11 de mai. de 2014

Aqueles outros vícios


"Erradicando os vícios do caráter tais como: o orgulho, o egoísmo  e a cupidez com seus cortejos, o Espiritismo abrirá espaço para o surgimento de uma nova e abençoada era.” Allan Kardec (1)

Normalmente, o que a maioria das criaturas entende por “vício”, vincula-se às expressões de dependência de ordem física tais como: o tabagismo, o alcoolismo, a sexolatria, as drogas, os fármacos etc.

Entanto, o que os Espíritos Superiores classificam de “vício radical” é oegoísmo. Ele é o pai de todos os demais que pesam na economia espiritual tanto (ou mais) que os habitualmente considerados como tais. São os chamados vícios do caráter e a maledicência inclui-se nesse rol, assim como a inveja, o ciúme, a ambição.

O Espiritismo alevanta-se como uma excelente e ideal vacina antivícios de todos os matizes, sejam os que causam dependência física sejam os que envilecem o caráter.

Amélia Rodrigues (2) diz ser“imprescindível crescer, alcançar as alturas e planar nas asas vigorosas do progresso. Esse processo-desafio para o desligamento das faixas mais densas e perturbadoras constitui a meta essencial, prioritária da reencarnação, que faculta conquistas mais relevantes à medida que as etapas iniciais são vencidas e ultrapassados os obstáculos.

Era compreensível, portanto, que Jesus, no Seu tempo, enfrentasse dificuldades quase intransponíveis, quando veio instalar os alicerces do Reino de Deus.

Os milênios de acerbas dores e as páginas lúgubres da História não conseguiram despertar os filhos do deus da guerra, apaziguando-os, ou ensinar aos gananciosos e prepotentes que só existe uma vitória duradoura, e essa é a que se dá sobre si mesmo.

Os conquistadores de fora sempre tombam vencidos sobre os seus conquistados; os seus reinos se fixam sobre ruínas e são cobertos de sombras.

O reino de Jesus se levanta nas terras altas do bem e são vestidos de luz; os reinos do mundo são feitos de esplendor rápido e diferem, frontalmente, os dois reinos: o passageiro e o definitivo.

Jesus redesenhou as paisagens das lutas, interiorizando-as, por saber que os mais terríveis inimigos da criatura são as suas paixões selvagens, que dormem no íntimo de cada qual, acenando com a possibilidade de vitórias internas após os combates silenciosos contra o egoísmo, o orgulho e seus sequazes, estes sim, os verdugos reais da sociedade.

Fez-Se modelo, oferecendo-Se em holocausto, para demonstrar que esse reino vence o do mundo e submete-o à sua luminescência, triunfando para sempre, sem transitoriedade nenhuma...

Renitentes no erro e no vício, retornaram os homens à luta externa em nome d`Ele, e ergueram construções monumentais, acumularam quinquilharias que poderiam salvar milhões de Vidas e permanecem nos subterrâneos fortalecidos na avareza, mantendo a pompa e a ilusão, a titulação e os enganos do mundo, conforme ainda o repetem esses dominadores do mundo.

Vã utopia da insensatez e da loucura!”

O pensamento de Amélia Rodrigues é complementado pelo de Joanna de Ângelis (3) que aduz: “A saga da evolução é longa e, por vezes dolorosa, deixando sulcos profundos, que noutras fases, sob estímulos inesperados dos sofrimentos, ressurgem como angústia ou violência, desespero ou amargura que não consegue explicar. Constituir-lhe-ão arquétipos a exercerem grande influência no seu comportamento psicológico durante várias existências corporais, assinalando-lhe a marcha ascensional.

Avançando lenta e seguramente, aprendendo com as forças vivas do Universo, entesoura os recursos preciosos do conhecimento que lhe custou sacrifícios inumeráveis no longo curso das experiências.

A criatura está fadada à felicidade, à conquista do Infinito, além das expressões do espaço. A dor que hoje a comprime é camartelo de estimulação para que saia da situação que propicia esse desagradável fator de perturbação.

Compreendendo, por fim, a grandeza do amor, alça-se às cumeadas do trabalho pelo bem geral, empenhando-se na conquista de si mesma, do seu próximo, da Vida em geral. Esse significado existencial somente é descoberto quando atinge um grau de elevada percepção da realidade, que transcende o limite da forma física, transitória e experimental que, todavia, pode e deve ser cultivada com alegria e saúde integral.

Lutar sem fadigas exaustivas por conquistar-se, superando-se quanto possível, enfrentando os desafios com alegria e compreendendo que são os degraus de ascensão diante dos seus passos – eis como incorporará ao cotidiano os objetivos essenciais do seu aprimoramento físico, emocional e mental. Nesse empreendimento de ascensão inevitável, o ser depara-se com as construções do seu passado nele insculpidas, que se exteriorizam amiúde, afligindo-o, limitando-o...

Somente acreditando nas próprias possibilidades e empenhando-se por vivê-las, apesar dos obstáculos que surgem, é que se atinge com êxito a viagem interior, o auto-descobrimento e as técnicas que podem ser aplicadas para auferir os benefícios dessa realização. Alcançado esse estágio, surge a vontade da libertação das coisas, das cadeias frágeis que atam aos condicionamentos passados, que pareciam oferecer segurança, em uma existência física que se interrompe a qualquer momento, mas que parece impor necessidades de fixação, que não vão além de quimeras.

A Vida interior implícita, quando conquistada, ressurge no campo das formas em manifestação explícita. O ser se apresenta total, livre de impedimentos, rico de aspirações, sem conflitos, sem queixas; pleno, portanto...”

Por fim, completa o incomparável Mestre Lionês (4): “O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme o modo por que encare a Vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe afigura a duração do sofrimento. Ora, aquele que a encara pelo prisma da Vida espiritual apanha, num golpe de vista, a Vida corpórea. Ele a vê como um ponto no infinito, compreende-lhe a curteza e reconhece que esse penoso momento terá presto passado. A certeza de um próximo futuro mais ditoso o sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem avançar. Contrariamente, para quem apenas vê a Vida corpórea, interminável lhe parece esta e a dor o oprime com todo o seu peso. Daquela maneira de considerar a Vida, resulta ser diminuída a importância das coisas deste mundo, e sentir-se compelido o homem a moderar os seus desejos, a contentar-se com a sua posição, sem invejar a dos outros, a receber atenuada a impressão dos reveses e das decepções que experimente. Daí tira ele uma calma e uma resignação tão úteis à saúde do corpo quanto à da alma, ao passo que, com a inveja, o ciúme e a ambição, voluntariamente se condena à tortura e aumenta as misérias e as angústias da sua curta existência.”

ROGÉRIO COELHO


Fontes:
1. Kardec, A. in “Obras Póstumas”.
2. Amélia Rodrigues/Franco, D.P. in “Dias Venturosos”.
3. Joanna de Ângelis/Franco, D/P. in “Vida: Desafios e Soluções”.
4. Kardec, A. in “O Evangelho Segundo o Espiritismo” – Capítulo V, item 13.

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