4 de jan. de 2014

Elos Familiares


Apresentação da obra Elos Familiares
 
Existe felicidade pronta ou será algo que se vende, se compra ou se guarda num esconderijo para ser doado ou transmitido a alguém? O que é a felicidade? As pessoas cavam em sua busca com se fosse um tesouro que se pudesse tocar e reter! Outros imaginam ser a felicidade o resultado da conquista e manutenção do estado de saúde e de juventude. Notam-se aqueles entendendo a felicidade ser atingível quando se vive na abastança e no gozo dos prazeres, na forma de entretenimento, estímulo e satisfação proporcionados pela civilização moderna. Para entrar nesses gozos ou prazeres, o indivíduo haverá de transitar no mundo com títulos acadêmicos, exercer influência pessoal na forma de autoridade humana, ter prestígio, empreender para possuir bens e primar-se pela expressão de uma exuberante inteligência.
A maioria das criaturas humanas busca momentos felizes e, para tanto, bebe na fonte dos desejos, das ilusões, das ambições e dos sonhos. Umas almejam mais, outras menos, entretanto, nem sempre quem almeja mais tem mais e a recíproca é verdadeira. Não existe uma medida na busca da felicidade. Nesse diapasão, gozar dos bens do mundo, viver emoções compensadoras, ter prestígio, manter inalterado o estado de saúde, arremete o indivíduo a estados emocionais, sugerindo uma vida prazerosa e algo feliz. As pessoas, para conquistarem isso, comportam-se de maneiras diversas, senão vejamos: uma aspira ter um automóvel, outra simplesmente desejaria se locomover; uma anseia vazar os céus em bólidos supersônicos para se deliciar em passeios turísticos inusitados, outra se satisfaria visitando a mãe no sítio onde viveu sua infância; uma ambiciona os dons da oratória, outra gostaria de falar ou simplesmente emitir pequenos vocábulos verbais; uma quer possuir sapatos ricamente trabalhados compondo com vestes de rara beleza estética, outra exultaria com cobertores protegendo o corpo e pantufas aquecendo os pés. Quando se atendem a essas realizações, o indivíduo terá logrado a conquista da felicidade?
Quantas criaturas lamentam a fuga ou ausência da felicidade dos seus caminhos e as explicações são assentadas em causas como: abuso e desperdício do tempo, do humor e das forças vitais; amor não liberado na direção de pessoas próximas, muito importantes e de alguma maneira interferentes nas suas vidas; filhos abortados propositadamente ou filhos sonhados que não lograram nascer; euforias sufocadas represando emoções, sorrisos, gritos e abraços de enorme significação no cenário vivo das relações humanas; horas livres não planejadas ou vazias, nas quais se deixou de conversar com amigos, de falar ao telefone, de nadar, de correr, de ir ao cinema, de ir as festas, de viajar, de dar atenção e dialogar com outrem, ou até mesmo fazer coisa nenhuma; prudência egoísta e teimosa de não arriscar ver ou fazer coisas novas, deixando prevalecer o medo e a acomodação; sentir-se e deixar-se envelhecer, não permitindo novas aventuras acontecerem.
Luminares do pensamento e do coração deixaram afirmações como: se alguém não encontra a felicidade em si mesmo, é inútil que a procure noutro lugar (La Rochefoucauld); a felicidade não é uma estação de chegada, mas um modo de viagem (M. Ruberck); sofremos demasiado pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito que temos (W. Shakespeare).
Há quem assevere existir felicidade somente para quem acorda cada dia com a sensação do dever cumprido ou ainda, para muitos, a conquista da felicidade pede uma visão diferenciada de mundo e a procura de um estado de harmonia interior ou da própria paz! Atinge-se esse estado quando as coisas são feitas corretamente, sem atritos com os outros, prevalecendo uma sensação interior de harmonia.
Muitos são os negadores da felicidade, baseados na assertiva do Eclesiastes: “A felicidade não é deste mundo!”. Poder-se-ia afirmar ser a felicidade uma sensação dimanada do amor, nas suas multiplicadas expressões, sendo uma resposta a Deus da obediência e compreensão dos seus desígnios? Qual é o seu caminho? O venerável místico Sai Baba aduz: reduza suas necessidades e viva com simplicidade – tal é o caminho da felicidade! Os conflitos e as incertezas da vida cotidiana auxiliam ou dificultam a descoberta desses caminhos? Ah, eis aí um desafio, pois a felicidade não é matéria-prima ou bem de consumo que se pode mercadejar; ela pede movimento e ideal, permuta e doação – é essência cultivada na natureza íntima de cada criatura! A felicidade não entra em portas trancadas e tampouco permanece junto a quem não se decide a abri-las!
A felicidade é, então, um estado de harmonia íntima e só atinge a plenitude de tal êxito a criatura verdadeiramente educada e sintonizada com a vida! A obediência às leis da vida é, pois, o caminho para a conquista da felicidade; derrogá-las ou fazer-lhes objeção é transitar sem rumo certo, contrariando a suprema destinação dos filhos de Deus! As leis da vida são leis naturais, muitas das quais gravadas na consciência de cada um, e estas não precisam ser descobertas nem demonstradas por fórmulas ou experiências laboratoriais. As singelas anotações que virão a frente pretendem refletir sobre roteiros e comportamentos ensejadores de vida operosa, altiva e sobremodo revestida da moral contida no evangelho ensinado por Jesus, guardando a singela intenção de mostrar uma faceta da felicidade naturalmente edificada no mundo onde nos encontramos.
Elegemos o lar como ponto de partida ou, por outra, quem almejar a conquista da felicidade situe o lar como laboratório e desenvolva fórmulas de convívio, misture substâncias de ideias divergentes, agite frascos de ressentimentos, ligue a estufa para a assepsia dos pensamentos odientos, enfim, aprenda a química do amor! Johann Heinrich Pestalozzi proclamou o lar como o alicerce para a educação natural da humanidade, e nós afirmamos, convictos, ser o lar uma escola abençoada onde todos os membros, na convivência estreita, no esforço contínuo e na forja do exemplo, constroem valores educativos de real valia para a existência. Implementando-se um programa de convivência pacífica e solidária a partir dos pais, a sociedade receberá valores exportados de real grandeza e os membros fruirão sensações extrapolando as pontuais alegrias e emoções características do mundo – a felicidade!
A felicidade só pode ser edificada com base em sentimentos e ações altruístas, e os fundamentos disso nascem, quase sempre, do solo áspero e pedregoso que é a família. Falemos, pois, de família, de educação, de um novo de modo de viver e se relacionar para tecer em nossas vidas a felicidade sonhada, aparentemente perdida, o farol escondido em nós mesmos e que convém acender de maneira a brilhar a luz a nosso próprio favor e em benefício dos situados no nosso campo de convivência!

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