Simplesmente por falta de políticas públicas mais efetivas, parte considerável da população está exposta à ação do mosquito Aedes aegypt, agente transmissor de doenças como dengue, febre amarela, chikungunya e do vírus da zika.
Este último, segundo os especialistas, está associado à terrível manifestação da microcefalia, que, entre outras coisas, causa diminuição da caixa craniana e destruição do sistema nervoso central – conforme atestam recentíssimos experimentos realizados em solo brasileiro – dos fetos, comprometendo irremediavelmente as suas vidas. No momento em que escrevo essas linhas já foram confirmados 508 casos no país. Por motivos óbvios, esse quadro também representa um pesadelo para as gestantes. Mulheres grávidas ou que almejam tal condição pertencente a extratos sociais mais elevados estão deixando ou pelo menos considerando a possibilidade de deixar o país durante o período de suas gestações.
Reportagens jornalísticas têm abordado algumas faces cruéis atribuídas à microcefalia, ou seja, o abandono. Muitos pais ao saberem que têm um filho portador dessa doença deixam as suas companheiras. Essas, por sua vez, premidas por enormes dificuldades econômico-financeiras – às vezes são mães de outras crianças igualmente doentes exigindo cuidados especiais – deixam o filho problemático à adoção. O estado de Pernambuco tem concentrado a maioria dos casos de microcefalia do Nordeste. Segundo levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, 77% das 209 mães de bebês com a má-formação estão abaixo da linha extrema de pobreza – o que torna a situação mais emblemática.
No bojo desse caos, o instituto de pesquisas Datafolha fez um levantamento altamente revelador a respeito de como a população encara a possibilidade de aborto de um feto microcéfalo. Mais especificamente, 56% das pessoas com apenas o ensino fundamental e 53% das que possuem nível médio rejeitam veementemente a ideia do aborto. Em contraste, 53% das que possuem nível superior aceitam tal procedimento nessas circunstâncias contra 38% que pensam o contrário.
Avançando um pouco mais na análise, as pessoas mais pobres também rejeitam o aborto, isto é, 57% das que ganham até 2 salários mínimos (SM) e 48% das que recebem até 5 SM contra 43%. No entanto, 56% das que auferem entre 5/10 SM (em oposição a 38%) e 60% das que obtêm 10 SM ou mais aceitam a abominável alternativa em tais casos contra 34% que a rejeitam. Tais resultados levam a algumas conclusões extremamente preocupantes. Em poucas palavras, pessoas com mais renda e escolaridade tendem a aceitar o aborto de bebês microcéfalos.
Dito de outra forma, pessoas em flagrante processo de ascensão social e/ou que desfrutem de melhores condições econômicas e instrução tendem a rechaçar a possibilidade de conceber filhos limitados fisicamente. Em seus planos de vida aparentemente não há espaço para responsabilidades dessa ordem. As restrições daí decorrentes se chocam frontalmente com os seus ideais e projetos pessoais. Por possuírem mais recursos financeiros, o aborto lhes soa como algo naturalmente aceitável em tais circunstâncias. Enquanto isso, as pessoas mais pobres tendem a se conformar diante de tal probabilidade, apesar dos seus parcos meios de subsistência.
O Espiritismo tem posição firme contra o emprego do aborto. Por exemplo, na questão nº 358 de O Livro dos Espíritos encontramos esclarecedores subsídios da espiritualidade maior a respeito do tema – ou seja: “Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação? – Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, pois que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando”.
Vê-se, assim, que uma decisão que abrigue esse tipo de pensamento incorre, por conseguinte, em crime na percepção dos Espíritos. Sob essa perspectiva, o ser reencarnante se vê desprovido do essencial equipamento material para o seu reajuste perante as leis de Deus (ver questão nº 357 da mesma obra). Os seus pais materiais, por outro lado, ao assim proceder, negligenciam compromissos previamente acertados no Além, o que certamente muito lhes prejudicará no caminho ascensional do Espírito.
Na obra Ação e Reação ditada pelo Espírito André Luiz (psicografia de Francisco Cândido Xavier) encontramos igualmente outras importantes elucidações, a saber:
“Falta grave?! Será melhor dizer doloroso crime. Arrancar uma criança ao materno seio é infanticídio confesso. A mulher que o promove ou que venha a coonestar semelhante delito é constrangida, por leis irrevogáveis, a sofrer alterações deprimentes no centro genésico de sua alma, predispondo-se geralmente a dolorosas enfermidades, quais sejam a metrite, o vaginismo, a metralgia, o enfarte uterino, a tumoração cancerosa, flagelos esses com os quais, muita vez, desencarna, demandando o Além para responder, perante a Justiça Divina, pelo crime praticado. É, então, que se reconhece rediviva, mas doente e infeliz, porque, pela incessante recapitulação mental do ato abominável, através do remorso, reterá por tempo longo a degenerescência das forças genitais”.
Os Espíritos são muito claros e objetivos quanto ao, digamos, aceitável emprego do aborto, isto é, as situações em que esse procedimento é visto com atenuantes pelas normas divinas. A propósito, tal aspecto não passou despercebido a Allan Kardec, de tal forma que ele os indagou a respeito, conforme se observa na questão nº 359 da sua obra, previamente citada:
“Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda? – Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe”.
Voltando aos resultados da pesquisa do Datafolha, é fácil perceber que a maior escolaridade e a renda não têm ajudado a maioria dos membros desse grupo – basicamente eles pertencem à elite social – a desenvolverem maior compreensão acerca de temas sensíveis da trajetória humana como, por exemplo, o direito à vida.
Depreende-se a partir dos dados publicados que tais indivíduos possuem pouco interesse em encetar voos mais transcendentes do Espírito. O seu nível de alfabetização espiritual não parece ser muito elevado. Provavelmente movidos por interesses mais imediatistas de cunho material, a ideia de sacrifício por outro ser na dimensão ora analisada não lhes entra no terreno das cogitações ou os assusta vigorosamente – o que também é compreensível. Como bem pondera o Espírito Joanna de Ângelis, na obra Dias Gloriosos (psicografia de Divaldo Franco), “A criatura teme a dor”.
Mas como estamos geralmente atrelados a um passado tortuoso, temos outros deveres e responsabilidades a contemplar para a preservação da nossa própria saúde espiritual. Portanto, o melhor para nós é enfrentá-los logo.
ANSELMO FERREIRA VASCONCELOS
Reportagens jornalísticas têm abordado algumas faces cruéis atribuídas à microcefalia, ou seja, o abandono. Muitos pais ao saberem que têm um filho portador dessa doença deixam as suas companheiras. Essas, por sua vez, premidas por enormes dificuldades econômico-financeiras – às vezes são mães de outras crianças igualmente doentes exigindo cuidados especiais – deixam o filho problemático à adoção. O estado de Pernambuco tem concentrado a maioria dos casos de microcefalia do Nordeste. Segundo levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude, 77% das 209 mães de bebês com a má-formação estão abaixo da linha extrema de pobreza – o que torna a situação mais emblemática.
No bojo desse caos, o instituto de pesquisas Datafolha fez um levantamento altamente revelador a respeito de como a população encara a possibilidade de aborto de um feto microcéfalo. Mais especificamente, 56% das pessoas com apenas o ensino fundamental e 53% das que possuem nível médio rejeitam veementemente a ideia do aborto. Em contraste, 53% das que possuem nível superior aceitam tal procedimento nessas circunstâncias contra 38% que pensam o contrário.
Avançando um pouco mais na análise, as pessoas mais pobres também rejeitam o aborto, isto é, 57% das que ganham até 2 salários mínimos (SM) e 48% das que recebem até 5 SM contra 43%. No entanto, 56% das que auferem entre 5/10 SM (em oposição a 38%) e 60% das que obtêm 10 SM ou mais aceitam a abominável alternativa em tais casos contra 34% que a rejeitam. Tais resultados levam a algumas conclusões extremamente preocupantes. Em poucas palavras, pessoas com mais renda e escolaridade tendem a aceitar o aborto de bebês microcéfalos.
Dito de outra forma, pessoas em flagrante processo de ascensão social e/ou que desfrutem de melhores condições econômicas e instrução tendem a rechaçar a possibilidade de conceber filhos limitados fisicamente. Em seus planos de vida aparentemente não há espaço para responsabilidades dessa ordem. As restrições daí decorrentes se chocam frontalmente com os seus ideais e projetos pessoais. Por possuírem mais recursos financeiros, o aborto lhes soa como algo naturalmente aceitável em tais circunstâncias. Enquanto isso, as pessoas mais pobres tendem a se conformar diante de tal probabilidade, apesar dos seus parcos meios de subsistência.
O Espiritismo tem posição firme contra o emprego do aborto. Por exemplo, na questão nº 358 de O Livro dos Espíritos encontramos esclarecedores subsídios da espiritualidade maior a respeito do tema – ou seja: “Constitui crime a provocação do aborto, em qualquer período da gestação? – Há crime sempre que transgredis a lei de Deus. Uma mãe, ou quem quer que seja, cometerá crime sempre que tirar a vida a uma criança antes do seu nascimento, pois que impede uma alma de passar pelas provas a que serviria de instrumento o corpo que se estava formando”.
Vê-se, assim, que uma decisão que abrigue esse tipo de pensamento incorre, por conseguinte, em crime na percepção dos Espíritos. Sob essa perspectiva, o ser reencarnante se vê desprovido do essencial equipamento material para o seu reajuste perante as leis de Deus (ver questão nº 357 da mesma obra). Os seus pais materiais, por outro lado, ao assim proceder, negligenciam compromissos previamente acertados no Além, o que certamente muito lhes prejudicará no caminho ascensional do Espírito.
Na obra Ação e Reação ditada pelo Espírito André Luiz (psicografia de Francisco Cândido Xavier) encontramos igualmente outras importantes elucidações, a saber:
“Falta grave?! Será melhor dizer doloroso crime. Arrancar uma criança ao materno seio é infanticídio confesso. A mulher que o promove ou que venha a coonestar semelhante delito é constrangida, por leis irrevogáveis, a sofrer alterações deprimentes no centro genésico de sua alma, predispondo-se geralmente a dolorosas enfermidades, quais sejam a metrite, o vaginismo, a metralgia, o enfarte uterino, a tumoração cancerosa, flagelos esses com os quais, muita vez, desencarna, demandando o Além para responder, perante a Justiça Divina, pelo crime praticado. É, então, que se reconhece rediviva, mas doente e infeliz, porque, pela incessante recapitulação mental do ato abominável, através do remorso, reterá por tempo longo a degenerescência das forças genitais”.
Os Espíritos são muito claros e objetivos quanto ao, digamos, aceitável emprego do aborto, isto é, as situações em que esse procedimento é visto com atenuantes pelas normas divinas. A propósito, tal aspecto não passou despercebido a Allan Kardec, de tal forma que ele os indagou a respeito, conforme se observa na questão nº 359 da sua obra, previamente citada:
“Dado o caso que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda? – Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe”.
Voltando aos resultados da pesquisa do Datafolha, é fácil perceber que a maior escolaridade e a renda não têm ajudado a maioria dos membros desse grupo – basicamente eles pertencem à elite social – a desenvolverem maior compreensão acerca de temas sensíveis da trajetória humana como, por exemplo, o direito à vida.
Depreende-se a partir dos dados publicados que tais indivíduos possuem pouco interesse em encetar voos mais transcendentes do Espírito. O seu nível de alfabetização espiritual não parece ser muito elevado. Provavelmente movidos por interesses mais imediatistas de cunho material, a ideia de sacrifício por outro ser na dimensão ora analisada não lhes entra no terreno das cogitações ou os assusta vigorosamente – o que também é compreensível. Como bem pondera o Espírito Joanna de Ângelis, na obra Dias Gloriosos (psicografia de Divaldo Franco), “A criatura teme a dor”.
Mas como estamos geralmente atrelados a um passado tortuoso, temos outros deveres e responsabilidades a contemplar para a preservação da nossa própria saúde espiritual. Portanto, o melhor para nós é enfrentá-los logo.
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