10 de set. de 2013

A visão espírita da morte



Para entender a atitude dos espíritas diante da perda de entes queridos, é 
preciso entender a visão espírita da morte. O que é a morte para o espírita?
Em primeiro lugar, a destruição do corpo físico, que é um fenômeno comum 
a todos os seres biológicos. Segundo, a morte é um instante em meio a um 
caminho infinito. E em terceiro lugar, a morte é uma transição e não um ponto 
final.
Há que se considerar também que o espírito está permanentemente em 
processo de crescimento e renovação e a morte é a forma de forçar esta 
renovação, mudando am-bientes e projetos de vida.
Esta visão um tanto pragmática e aparentemente fria da morte não exclui a 
existência de sentimentos e emoções, porque tanto quanto sentimos mais ou 
menos fortemente a separação geográfica entre duas pessoas e ansiamos por 
reencontrarmos aqueles que estão longe, assim também ansiamos por ter 
novamente conosco os que se foram.
Mesmo na vida física há separações que são traumáticas, longas e, às vezes, 
definitivas. Na morte, então, a saudade e a vontade de ter outra vez aquele que 
se foi é perfeitamente natural e compreensível, mas a certeza da retomada do 
afeto e de projetos comuns no futuro é profundamente consoladora e faz com 
que a esperança possa ser tranqüila e confiante.
Por que é tão doloroso ainda para nós o fenômeno da morte física, com 
a separação dos entes que amamos?
Mauro Operti – Exatamente porque os amamos, queremos tê-los 
continuamente junto a nós. Isto não precisa de explicação, é natural. Vivemos 
em função dos outros. Tudo o que fazemos na vida tem como referência o 
outro. Se o outro que amamos se vai, como não sentir?
É licito procurarmos o contato com entes que partiram, já que a morte 
não é o fim?
Mauro Operti – Perfeitamente, desde que a nossa atitude mental e as nossas 
emoções estejam equilibradas. Por outro lado, toda vez que tentamos o contato 
com o mundo espiritual, temos que ter certeza de que os meios dos quais 
dispomos (ambiente, médiuns etc.) sejam apropriados para a nossa intenção. 
De qualquer modo, temos que ser prudentes quando intentamos qualquer 
contato com o mundo espiritual. E mesmo que a nossa intenção seja boa ou a 
nossa saudade muito grande, as leis da comunicação mediúnica continuam em 
vigência. Mas, de qualquer maneira, se a misericórdia divina nos forneceu os 
meios de comunicação, é perfeitamente razoável buscarmos o contato com aqueles que nós amamos. Quem não anseia uma palavra de afeto de quem 
está longe? É profundamente consoladora esta certeza.
O que se pode dizer às pessoas que buscam o centro espírita com 
profundo desejo de receberem uma mensagem de um ente querido que já 
partiu?
Mauro Operti – Em primeiro lugar, estar avisado de que este contato nem 
sempre é possível. Às vezes, passam-se meses ou anos antes de 
conseguirmos uma palavra ou uma mensagem. Nem os médiuns, nem os 
espíritos estão obrigados a nos dar a resposta que queremos. Se a 
misericórdia divina permitir, nós a receberemos, como muitos que já 
receberam. As evidências para alguns de nós são numerosíssimas, como é o 
meu próprio caso. Eu não tenho como negar o fato da sobrevivência pelo muito 
que já vivenciei ou já presenciei.
Qual a garantia de estarmos nos comunicando com nossos verdadeiros 
entes?
Mauro Operti – As evidências para a comunicação entre mortos e vivos são 
de dois tipos: são subjetivas ou objetivas. As evidências objetivas são 
confirmações externas, através de fatos objetivos que deixam motivo para 
poucas dúvidas (ou nenhuma dúvida). É claro que, como acontece com a 
própria pesquisa científica, sempre se pode levantar hipóteses explicativas 
para os fenômenos. O que se faz é levar em conta a soma de evidências que 
levam, quase sem deixar dúvidas, a se aceitar que o fenômeno foi genuíno. 
Mesmo na pesquisa científica, isto também acontece. Na realidade, nada é 
definitivamente provado em ciência. Mas, para muitas coisas, o peso das 
evidências a favor de uma determinada explicação é tão grande que, do ponto 
de vista prático, é como se estivesse provado. É assim também com os fatos 
mediúnicos. Mas existem também as evidências subjetivas e essas são 
pessoais e intransferíveis. Eu não posso provar a uma outra pessoa que sonhei 
com um ente querido e que isto significa que eu realmente estive com ele, mas, 
interiormente, eu tenho certeza, pelo realismo das cenas vividas oniricamente e 
por detalhes que me trazem uma certeza interior que não pode ser transferida. 
E quando isto acontece, não me importa absolutamente o que o outro possa 
pensar da minha experiência.
As perdas vivenciadas por qualquer encarnado, quando acompanhados 
de sentimento de resignação e capacidade de perdão, podem se tornar 
um aprendizado, um treinamento que nos levaria a entender melhor a 
perda dos entes queridos?
Mauro Operti – Certamente, porque é o aprendizado da renúncia, a certeza 
de que não somos donos de nada, nem de ninguém. Que o que temos num certo momento nos pode ser tirado no outro e continuamos vivendo, 
continuamos lutando sempre com a visão do futuro.
O ente desencarnado assiste ao seu velório? Assim sendo, qual sua 
postura diante da demonstração de dor dos entes encarnados?
Mauro Operti – Nem sempre. Vai depender do próprio espírito e da 
assistência por parte dos seus amigos espirituais. Às vezes, ele não tem 
condições emocionais e está tão desarvorado que deve ser afastado do local. 
Outras vezes o seu estado de perturbação é tal que ele não tem consciência do 
que está se passando. Mas, muitas vezes, isso é possível.
A vontade de ver o ente que se foi, a saudade, não atrai o espírito do 
parente querido desencarnado? Isto pode levar a uma obsessão?
Mauro Operti – Depende do estado mental e emocional que acompanha esta 
vontade. Também depende das condições do espírito desencarnado, mas não 
há perigo em pensarmos com saudade nos nossos afetos desencarnados. Isto 
é uma expressão do carinho e da afeição que une dois seres. Como proibir? 
Seria, no meu modo de ver, uma falha das Leis Divinas não deixar que nos 
lembremos com carinho daqueles que um dia se foram.
Como proceder para saber se os entes queridos estão bem?
Mauro Operti – Rezar, pedir a Deus que lhe permita sentir o carinho daquele 
de quem você gosta. Com o tempo e a prática aprendemos a nos dirigir 
mentalmente àqueles de quem gostamos e as evidências subjetivas que 
colhemos desses contatos nos dão a certeza de que realmente estivemos com 
eles. Mas é preciso aprender a fazer as rogativas mentais com tranqüilidade, 
confiança e a certeza da assistência espiritual de nossos guias. Peçamos a 
Jesus acima de tudo e esperemos com serenidade.
Que mensagem você daria para as pessoas que perderam seus entes 
queridos e acreditam que nunca mais irão encontrá-los?
Mauro Operti – Para estas pessoas eu diria que Deus não cometeria esta 
maldade de separar definitivamente dois seres que se amam. A essência da 
vida é o outro. Por que Deus juntaria num breve tempo de uma existência duas 
criaturas que se sentem felizes de estar juntas e depois as separaria pela 
eternidade? A certeza da sobrevivência que a prática espírita garante às 
criaturas está acompanhada da certeza da reunião daqueles que se amam
depois da perda do corpo físico. Esta é a maior consolação que poderíamos 
desejar, mas não é só uma consolação piedosa, é uma certeza proveniente da 
vivência que, aos poucos, vai nos tornando mais seguros e menos propensos 
às crises de ansiedade e aflição que são tão comuns às pessoas hoje em dia. 
Temos certeza e sabemos, não apenas acreditamos.

Escrito por IRC-Espiritismo

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