14 de fev. de 2014

Reencarnação e Escala Espírita



Autor: Allan Kardec

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

196. Não podendo os Espíritos aperfeiçoar-se, a
não ser por meio da reencarnação, segue-se que
a vida material seja uma espécie de crisol ou de
depurador, por onde têm que passar todos os
seres do mundo espírita para alcançarem a
perfeição? “Sim, é exatamente isso. Eles se
melhoram nessa provas, evitando o mal e
praticando o bem; porém, somente ao cabo de
mais ou menos longo tempo, conforme os
esforços que empreguem; somente após muitas
encarnações ou depurações sucessivas, atingem
a finalidade para que tendem.” a) – É o corpo que
influi sobre o Espírito para que este se melhore,
ou o Espírito que influi sobre o corpo? “Teu
Espírito é tudo; teu corpo é simples veste que
apodrece: eis tudo.”

132. Qual é a finalidade da encarnação dos
Espíritos?

— Deus a estabelece com o fim de levá-los à
perfeição: para uns, é uma expiação; para outros,
uma missão. Mas, para chegar a essa perfeição,
eles devem sofrer todas as vicissitudes da
existência corpórea; nisto é que está a expiação.
A encarnação tem ainda outra finalidade, que é a
de pôr o Espírito em condições de enfrentar a
sua parte na obra da Criação. É para executá-la
que ele toma um aparelho em cada mundo, em
harmonia com a matéria essencial do mesmo,
afim de nele cumprir, daquele ponto de vista, as
ordens de Deus. E dessa maneira, concorrendo
para a obra geral, também progredir.

Comentário de Kardec: A ação dos seres
corpóreos é necessária à marcha do Universo.
Mas Deus, na sua sabedoria, quis que eles
tivessem, nessa mesma ação, um meio de
progredir e de se aproximarem dele. É assim
que, por uma lei admirável de sua providência,
tudo se encadeia, tudo é solidário na Natureza.

133. Os Espíritos que, desde o princípio,
seguiram o caminho do bem têm necessidade da
encarnação?

— Todos são criados simples e ignorantes, e
usam o livre-arbítrio (liberdade de escolha) como
querem. Assim, se instruem através das lutas e
atribulações da vida corporal. Deus, que é justo,
não podia fazer feliz a uns, sem penas e sem
trabalhos, e por conseguinte sem mérito.

133. a) Mas então de que serve aos Espíritos
seguirem o caminho do bem, se isso não os
isenta das penas da vida corporal?

— Chegam mais depressa ao alvo. Além disso, as
penas da vida são freqüentemente a
conseqüência da imperfeição do Espírito. Quanto
menos imperfeito ele for, menos tormentos
sofrerá. Aquele que não for invejoso, nem
ciumento, nem avarento ou ambicioso, não
passará pelos tormentos que se originam desses
defeitos. .....

Escala Espírita

100. Observações preliminares. A classificação
dos Espíritos funda-se no seu grau de
desenvolvimento, nas qualidades por eles
adquiridas e nas imperfeições de que ainda não
se livraram. Esta classificação nada tem de
absoluta: nenhuma categoria apresenta caráter
bem definido, a não ser no conjunto: de um grau
a outro, a transição é insensível, pois, nos
limites, as diferenças se apagam, como nos
reinos da Natureza, nas cores do arco-íris ou
ainda nos diferentes períodos da vida humana.
Pode-se, portanto, formar um número maior ou
menor de classes, de acordo com a maneira por
que se considerar o assunto. Acontece nisto
como em todos os sistemas de classificação
científica: os sistemas podem ser mais ou menos
completos, mais ou menos racionais, mais ou
menos cômodos para a inteligência; mas, seja
como for, nada alteram quanto à substância da
Ciência. Os Espíritos, interpelados sobre isto,
puderam, pois, variar quanto ao número das
categorias, sem maiores conseqüências. Houve
quem se apegasse a esta contradição aparente,
sem refletir que eles não dão nenhuma
importância ao que é puramente convencional.
Para eles, o pensamento é tudo: deixam-nos os
problemas da forma, da escolha dos termos, das
classificações, em uma palavra, dos sistemas.

Ajuntemos ainda esta consideração que jamais se
deve perder de vista: entre os Espíritos, como
entre os homens, há os que são muito
ignorantes, e nunca será demais estarmos
prevenidos contra a tendência a crer que eles
tudo sabem, por serem Espíritos. Toda
classificação exige método, análise e
conhecimento aprofundado do assunto. Ora, no
mundo dos Espíritos, os que têm conhecimentos
limitados são, como os ignorantes deste mundo,
incapazes de apreender um conjunto e formular
um sistema; eles não conhecem ou não
compreendem senão imperfeitamente qualquer
classificação; para eles, todos os Espíritos que
lhes sejam superiores são da primeira ordem,
pois não podem apreciar as suas diferenças de
saber, de capacidade e de moralidade, como
entre nós faria um homem rude, em relação aos
homens ilustrados. E aqueles mesmos que sejam
incapazes, podem variar nos detalhes, segundo
os seus pontos de vista, sobretudo quando uma
divisão nada tem de absoluto. Lineu, Jussieu
Tournefort tiveram cada qual o seu método, e a
botânica não se alterou por isso. É que eles não
inventaram nem as plantas nem os seus
caracteres, mas apenas observaram as analogias,
segundo as quais formaram os grupos e as
classes. Foi assim que procedemos. Nós também
não inventamos os Espíritos nem os seus
caracteres. Vimos e observamos; julgamos pelas
suas palavras e os seus atos, e depois os
classificamos pelas semelhanças, baseando-nos
nos dados que eles forneceram.

Os Espíritos admitem, geralmente, três
categorias principais ou três grandes divisões. Na
última, aquela que se encontra na base da escala,
estão os Espíritos imperfeitos, caracterizados
pela predominância da matéria sobre o espírito e
pela propensão ao mal. Os da segunda se
caracterizam pela predominância do espírito
sobre a matéria e pelo desejo de praticar o bem:
são os Espíritos bons. A primeira, enfim,
compreende os Espíritos puros, que atingiram o
supremo grau de perfeição.

Esta divisão nos parece perfeitamente racional e
apresenta caracteres bem definidos; não nos
resta senão destacar, por um número suficiente
de subdivisões, as nuanças principais do
conjunto. Foi o que fizemos, com o concurso dos
Espíritos, cujas benevolentes instruções jamais
nos faltaram.

Com a ajuda deste quadro, será fácil determinar
a ordem e o grau de superioridade ou
inferioridade dos Espíritos com os quais
podemos entrar em relação e, por conseguinte, o
grau de confiança e de estima que eles merecem.
Esta é de alguma maneira, a chave da Ciência
espírita, pois só ela pode explicar-nos as
anomalias que as comunicações apresentam,
esclarecendo-nos sobre as irregularidades
intelectuais e morais dos Espíritos.
Observaremos, entretanto, que os Espíritos não
pertencem para sempre e exclusivamente a esta
ou aquela classe; o seu progresso se realiza
gradualmente, e, como muitas vezes se efetua
mais num sentido que noutro, eles podem reunir
as características de varias categorias, o que é
fácil apreciar por sua linguagem e seus atos.

TERCEIRA ORDEM: ESPÍRITOS IMPERFEITOS

101. Caracteres gerais. Predominância da matéria
sobre o espírito. Propensão ao mal. Ignorância,
orgulho, egoísmo, e todas as más paixões que
lhes seguem. Têm a intuição de Deus, mas não o
compreendem.

Nem todos são essencialmente maus; em alguns,
há mais leviandade. Uns não fazem o bem, nem
o mal; mas pelo simples fato de não fazerem o
bem, revelam a sua inferioridade. Outros, pelo
contrário, se comprazem no mal e ficam
satisfeitos quando encontram ocasião de praticá-
lo.

Podem aliar a inteligência à maldade ou à
malícia; mas, qualquer que seja o seu
desenvolvimento intelectual, suas idéias são
pouco elevadas e os seus sentimentos mais ou
menos abjetos.

Os seus conhecimentos sobre as coisas do
mundo espírita são limitados, e o pouco que
sabem a respeito se confunde com as idéias e os
preconceitos da vida corpórea. Não podem dar-
nos mais do que noções falsas e incompletas
daquele mundo; mas o observador atento
encontra freqüentemente, nas suas
comunicações, mesmo imperfeitas, a
confirmação das grandes verdades ensinadas
pelos Espíritos superiores.

O caráter desses Espíritos se revela na sua
linguagem. Todo Espírito que, nas suas
comunicações, trai um pensamento mau, pode
ser colocado na terceira ordem; por conseguinte,
todo mau pensamento que nos for sugerido
provém de um Espírito dessa ordem.

Vêem a felicidade dos bons, e essa visão é para
eles um tormento incessante, porque lhes faz
provar as angústias da inveja e do ciúme.

Conservam a lembrança e a percepção dos
sofrimentos da vida corpórea, e essa impressão é
freqüentemente mais penosa que a realidade.
Sofrem, portanto, verdadeiramente, pelos males
que suportaram e pêlos que acarretaram aos
outros; e como sofrem por muito tempo, julgam
sofrer para sempre. Deus, para os punir, quer
que eles assim pensem.

Podemos dividi-los em cinco classes principais.

102. Décima classe. Espíritos Impuros — São
inclinados ao mal e o fazem objeto de suas
preocupações. Como Espíritos, dão conselhos
pérfidos, insuflam a discórdia e a desconfiança, e
usam todos os disfarces, para melhor enganar.
Apegam-se às pessoas de caráter bastante fraco
para cederem às suas sugestões, a fim de as
levar à perda, satisfeitos de poderem retardar o
seu adiantamento, ao fazê-las sucumbir ante as
provas que sofrem.

Nas manifestações, reconhecem-se esses
Espíritos pela linguagem: a trivialidade e a
grosseria das expressões, entre os Espíritos
como entre os homens, e sempre um índice de
inferioridade moral, senão mesmo intelectual.
Suas comunicações revelam a baixeza de suas
inclinações e, se eles tentam enganar, talando de
maneira sensata, não podem sustentar o papel
por muito tempo e acabam sempre por trair a
sua origem.

Alguns povos os transformaram em divindades
malfazejas- outros os designam como demônios,
gênios maus, Espíritos do mal.

Quando encarnados, inclinam-se a todos os
vícios que as paixões vis e degradantes
engendram: a sensualidade, a crueldade, a
felonia, a hipocrisia cupidez e a avareza sórdida.
Fazem o mal pelo prazer de fazê-lo, no mais das
vezes sem motivo, e, por ódio ao bem, quase
sempre escolhem suas vitimas entre as pessoas
honestas. Constituem verdadeiros flagelos para a
humanidade seja qual for a posição que ocupem,
e o verniz da civilização não os livra do opróbrio
e da ignomínia.

103. Nona classe. Espíritos Levianos - São
ignorantes, malignos inconseqüentes e
zombeteiros. Metem-se em tudo e a tudo
respondem sem se importarem com a verdade.
Gostam de causar pequenas contrariedades e
pequenas alegrias, de fazer intrigas, de induzir
maliciosamente ao erro por meio de
mistificações e de espertezas. A esta classe
pertencem os Espíritos vulgarmente designados
pelos nomes de duendes, diabretes, gnomos,
tragos Estão sob a dependência de Espíritos
superiores, que deles se servem multas vezes,
como fazemos com os criados.

Nas suas comunicações com os homens, a sua
linguagem é, muitas vezes espirituosa e alegre,
mas quase sempre sem profundidade; apanham
as esquisitices e os ridículos humanos, que
interpretam de maneira mordaz e satírica. Se
tomam nomes supostos, é mais por malícia do
que por maldade

104. Oitava classe. Espíritos Pseudo-Sábios -
Seus conhecimentos são bastante amplos, mas
julgam saber mais do que realmente sabem
Tendo realizado alguns progressos em diversos
sentidos, sua linguagem tem um caráter sério,
que pode iludir quanto à sua capacidade e às
suas luzes Mas isso freqüentemente, não é mais
do que um reflexo dos preconceitos e das idéias
sistemáticas que tiveram na vida terrena. Sua
linguagem é uma mistura de algumas verdades
com os erros mais absurdos, entre os quais
repontam a presunção, o orgulho, a inveja e a
teimosia, de que não puderam despir-se

105. Sétima classe. Espíritos Neutros – Nem são
bastante bons para fazerem o bem, nem
bastante maus para fazerem o mal; tendem tanto
para um como para outro, e não se elevam sobre
a condição vulgar da humanidade, quer pela
moral ou pela inteligência. Apegam-se às coisas
deste mundo, saudosos de suas grosseiras
alegrias.

106. Sexta classe. Espíritos Batedores e
Perturbadores —Estes Espíritos não formam,
propriamente falando, uma classe distinta
quanto às suas qualidades pessoais, e podem
pertencer a todas as classes da terceira ordem.
Manifestam freqüentemente sua presença por
efeitos sensíveis e físicos, como golpes,
movimento e deslocamento anormal de corpos
sólidos, agitação do ar etc. Parece que estão mais
apegados à matéria do que os outros, sendo os
agentes principais das vicissitudes dos elementos
do globo, quer pela sua ação sobre o ar, a água,
o fogo, os corpos sólidos ou nas entranhas da
terra. Reconhece-se que esses fenômenos não
são devidos a uma causa fortuita e física, quando
têm um caráter intencional e inteligente. Todos
os Espíritos podem produzir esses fenômenos,
mas os Espíritos elevados os deixam, em geral, a
cargo dos Espíritos subalternos, mais aptos para
as coisas materiais que para as inteligentes.
Quando julgam que as manifestações desse
gênero são úteis, servem-se desses espíritos
como auxiliares.

SEGUNDA ORDEM: BONS ESPÍRITOS

107. Caracteres Gerais. Predomínio do Espírito
sobre a matéria; desejo do bem. Suas qualidades
e seu poder de fazer o bem estão na razão do
grau que atingiram: uns possuem a ciência,
outros a sabedoria e a bondade; os mais
adiantados juntam ao seu saber as qualidades
morais. Não estando ainda completamente
desmaterializados, conservam mais ou menos,
segundo sua ordem, os traços da existência
corpórea, seja na linguagem, seja nos hábitos,
nos quais se encontram até mesmo algumas de
suas manias. Se não fosse assim, seriam Espíritos
perfeitos.

Compreendem Deus e o infinito e gozam já da
felicidade dos bons. Sentem-se felizes quando
fazem o bem e quando impedem o mal. O amor
que os une é para eles uma fonte de inefável
felicidade, não alterada pela inveja nem pêlos
remorsos, ou por qualquer das más paixões que
atormentam os Espíritos imperfeitos; mas terão
ainda de passar por provas, até atingirem a
perfeição absoluta.

Como Espíritos, suscitam bons pensamentos,
desviam os homens do caminho do mal,
protegem durante a vida aqueles que se tornam
dignos, e neutralizam a influência dos Espíritos
imperfeitos sobre os que não se comprazem
nelas.

Quando encarnados, são bons e benevolentes
para com os semelhantes; não se deixam levar
pelo orgulho, nem pelo egoísmo, nem pela
ambição; não provam ódio, nem rancor, nem
inveja ou ciúme, fazendo o bem pelo bem.

A esta ordem pertencem os espíritos designados,
nas crenças vulgares, pelos nomes de bons
gênios, gênios protetores, Espíritos do bem. Nos
tempos de superstição e de ignorância, foram
considerados divindades benfazejas.

Podemos dividi-los em quatro grupos principais:

108. Quinta classe. Espíritos Benévolos — Sua
qualidade dominante é a bondade; gostam de
prestar serviços aos homens e de os proteger;
mas o seu saber é limitado: seu progresso
realizou-se mais no sentido moral que no
intelectual.

109. Quarta classe. Espíritos Sábios — O que
especialmente os distingue é a amplitude dos
conhecimentos. Preocupam-se menos com as
questões morais do que com as científicas, para
as quais têm mais aptidão; mas só encaram a
Ciência pela sua utilidade, livres das paixões que
são próprias dos Espíritos imperfeitos.

110. Terceira classe. Espíritos Prudentes —
Caracterizam-se pelas qualidades morais da
ordem mais elevada. Sem possuir conhecimentos
ilimitados, são dotados de uma capacidade
intelectual que lhes permite julgar com precisão
os homens e as coisas.

111. Segunda classe. Espíritos Superiores —
Reúnem a ciência, a sabedoria e a bondade. Sua
linguagem, que só transpira benevolência, é
sempre digna, elevada, e freqüentemente
sublime. Sua superioridade os torna, mais que os
outros, aptos a nos proporcionar as mais justas
noções sobre as coisas do mundo incorpóreo,
dentro dos limites do que nos é dado conhecer.
Comunicam-se voluntariamente com os que
procuram de boa fé a verdade e cujas almas
estejam bastante libertas dos liames terrenos,
para a compreender; mas afastam-se dos que
são movidos apenas pela curiosidade ou que,
pela influência da matéria, se desviam da prática
do bem.

Quando, por exceção, se encarnam na Terra, é
para cumprir uma missão de progresso, e então
nos oferecem o tipo de perfeição a que a
humanidade pode aspirar neste mundo.

PRIMEIRA ORDEM: ESPÍRITOS PUROS

112. Caracteres Gerais. Nenhuma influência da
matéria. Superioridade intelectual e moral
absoluta, em relação aos Espíritos das outras
ordens.

113. Primeira classe. Classe Única — Percorreram
todos os graus da escala e se despojaram de
todas as impurezas da matéria. Havendo atingido
a soma de perfeições de que é suscetível a
criatura, não têm mais provas nem expiações a
sofrer. Não estando mais sujeitos à reencarnação
em corpos perecíveis, vivem a vida eterna, que
desfrutam no seio de Deus.

Gozam de uma felicidade inalterável, porque não
estão sujeitos nem às necessidades nem às
vicissitudes da vida material, mas essa felicidade
não é a de uma ociosidade monótona, vivida em
contemplação perpétua. São os mensageiros e os
ministros de Deus, cujas ordens executam, para
a manutenção da harmonia universal. Dirigem a
todos os Espíritos que lhes são inferiores,
ajudam-nos a se aperfeiçoarem e determinam as
suas missões. Assistir os homens nas suas
angústias, incitá-los ao bem ou à expiação das
faltas que os distanciam da felicidade suprema é
para eles uma ocupação agradável. São, às vezes,
designados pêlos nomes de anjos, arcanjos ou
serafins.

Os homens podem comunicar-se com eles, mas
bem presunçoso seria o que pretendesse tê-los
constantemente às suas ordens.

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