26 de jul. de 2011

A Doutrinação - Parte 3/4.




A psicologia da doutrinação

O doutrinador deve ler e reler, com atenção e persistência, a Escala Espírita (O Livro dos Espíritos) para bem informar-se dos tipos de Espíritos com que vai defrontar-se nas sessões. A escala nos oferece um quadro psicológico da evolução espiritual, que podemos também aplicar aos encarnados.

No trato com os Espíritos o conhecimento desse quadro facilita grandemente a doutrinação. Os Espíritos inferiores usam geralmente de artimanhas para nos iludirem e se divertem quando conseguem, prejudicando-se a si mesmos e fazendo-nos perder tempo. Temos de encará-los sempre como necessitados e tratá-los com o desejo real de socorrê-los. Mas precisamos de psicologia para conseguirmos ajudá-los. A tipologia que a escala nos oferece é de grande valia nesse sentido. Por outro lado, a leitura dos casos de doutrinação relatados por Kardec na Revista Espírita nos oferece exemplos valiosos de como podemos nos conduzir, auxiliados pelos espíritos protetores da sessão, para atingirmos bons resultados.

A prática da doutrinação é uma arte, em que o bom doutrinador vai se aprimorando na medida em que se esforça para dominá-la. Enganam-se os que pensam que basta dizer aos Espíritos que eles já morreram para os sensibilizar. Não basta, também, citar-lhes trechos evangélicos ou fazê-los orar repetindo a nossa prece.

É importante também explicar-lhes que se encontram em situação perigosa, ameaçados por Espíritos malfeitores que podem dominá-los e submetê-los aos seus caprichos. A ameaça de perda da liberdade os amedronta e os leva geralmente a buscar melhor compreensão da situação em que se encontram. Mas não se deve falar disso em tom de ameaça e sim de explicação pura e simples.

Muitos deles já estão dominados por Espíritos maldosos, servindo-lhes de instrumentos mais ou menos inconscientes. O médium que recebe a entidade sente as suas vibrações, percebe o seu estado e pode ajudar o doutrinador, procurando absorver os seus ensinos. Através da compreensão do médium o Espírito sofredor ou obsessor é mais facilmente tocado em seu íntimo e desperta para uma visão mais real da sua própria situação. Doutrinador e médium formam um conjunto que, quando bem articulado, age de maneira eficiente para a entidade.

O doutrinador deve ter sempre em mente todo esse quadro, para agir de acordo com as possibilidades oferecidas pela comunicação do Espírito. Com os Espíritos rebeldes, viciados na prática do mal, só a tríplice conjugação da autoridade moral do doutrinador, do médium e do Espírito protetor poderá dar resultados positivos e quase sempre imediatos. Se o médium ou o doutrinador não dispuser dessa autoridade, o Espírito se apegará à fraqueza de um deles ou de ambos para insistir nas suas intenções inferiores. Por isso Kardec acentua a importância da moralidade na relação com os Espíritos. Essa moralidade, como já dissemos, não é formal, mas substancial, decorre das intenções e dos atos morais dos praticantes de sessões, não apenas nas sessões, mas em todos os aspectos de sua vida.

Os Espíritos sofredores são mais facilmente doutrinados, pois a própria situação em que se encontram favorece a doutrinação. Se muito erraram na vida terrena, permanecendo por isso em situação inferior, o fato de não se entregarem à obsessão depois da morte já mostra que estão dispostos a regenerar-se.

As manifestações de Espíritos recém-desencarnados ocorrem com frequência nas sessões destinadas ao socorro espiritual. Revelam logo seu estado de angústia ou confusão, sendo facilmente identificáveis. Quando esses Espíritos se queixam de frio, pondo, às vezes, o médium a tremer, com mãos geladas, é porque estão ligados mentalmente ao cadáver. Se o doutrinador lhes disser cruamente que morreram ficam mais assustados e confusos. É necessário cortar a ligação negativa, desviando-lhes a atenção para o campo espiritual, fazendo-os pensar em Jesus e pedir o socorro do seu Espírito protetor. Trata-se a entidade como se ela estivesse doente e não desencarnada. Muda-se a situação mental e emocional, favorecendo a sua percepção dos Espíritos bons que a cercam, em poucos instantes a própria entidade percebe que já passou pela morte e que está amparada por familiares e Espíritos que procuram ajudá-la.

Só a prática abnegada da doutrinação, com o desejo profundo de servir aos que necessitam, dará ao médium e ao doutrinador a sensibilidade necessária para distinguir, rapidamente, o tipo de espírito com que se defrontam. O doutrinador intuitivo aprimora rapidamente a sua intuição, podendo perceber, logo no primeiro contato, a condição do Espírito comunicante.

A psicologia da doutrinação não tem regras específicas, dependendo mais da sensibilidade do doutrinador, que deverá desenvolvê- la na prática constante e regular. Mesmo que o doutrinador seja vidente, não deve confiar apenas no que vê, pois há Espíritos maus e inteligentes que podem simular aparências enganadoras, que a percepção psicológica apurada na prática facilmente desfará. Não é preciso ser psicólogo para doutrinar com eficiência, mas é indispensável conhecer a Escala Espírita, que nos dá o conhecimento básico indispensável.

Do livro “Obsessão, o passe, a doutrinação”
J. Herculano Pires - Editora Paidéia

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