20 de jan. de 2014

A terra do Cruzeiro e o Papa Francisco


Ao dizer que houve uma negociação: enquanto o Papa é argentino, Deus é brasileiro, o Papa Francisco, em sua recente visita ao Brasil, deu mostras de bom humor e diplomacia, duas qualidades que, entre outras, demonstrou ao participar da Jornada Mundial da Juventude.

Primeiro papa americano, único não europeu em mil e duzentos anos, e primeiro papa jesuíta, o cardeal portenho tornou-se o líder maior da Igreja Católica, num momento crítico para a Cúria Romana, envolvida com inúmeros problemas de escândalos e corrupção.

Pediu licença para entrar no Brasil e na vida de cada um e, logo de início, disse que não vinha trazer ouro nem prata, mas um bem mais precioso: Jesus Cristo.

Cativou a todos, com seu jeito humilde e amoroso, cordato e bem disposto.

Homem de hábitos simples, fiel aos princípios franciscanos que esposa, o novo papa deu sinais de que poderá reavivar a chama da religiosidade na grande nação católica mundial, que estava à míngua de um modelo contemporâneo. No Brasil, Francisco preferiu aposentos modestos (apenas com cama e uma poltrona), dispensando o luxuoso apartamento no Sumaré, que lhe havia sido destinado, como Chefe de Estado do Vaticano. Surpreendeu a todos ao deslocar-se em veículo aberto, de estilo popular, mesmo sabendo que o País vivia um momento de efervescência nas ruas.

Sabe-se que é uma pessoa assim, desprendida, no cotidiano. Costuma ainda hoje arrumar sua cama, preparar algumas de suas refeições e ir até o povo, como fazia nos seus tempos de visita às periferias de Buenos Aires, dizendo que os desafortunados da sorte eram os preferidos de Jesus.

Alertou os jovens do mundo todo que, naquela semana de julho de 2013, se encontravam no Brasil, para o combate ao egoísmo feroz, bem como para o risco dos valores como sucesso e poder. Convocou-os a lutar contra a corrupção e a desigualdade social e pediu para que Não se acostumem ao mal, mas procurem vencê-lo.

O Papa Francisco enfrentou temas delicados e posicionou-se com assertividade e consistência quanto aos dogmas que a Igreja deve rever, e quanto àqueles para os quais ainda não há momento propício para mudanças. Comparou a Igreja a uma mãe que ama, compreende, orienta e afaga o filho.

Novamente exortou à caridade, como lema central da salvação, afastando-se do ditado Fora da Igreja não há salvação. Disse que todas as religiões têm em comum o trabalho pelo próximo. Colocar mais água no feijão… foi a forma de comunicação que encontrou para simbolizar o amor e o cuidado com o outro.

Como nada acontece por acaso, essa primeira visita internacional do papa teve como destino a Pátria do Cruzeiro, esta grande nação onde se harmonizam todas as diferenças, todas as culturas, todos os credos. Maior nação católica e maior nação espírita do mundo, e uma das maiores nações evangélicas, o Brasil tem, nos seus contornos, a forma geográfica de um coração, exatamente porque se destina a ser o Coração do mundo, a Pátria do Evangelho.

O Espírito Humberto de Campos conta que Jesus realizou, no último quartel do século XIV, uma de suas visitas periódicas a Terra, a fim de observar os progressos de Sua doutrina e de Seus exemplos, no coração dos homens. Em vão, procurou o Senhor os remanescentes da obra de um de Seus últimos enviados à face do orbe terrestre. De Francisco de Assis só haviam ficado as tradições de carinho e bondade, porque viu por toda parte a luta fratricida e os homens aniquilando-se uns aos outros, nos embates da ambição, inveja e felonia.1

Aceitando a sugestão de Helil, diz Humberto de Campos que Jesus transplantou da Palestina para a Região do Cruzeiro a árvore magnânima do Seu Evangelho, a fim de que os seus rebentos delicados florescessem de novo, frutificando em obras de amor para todas as criaturas.

Os olhos da Divina Bondade se voltaram para os continentes ignorados, onde Espíritos jovens e simples aguardavam a semente de uma vida nova, onde se pudesse instalar o pensamento cristão, dentro das doutrinas do amor e da liberdade.2

O Mestre vaticinou que, no solo dadivoso e fertilíssimo do Brasil, todos os povos da Terra aprenderão a lei da fraternidade universal3 e, mais tarde. Helil se corporificou na Terra como o Infante Henrique de Sagres (1394-1460), que preparou Portugal para as grandes conquistas.4

E aqui nos encontramos há quinhentos anos, influenciados, por largo tempo, pelos costumes europeus e, nas últimas décadas, pelo exemplo americano, mas ainda em dívida de oferecer ao mundo o modelo de virtude apregoada por Jesus. Muitos têm sido os esforços do mundo espiritual para que os brasileiros se conscientizem do valor desse grande destino.

Como afirmou Humberto de Campos, com referência ao Catolicismo, os padres romanos, com exceção dos padres cristãos, se conservam onde sempre estiveram, isto é, no banquete dos poderes temporais, incensando os príncipes do mundo e tentando inutilizar a verdadeira obra cristã. (…) Além disso, temos de considerar que a Igreja Católica se desviou da sua obra de salvação por um determinismo histórico que a compeliu a colaborar com a política do mundo, em cujas teias perigosas a sua Instituição ficou encarcerada e que, examinada a situação, não é possível desmontar-se a sua máquina de um dia para outro. Sabemos, porém, que a sua fase de renovação não está muito distante. Nas suas catedrais confortáveis e solitárias e nos seus conventos sombrios, novos inspirados da Úmbria virão fundar os refúgios amenos da piedade cristã.5

O texto acima, extraído de obra psicografada por Francisco Cândido Xavier e que teve a 1ª edição em 1938, previa que Espíritos ligados à Úmbria, terra de Francisco [de Assis], renasceriam para iniciar essa renovação necessária no seio da igreja.

Em 1936, nascia em Buenos Aires, Jorge Mário Bergoglio, o Papa Francisco, descendente de imigrantes italianos que, no dizer do Espírito Arthur Lins de Vasconcelos, aclimatado a uma vida austera e simples, despojado das tradições do poder e do orgulho, foi eleito para criar uma nova ponte, facultar a compreensão da vivência do Evangelho de Jesus, naquele sentido transcendental e santo da fraternidade e da compaixão. (…) quando foi eleito o Papa, e escolheu o nome de Francisco, em homenagem ao Pobrezinho de Assis e ao inolvidável São Francisco Xavier, divulgador do Cristianismo nas Índias, no Japão, nas Filipinas, símbolo de humildade, o primeiro, e de solidariedade, o segundo; perspectivas felizes abrem-se para um reinado transitório que deve deixar assinaladas marcas históricas no seio da sociedade.6

Dias depois de eleito, o novo papa disse à imprensa: Foi por causa dos pobres que pensei em Francisco. Depois, enquanto o escrutínio prosseguia, pensei nas guerras e assim surgiu o homem da paz, o homem que ama e protege a criação, com a qual hoje temos uma relação não tão boa.7

Dizendo que não é santo, que é falível e que, embora os seus esforços, peca, muitas vezes, pede o Papa Francisco que todos oremos por ele, para que possa cumprir bem a missão que lhe foi confiada.

O Brasil está cheio de ideologias novas, refletindo a paisagem do século; cabe aos bons operários do Evangelho, venham de onde vierem, concentrar suas atividades no esclarecimento das almas e na educação dos Espíritos, conforme lembra Humberto de Campos.

A Doutrina Espírita, que é o Cristianismo Redivivo, haverá de florescer cada vez mais para o desenvolvimento da obra de Ismael na terra do Cruzeiro. Para isso, é preciso que o exemplo de apóstolos como Francisco de Assis e Francisco Xavier seja buscado e imitado pelo espírita moderno, tendo como paradigma essencial a caridade, como assinalou Lins de Vasconcelos.6

Ouso acrescentar um outro Francisco: o Cândido Xavier, venerando apóstolo nascido em Pedro Leopoldo, que dedicou setenta e cinco anos de sua existência a consolar e esclarecer os aflitos. Assim, Francisco de Assis, Francisco Xavier e Francisco Cândido Xavier são os três Franciscos, cujas vidas nos podem servir de roteiro, como discípulos do modelo excelso, que é Jesus.

A missão do Brasil depende de que as várias religiões e doutrinas caminhem irmanadas, cada qual desempenhando a sua tarefa na consciência dos adeptos, na grande obra de reconstrução espiritual do planeta, quando os homens, livres de todos os símbolos sectários de separatividade, puderem entender, integralmente, as maravilhas ocultas da obra cristã.8
Noeval de Quadros

[1] XAVIER, Francisco Cândido. Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho. Pelo Espírito Humberto de Campos, Rio de Janeiro: FEB, 33ª ed, cap. 1, pp.15/18.
2 Op. cit. pp.18.
3 Op. cit. p.19.
4 Op. cit. p.20.
5 Op. Cit. Cap. 29, pp. 206/207.

6Psicofonia de Divaldo Pereira Franco, pelo Espírito Lins de Vasconcellos, em 13 de março de 2013, na data da eleição do Papa Francisco, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador.
7http://www.publico.pt/mundo/noticia/papa-francisco-como-gostaria-de-ter-uma-igreja-pobre-e-para-os-pobres-1588015#/0
8 Op. Cit. Esclarecendo. p. 13.

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