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17 de out. de 2021

A Dor é Inevitável, O Sofrimento é Opcional


Uma amiga deu um depoimento elucidativo de como a dor e o sofrimento são coisas bem diferentes. Relatou que por ocasião do Plano Real (1994), ela e o marido possuíam uma construtora. Os negócios estavam indo de vento em popa e, da noite para o dia, eles perderam tudo e ficaram devendo milhares de reais para fornecedores e funcionários. A empresa quebrou.

Eles tinham duas opções: se desesperarem, se revoltarem ou encararem o problema de frente e buscarem a melhor solução. Optaram por aproveitar a dor e transformá-la em ferramenta de crescimento. Passaram por inúmeras dificuldades, privações, mas não se desesperaram. Reuniram forças e deram a volta por cima.

Uma porta se fecha, muitas outras se abrem. Vida é oportunidade. Uma outra amiga me revelou que tem dois irmãos separados. O primeiro, seis meses após a separação, conseguiu se reerguer e voltou a ser o que era antes. Deu a volta por cima. O outro, diante da dor da separação, optou pelo sofrimento e após 17 anos do ocorrido ainda se encontra deprimido.
A pior das mortes é o que morre dentro de nós enquanto vivemos. Tornou-se um morto vivo, um autômato, um zumbi. Morreu por dentro, não sente mais vontade de viver e aguarda o fim “definitivo”.

Imagine um casal que se separou depois de alguns anos juntos. Imagine que um deles sente uma dor terrível no início. É normal? Sim, a dor da separação é natural, é esperada. A dor, vem e vai, ela tem um movimento fluido, ela passa. Depois de alguns anos, se essa “dor” ainda persiste, na verdade não é mais dor, é “sofrimento”, ou seja, uma dor “arrastada”.

Conheci um casal que perdeu um filho num acidente. Até hoje não se recuperaram. Sofrem dia e noite, num tormento sem fim. Se revoltaram, não aceitam a perda e se colocaram nas condições de vítimas da vida. Outro casal que passou pela mesma perda, decidiu ajudar crianças órfãs e pobres. Encontraram na renovação espiritual o suporte para viver com alegria.
As perdas, todas elas, umas mais outras menos, costumam nos trazer grandes sofrimentos, mas não são irremediáveis. Dor e sofrimento são coisas diferentes.

A dor faz parte da vida, não há como evitá-la. O sofrimento, não. O sofrimento pode ser diminuído e até evitado. Vai depender de nós. Existem maneiras de atenuarmos e evitarmos o sofrimento trabalhando com nossos pensamentos e emoções.

O sofrimento é como se fosse uma dor crônica, não tratada, não cuidada, negligenciada. A dor física anuncia que algo em nós não vai bem e precisa ser tratado. A dor não é castigo: é contingência inerente à vida, cuja atuação enobrece o espírito.

O sofrimento é um conceito mais abrangente e complexo do que a dor: “em se tratando de uma doença, é o sentimento de angústia, vulnerabilidade, perda de controle e ameaça à integridade do eu. Pode existir dor sem sofrimento e sofrimento sem dor. O sofrimento, sendo mais vasto, é existencial. Ele inclui as dimensões psíquicas, psicológicas, sociais e espirituais do ser humano”.

A simples reflexão sobre a dor e o sofrimento basta para evidenciar que eles têm uma razão de ser muito profunda:

A dor é um alerta da natureza que anuncia algum mal que está nos atingindo e que precisamos enfrentar. Se não fosse a dor, sucumbiríamos a muitas doenças sem sequer nos dar conta do perigo.

  • “O sofrimento é inerente ao estado de imperfeição, mas atenua-se com o progresso e desaparece quando o Espírito vence a matéria”. “O sofrimento é um meio poderoso de educação para as Almas, pois desenvolve a sensibilidade, que já é, por si mesma, um acréscimo de vida”. “O sofrimento é o misterioso operário que trabalha nas profundezas de nossa alma, e trabalha por nossa elevação”. “Em todo o universo, o sofrimento é sobretudo um meio educativo e purificador”.
  • “O primeiro juiz enviado por Deus é o sofrimento, que procura despertar a consciência adormecida”. “É apelo à ascensão. Sem ele seria difícil acordar a consciência para a realidade superior. Aguilhão benéfico, o sofrimento evita-nos a precipitação nos despenhadeiros do mal, auxilia-nos a prosseguir entre as margens do caminho, mantendo-nos a correção necessária ao êxito do plano redentor”. (Equipe Feb, 1995)


Allan Kardec, no cap. VI de O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz-nos que todos os sofrimentos, misérias, decepções, dores físicas, perda de entes queridos encontram sua consolação na fé no futuro, na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Naquele que não crê na vida futura, as aflições se abatem com todo o seu peso e nenhuma esperança vem suavizar-lhe a amargura. O jugo será leve desde que obedeçamos à lei. Mas, que lei? A lei áurea deixada por Jesus: “Fazer aos outros o que gostaríamos que nos fosse feito”. Praticando-a, vamos atualizando as nossas potencialidades de justiça, amor e caridade, primeiramente com relação a Deus e, secundariamente, com relação a nós mesmos e ao nosso próximo.

Fernando Rossit

9 de jul. de 2013

Libertação do Sofrimento.

Desde todos os tempos, de todas as eras, o homem vem travando uma batalha para livrar-se da dor em contínuas tentativas infrutíferas, quedando quase sempre em novas aflições.
A influência da mitologia, de algumas filosofias e doutrinas religiosas estabeleceram métodos depuradores para a libertação do sofrimento, que vão desde as mais bárbaras flagelações – silícios, holocaustos, promessas e oferendas, até ao ascetismo mais exacerbado (asceta – aquele que se dedica a um tratamento de autodisciplina, praticando mortificações, privações e contínuas orações).
Por outro lado, o homem vive na Terra sob a influência de medos: da doença, da pobreza, da solidão, do desamor, do insucesso, da morte, etc. Essa conduta é o resultado de seu despreparo para os fenômenos normais da existência, os quais devem ser encarados como processo de evolução.
Os motivos geradores do sofrimento residem, na maioria das vezes, na incapacidade do homem de dar o justo valor às suas necessidades básicas. A ambição desmedida pelas coisas, divertimentos, prestígio social, fama, e tantas outras ilusões, acabam por desviá-lo da sua rota espiritual.
A busca da realidade, do Eu, deve partir de uma análise profunda e interna das necessidades legítimas da vida. Primeiramente, é necessário adquirir um estado de espírito de paz, para passar por tudo sem ater-se a nada. Lembrando palavras lindas de Joanna de Angelis, “a chama que clareia exteriormente projeta luz, mas faz sombra; enquanto a que se manifesta do interior, irradia-se por igual em todas as direções, sem qualquer escuridão”
A mente e o corpo suscetíveis à dor pela posse ou perda das coisas externas sempre atravessarão largos períodos de sofrimento, transferindo-se de uma para outra forma de sofrimento, sem conseguir a libertação. O autoconhecimento será fator preponderante para que o discernimento se amplie e assim, sabermos o que é útil ou supérfluo para o nosso viver.
Jesus afirmou com sabedoria que o “Filho do homem não possuía uma pedra para reclinar a cabeça”, embora “as aves dos céus, as serpentes e feras tivessem ninhos e covis”, demonstrando o Seu desapego total a todas as coisas que sobrecarregam a criatura de tensão e de inquietação. Sabemos o quanto é difícil o desapego, o quanto é forte em nós as influências atávicas (hábitos e costumes trazidos na nossa bagagem espiritual), mas, o sofrimento poderá ser superado pelo amor, pela meditação, pela reeducação do espírito, que logrará com a vitória sobre ele, através das sucessivas reencarnações.
Jesus sintetizou no amor a força poderosa para a anulação das causas infelizes do sofrimento. Allan Kardec, através da observância das lições do Evangelho e das diretrizes propostas pelos espíritos superiores, aludindo a Jesus, apresentou a caridade como sendo a via real para a salvação, a aquisição da saúde integral.
O sofrimento tem vigência transitória, por ser efeito do desequilíbrio da energia que, direcionada para o bem e para o amor, deixa de desarticular-se, facultando aos seres a iluminação, a plenitude, portanto, a saúde integral, que a todos os seres do mundo está reservada pelo Pai Creador.
Martha Triandafelides Capelotto- Divulgadora do Espiritismo.

25 de jul. de 2011

Ligações humanas.



Fomos chamados para servir. Divino é o amor das almas, laço eterno a ligar-nos uns aos outros para a imortalidade triunfante, mas que será desse dom celeste se não soubermos renunciar? O coração incapaz de ceder a benefício da felicidade alheia é semente seca que não produz.

Ninguém se faz amado através da exigência. Dá tudo! Aqueles que desejamos ajudar ou salvar nem sempre conseguem compreender, de pronto, o sentido de nossas palavras, mas podem ser inclinados ou arrastados à renovação por nossos atos e exemplos.

Em muitas ocasiões, na Terra, somos esquecidos e humilhados por aqueles a quem nos devotamos, mas, se soubermos perseverar na abnegação, acendemos no próprio espírito o abençoado lume com que lhes clarearemos a estrada, além do sepulcro!... Tudo passa no mundo... Os gritos da mocidade menos construtiva transformam-se em música de meditação na velhice!

Ampara teu filho que é também nosso irmão na Eternidade, mas não te proponhas escravizá-lo ao teu modo de ser! Monstruosa seria a árvore que se pusesse a devorar o próprio fruto; condenável seria a fonte que tragasse as próprias águas! Os que amam, sustentam a vida e nela transitam como heróis, mas os que desejam ser amados não passam muitas vezes de tiranos cruéis...

Levanta-te! Os que lhe batem à porta, consternados e desiludidos, são nossos familiares igualmente... Esses velhos abandonados que nos procuram tiveram também pais que os adoravam e filhos que lhes dilaceraram o coração... Esses doentes que apelam para a nossa capacidade de auxiliar conheceram, de perto, a meninice e a graça, a beleza e a juventude!...

Nossas dores não são únicas. E o sofrimento é a forja purificadora, onde perdemos o peso das paixões inferiores, a fim de nos alçarmos à vida mais alta... Quase sempre é na câmara escura da adversidade que percebemos os raios da Inspiração Divina, porque a saciedade terrestre costuma anestesiar-nos o espírito...


Edição de texto retirado do livro “Ave, Cristo!” – Autoria Espiritual de Emmanuel / Psicografia de Francisco Cândido Xavier

Aflições...




Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Jesus (Marcos, 8:34)

No estudo do versículo acima, vamos nos ater à recomendação de Jesus: “Tome a sua cruz e siga-me”. A cruz, no plano físico, são as dificuldades, as aflições, os sofrimentos, enfermidade, o degrau social, o parente infeliz; problemas de relacionamento, carências financeiras, desemprego etc.
Considerando que o Espírito reencarna para evoluir, para desenvolver suas potencialidades, é natural o trabalho, a luta, a dificuldade, pois é assim que se exercita e se desenvolve. Do contrário, acomodar-se-ia. É o que ocorre com o aluno na escola, ou com o esportista na prática de seu esporte preferido. Tem que lutar muito para fazer progressos na atividade a que se dedica.
Não é só no plano físico que experimentamos aflições. No plano espiritual isto também ocorre. Lá – informam os instrutores espirituais – a cruz é a vergonha do defeito íntimo não vencido; a expiação da culpa; saber que ainda não se é feliz por falta de experiências e vivências no Bem.
Na Terra, a existência é uma luta constante. Em todas as fases da vida, desde a infância, a adolescência, a mocidade, a madureza até a velhice, cada etapa tem suas belezas, o lado bom, mas tem as dificuldades, os desafios. Podemos receber os desafios e dificuldades como lições, recursos educativos que a Providência Divina nos confia, a favor do nosso crescimento, e podemos (e é o que geralmente se faz), considerá-los como aflições, dor, sofrimento simplesmente.
A Doutrina Espírita nos esclarece que a dor é processo; a perfeição é fim. A finalidade do sofrimento é o aperfeiçoamento espiritual. Aceito este princípio, haverá melhores condições para superar as dificuldades, pois que tem um fim útil: nossa evolução espiritual e, consequentemente, a felicidade que almejamos. Sim porque a felicidade que buscamos não está fora de nós, naquilo que detemos, e sim no nosso íntimo, no despertamento espiritual.
Nesta ordem de raciocínio, como caminheiros da evolução, cada qual tem a sua cruz, com o fim de resgatar dívidas do passado, ou de nos levar a experiências, a aprendizados com vistas a conquista de mais sabedoria e amor.
A causa de nossas aflições está em nós mesmos. Podemos, no passado, ter agido em desacordo com a lei e estamos na oportunidade de resgatar a dívida; ou porque carecemos crescer, subir as escadas do progresso, precisamos enfrentar as provações, as dificuldades para conseguir o desejado crescimento.
Quando o ser adquire consciência de sua própria responsabilidade, busca sua melhoria íntima. Procura se conhecer; corrigir suas imperfeições, sanar os pontos falhos. Sabe que vive as situações que ele mesmo criou, ao longo do tempo. Colhe o que planta. Não procura culpar outras pessoas.
De um modo geral, as pessoas acham que não são felizes por causa de outros. O patrão culpa o empregado; este culpa àquele; a mulher responsabiliza o marido e este se queixa da esposa. Culpamos a economia, o governo, enfim todos são culpados, menos nós. Enquanto agimos assim, nos movimentamos à feição de semi-racionais. Resolvemos um problema, criando outro.
Faz lembrar a lenda mitológica do deus grego, Sísifo que tinha a peculiar qualidade de resolver seus problemas criando outros problemas. Certa feita, diante de uma de suas trapalhadas, lhe foi determinado, como punição, rolar uma pedra, montanha acima. Quando chegasse ao pico do monte seu problema estaria solucionado. Aceitou a decisão, pois tinha a eternidade pela frente. Rolaria a pedra e quando a colocasse no local determinado estaria livre. Mas, para sua surpresa, quando chegou ao pico do monte, a pedra lhe escapou do controle e rolou montanha abaixo, voltando à base. Diz a lenda que ele permanece até hoje, rolando a pedra, tentando colocá-la no pico da montanha.
Estudiosos do psiquismo humano nos afirmam que não existe uma realidade exterior, fixa, igual para todos. Cada um percebe as pessoas e as situações conforme sua capacidade de percepção. Cada um vê os outros e o mundo pelas lentes dos olhos do seu mundo íntimo. Só vemos o que conhecemos, o que já temos sensibilidade e capacidade para compreender.
Daí a afirmativa de André Luiz: “À medida em que melhoramos, tudo melhora em torno de nós”. As pessoas e situações externas podem continuar sem grandes modificações, mas se a pessoa se modifica, interiormente, para melhor, passa a sintonizar com a parte melhor das situações e das outras pessoas. Para ela, tudo mudou realmente.
Acordando para a necessidade da paz consigo mesmo, o ser toma a cruz que lhe cabe ao próprio burilamento, e busca seguir Jesus, superando suas aflições.

Fonte: Verdade e Luz, edição nº 195 – Abril de 2002
(Retirado do site OSGEFIC)

* * *
Tendo o homem que progredir, os males a que se acha exposto são um estimulante para o exercício de sua inteligência, de todas as suas faculdades físicas e morais, incitando-o a procurar os meios de evitá-los. Se ele nada houvesse de temer, nenhuma necessidade o induziria a procurar o melhor; o espírito se lhe entorpeceria na inatividade; nada inventaria, nem descobriria. A dor é o aguilhão que o impele para a frente, na senda do progresso.”
(A Gênese – Allan Kardec – Capítulo 3 – Item 5)

Significado do sofrimento na vida.



Para melhor expressar-se, o amor irrompe de formas diferentes, convidando à reflexão em torno dos valores existenciais. Muito do significado que se caracteriza pelo poder — mecanismo dominante da realização do ego — desaparece, quando o amor não está presente, preenchendo o vazio existencial. Essa ânsia de acumular, de dominar, que atormenta enquanto compraz, torna-se uma projeção da insegurança íntima do ser que se mascara de força, escondendo a fragilidade pessoal, em mecanismos escapistas injustificáveis que mais postergam e dificultam a auto-realização.

A perda da tradição é como um puxar do tapete no qual se apoiam os pés de barro do indivíduo que se acreditava como o rei da criação e, subitamente se encontra destituído da força de dominação, ante o desaparecimento de alguns instintos básicos, que vêm sendo substituídos pela razão. O discernimento que conquista é portador de mais vigor do que a brutalidade dos automatismos instintivos, mas somente, a pouco e pouco, é que o inconsciente assimilará essa realidade, que partirá da consciência para os mais recônditos refolhos da psique.

Nesta transformação — a metamorfose que se opera do rastejar no primarismo para a ascese do raciocínio — o sofrimento se manifesta, oferecendo um novo tipo de significado e de propósito para a vida.

Impossível de ser evitado, torna-se imperioso ser compreendido e aceito, porquanto o seu aguilhão produz efeitos correspondentes à forma porque se deva aceitá-lo.

Quando explode, a rebeldia torna-se uma sensação asselvajada, dilaceradora, que mortifica sem submeter, até o momento em que, racionalmente aceito, faz-se instrumento de purificação, estímulo para o progresso, recurso de transformação interior.

O desabrochar da flor, rompendo o claustro onde se ocultam o perfume, o pólen, a vida, é uma forma de despedaçamento, que ocorre, no entanto, no momento próprio para a harmonia, preservando a estrutura e o conteúdo, a fim de repetir a espécie.

O parto que propicia vida é também doloroso processo que faculta dilaceração.

O sofrimento, portanto, seja ele qual for, demonstra a transitoriedade de tudo e a respectiva fragilidade de todos os seres e de todas as coisas que os cercam, alterando as expressões existenciais, aprimorando-as e ampliando-lhes as resistências, os valores que se consolidam. Na sua primeira faceta demonstra que tudo passa, inclusive, a sua presença dominante, que cede lugar a outras expressões emocionais, nada perdurando indefinidamente. Na outra vertente, a aquisição da resistência somente é possível mediante o choque, a experiência pela ação.

O ser psicológico sabe dessa realidade, O Self identifica-a, porém o ego a escamoteia, fiel ao atavismo ancestral dos seus instintos básicos.

O sofrimento constitui, desse modo, desafio evolutivo que faz parte da vida, assim como a anomalia da ostra produzindo a pérola. Aceitá-lo com resignação dinâmica, através de análise lúcida, e bem direcioná-lo é proporcionar-se um sentido existencial estimulante, responsável por mais crescimento interior e maior valorização lógica de si mesmo, sem narcisismo nem utopias.

Todos os indivíduos, uma ou mais vezes, são convidados ao enfrentamento, em enfermidades graves ou irreversíveis, com dramas familiares inabordáveis, com situações pessoais quase insuportáveis, defrontando o sofrimento.

A reação irracional contra a ocorrência piora, alucina ou entorpece os centros da razão, enquanto que a compreensão natural, a aceitação tranquila, propiciam a oportunidade de conseguir o valor supremo de oferecer-se para a conquista do sentimento mais profundo da existência.

A morte, a enfermidade, os desastres econômicos, os dramas morais, os insucessos afetuosos, a solidão e tantas outras ocorrências perturbadoras, porque inevitáveis, produzindo sofrimento, devem ser recebidas com disposição ativa de experienciá-las. Para alguns desses acontecimentos palavra alguma pode diluir-lhe os efeitos. Somente a interação moral, a confiança em Deus e em si mesmo para a convivência feliz com os seus resultados.

Esta disposição nasce da maturidade psicológica, do equilíbrio entre compreender, aceitar e vivenciar. Aqueles que não os suportam, entregando-se a lamentações e silícios íntimos, permanecem em estado de infância psicológica, sentindo a falta da mãe superprotetora que os aliviava de tudo, que tudo suportava em vãs tentativas de impedir-lhes a experiência de desenvolvimento evolutivo.

A aceitação, porém, do sofrimento como significado existencial e propósito de vida, não se torna uma cruz masoquista, mas se transforma em asas de libertação do cárcere material para a conquista da plenitude do ser.

Do livro “Amor, Imbatível Amor”
Pelo Espírito 'Joanna de Ângelis'
Psicografia Divaldo Pereira Franco



Abençoada expiação.




Considerando que a vida no corpo só se justifica para o Espírito se se levar em conta a necessidade que tem de evoluir, até ao ponto de não mais estar sujeito à esteira extensa das reencarnações, é de boa oportunidade transcrever-se o caso em frente, narrado no livro de Adelino (Chico de Francisco, Adelino da Silveira, 1. ed. Editora Cultural União, págs. 54-55):

Chico (Xavier) visitou durante muitos anos um jovem que tinha o corpo totalmente deformado e que morava num barraco à beira de uma mata. O estado de alienado mental era completo. A mãe deste jovem era também muito doente e o Chico a ajudava a banhá-lo, alimentá-lo e a fazer a limpeza do pequeno cômodo em que moravam.

O quadro era tão estarrecedor que, numa de suas visitas em que um grupo de pessoas o acompanhava, um médico perguntou ao Chico:

- Nem mesmo neste caso a eutanásia seria perdoável?

- Não creio, doutor, respondeu-lhe o Chico. Este nosso irmão, em sua última encarnação, tinha muito poder. Perseguiu, prejudicou e com torturas desumanas tirou a vida de muitas pessoas. Algumas o perdoaram, outras não e o perseguiram durante toda a sua vida. Aguardaram o seu desencarne (sic) e, assim que ele deixou o corpo, eles o agarraram e o torturaram de todas as maneiras durante muitos anos. Este corpo disforme e mutilado representa uma bênção para ele. Foi o único jeito que a Providência Divina encontrou para escondê-lo de seus inimigos. Quanto mais tempo aguentar, melhor será. Com o passar dos anos, muitos de seus inimigos o terão perdoado. Outros terão reencarnado. Aplicar a eutanásia seria devolvê-lo às mãos de seus inimigos para que continuassem a torturá-lo.

- E como resgatará ele seus crimes? Inquiriu o médico.

- O Irmão X costuma dizer que Deus usa o tempo e não a violência.


Por Weimar Muniz de Oliveira
(Revista Reformador, Outubro de 1994, p. 297.)

* * *
Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos! Seja conhecida de todos os homens a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. E a paz de Deus, que excede toda a inteligência, haverá de guardar vossos corações e vossos pensamentos, em Cristo Jesus [...] Tudo posso naquele que me fortalece.” (Filipenses 4, 4-7;13)

A dor e a evolução dos animais.





O saudoso escritor Carmo Bernardes considerava muito importante a presença de animais domésticos numa casa, em contato com as crianças.

Assim, elas crescem amando e respeitando os bichos, porque aprendem que eles sofrem tanto quanto nós mesmos - dizia o sábio regionalista.

Por que sofrem os animais? Eis aí um tema a exigir muitos e profundos estudos, aos quais a Doutrina Espírita oferece os primeiros fundamentos.

Agora mesmo, com o mal da vaca louca nas manchetes da imprensa, ficamos nos perguntando o motivo dessas epidemias que dizimam milhares e até milhões de bovinos.

A chave para a explicação pode estar no abate desenfreado de gado para alimentação humana. Ainda sem livre arbítrio, a alma animal tem necessidade do aprimoramento, num processo reencarnatório estabelecido pela Natureza. O homem o interrompe violentamente e a resposta é a doença coletiva, porque o equilíbrio natural foi abruptamente partido.

A alma animal já possui, em maior ou menor quantidade, uma relativa liberdade, e mantém a individualidade depois da morte. Ainda sem livre arbítrio, contudo, ela não dispõe da faculdade de escolha desta ou daquela espécie para renascer. Seu espírito progride, reencarnando em corpos cada vez mais capazes de lhe favorecerem condições para as primícias do raciocínio acima do instinto.

Entre o espírito do homem e os espíritos dos animais, todavia, a distância é quase do tamanho da existente entre Deus e o homem. É um mistério que a mente humana só muito lentamente aclarará.

A alma animal, que já passou pelo reino mineral, onde a individualidade não existe, evoluiu através do reino vegetal e um dia iniciará a longa caminhada da espécie humana em direção à angelitude.

Mas é muito difícil raciocinar nesses termos devido ao ranço das religiões sectárias, ao orgulho, pretensão, vaidade e egoísmo próprios da espécie humana. O egocentrismo persiste até hoje e é ele quem impede à esmagadora maioria das pessoas aceitar a existência do vida em outros planetas, embora Jesus tenha afirmado, há dois mil anos, que a casa do Pai tem muitas moradas.

Discípulo de Herbert Spencer, Ernesto Bozzano trouxe da escola positivista o hábito de se apoiar no fato para dele tirar conclusões. Seu audacioso livro 'Os animais têm alma?' Produzido na primeira metade do século XX, é fruto de pesquisas sérias realizadas em 130 casos de aparições e outros fenômenos supranormais com animais.

No prefácio da edição brasileira de sua obra, Francisco Klors Werneck lamenta que, geralmente preocupados com outros problemas, os homens não dêem atenção a seus irmãos inferiores, aos grandes e pequenos seres da criação como cavalos, cães, gatos e outros, “como se eles também não tivessem alma, não possuíssem sentimentos afetivos e mesmo faculdades surpreendentes.”

Ele cita que alguns animais percebem a morte próxima, como cavalos e bois que se recusam a entrar no matadouro, advertidos, ninguém sabe como, do que os espera lá dentro. Animais, como os cães, se deixam morrer depois da morte de seus donos, tal a desesperada saudade que sentem deles. Um famoso cavalo de corrida se tornou de tal afeição por uma cabra que não aceitava se separar dela.

'Os animais têm alma?' Dá a entender que os cães podem ser a espécie mais evoluída na escala animal. Relata o fato surpreendente do cão que avançou ferozmente contra outro e parou sem o agredir, ao verificar que era cego. Outro, mais extraordinário ainda, do cirurgião que tratou, em sua própria casa, de um cachorro que tivera a pata esmagada. Passados doze meses, o médico ouviu estranhos arranhões na porta da rua, abriu-a e espantou-se. O cão que curara um ano antes lhe trazia um companheiro com a pata esmagada.

Fato parecido é comum na Cavalaria da Polícia Militar do Estado de Goiás, em Goiânia, onde cavalos com dor de barriga procuram por conta própria o consultório do veterinário, segundo nos contou o doutor Francisco Godinho, que ali trabalha há muitos anos.

Há uma página admirável de Emmanuel, intitulada Animais em sofrimento, na qual ele analisa o que parece injustiça: os animais, isentos da lei de causa e efeito, sem culpas a expiar por serem irracionais, padecerem sacrifícios e dores neste mundo.

O notável instrutor espiritual de Francisco Cândido Xavier considera, em primeiro lugar, ser necessário interpretar o sofrimento por mais altos padrões de entendimento. Ninguém sofre tão-somente para resgatar o preço de alguma coisa. Sofre-se também angariando recursos preciosos para a obter. Assim é que o animal atravessa longas eras de prova a fim de domesticar-se, tanto quanto o homem atravessa outras tantas longas eras para se instruir.

Nenhum espírito obtém elevação ou cultura por osmose, mas unicamente através do trabalho paciente e intransferível.

O animal, igualmente, para chegar à auréola da razão, deve conhecer benemérita e cumprida fieira de experiências que terminarão por lhe conferir a posse definitiva do raciocínio. Sem sofrimento, não há progresso.

Todo ser, criado por Deus simples e ignorante, é compelido a lutar pela conquista da razão, para em seguida a burilar. Dor física no animal é passaporte para mais amplos recursos nos domínios da evolução. Dor física no homem, acrescida de dor moral, é fixação de responsabilidade em trânsito para a Vida Maior.

Toda criatura caminha para ser anjo: investida na posição de espírito sublime, livra-se da dor, porque o amor lhe será sol no coração, dissipando as sombras ao toque da sua própria luz.

Jávier Godinho
Revista Espírita Allan Kardec – nº48

Artigo presente no site Panorama Espírita e no blog Estudando Espiritismo

* * *
Os animais dividem conosco o privilégio de terem uma alma.” (Pythagoras)

Ante a Dor.



Não enxergues na dor que te visita motivo apenas para lamentações.

É possível que ela traga consigo um convite à tua renovação interior.

Não maldigas o problema que te desafia a paciência.

Talvez ele seja portador de importante advertência, a fim de evitares situações mais aflitivas depois.

Se o momento é de dificuldade, ora, serve e confia, fazendo o melhor ao teu alcance.

E, mesmo que a dor persista, apesar de teus esforços por vencê-la, não desanimes.

Aquieta a mente, entregando-te a Deus, porque as leis divinas sempre nos renovam para melhor, conduzindo-nos para a vitória no Bem.

Por: Scheilla
In: “Novas Mensagens de Scheilla para Você”
Médium: Clayton B. Levy - Edição CEAK

Aspectos da Dor.




Os soluços de dor são compreensíveis até o ponto em que não atingem a fermentação da revolta, porque, depois disso, se convertem todos eles em censura infeliz aos planos do Céu.
A enfermidade jamais erra o endereço para suas visitas.

As lágrimas, em verdade, são iguais às palavras. Nenhuma existe destituída de significação.

Somente chega a entender a vida quem compreende a dor.

A evolução regula também o sofrimento das criaturas e nelas se evidencia mais superficial ou mais profunda, conforme o aprimoramento de cada uma.

Se você pretende vencer, não menospreza a possibilidade de amargar, algumas vezes, a aflição da derrota como lição no caminho para o triunfo.

Aprende melhor quem aceita a escola da provação, porquanto, sem ela, os valores da experiência permaneceriam ignorados.

A dor não provém de Deus, de vez que, segundo a Lei, ela é uma criação de quem a sofre.

André Luiz
(Do livro “Estude e Viva” - Chico Xavier & Waldo Vieira)

Uma História de Expiação – Parte 1/2.



Marcel, o menino do nº 4

Havia num hospital de província um menino de 8 a 10 anos, cujo estado era difícil precisar. Designavam-no pelo nº 4. Totalmente contorcido, já pela sua deformidade inata, já pela doença, as pernas se lhe torciam roçando pelo pescoço, num tal estado de magreza, que eram pele sobre ossos. O corpo, uma chaga; os sofrimentos, atrozes. Era oriundo de uma família israelita.

A moléstia dominava aquele organismo, já de oito longos anos, e no entanto demonstrava o enfermo uma inteligência notável, além de candura, paciência e resignação edificantes.

O médico que o assistia, cheio de compaixão pelo pobre um tanto abandonado, visto que seus parentes pouco o visitavam, tomou por ele certo interesse. E achava-lhe um quê de atraente na precocidade intelectual. Assim, não só o tratava com bondade, como lia-lhe quando as ocupações lho permitiam, admirando-se do seu critério na apreciação de coisas a seu ver superiores ao discernimento da sua idade.

Um dia, o menino disse- lhe:

- Doutor, tenha a bondade de me dar ainda uma vez aquelas pílulas ultimamente receitadas.

- Para quê? - Replicou-lhe o médico - Se já te ministrei o suficiente, e maior quantidade pode fazer-te mal?...

- É que eu sofro tanto, que dificilmente posso orar a Deus para que me dê forças, pois não quero incomodar os outros enfermos que aí estão. Essas pílulas fazem-me dormir e, ao menos quando durmo, a ninguém incomodo.

Aqui está quanto basta para demonstrar a grandeza dessa alma encerrada num corpo informe. Onde teria ido essa criança haurir tais sentimentos? Certamente não foi no meio em que se educou; além disso, na idade em que principiou a sofrer, não possuía sequer o raciocínio.

Tais sentimentos eram-lhe inatos; mas então porque se via condenado ao sofrimento, admitindo-se que Deus houvesse concomitantemente criado uma alma assim tão nobre e aquele mísero corpo - instrumento dos suplícios? É preciso negar a bondade de Deus, ou admitir a anterioridade de causa; isto é, a preexistência da alma e a pluralidade das existências.

Os últimos pensamentos desta criança, ao desencarnar, foram para Deus e para o caridoso médico que dela se condoeu. Decorrido algum tempo, foi o seu Espírito evocado na Sociedade de Paris, onde deu a seguinte comunicação (1863):

“A vosso chamado, vim fazer que a minha voz se estenda para além deste círculo, tocando todos os corações. Oxalá seu eco se faça ouvir na solidão, lembrando-lhes que as agonias da Terra têm por premissas as alegrias do céu; que o martírio não é mais do que a casca de um fruto deleitável, dando coragem e resignação.

Essa voz lhes dirá que, sobre o catre da miséria, estão os enviados do Senhor, cuja missão consiste na exemplificação de que não há dor insuperável, desde que tenhamos o auxílio do Onipotente e dos seus bons Espíritos. Essa voz lhes fará ouvir lamentações de mistura com preces, para que lhes compreendam a harmonia piedosa, bem diferente da de coros de lamentações mescladas com blasfêmias.

Um dos vossos bons Espíritos, grande apóstolo do Espiritismo, cedeu-me o seu lugar por esta noite. (1) Por minha vez, também me compete dizer algo sobre o progresso da vossa Doutrina, que deve auxiliar em sua missão os que entre vós encarnam, para aprender a sofrer. O Espiritismo será a pedra de toque; os padecentes terão o exemplo e a palavra, e então as imprecações se transformarão em gritos de alegria e lágrimas de contentamento.”

P. Pelo que afirmais, parece que os vossos sofrimentos não eram expiação de faltas anteriores...
R. Não seriam uma expiação direta, mas asseguro-vos que todo sofrimento tem uma causa justa. Aquele a quem conhecestes tão mísero foi belo, grande, rico e adulado. Eu tivera aduladores e cortesãos, fora fútil e orgulhoso. Anteriormente fui bem culpado; reneguei a Deus, prejudiquei meu semelhante, mas expiei cruelmente, primeiro no mundo espiritual e depois na Terra. Os meus sofrimentos de alguns anos apenas, nesta última encarnação, suportei-os eu anteriormente por toda uma existência que andou pela extrema velhice. Por meu arrependimento reconquistei a graça do Senhor, o qual me confiou muitas missões, inclusive a última, que bem conheceis. E fui eu quem as solicitou, para terminar a minha depuração.

Adeus, amigos; tornarei algumas vezes. A minha missão é de consolar, e não de instruir. Há, porém, aqui muitas pessoas cujas feridas jazem ocultas, e essas terão prazer com a minha presença.
Marcel

(1) Santo Agostinho, pelo médium com o qual habitualmente se comunica na Sociedade.

(Do livro “O Céu e o Inferno” - Allan Kardec / 2ª Parte - Cap. VIII)

Uma História de Expiação – Parte 2/2.




Instruções do guia do médium

Pobrezinho sofredor, definhado, ulceroso e disforme! Nesse asilo de misérias e lágrimas, quantos gemidos exalados! E como era resignado... e como a sua alma lobrigava já então o termo dos sofrimentos, apesar da tenra idade! No além-túmulo, pressentia a recompensa de tantos gemidos abafados, e esperava! E como orava também por aqueles que não tinham resignação no sofrimento, pelos que trocavam preces por blasfêmias!

Foi-lhe lenta a agonia, mas terrível não lhe foi a hora do trespasse; certamente os membros convulsos contorciam-se, oferecendo aos assistentes o espetáculo de um corpo disforme a revoltar-se contra a sorte, nessa lei da carne que a todo o custo quer viver; mas, um anjo bom lhe pairava por sobre o leito mortuário e cicatrizava-lhe o coração. Depois, esse anjo arrebatou nas asas brancas essa alma tão bela a escapar-se de tão horripilante corpo, e foram estas as palavras pronunciadas: “Glória a Vós, Senhor, meu Deus!” E a alma subiu ao Todo-Poderoso, feliz, e exclamou: “Eis-me aqui, Senhor; destes-me por missão exemplificar o sofrimento... terei suportado dignamente a provação?”

Hoje, o Espírito da pobre criança avulta, paira no Espaço, vai do fraco ao humilde, e a todos diz: Esperança e coragem. Livre de todas as impurezas da matéria, ele aí está junto de vós a falar-vos, a dizer-vos não mais com essa voz fraca e lastimosa, porém agora firme: “Todos que me observaram, viram que a criança não murmurava; hauriram nesse exemplo a calma para os seus males e seus corações se tonificaram na suave confiança em Deus, que outro não era o fim da minha curta passagem pela Terra.”
Santo Agostinho

(Do livro “O Céu e o Inferno” - Allan Kardec / 2ª Parte - Cap. VIII)

Desgraças Terrenas.

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"Bem-aventurados os que choram, pois que serão consolados." (Mateus, 5:4)

Toda vez que uma desgraça se abate sobre um homem, a verdadeira desgraça para ele é não saber receber devidamente o infortúnio que lhe chega.

Desgraça, realmente, é o mal, o prejuízo, o dano que se pode praticar contra alguém e não o que se recebe ou se sofre.

O que muitas vezes tem aparência de desgraça - e isto quase sempre - é resgate intransferível e valioso que assoma à alfândega do devedor, cobrando-lhe os débitos livremente assumidos e aceitos. Das mais duras provações sempre resultam benefícios valiosos para o espírito imortal. Há que considerar cada um a própria posição que mantém na vida terrena para avaliar com acerto os acontecimentos que o visitam.

Quando somente se experimentam as emoções físicas e conceituamos os valores imediatos, desgraças, em realidade, para tais, são os pequenos caprichos não atendidos, as veleidades vaidosas não respeitadas, as ambições ridículas não satisfeitas que assumem papel preponderante e se transformam em infelicidades legítimas, porquanto, ignorando propositalmente as realidades superiores, esses descuidados se apegam às menores coisas e aos recursos de nenhuma monta, derrapando para a irritabilidade, as paixões, a loucura, o suicídio: desgraças que levam o espírito às províncias de amarguras inomináveis, a vencerem tempo sem limite em etapas de dor sem nome...

As desgraças que foram convencionadas como: perda de saúde, prejuízos financeiros, ausência de pessoas amadas, desemprego, acidentes, abandono por parte de queridos afetos, se constituem áspero testemunho que chega ao ser em jornada redentora, se transformam também em portal que, transposto estoicamente, descerra a dádiva da felicidade permanente e enseja paz sem refrega de luta em atmosfera de harmonia interior.

Quando o infortúnio não resulta de imediato desatino ou leviandade é bênção da Vida à vida, facultando vitória próxima.

Nesse particular os Espíritos Superiores levam em alta consideração os sofrimentos humanos, as desgraças que abatem homens, famílias, povos e, pressurosos, em nome da Misericórdia Divina, acorrem a ajudar e socorrer esses padecentes, dando-lhes forças e coragem para permanecerem firmes e confiantes, buscando diminuir neles a intensidade da dor, e, noutras circunstâncias, tendo em vista os novos méritos que resultam das conquistas individuais ou coletivas, desviando-as, atenuando-as, impedindo mesmo que se realize, pela constrição do sofrimento, a depuração espiritual, o que faculta meios de crescimento pelo amor em bênçãos edificantes capazes de anular o saldo devedor constritivo e perseverante, porque se a Justiça Divina é rigorosa e imutável, a Divina Misericórdia se consubstancia no amor, tendo-se em vista que Deus, nosso Pai Excelso, “é amor”.

(Pelo Espírito Joanna de Angelis - Psicografia Divaldo Franco - In: Florações Evangélicas)

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"De duas espécies são as vicissitudes da vida, ou se o preferir, promanam de duas fontes bem diferentes, que importa distinguir: umas têm sua causa na vida presente; outras, fora desta vida."
(O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 5º - Item 4)

Perante a Dor.



“A dor é uma bênção que Deus nos envia” — diz-nos o verbo iluminado da Codificação Kardequiana, e ousaríamos acrescentar que é também o remédio que solicitamos no limiar da existência terrestre.


Espíritos enfermos e endividados, rogamos, antes do berço, os problemas e as provações suscetíveis de propiciar-nos a alegria da cura e a bênção do resgate.


Entre votos de esperança e lágrimas de angústia, pedimos em prece o reencontro com antigos desafetos de nossa estrada, pedimos as deformidades orgânicas, as moléstias ocultas, as mutilações dolorosas, o pauperismo inquietante, os golpes de calúnia, as desilusões afetivas, a incompreensão dos mais amados e os enigmas do sofrimento junto daqueles que se erigem à posição de nossos credores na Contabilidade Divina; entretanto, em plenitude das energias físicas, quase sempre recuamos ante os cálices de amargura, exigindo conforto imediatista e vantagens materiais, à feição de doentes enceguecidos recusando o medicamento que lhes prodigalizará a recuperação, ou à maneira de alunos preguiçosos e imprudentes fugindo sistematicamente à lição...


Lembremo-nos, pois, de que a luta é concessão celeste e de que a dificuldade é benfeitora do coração.


Aceitamo-las no caminho, não apenas com a noção da justiça que, por vezes, exageramos até a flagelação da secura, nem somente com o bordão da coragem que, em muitas ocasiões, transformamos em perigosa temeridade, mas, acima de tudo, com a humildade da paciência que tudo compreende para tudo ajudar e purificar, na jornada de nossa cruz redentora, pela qual, entre a serenidade e o amor, encontraremos por fim a imortalidade vitoriosa.


Emmanuel
In: ‘Através do Tempo’ - Francisco Cândido Xavier