21 de mar. de 2014

A Saúde e a Doença


Célio Alan Kardec de Oliveira
Trecho do livro “Obsessão e Transtornos Psíquicos”

1- A Saúde e a Doença

 O homem hodierno busca incessantemente o  poder, a prosperidade, o sucesso profissional, a estabilidade financeira e o prazer, imaginando, na conjunção de tudo isso, obter a felicidade. Estas buscas imergem o homem na ciranda da competitividade, nas situações conflitantes, nos desafios sem conta, exigindo-lhe mais esforços, maior disponibilidade de tempo, de forma a satisfazer o crescimento das suas próprias  necessidades.

Como esse mesmo homem  se esquece de atrelar à sua vida comportamental os pensamentos e as emoções com  marcas da sublimidade, ele se descobre infeliz e fatigado, mesmo diante das conquistas e realizações transitórias.

Olvidando a realidade transcendental do seu próprio ser, manifesta-se nele o desequilíbrio implacável, mais cedo ou mais tarde, a partir de sinais e sintomas que configuram o quadro nosológico das patologias do ontem ou do hoje, por ele mesmo engendradas no círculo dos seus equívocos de    comportamento.

Ele se angustia ainda mais por se ver privado de um bem que julgava possuir:  a saúde plena! Recorre a facultativos na expectativa de que as anormalidades de fundo bioquímico, histológico, fisiológico, genético, ou qualquer outro,  serão pesquisadas pelo especialista e os diagnósticos conduzirão a tratamentos restauradores do seu equilíbrio orgânico e psíquico.

Satisfaz-se o homem quando é esclarecido sobre o diagnóstico do distúrbio orgânico específico que o acometeu; tranqüiliza-se mais ainda diante da prescrição de drogas ou  processos cirúrgicos, sinalizadores da  retomada do  “estado de saúde”!

E quando os sintomas desaparecem e com eles o mal, cessando os fatores da perturbação inicial, ei-lo tornando à normalidade da vida sem se preocupar com as causas mais profundas determinantes da origem do seu “estado de doença”!

É preciso analisar a questão da saúde e da doença sob outra ótica, com fundamentação mais profunda, e o nosso objetivo neste trabalho é sugerir reflexões nessa direção.

Entendemos que todas as criaturas humanas adoecem, mas são raras as que entendem a importância da saúde integral, passando, por conseguinte, a cogitar da cura real.

A doença é sempre a manifestação de um distúrbio, de uma anomalia ou de uma disfunção: o mal é que a criatura humana só dela se conscientiza quando os seus efeitos estão à mostra e sob o imperativo dos incômodos  da dor ou do sofrimento.

A doença é uma construção lenta e, talvez,  o menos importante seja a sua manifestação ostensiva: no seu processo elaborativo, desajusta-se o império celular ou agitam-se miasmas de conteúdo psíquico, rompendo a harmonia do fluxo vital ou o equilíbrio das forças mentais. Já a sua exteriorização é o caminho para a saúde.

A moléstia  é um aviso de que algo está mal no indivíduo. A doença é mero efeito, dado que a causa tem nascedouro no comportamento desse mesmo indivíduo e, por vezes, a conversão em enfermidade pode ser uma ação mais ou menos demorada no tempo.

Depreende-se ser muito importante acordar no momento em que ela se manifesta e considerá-la um bem será de bom juízo. Bom mesmo seria evitá-la, preservando a boa saúde.

A criatura, que deixa desenvolver em si própria a doença, naturalmente  já era portadora de fatores predisponentes e desencadeantes, sejam eles de ordem emocional, física, espiritual ou mental. No entanto, interromper-lhe o surto propagador, eis aí a oportunidade inadiável e a possibilidade do equilíbrio da trilha saúde-doença-saúde!

É ainda difícil entender,  nos tempos atuais, o conceito de que a “doença representa o processo menos      prejudicial à economia global do ser. É ela uma adaptação mais ou menos bem-sucedida a circunstâncias desfavoráveis”.  (1)
  
1.1 – A Saúde 

A medicina ortodoxa costuma definir a saúde como a ausência de doenças ou o “silêncio dos órgãos”. Já a Organização Mundial da Saúde – OMS – traduz a saúde como um estado  completo de bem-estar físico, mental e social. Vige, ainda, oconceito de que a saúde é a ausência de sintomas, depreendendo-se que a cura é, para a medicina, o desaparecimento desses sintomas.

Uma definição de saúde, para ser verdadeira, ter-se-ia que estender de forma abrangente, por diversas áreas propiciatórias da normalidade geral, do bem-estar e do equilíbrio perfeito. Pode alguém estar fruindo do bem-estar   enquanto esteja sob a injunção de enfermidades.

 Também ocorre o inverso, qual seja, a maquinaria fisiológica encontra-se sem maiores problemas enquanto proliferam as queixas de variados matizes. Qual a fronteira  entre e a saúde a doença?

Existem doentes sem doenças ostensivas tanto quanto pessoas doentes com doenças manifestas, sem se sentirem doentes. Da mesma forma, encontramos criaturas sãs que se esforçam e se preservam na boa saúde, tanto como  outras igualmente sãs que, no desaviso, deixam-se inocular pelo “vírus” de futuras doenças!

Tanto a doença quanto a saúde são o resultado dos nossos pensamentos e nós somos aquilo que pensamos!

O espírito vige em tudo, o corpo espiritual fixa as impressões e as sensações sofrem registros no nosso corpo ou na nossa mente.

Mediante isso, podemos conceber a saúde como um estado de harmonia íntima e equilíbrio espiritual. Do que se deduz podermos estar  mais próximos da verdadeira saúde  enquanto doentes do corpo do que quando experimentamos o “silêncio dos  órgãos”.

Esse   conceito é   aparentemente  paradoxal,  mas  a saúde integral, associada naturalmente ao homem integral, só é conquistada através do esforço, das recapitulações sucessivas, nas quais o Espírito, sofrendo as injunções da Lei de Causa e Efeito, começa a compreender os objetivos superiores da sua vida imortal.

 1.2 -  As Doenças 

 As doenças resultam de alterações energéticas, do  desequilíbrio da mente ou de componentes orgânicos expressando-se,  por isso, nos campos físico, mental e emocional.

“No homem saudável,  a força do espírito anima o corpo físico e mantém todas as partes do organismo em funcionamento admiravelmente harmonioso, no que se refere tanto às sensações quanto às funções, de forma que a nossa mente possa empregar este instrumento vivo e saudável para os propósitos mais elevados de nossa existência. O organismo  material, sem a força vital, não é capaz de qualquer função,  sensação, ou autopreservação: está morto, sujeito apenas às forças do mundo exterior, que o reduz novamente aos seus  constituintes químicos essenciais!” . (2)

Notável este conceito, tendendo para uma linha holística, por que não dizer espírita?! Hanemann manifestou um conhecimento intuitivo do Corpo Espiritual ou Modelo Organizador Biológico – MOB. Por essa ótica, as doenças não são mais que distúrbios da força vital e as evidências materiais das doenças apresentam-se como resultados e não como causas das doenças.

Além das doenças orgânicas, manifestam-se outros estados como: psicossomáticos, mentais ou psíquicos e obsessivos.

 1.3 -  Doenças Obsessivas 

 Na conceituação espírita, as doenças obsessivas ou obsessões são chamadas de espirituais por apresentarem matriz no próprio Espírito. Vivemos em um universo reativo de mentes que se influenciam reciprocamente. Ora impera a lei da afinidade estabelecendo a pulsão atrativa, ora predomina o   fascínio de mentes vigorosas sobre outras fragilizadas, ora    prevalece a lei de ação e reação, na qual alguém ultrajado ou ferido no passado procura impor ao verdugo sofrimento da mesma intensidade que o fez se quedar como vítima outrora.

Essas doenças constituem, sim, o grande mal da humanidade e, por sinal, sua origem vem de eras priscas, quem sabe desde o homem de Neanderthal, quando o convívio social teve as suas nascentes.

As doenças por obsessão diferem das orgânicas, dado não se restringirem ao homem em si mesmo; elas nascem do relacionamento imperfeito, do pensamento infeliz, da vontade vacilante, da paixão desvairada, da revolta excessiva,  semeando tempestade por onde passam, com afetação da vida dos que se imantam no magnetismo negativo.
           
Nesse tipo de doença só existem vítimas, aí considerados mesmo aqueles que pretensamente se sentem  perseguidores, pois são vítimas de si   mesmos ou do ressentimento que não souberam aplacar, demonstrando  desconhecimento das leis naturais do Criador. O grande problema é que as ciências voltadas para a saúde sabem da existência dessas doenças, porém, por  prevenção ou orgulho academicista,  situam-nas no intricado mundo das manifestações psíquicas.

A inadmissibilidade da existência do Espírito impede o descobrimento do homem em uma dimensão integral, e o trato das enfermidades da mente conta somente com as informações e reações tangenciando puramente os sentidos da matéria humana perecível!

O Espiritismo não nega a eficácia dos tratamentos psiquiátricos nos transtornos psicóticos, neuróticos ou congêneres. O Espiritismo não se contrapõe aos procedimentos psicoterápicos para reversão dos sintomas afligentes da mente humana e, sim, vem afirmar sobre a Era do Espírito, descortinando uma visão nova capaz de estimular o homem ao seu descobrimento e, conseqüentemente, ao autogoverno.

O conhecimento de si mesmo é luz irradiando de dentro para fora; neutraliza o assédio das mentes que se movimentam em campos descompensados e negativos. A auto-iluminação é fator de saúde capaz de gerar um universo mental harmônico e de neutralizar as investidas nocivas das doenças, sejam elas de que etiologia for.

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(1) CHOFFAT, Francois. Homeopatia e Medicina
(2) HANEMANN, Samuel. Órganon de Medicina

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