conselhos, chega-se a os tomar melhores, ao que são mais acessíveis no estado de Espírito que no estado corporal.
Desde o instante em que são trazidos a renunciar voluntariamente a atormentar, o mal desaparece, quando causado pela obsessão. Ora, compreende-se que não são as duchas nem os remédios administrados ao doente que podem agir sobre o Espírito obsessor.
Eis todo o segredo dessas curas, para as quais nem ha palavras sacramentais, nem formulas cabalísticas: conversa-se com o Espírito desencarnado, moraliza-se-o e educa-se-o, como se teria feito em sua vida.
A habilidade consiste em saber tomá-lo pelo seu caráter, dirigir com tato as instruções que lhe são dadas, como o faria um instrutor experimentado. Toda a questão se reduz a isto:
Há ou não Espíritos obsessores?
A isto responde-se o que dissemos acima: Os fatos materiais lá estão.
Por vezes perguntam por que Deus permite que os maus Espíritos atormentem os vivos. Com tanto mais razão poder-se-ia perguntar por que permite que os vivos se atormentem entre si. Perdem-se muito de vista a analogia, as relações, a conexão que existe entre o mundo corporal e o mundo espiritual, que se compõem dos mesmos seres em dois estados diferentes. Aí está a chave de todos esses fenômenos reputados sobrenaturais.
Não nos devemos admirar mais das obsessões do que das doenças e outros males que afligem a humanidade; fazem parte das provas e das misérias devidas a inferioridade do meio, onde nossas imperfeições nos condenam a viver, até que estejamos suficientemente melhorados para merecer dele sair.
Os homens sofrem aqui as conseqüências de suas imperfeições, porque se fossem mais perfeitos aqui não estariam.
Revista Espírita – 1866
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário