Buscando nos aprofundarmos no tema aborto sob a ótica espiritual, conversamos com Cristiane Ribeiro Assis, médica obstetra especializada no acolhimento e cuidados à gestante, membro da Associação Médico Espírita de São Paulo e autora do livro Gestação Encontro de almas.
Como iniciou seu envolvimento em defesa da vida?
Quando comecei minha especialização em medicina fetal senti grande dificuldade em argumentar com profissionais da área sobre a importância da vida desde a concepção, baseada apenas nos conhecimentos médicos que aprendi na faculdade e nos ensinamentos espíritas, pois eles eram taxados como fanatismo ou crenças particulares. Então, passei a pesquisar em todas as áreas científicas informações que comprovassem os aprendizados em formação no útero, sua interação com sua mãe e a importância que tudo isso teria em sua vida adulta.
Também passei anos escrevendo uma coluna na Folha Espírita e gravando um quadro no Portal de Luz sobre Família, a convite de Dra. Marlene Nobre.
Fale sobre seu livro Gestação Encontro de almas?
O grande objetivo sempre foi dar um olhar à gestação em todos os seus aspectos: biológicos, psicológicos, sociais e espirituais. E fornecer as gestantes, sua família e a todos que gostem do assunto, informações que possibilitem aproveitar ao máximo esse momento tão especial e importante. Todos tem a ganhar com isso, particularmente o espírito reencarnante, que será acolhido da melhor forma possível em sua chegada ao nosso planeta. E quem, ao ser recebido com tanto amor e tranquilidade, não se sentiria seguro para começar uma nova empreitada, que é uma encarnação?
Quais temas o livro trata?
Os tópicos abordados na versão impressa do livro são: O feto como indivíduo; Responsabilidades dos pais; Evangelização de espíritos; Planejamento familiar; Cuidados antes e depois da concepção; Planejamento reencarnatório; Fecundação; Malformações fetais; Gestação passo a passo; Repercussão das emoções maternas sobre o feto; Sexualidade na gravidez; Parto, Após o nascimento (puerpério e aleitamento materno); O homem grávido e Acolhimento ao espírito reencarnante. Além disso, estão disponíveis em QR Code ao leitor outros capítulos.
Na sua opinião como esse assunto deve ser tratado na sociedade?
A solução para o problema de saúde pública devido às consequências dos abortos clandestinos não é legalizar ou descriminalizar o aborto, oferecendo acesso a este ato criminoso.O caminho é oferecer educação adequada e contínua a toda população, objetivando medidas eficientes de planejamento familiar, sem assumir ações de banalização para atividade sexual e para o relacionamento afetivo.
Sabendo que o encontro entre óvulo e espermatozóide não ocorre de forma aleatória, uma vez que está associado ao espírito reencarnante e carrega consigo todo o seu planejamento reencarnatório e o trabalho árduo de vários espíritos que almejam que tudo transcorra da melhor forma possível, valorizamos a vida humana desde primeira célula e somos contrários a qualquer método ou ato que possa colocar sua existência em risco.
Quais são as consequências físicas e espirituais de um aborto?
A preservação e o respeito com a vida humana fazem parte de uma Lei Divina. Logo, transgredi-la tem suas consequências. Claro que não existe uma regra ou um padrão e cada caso depende muito da evolução, arrependimento e entendimento dos envolvidos. Temos algumas orientações que nos foram dadas pelos Espíritos Superiores em relação ao abortado, a homem que não ampara a gravidez, a mulher que aborta e aos profissionais que praticaram o aborto. Algumas dessas respostas encontramos em obras como O Livro dos Espíritos; Evolução em 2 Mundos, Ícaro Redimido, entre outras.
Lembramos que não é preciso uma nova encarnação para reparar a queda de ter se submetido a um aborto. O primeiro passo é o autoperdão e a certeza de que jamais voltaríamos a reincidir em tal falha. Em Evolução em Dois Mundos (Cap XIV – 2a parte), lemos: “Sabemos que é possível renovar o destino todos os dias. Quem ontem abandonou os próprios filhos pode hoje afeiçoar-se aos filhos alheios, necessitando de carinho e abnegação (…) a caridade cobre a multidão e nossos males.”
Ainda sobre esse tema, em Ação e Reação (Cap18), André Luiz nos ensina que “(…) gerando novas causas com o bem, praticado hoje, podemos interferir nas causas do mal, praticado ontem, neutralizando-as e reconquistando, com isso, nosso equilíbrio.”
E no caso de uma gravidez não desejada em decorrência de abuso ou gravidez precoce por exemplo?
Toda vida é digna e tem o direito de seguir a sua existência durante o período que lhe for designado pelo planejamento reencarnatório. O que aos nossos olhos destreinados pode parecer algo sem sentido, pode ser uma valiosa experiência ao espírito reencarnante e a todos os envolvidos, independente de sua duração. Por isso, nos casos de malformação fetal, onde não há risco de vida materno, cabe a nós amparar esse casal, para que possam passar por essa experiência da maneira mais digna possível, oferecendo a esse feto todo amor e respeito de que necessita em vivência tão complexa.
Já nos casos de abuso ou pedofilia, um crime não justifica outro. Tirar a vida de um inocente não apagará a falta cometida. Portanto, se para gestante for impossível conviver com alguém concebido de forma tão violenta, que ao menos permita que esse espírito nasça e possa ser encaminhado para os braços amorosos de pais adotivos.
Porém, muitas vezes, esses espíritos que chegaram ao lar de forma tão tortuosa, quando recebidos com amor, podem ser tornar o grande arrimo dessas mães em sua velhice.
Um plano de acolhimento às mulheres nesse sentido poderia ajudar a prevenir casos de aborto?
Felizmente no Brasil, temos grupos das mais diversas origens que têm por objetivo acolher a gestante buscando evitar que ela busque o aborto como recurso de solução dos seus problemas. Cito, como exemplo, a Campanha Vida, sim à gravidez, criada em 1997 pela Associação Médico Espírita do Paraná. Para saber mais acesse:
(http://www.mundoespirita.com.br/?materia=campanha-vida-sim-a-gravidez-quinze-anos)
Gostaria de deixar uma reflexão?
Está bem definido na ciência, que a partir do momento em que o óvulo feminino se encontra com o espermatozoide masculino, ocorre a formação de um indivíduo com uma carga genética única, que jamais existiu e que jamais se repetirá. Esse é o início da vida humana. Essa é a Lei… Lei Divina… Lei da natureza… O momento a partir do qual cada um passará a lhe dar valor depende apenas de parâmetros individuais, morais e totalmente arbitrários, de acordo com o paradigma seguido por cada um.
Contudo, devemos lembrar que toda vez que estamos sujeitos às Leis da natureza, independente da nossa vontade e transgredi-las tem suas consequências. Por exemplo: eu posso achar que a lei da gravidade não é justa, por me obrigar a ficar atraída a um corpo de maior massa que não é de minha escolha. Mas nem por isso, minha opinião faz com que eu deixe de estar sujeito a sua ação.
Assim, quando passamos a valorizar a vida apenas quando há batimento cardíaco ou quando há atividade cerebral, o desrespeito a vida humana antes desse período terá sim seus efeitos. Também precisamos lembrar que somos vida humana também e padrões estabelecidos ao feto e embrião podem, se desejado, ser extrapolados ao adulto. Exemplo: um coração em uso de marcapasso não bate sozinho… um paciente ao ser submetido a um transplante cardíaco possui um cérebro comprovadamente sem atividade… será que essas vidas não são valiosas apenas por não apresentarem essas funções?
Como nos ensinou Jesus:”Devemos fazer ao outro apenas o que gostaríamos que fizessem a nós mesmos”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário