Muitas mulheres, pretendendo evitar gravidez e imaginando que a concepção ocorre em aproximadamente 72 horas após a relação sexual, usam a “pílula do dia seguinte” julgando que ela não contém substância possível de desencadear o aborto.
Assim sendo, consideram que a pílula, para ter eficácia, tem que ser tomada até doze horas após a relação, ou seja, em período no qual, seguramente, ainda não houve concepção. Repetindo: assim pensam e acreditam que a pílula não é abortiva.
— Será?...
Em primeiro lugar, não há certeza, no mundo todo (dos cientistas-biólogos), de que a fecundação ocorra “em aproximadamente 72 horas após a relação sexual”. Na verdade, o tempo de percurso do espermatozóide para o encontro com o óvulo é indefinido, variável de caso a caso, tendo em vista que:
a. a motilidade do espermatozóide varia em razão da sua qualidade, isto é, da saúde da fonte (o homem). Considere-se, assim, que os milhões de espermatozóides de cada ejaculação têm variáveis velocidades de locomoção...
b. espermatozóides podem permanecer ativos no ambiente feminino por até 7 dias;
c. a fecundação subordina-se inexoravelmente à "disposição" do óvulo, isto é, se ele já está (pode estar) apto para o grande feito ou sequer ainda não se posicionou ad hoc;
Na primeira hipótese (óvulo já na "grande espera"), a fecundação pode ocorrer bem antes de decorridas 24 hs da ejaculação.
Na segunda (sequer há óvulo ou ele ainda está se dirigindo para o ponto de encontro), a fecundação pode demorar dias para ocorrer, dependendo de quando o óvulo vai "estar em condições de".
Do estrito ponto de vista científico, para alguns especialistas, a pílula do dia seguinte, cuja ação é impedir o sublime encontro espermatozóide+óvulo (por reações químicas e hormonais que não caberia aqui dissertar), não pode — a pílula — ser taxada, a priori, de abortiva. Isso porque gravidez, especificamente gravidez, demora para ocorrer: só quando o embrião está no útero. Consideram eles a ação da pílula, antes que a gravidez ocorra:
- se a fecundação ainda não aconteceu, o medicamento vai dificultar o encontro do espermatozoide com o óvulo;
- se a fecundação já tiver ocorrido, irá provocar uma descamação do útero, impedindo a implantação do ovo fecundado;
- caso o ovo já esteja implantado, ou seja, já tenha iniciado a gravidez, a pílula não tem efeito algum.
Outros ginecologistas não consideram que a pílula do dia seguinte possa ser considerada nem como abortiva, menos ainda como não-abortiva, pois quanto à gravidez, têm como certeza científica que ela só ocorre quando o embrião está devidamente aninhado no útero. Ademais, mesmo que já tenha ocorrido a fecundação, o embrião se demora nas trompas até alcançar o pouso definitivo (no útero), e nesse caso, o descarte dele, antes desse pouso, não caracteriza aborto.
Vê-se que o tema se reveste de dubiedade, até para os estudiosos, sem “certezas”.
Aliás, prudente será relembrar que na história da Humanidade, muitas “certezas” sobre a vida, com o tempo, se mostraram equivocadas. Para não nos alongarmos, citamos uma dessas “certezas” que se esfarelaram: Louis Pasteur (1822-1895), químico e biologista francês, provando a absoluta improcedência da tese da geração espontânea.
Agora, do ponto de vista espírita, surge ardente dúvida se a pílula do dia seguinte seria ou não abortiva, tendo em vista premissas emanadas do Plano Maior:
Agora, do ponto de vista espírita, surge ardente dúvida se a pílula do dia seguinte seria ou não abortiva, tendo em vista premissas emanadas do Plano Maior:
- Em "O Livro dos Espíritos", de Allan Kardec, à questão 344 está registrado que “a união da alma e do corpo começa na concepção”.
- Na obra “Missionários da Luz”, de André Luiz, psicografia de Chico Xavier, há ampla dissertação no capítulo 13 (“Reencarnação”) sobre a magnitude da fecundação.
- Na obra “Missionários da Luz”, de André Luiz, psicografia de Chico Xavier, há ampla dissertação no capítulo 13 (“Reencarnação”) sobre a magnitude da fecundação.
Segundo ambas as obras a ligação do Espírito reencarnante com um novo corpo físico se dá no preciso momento da fecundação. Nelas, não há referência, com precisão, a que tempo ocorre a fecundação, nem se em todos os casos de concepção o tempo é exatamente o mesmo. E aí, como também vimos na visão científica, ninguém no mundo pode precisar quando é que isso (a fecundação) acontece: se em horas, ou em dias.
O que se depreende e talvez possa ser sugerido ao casal é que, por uma questão de bom senso espírita, jamais arriscar ação que redunde involuntariamente em aborto: se o que se quer é evitar gravidez, prudente será evitar o uso da pílula, uma vez consumada a relação, vez que na fecundação ocorre a ligação alma-corpo. Ademais, a medicina já oferta outros métodos anticoncepcionais (abstenção nos períodos de fertilidade feminina é um deles).
Como informação complementar, que repasso apenas como nota, entrevistando um consagrado ginecologista, diretor-proprietário de um Centro de Reprodução Humana, deu-me ele a conhecer algo que eu jamais tinha ouvido falar: em vários exames de material de menstruação, são encontrados embriões, que de alguma forma não prosperaram, seja por fragilidade das células germinativas, seja por motivos outros, talvez físicos-hormonais, naquela fase em que o zigoto se formou, quem sabe?
Assim, discussão sobre toda a processualística da fecundação, seguida de gravidez ou aborto, espontâneo ou farmacológico (pela pílula), se houver, será sempre bizantina, isso porque, segundo o Espiritismo, só Deus e talvez os Espíritos elevados, aqueles que o autor espiritual André Luiz, no já citado capítulo da obra “Missionários da Luz”, denomina de "Construtores”, sabem quais são as respostas para tantas dúvidas...
Como adendo, só mais uma pitadinha nas incertezas humanas sobre o tema:
- Tanto Santo Agostinho (354-430), quanto São Tomás de Aquino (1225-1274), tinham como certeza teológica que a vida só começa dentro de quatro semanas após a fecundação. Isso não se deve a especulação, que poderia ser o tempo que medeia de uma a outra "não-menstruação" (cerca de 28 dias).
— Sim?
— Não!
Basearam-se ambos os "santos" - e a Igreja Católica defendeu isso até o século XVII, que só podia haver vida em algo com forma (justamente quando o embrião pode caracterizar forma do ser vivo);
- A partir do séc XVII, vamos encontrar o Papa Pio IX defendendo que a vida tem início na fecundação, e a partir daí, podemos verificar que isso passou quase a ser um novo dogma católico que atravessou três séculos e desembocou no papado de João Paulo II, substituído pelo Papa Bento 16, ambos concordes com a tese.
Verdade é que, mesmo no seio da Igreja Católica, houve opiniões conflitantes.
Porém, nisso de vida começar na fecundação, Espiritismo e Catolicismo caminham uníssonos.
Ainda bem. Graças a Deus!
Por Eurípedes Kuhl
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