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20 de jul. de 2019

Os Milagres Segundo O Espiritismo




Os milagres no sentido teológico - O Espiritismo não faz milagres - Faz Deus milagres? - O sobrenatural e as religiões
Os milagres no sentido teológico1. - Na acepção etimológica, a palavra milagre (de mirari, admirar) significa: admirável, coisa
extraordinária, surpreendente. A Academia definiu-a deste modo: Um ato do poder divino contrário às leis
da Natureza, conhecidas.
Na acepção usual, essa palavra perdeu, como tantas outras, a significação primitiva. De geral, que era, se
tornou de aplicação restrita a uma ordem particular de fatos. No entender das massas, um milagre implica
a idéia de um fato extranatural; no sentido teológico, é uma derrogação das leis da Natureza, por meio da
qual Deus manifesta o seu poder. Tal, com efeito, a acepção vulgar, que se tornou o sentido próprio, de
modo que só por comparação e por metáfora a palavra se aplica às circunstâncias ordinárias da vida.
Um dos caracteres do milagre propriamente dito é o ser inexplicável, por isso mesmo que se realiza com
exclusão das leis naturais. É tanto essa a idéia que se lhe associa, que, se um fato milagroso vem a
encontrar explicação, se diz que já não constitui milagre, por muito espantoso que seja. O que, para a
Igreja, dá valor aos milagres é, precisamente, a origem sobrenatural deles e a impossibilidade de serem
explicados. Ela se firmou tão bem sobre esse ponto, que o assimilarem-se os milagres aos fenômenos da
Natureza constitui para ela uma heresia, um atentado contra a fé, tanto assim que excomungou e até
queimou muita gente por não ter querido crer em certos milagres.
Outro caráter do milagre é o ser insólito, isolado, excepcional. Logo que um fenômeno se reproduz, quer
espontânea, quer voluntariamente, é que está submetido a uma lei e, desde então, seja ou não seja
conhecida a lei, já não pode haver milagres.
2. - Aos olhos dos ignorantes, a Ciência faz milagres todos os dias. Se um homem, que se ache
realmente morto, for chamado à vida por intervenção divina, haverá verdadeiro milagre, por ser esse um
fato contrário às leis da Natureza. Mas, se em tal homem houver apenas aparências de morte, se lhe
restar uma vitalidade latente e a Ciência, ou uma ação magnética, conseguir reanimá-lo, para as pessoas
esclarecidas ter-se-á dado um fenômeno natural, mas, para o vulgo ignorante, o fato passará por
miraculoso. Lance um físico, do meio de certas campinas, um papagaio elétrico e faça que o raio caia
sobre uma árvore e certamente esse novo Prometeu será tido por armado de diabólico poder. Houvesse,
porém, Josué detido o movimento do Sol, ou, antes, da Terra e teríamos aí o verdadeiro milagre,
porquanto nenhum magnetizador existe dotado de bastante poder para operar semelhante prodígio.
Foram fecundos em milagres os séculos de ignorância, porque se considerava sobrenatural tudo aquilo
cuja causa não se conhecia. À proporção que a Ciência revelou novas leis, o círculo do maravilhoso se foi
restringindo; mas, como a Ciência ainda não explorara todo o vasto campo da Natureza, larga parte dele
ficou reservada para o maravilhoso.
3. - Expulso do domínio da materialidade, pela Ciência, o maravilhoso se encastelou no da
espiritualidade, onde encontrou o seu último refúgio. Demonstrando que o elemento espiritual é uma das
forças vivas da Natureza, força que incessantemente atua em concorrência com a força material, o
Espiritismo faz que voltem ao rol dos efeitos naturais os que dele haviam saído, porque, como os outros,
também tais efeitos se acham sujeitos a leis. Se for expulso da espiritualidade, o maravilhoso já não terá
razão de ser e só então se poderá dizer que passou o tempo dos milagres. (Cap. I, nº 18.)

O Espiritismo não faz milagres
4. - O Espiritismo, pois, vem, a seu turno, fazer o que cada ciência fez no seu advento: revelar novas leis
e explicar, conseguintemente, os fenômenos compreendidos na alçada dessas leis.
Esses fenômenos, é certo, se prendem à existência dos Espíritos e à intervenção deles no mundo
material e isso é, dizem, o em que consiste o sobrenatural. Mas, então, fora mister se provasse que os
Espíritos e suas manifestações são contrárias às leis da Natureza; que aí não há, nem pode haver, a
ação de uma dessas leis.
O Espírito mais não é do que a alma sobrevivente ao corpo; é o ser principal, pois que não morre, ao
passo que o corpo é simples acessório sujeito à destruição. Sua existência, portanto, é tão natural depois,
Como durante a encarnação; está submetido às leis que regem o princípio espiritual, como o corpo o está
às que regem o princípio material; mas, como estes dois princípios têm necessária afinidade, como
reagem incessantemente um sobre o outro, como da ação simultânea deles resultam o movimento e a
harmonia do conjunto, segue-se que a espiritualidade e a materialidade são duas partes de um mesmo
todo, tão natural uma quanto a outra, não sendo, pois, a primeira uma exceção, uma anomalia na ordem
das coisas.
5. - Durante a sua encarnação, o Espírito atua sobre a matéria por intermédio do seu corpo fluídico ou
perispírito, dando-se o mesmo quando ele não está encarnado. Como Espírito e na medida de suas
capacidades, faz o que fazia como homem; apenas, por já não ter o corpo carnal para instrumento, servese, quando necessário, dos órgãos materiais de um encarnado, que vem a ser o a que se chama médium.
Procede então como um que, não podendo escrever por si mesmo, se vale de um secretário, ou que, não
sabendo uma língua, recorre a um intérprete. O secretário e o intérprete são os médiuns de um
encarnado, do mesmo modo que o médium é o secretário ou o intérprete de um Espírito.
6. - Já não sendo o mesmo que no estado de encarnação o meio em que atuam os Espíritos e os modos
por que atuam, diferentes são os efeitos, que parecem sobrenaturais unicamente porque se produzem
com o auxílio de agentes que não são os de que nos servimos. Desde, porém, que esses agentes estão
na Natureza e as manifestações se dão em virtude de certas leis, nada há de sobrenatural, ou de
maravilhoso. Antes de se conhecerem as propriedades da eletricidade, os fenômenos elétricos passavam
por prodígios para certa gente; desde que se tornou conhecida a causa, desapareceu o maravilhoso. O
mesmo ocorre com os fenômenos espíritas, que não são mais aberrantes das leis naturais do que os
fenômenos elétricos, acústicos, luminosos e outros, que serviram de fundamento a uma imensidade de
crenças supersticiosas.
7. - Entretanto, dir-se-á, admitis que um Espírito pode levantar uma mesa e mantê-la no espaço sem
ponto de apoio; não está aí uma derrogação da lei da gravidade? - Sim, da lei conhecida. Conhecem-se,
porém, todas as leis? Antes que se houvesse experimentado a força ascensional de alguns gases, quem
diria que uma pesada máquina, transportando muitos homens, poderia triunfar da força de atração? Ao
vulgo, isso não pareceria maravilhoso, diabólico? Aquele que se houvera proposto, há um século, a
transmitir uma mensagem a 500 léguas e receber a resposta dentro de alguns minutos, teria passado por
louco; se o fizesse, teriam acreditado estar o diabo às suas ordens, porquanto, então, só o diabo era
capaz de andar tão depressa. Hoje, no entanto, não só se reconhece possível o fato, como ele parece
naturalíssimo. Por que, pois, um fluido desconhecido careceria da propriedade de contrabalançar, em

dadas circunstâncias, o efeito da gravidade, como o hidrogênio contrabalança o peso do balão? É,
efetivamente, o que sucede, no caso de que se trata. (O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. IV.)
8. - Uma vez que estão no quadro dos da Natureza, os fenômenos espíritas se hão produzido em todos
os tempos; mas, precisamente, porque não podiam ser estudados pelos meios materiais de que dispõe a
ciência vulgar, permaneceram muito mais tempo do que outros no domínio do sobrenatural, donde o
Espiritismo agora os tira.
Baseado em aparências inexplicadas, o sobrenatural deixa livre curso à imaginação que, a vagar pelo
desconhecido, gera as crenças supersticiosas. Uma explicação racional, fundada nas leis da Natureza,
reconduzindo o homem ao terreno da realidade, fixa um ponto de parada aos transviamentos da
imaginação e destrói as superstições. Longe de ampliar o domínio do sobrenatural, o Espiritismo o
restringe até aos seus limites extremos e lhe arrebata o último refúgio. Se é certo que ele faz crer na
possibilidade de alguns fatos, não menos certo é que, por outro lado, impede a crença em diversos
outros, porque demonstra, no campo da espiritualidade, a exemplo da Ciência no da materialidade, o que
é possível e o que não o é. Todavia, como não alimenta a pretensão de haver dito a última palavra seja
sobre o que for, nem mesmo sobre o que é da sua competência, ele não se apresenta como absoluto
regulador do possível e deixa de parte os conhecimentos reservados ao futuro.
9. - Os fenômenos espíritas consistem nos diferentes modos de manifestação da alma ou Espírito, quer
durante a encarnação, quer no estado de erraticidade. É pelas manifestações que produz que a alma
revela sua existência, sua sobrevivência e sua individualidade; julga-se dela pelos seus efeitos; sendo
natural a causa, o efeito também o é. São esses efeitos que constituem objeto especial das pesquisas e
do estudo do Espiritismo, a fim de chegar-se a um conhecimento tão completo quanto possível, assim da
natureza e dos atributos da alma, como das leis que regem o princípio espiritual.
10. - Para os que negam a existência do princípio espiritual independente, que negam, por conseguinte, a
da alma individual e sobrevivente, a Natureza toda está na matéria tangível; todos os fenômenos que
concernem à espiritualidade são, para esses negadores, sobrenaturais e, portanto, quiméricos. Não
admitindo a causa não podem eles admitir os efeitos e, quando estes são patentes, os atribuem à
imaginação, à ilusão, à alucinação e se negam a aprofundá-los. Daí, a opinião preconcebida em que se
acastelam e que os torna inaptos a apreciar judiciosamente o Espiritismo, porque parte do princípio de
negação de tudo o que não seja material.
11. - Do fato, porém, de o Espiritismo admitir os efeitos, que são corolário da existência da alma, não se
segue que admita todos os efeitos qualificados de maravilhosos e que se proponha a justificá-los e darlhes crédito; que se faça campeão de todos os devaneios, de todas as utopias, de todas as
excentricidades sistemáticas, de todas as lendas miraculosas. Fora preciso conhecê-lo muito pouco, para
pensar assim. Seus adversários julgam opor-lhe um argumento irreplicável, quando, depois de haverem
feito eruditas pesquisas sobre os convulsionários de Saint-Médard, sobre os camisardos das Cevenas, ou
sobre os religiosos de Loudun, chegaram a descobrir fatos patentes de embuste, que ninguém contesta.
Mas, essas histórias serão, porventura, o Evangelho do Espiritismo? Já terão seus adeptos negado que o
charlatanismo haja explorado em proveito próprio alguns fatos; que a imaginação os tenha criado; que o
fanatismo os haja exagerado muitíssimo? Ele é tão solidário com as extravagâncias que se cometam em
seu nome, como a Ciência o é com os abusos da ignorância e a verdadeira religião com os abusos do
fanatismo. Muitos críticos julgam do Espiritismo pelos contos de fadas e pelas lendas populares, ficções

daqueles contos. O mesmo seria julgar da História pelos romances históricos ou pelas tragédias.
12. - Os fenômenos espíritas são as mais das vezes espontâneos e se produzem sem nenhuma idéia
preconcebida da parte das pessoas com quem eles se dão e que, em regra, são as que neles menos
pensam. Alguns há que, em certas circunstâncias, podem ser provocados pelos agentes denominados
médiuns. No primeiro caso, o médium é inconsciente do que se produz por seu intermédio no segundo,
age com conhecimento de causa, donde a classificação de médiuns conscientes e médiuns
inconscientes. Estes últimos são os mais numerosos e se encontram com freqüência entre os mais
obstinados incrédulos que, assim, praticam o Espiritismo sem o saberem, nem quererem. Por isso
mesmo, os fenômenos espontâneos revestem capital importância, visto não se poder suspeitar da boa-fé
dos que os obtêm. Dá-se aqui o que se dá com o sonambulismo que, em certos indivíduos, é natural e
involuntário, enquanto que noutros é provocado pela ação magnética. (1)
(1) O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, cap. V. - Revue Spirite; exemplos: dezembro de 1865, pág. 370, agosto
de 1865, pág. 231.
Resultem, porém, ou não esses fenômenos de um ato da vontade, a causa primária é exatamente a
mesma e não se afasta uma linha das leis naturais. Os médiuns, portanto, nada absolutamente produzem
de sobrenatural; por conseguinte, nenhum milagre fazem. As próprias curas instantâneas não são mais
milagrosas, do que os outros efeitos, dado que resultam da ação de um agente fluídico, que desempenha
o papel de agente terapêutico, cujas propriedades não deixam de ser naturais por terem sido ignoradas
até agora. É, pois, totalmente impróprio o epíteto de taumaturgos que a crítica ignorante dos princípios do
Espiritismo há dado a certos médiuns. A qualificação de milagres emprestada, por comparação, a esta
espécie de fenômenos, somente pode induzir em erro sobre o verdadeiro caráter deles.
13. - A intervenção de inteligências ocultas nos fenômenos espíritas não os torna mais milagrosos do que
todos os outros fenômenos devidos a agentes invisíveis, porque esses seres ocultos que povoam os
espaços São uma das forças da Natureza, força cuja ação é incessante sobre o mundo material, tanto
quanto sobre o mundo moral.
Esclarecendo-nos acerca dessa força, o Espiritismo faculta a elucidação de uma imensidade de coisas
inexplicadas e inexplicáveis por qualquer outro meio e que, por isso, passaram por prodígios nos tempos
idos. Do mesmo modo que o magnetismo, ele revela uma lei, senão desconhecida, pelo menos mal
compreendida; ou, melhor dizendo, conheciam-se os efeitos, porque eles em todos os tempos se
produziram, porém não se conhecia a lei e foi o desconhecimento desta que gerou a superstição.
Conhecida essa lei, desaparece o maravilhoso e os fenômenos entram na ordem das coisas naturais. Eis
por que tanto operam um milagre os espíritas quando fazem que uma mesa se mova sozinha, ou que os
mortos escrevam, como um milagre opera o médico, quando faz que um moribundo reviva, ou o físico,
quando faz que o raio caia. Aquele que pretendesse, com o auxílio desta ciência, fazer milagres seria ou
um ignorante do assunto, ou um enganador de tolos.
14. - Pois que o Espiritismo repudia toda pretensão às coisas miraculosas, haverá, fora dele, milagres, na
acepção usual desta palavra?
Digamos, primeiramente, que, dos fatos reputados milagrosos, ocorridos antes do advento do Espiritismo
e que ainda no presente ocorrem, a maior parte, senão todos, encontram explicação nas novas leis que

ele veio revelar. Esses fatos, portanto, se compreendem, embora sob outro nome, na ordem dos
fenômenos espíritas e, como tais, nada têm de sobrenatural. Fique, porém, bem entendido que nos
referimos aos fatos autênticos e não aos que, com a denominação de milagres, são produto de uma
indigna trampolinice, com o fito de explorar a credulidade. Tampouco nos referimos a certos fatos
lendários que podem ter tido, originariamente, um fundo de verdade, mas que a superstição ampliou até
ao absurdo. Sobre esses fatos é que o Espiritismo projeta luz, fornecendo meios de apartar do erro a
verdade.
Faz Deus milagres?15. - Quanto aos milagres propriamente ditos, Deus, visto que nada lhe é impossível, pode fazê-los. Mas,
fá-los? Ou, por outras palavras; derroga as leis que dele próprio emanaram? Não cabe ao homem
prejulgar os atos da Divindade, nem os subordinar à fraqueza do seu entendimento. Contudo, em face
das coisas divinas, temos, para critério do nosso juízo, os atributos mesmos de Deus. Ao poder soberano
reúne ele a soberana sabedoria, donde se deve concluir que não faz coisa alguma inútil.
Por que, então, faria milagres? Para atestar o seu poder, dizem. Mas, o poder de Deus não se manifesta
de maneira muito mais imponente pelo grandioso conjunto das obras da criação, pela sábia previdência
que essa criação revela, assim nas partes mais gigantescas, como nas mais mínimas, e pela harmonia
das leis que regem o mecanismo do Universo, do que por algumas pequeninas e pueris derrogações que
todos os prestímanos sabem imitar? Que se diria de uni sábio mecânico que, para provar a sua
habilidade, desmantelasse um relógio construído pelas suas mãos, obra-prima de ciência, a fim de
mostrar que pode desmanchar o que fizera? Seu saber, ao contrário, não ressalta muito mais da
regularidade e da precisão do movimento da sua obra?
Não é, pois, da alçada do Espiritismo a questão dos milagres; mas, ponderando que Deus não faz coisas
inúteis, ele emite a seguinte opinião: Não sendo necessários os milagres para a glorificação de Deus,
nada no Universo se produz fora do âmbito das leis gerais. Deus não faz milagres, porque, sendo, como
são, perfeitas as suas leis, não lhe é necessário derrogá-las. Se há fatos que não compreendemos, é que
ainda nos faltam os conhecimentos necessários.
16. - Admitido que Deus houvesse alguma vez, por motivos que nos escapam, derrogado acidentalmente
leis por ele estabelecidas, tais leis já não seriam imutáveis. Mesmo, porem, que semelhante derrogação
seja possível, ter-se- á, pelo menos, de reconhecer que só ele, Deus, dispõe desse poder; sem se negar
ao Espírito do mal a onipotência, não se pode admitir lhe seja dado desfazer a obra divina, operando, de
seu lado, prodígios capazes de seduzir até os eleitos, pois que isso implicaria a idéia de um poder igual
ao de Deus. E, no entanto, o que ensinam. Se Satanás tem o poder de sustar o curso das leis naturais,
que são obra de Deus, sem a permissão deste, mais poderoso é ele do que a Divindade. Logo, Deus não
possui a onipotência e se, como pretendem, delega poderes a Satanás, para mais facilmente induzir os
homens ao mal, falta-lhe a soberana bondade. Em ambos os casos, há negação de um dos atributos sem
os quais Deus não seria Deus.
Daí vem a Igreja distinguir os bons milagres, que procedem de Deus, dos maus milagres, que procedem
de Satanás. Mas, como diferençá-los? Seja satânico ou divino um milagre, haverá sempre uma
derrogação de leis emanadas unicamente de Deus. Se um indivíduo é curado por suposto milagre, quer
seja Deus quem o opere, quer Satanás, não deixará por isso de ter havido a cura. Forçoso se torna fazer

pobríssima idéia da inteligência humana para se pretender que semelhantes doutrinas possam ser aceitas
nos dias de hoje.
Reconhecida a possibilidade de alguns fatos considerados miraculosos, há-se de concluir que, seja qual
for a origem que se lhes atribua, eles são efeitos naturais de que se podem utilizar Espíritos
desencarnados ou encarnados, como de tudo, como da própria inteligência e dos conhecimentos
científicos de que disponham, para o bem ou para o mal, conforme neles preponderem a bondade ou a
perversidade. Valendo-se do saber que haja adquirido, pode um ser perverso fazer coisas que passem
por prodígios aos olhos dos ignorantes; mas, quando tais efeitos dão em resultado um bem qualquer, fora
ilógico atribuir-se-lhes uma origem diabólica.
17. - Mas, a religião, dizem, se apóia em fatos que nem explicados, nem explicáveis são. Inexplicados,
talvez; inexplicáveis, é questão muito outra. Que sabe o homem das descobertas e dos conhecimentos
que o futuro lhe reserva? Sem falar do milagre da criação, o maior de todos sem contestação possível, já
pertencente ao domínio da lei universal, não vemos reproduzirem-se hoje, sob o império do magnetismo,
do sonambulismo, do Espiritismo, os êxtases, as visões, as aparições, as percepções a distância, as
curas instantâneas, as suspensões, as comunicações orais e outras com os seres do mundo invisível,
fenômenos esses conhecidos desde tempos imemoráveis, tidos outrora por maravilhosos e que
presentemente se demonstra pertencerem à ordem das coisas naturais, de acordo com a lei constitutiva
dos seres? Os livros sagrados estão cheios de fatos desse gênero, qualificados de sobrenaturais; como,
porém, outros análogos e ainda mais maravilhosos se encontram em todas as religiões pagãs da
antigüidade, se a veracidade de uma religião dependesse do numero e da. natureza de tais fatos, não se
saberia dizer qual a que devesse prevalecer.
O sobrenatural e as religiões18. - Pretender-se que o sobrenatural é o fundamento de toda religião, que ele é o fecho de abóbada do
edifício cristão, é sustentar perigosa tese. Assentar exclusivamente as verdades do Cristianismo sobre a
base do maravilhoso é dar-lhe fraco alicerce, cujas pedras facilmente se soltam. Essa tese, de que se
constituíram defensores eminentes teólogos, leva direito à conclusão de que, em breve tempo, já não
haverá religião possível, nem mesmo a cristã, desde que se chegue a demonstrar que é natural o que se
considerava sobrenatural, visto que, por mais que se acumulem argumentos, não se logrará sustentar a
crença de que um fato é miraculoso, depois de se haver provado que não o é. Ora, a prova existe de que
um fato não constitui exceção às leis naturais, logo que pode ser explicado por essas mesmas leis e que,
podendo reproduzir-se por intermédio de um indivíduo qualquer, deixa de ser privilégio dos santos. O de
que necessitam as religiões não é do sobrenatural, mas do princípio espiritual, que erradamente
costumam confundir com o maravilhoso e sem o qual não há religião possível.
O Espiritismo considera de um ponto mais elevado a religião cristã; dá-lhe base mais sólida do que a dos
milagres: as imutáveis leis de Deus, a que obedecem assim o princípio espiritual, como o princípio
material. Essa base desafia o tempo e a Ciência, pois que o tempo e a Ciência virão sancioná-la.
Deus não se torna menos digno da nossa admiração, do nosso reconhecimento, do nosso respeito, por
não haver derrogado suas leis, grandiosas, sobretudo, pela imutabilidade que as caracteriza. Não se faz
mister o sobrenatural, para que se preste a Deus o culto que lhe é devido. A Natureza não é de si mesma
tão imponente, que dispense se lhe acrescente seja o que for para provar a suprema potestade? Tanto

menos incrédulos topará a religião, quanto mais a razão a sancionar em todos os pontos. O Cristianismo
nada tem que perder com semelhante sanção; ao contrário, só tem que ganhar. Se alguma coisa o há
prejudicado na opinião de muitas pessoas, foi precisamente o abuso do sobrenatural e do maravilhoso.
19. - Se tomarmos a palavra milagre em sua acepção etimológica, no sentido de coisa admirável, teremos
milagres incessantemente sob as vistas. Aspiramo-los no ar e calcamo-los aos pés, porque tudo então é
milagre em a Natureza.
Querem dar ao povo, aos ignorantes, aos pobres de espírito uma idéia do poder de Deus? Mostrem-no na
sabedoria infinita que preside a tudo, no admirável organismo de tudo o que vive, na frutificação das
plantas, na apropriação de todas as partes de cada ser às suas necessidades, de acordo com o meio
onde ele é posto a viver. Mostrem-lhes a ação de Deus na vergôntea de um arbusto, na flor que
desabrocha, no Sol que tudo vivifica. Mostrem-lhes a sua bondade na solicitude que dispensa a todas as
criaturas, por mais ínfimas que sejam, a sua previdência, na razão de ser de todas as coisas, entre as
quais nenhuma inútil se conta, no bem que sempre decorre de um mal aparente e temporário. Façam-lhes
compreender, principalmente, que o mal real é obra do homem e não de Deus; não procurem espavori-los
com o quadro das penas eternas, em que acabam não mais crendo e que os levam a duvidar da bondade
de Deus; antes, dêem-lhes coragem, mediante a certeza de poderem um dia redimir-se e reparar o mal
que hajam praticado. Apontem-lhes as descobertas da Ciência como revelações das leis divinas e não
como obras de Satanás. Ensinem-lhes, finalmente, a ler no livro da Natureza, constantemente aberto
diante deles; nesse livro inesgotável, em cada uma de cujas páginas se acham inscritas a sabedoria e a
bondade do Criador. Eles, então, compreenderão que um Ser tão grande, que com tudo se ocupa, que
por tudo vela, que tudo prevê, forçosamente dispõe do poder supremo. Vê-lo-á o lavrador, ao sulcar o seu
campo; e o desditoso, nas suas aflições, o bendirá dizendo: Se sou infeliz, é por culpa minha. Então, os
homens serão verdadeiramente religiosos, racionalmente religiosos, sobretudo, muito mais do que
acreditando em pedras que suam sangue, ou em estátuas que piscam os olhos e derramam lágrimas.
 


Allan Kardec - A Gênese

19 de jun. de 2019

Kardec e Darwin



Kardec e Darwin foram dois grandes cientistas que vieram ao mundo no alvorecer do Século 19. O
primeiro, um médico francês e aluno de Pestalozzi, foi o Codificador do Espiritismo, o segundo era um
naturalista e fisiologista inglês. Kardec pesquisou a evolução dos espíritos, Darwin, a dos corpos
biológicos.
Nós somos espíritos imortais. E o Nazareno disse que nós devemos buscar a perfeição de Deus, o Pai.
Nós somos hoje os espíritos dos homens de ontem, inclusive os dos homens das cavernas. E depois de
inúmeras reencarnações, chegamos à evolução e perfeição em que nos encontramos atualmente. Se não
houvesse evolução e as reencarnações que a possibilitam, seríamos forçados a pensar que Deus foi
muito injusto com aqueles espíritos de outrora dos homens da caverna, que só teriam vivido mais como
bichos do que como seres humanos propriamente ditos! A evolução é, pois, uma lei natural tão real como
o é a da Gravidade, e é até sagrada.
A Igreja, como afirma o sábio francês padre François Brune, acredita na vida após a morte, ou a chamada
vida eterna, mas na prática, tem agido como se ela não existisse, pois não a estuda, e é até contrária ao
seu estudo. A mesma coisa se pode dizer dos nossos irmãos protestantes. Isso nos faz lembrar do que o
Mestre afirmou, ao referir-se aos sacerdotes judeus de sua época: "Não entram no reino dos céus, e não
deixam outros entrarem!". É necessário, pois, que os católicos e protestantes despertem também para o
estudo do espírito, e não só do corpo, como vêm fazendo há séculos, pois o espírito é mais importante do
que o corpo. "A carne para nada aproveita, o que importa é o espírito que dá vida" (João 6, 63).
Foi revolucionário o livro de Darwin: "Da Origem das Espécies" (1859), principalmente porque ele entrou

em choque com as idéias da interpretação literal da Bíblia, quando a exegese e a hermenêutica ainda
eram muito elementares e tímidas. A Igreja estava, pois, sem força moral para enfrentar aquele poderoso
materialismo efervescente, após a Revolução Francesa, o que se agravava mais ainda pelo fato de ela
estar, justamente naquela época, deixando a Inquisição. Foi quando surgiram também os não menos
revolucionários livros científicos e espiritualistas de Kardec, entre eles o "O Livro dos Espíritos" (1857), os
quais deram um verdadeiro "chega-pra-lá" nas idéias materialistas e anti-religiosas de Darwin e de seus
contemporâneos Marx e Compte. Por isso dizemos com o escritor e pastor presbiteriano do Rio de
Janeiro, Neemias Marien": "O maior reformador do Cristianismo não é Lutero, mas Allan Kardec." De fato,
até Kardec, não se tinha feito ainda um estudo racional e científico da Bíblia.
Darwin foi um dos grandes cientistas da evolução da vida material, e Kardec o foi da evolução da vida do
espírito na matéria e fora da matéria!
*Autor do livro "A Face Oculta das Religiões" (Ed.Martin Claret) 


  Por José Reis Chaves

15 de jun. de 2019

Um Apelo de Kardec



15 de janeiro de 1862, Kardec publicou a brochura intitulada “O Espiritismo na sua mais simples
Expressão", e fez um apelo:
“Contamos com o zelo de todos os verdadeiros espíritas para ajudar na sua propagação.”Já em "O Livro dos Médiuns", segundo livro da Codificação Espírita, verificamos a importância dada a
questões que hoje têm sido ignoradas e relegadas por boa parte daqueles que se dizem espíritas nos

dias de hoje, facilitando a ação nefasta de espíritos pseudossábios e/ou mistificadores, que não só
poderão enganar a esses com suas falsas ideias como também a muitas outras pessoas, disseminando e
rapidamente promovendo toda uma série de noções contrárias aos elevados propósitos do Espiritismo.
O resultado disso tem sido a desinteligência entre os espíritas e a consequente formação de redutos
seitistas, com interpretações próprias e muitas das vezes demasiado exóticas e heterodoxas sobre a mais
variada gama de questões que a Codificação, por sua vez, ensina com cristalina clareza, dispensando os
adereços advindos das paixões e arroubos de imaginação de caráter puramente terreno e especulativo.
Leiamos alguns comentários a esse respeito proferidos por Allan Kardec constantes da Revista Espírita
de janeiro de 1861:
"A primeira edição do Livro dos Médiuns, publicada no começo deste ano, esgotou-se em alguns meses,
o que não é um dos traços menos característicos do progresso das ideias espíritas. Nós mesmo
constatamos, em nossas excursões, a influência salutar que essa obra exerceu sobre a direção dos
estudos espíritas práticos. Assim, as decepções e mistificações são muito menos numerosas do que
outrora, porque ela ensinou os meios de descobrir as astúcias dos Espíritos enganadores. Esta segunda
edição é muito mais completa que a precedente. Ela encerra numerosas instruções novas muito
importantes e vários capítulos novos. Toda a parte que concerne mais especialmente aos médiuns, à
identidade dos Espíritos, à obsessão, às questões que podem ser dirigidas aos Espíritos, às contradições,
aos meios de discernir os bons e os maus Espíritos, à formação de reuniões espíritas, às fraudes em
matéria de Espiritismo recebeu desenvolvimentos muito notáveis, frutos da experiência. No capítulo
das dissertações espíritas adicionamos várias comunicações apócrifas acompanhadas de observações
adequadas a dar os meios de descobrir a fraude dos Espíritos enganadores que se apresentam com
falsos nomes.
Devemos acrescentar que os Espíritos reviram a obra inteiramente e trouxeram numerosas observações
do mais alto interesse, de sorte que se pode dizer que é obra deles, tanto quanto nossa.
Recomendamos com instância esta nova edição, como o guia mais completo, quer para os médiuns, quer
para os simples observadores. Podemos afirmar que seguindo-a pontualmente evitar-se-ão os escolhos
tão numerosos contra os quais se vão chocar tantos neófitos inexperientes. Depois de a ter lido e
meditado atentamente, os que forem enganados ou mistificados certamente não poderão queixar-se
senão de si mesmos, porque tiveram todos os meios para se esclarecerem.
 


   Por Artur Azevedo

8 de mar. de 2019

Talismãs, amuletos, o que Kardec diz sobre a força desses objetos?




Kardec, em sua época era reconhecido pelos seus contemporâneos como autoridade no tocante aos temas das novas descobertas entre a relação dos mundos visível e invisível. 

Tanto assim que, frequentemente, buscavam-no a fim de receber sua opinião relacionada aos inúmeros fenômenos além-matéria. Foi assim quanto ao poder de objetos, talismãs e adereços. Teriam eles, poder de descortinar o passado de alguém ou prever o futuro, ou, ainda, atrair os Espíritos? Há, nesses objetos, algo que possa denominá-los, assim na forma vulgar, como objetos mágicos?

Dentre as muitas vezes que Kardec abordou o tema medalhas, símbolos e demais, um texto constante na Revista Espírita, novembro de 1858, com o título “Os talismãs – medalha cabalística” trata sobre tal assunto – vou resumi-la abaixo e, você leitor, fica convidado à consultar a Revista Espírita na Internet.

Uma senhora, médium sonâmbula, havia informado que determinada medalha tinha poderes especiais de atrair os Espíritos. Pediram a opinião de Kardec a respeito. Kardec, logo de início, já explica que os Espíritos são atraídos pelo pensamento e não pelo objeto em si.

Espíritos que se apegam a esses objetos são, ainda, inferiores mesmo que estejam agindo de forma honesta. É que conservam, mais ou menos, as manias e ideias que tinham enquanto encarnados. Portanto, nada fora do esquadro que repitam este modelo mental no mundo dos Espíritos. Por outro lado, há também os Espíritos zombeteiros, ou no linguajar atual, gaiatos, que gostam de divertirem-se à custa da ingenuidade alheia. O foco, portanto, é o pensamento e é esse que acaba por atrair os Espíritos.

Imagine que você deposita uma fé inabalável de que um copo qualquer pode atrair um bom Espírito. E todos os dias você reserva um tempo para olhar no interior deste copo a fim de atrair os bons Espíritos para um contato. Você ora com fervor e sinceridade e os Espíritos comparecem, serenam teu coração, sugerem-te bons conselhos, ajudam-te a responder as mais intrincadas questões íntimas e por ai vai. Você pode achar que o poder está no copo. Contudo, a realidade é que a força está relacionada ao teu pensamento e sentimentos para que tragam os bons Espíritos em teu benefício. O copo é apenas um amuleto e, caso seja descartado nenhuma alteração haverá se você prosseguir na busca dos bons Espíritos com sinceridade e fervor.

A ideia de Kardec é tornar o contato com os Espíritos uma coisa mais espiritual do que material. Se antes havia uma suposta “necessidade” do material para interagir com o espiritual, Kardec a retira e mostra que isto é desnecessário. O contato com os Espíritos é feito de coração para coração, de mente à mente. Não é a matéria, ou seja, o objeto que atrai os Espíritos, mas o pensamento, o coração conectado e a vontade do indivíduo.

Há, todavia, uma observação a ser feita. Os objetos podem ser magnetizados e, com isso, “adquirirem” algumas propriedades especiais, mas de forma passageira. Imagine alguém dotado de grande poder magnético, daqueles em que o olhar é penetrante e traz uma força indescritível. Este indivíduo direciona seu olhar a uma medalha, seu pensamento naquele objeto é firme e forte no intuito de magnetizá-lo. Pois bem, é possível, sim, que alguém ao tocar este objeto, agora já impregnado com o fluido a ele direcionado, sinta sensação diferente, ou mesmo entre em transe por conta da “força” que contém, momentaneamente, o material.

Perceba, todavia, que o poder não está no objeto em si, mas na força do pensamento que a ele foi direcionada.

Kardec, como trabalhava com evocação, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, evocou São Luís e pediu que este manifestasse sua opinião relacionada ao assunto.

Parece-me que o benfeitor considerou o tema já amplamente debatido e questão encerrada, pois após algumas diretrizes, bem semelhantes ao pensamento de Kardec, sugeriu que ele – Kardec – se ocupasse de coisas mais sérias.

Em todo caso, o tema em questão pode desdobrar-se e dar origem aos mais diversos questionamentos como, por exemplo, se há objetos com mais ou menos condições de absorver os fluidos magnéticos e ficarem mais ou menos tempo impregnados com estes.

Há muita coisa interessante a pesquisar. Que tal?

Wellington Balbo

19 de mai. de 2017

COMO NASCERAM OS LIVROS DA CODIFICAÇÃO?


O primeiro livro espírita a ser codificado por Allan Kardec foi “O Livro dos Espíritos”, que apresenta-se na forma de perguntas e respostas, totalizando 1.019 tópicos. Foi o primeiro de uma série de cinco livros editados pelo pedagogo sobre o mesmo tema. As médiuns que serviram a esse trabalho foram inicialmente Caroline e Julie Boudin (respectivamente, 16 e 14 anos à época), às quais mais tarde se juntouCeline Japhet (18 anos à época) no processo de revisão do livro. Após o primeiro esboço, o método das perguntas e respostas foi submetido a comparação com as comunicações obtidas por mais de dez médiuns franceses, cujos textos psicografados contribuíram para a estruturação de O Livro dos Espíritos, publicado em 18 de Abril de 1857, no Palais Royal, na capital francesa, contendo 550 itens. Só a partir da segunda edição, lançada em 16 de março de 1860, com ampla revisão de Kardec mediante o contato com grupos espíritas de cerca de 15 países da Europa e das Américas, aparecem as atuais 1019 perguntas e respostas. Este livro está dividido em quatro (4) partes, e de cada parte nasceram os demais livros da codificação.
1ª PARTE : DAS CAUSAS PRIMÁRIAS: deu origem ao 5º livro "A GÊNESE" (1868). Este livro, além de representar a maturidade do pensamento kardequiano em torno da Doutrina Espírita, traz de forma lógica e reveladora, considerações acerca da origem do planeta Terra; explica a questão dos milagres, a natureza dos fluidos, os fatos extraordinários e as predições contidas no Evangelho;
2ª PARTE: DO MUNDO ESPÍRITA OU MUNDO DOS ESPÍRITOS: deu origem ao 2º livro "O LIVRO DOS MÉDIUNS" (1861). Também conhecido como guia dos médiuns e dos evocadores, o livro dá seqüência ao “O Livro dos Espíritos”. Ele trata do tema central da Doutrina: a atuação dos médiuns e o relacionamento deles com os Espíritos desencarnados. Trata também da Ciência espírita e apresenta uma série de definições para as atuações e tipos de médiuns, bem como para os Espíritos que podem apresentar imperfeições, uma vez que nada mais são do que humanos sem corpo físico;
3ª PARTE: DAS CAUSAS MORAIS: deu origem ao 3º livro "O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO” (1864). Kardec entendia que as seitas, cultos e religiões se preocupam mais com a parte mística do que com a parte moral. Explica ele que, apesar da moral evangélica ter sido sempre admirada, trata-se mais de um ato de fé do que compreensão verdadeira, uma vez que o novo testamento é de difícil entendimento para a maioria dos leitores. Os preceitos morais contidos no Evangelho foram escritos repletos de parábolas e metáforas, dificultando o entendimento. Assim, para tornar as “passagens obscuras” do texto, mais claras, o Evangelho Segundo o Espiritismo traz explicações sobre como aplicar os ensinamentos de Cristo na vida. Desta maneira, com a ajuda dos Espíritos, Kardec introduz o que ele chama de “chave” para decifrar o conteúdo do Evangelho;
4ª PARTE: DAS ESPERANÇAS E CONSOLAÇÕES: deu origem ao 4º livro "O CÉU E O INFERNO” (1865). Este livro trata das causas do temor da morte; fala obviamente sobre Céu e Inferno, e traça paralelos entre as crenças cristãs existentes e a espírita (uma nova crença cristã) a respeito do limbo, das penas eternas, dos anjos e origem dos demônios. Na parte em que apresenta depoimentos, surgem narrações de desencarnados em condições razoáveis de evolução, bem como Espíritos infelizes, sofredores e suicidas. Traz um exame comparando sobre a passagem da vida material para a espiritual, falando sobre as penalidades e recompensas, anjos e demônios.

Portanto, O Livro dos Espíritos é uma obra monumental, antídoto do materialismo, bússola que nos orienta à viagem para nosso interior.

Retirado do Site: http://grupoallankardec.blogspot.com.br/

14 de set. de 2014

Fragmentos de Kardec


Orson Peter Carrara

Data sugere conhecer melhor o Codificador

A ocorrência do bicentenário de nascimento de Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, em 03 de outubro de 2004 (o nascimento ocorreu em 1804), sugere que, além dos dados biográficos – amplamente divulgados e conhecidos –, ampliar-se o conhecimento de seus pensamentos, para identificação de seu perfil psicológico.
Colhemos em Obras Póstumas (1), alguns fragmentos de seus raciocínios, para homenagear a importante efeméride.
Para conhecer seu perfil moral, a transcrição seguinte traz preciso embasamento: “Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a soberana sabedoria, nem a soberana ciência que o seu saber era limitado ao grau de seu adiantamento, e que a opinião deles não tinha senão o valor de uma opinião pessoal. Esta verdade, reconhecida desde o começo, evitou-me o grave escolho de crer na sua infalibilidade e preservou-me de formular teorias prematuras sobre a opinião de um só ou de alguns. Só o fato da comunicação com os Espíritos, o que quer que eles pudessem dizer, provava a existência de um mundo invisível ambiente era já um ponto capital, um imenso campo franqueado às nossas explorações, a chave de uma multidão de fenômenos inexplicados. O segundo ponto, não menos importante, era conhecer o estado desse mundo e seus costumes, se assim nos podemos exprimir. Cedo, observei que cada Espírito, em razão de sua posição pessoal e de seus conhecimentos, desvendava-me uma face desse mundo exatamente como se chega a conhecer o estado de uma país interrogando os habitantes de todas as classes e condições, podendo cada qual nos ensinar alguma coisa e nenhum deles podendo, individualmente, ensinar-nos tudo.”
Para conhecer o método aplicado nos estudos e observações sobre o Espiritismo, basta analisar esta frase: “(...) apliquei a esta ciência o método experimental, não aceitando teorias preconcebidas, e observava atentamente, comparava e deduzia as conseqüências, dos efeitos procurava elevar-me às causas, pela dedução e encadeamento dos fatos, não admitindo por valiosa uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão. Foi assim que procedi sempre em meus anteriores trabalhos, desde os quinze anos”.
Sobre a responsabilidade que se impunha, expõe Kardec: “compreendi logo a gravidade da tarefa, que ia empreender, e entrevi naqueles fenômenos a chave do problema, tão obscuro e tão controvertido, do passado e do futuro da humanidade, cuja solução vivi sempre a procurar era, enfim, uma revolução completa nas idéias e nas crenças do mundo. Cumpria, pois, proceder com circunspecção e não levianamente, ser positivo e não idealista para não me deixar levar por ilusões”.
Comentando sobre o sistema de análise nas comunicações com os Espíritos: “Incumbe ao observador formar o conjunto, coordenando, colecionando e conferindo, uns com os outros, documentos que tenham recolhido. Desta forma, procedi com os Espíritos como teria feito com os homens considerei-os, desde o menor até o maior, como elementos de instrução e não como reveladores predestinados”.
Estabeleceu duas máximas que se imortalizaram de maneira patente a indicar os caminhos da Doutrina Espírita: a) Fora da caridade não há salvação, princípio que ressalta a igualdade entre as criaturas humanas, perante Deus, a tolerância, a liberdade de consciência e a benevolência mútua; b) Fé inabalável é aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade, ressaltando que a fé raciocinada se apoia nos fatos e na lógica.
Para concluir, nada melhor que trazer aos leitores Uma Prece de Allan Kardec, também extraída de Obras Póstumas, onde podemos sentir toda grandeza d’alma deste nobre espírito: “Senhor! Se vos dignastes lançar os olhos sobre mim, para satisfazer os vossos desígnios, seja feita a vossa vontade! A minha vida está em vossas mãos disponde do vosso servo. Para tão alto empenho, eu reconheço a minha fraqueza. A minha boa vontade não faltará, mas podem trair-me as forças. Supri a minha insuficiência, dai-me as forças físicas e morais, que me sejam necessárias. Sustentai-me nos momentos difíceis e com o vosso auxílio e o dos vossos celestes mensageiros esforçar-me-ei por corresponder às vossas vistas”.
(1) Edicão Lake
Nota do autor: esta matéria usou como referência a publicação Hippolyte Léon Denizard Rivail - O Perfil de um Mestre, elaborado pelo Centro Espírita “Esperança e Fé”, de Franca-SP, e reeditado pelo Centro Espírita “Caminho de Damasco”, de Garça-SP, com pequenas alterações do texto original, e utilizando como bibliografia as seguintes obras:
  1. Biografia de Allan Kardec, de Henry Sausse, edição LAKE;
  2. Grandes Espíritas do Brasil, de Zêus Wantuil, ed. FEB;
  3. Allan Kardec, de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, ed. FEB;
  4. Vida e Obra de Allan Kardec, de Canuto Abreu, ed. Edicel;
  5. Obras Postumas, de Allan Kardec, ed. LAKE;
  6. Revista Reformador, de 1952, ed. FEB;
  7. Narrações do Infinito, de Camile Flammarion, ed. FEB;
  8. Herculanun, de J. W. Rochester, ed. FEB.
Matéria publicada originariamente no jornal O Clarim, de outubro de 2004.

18 de abr. de 2014

Carta de Allan Kardec ao Príncipe G.



Autor: Allan Kardec

Príncipe,

Vossa Alteza honrou-me dirigindo-me várias perguntas referentes ao Espiritismo; vou tentar respondê-las, tanto quanto o permita o estado dos conhecimentos atuais sobre a matéria, resumindo em poucas palavras o que o estudo e a observação nos ensinaram a esse respeito. Essas questões repousam sobre os princípios da própria ciência: para dar maior clareza à solução, é necessário ter esses princípios presentes no pensamento; permita-me, pois, tomar a coisa de um ponto mais alto, colocando como preliminares certas proposições fundamentais que, de resto, elas mesmas servirão de resposta a algumas de vossas perguntas.

Há, fora do mundo corporal visível, seres invisíveis que constituem o mundo dos Espíritos.

Os Espíritos não são seres à parte, mas as próprias almas daqueles que viveram na Terra ou em outras esferas, e que deixaram seus envoltórios materiais.

Os Espíritos apresentam todos os graus de desenvolvimento intelectual e moral. Há, por conseqüência, bons e maus, esclarecidos e ignorantes, levianos, mentirosos, velhacos, hipócritas, que procuram enganar e induzir ao mal, como os há muitos superiores em tudo, e que não procuram senão fazer o bem. Essa distinção é um ponto capital.

Os Espíritos nos cercam sem cessar, com o nosso desconhecimento, dirigem os nossos pensamentos e as nossas ações, e por aí
influem sobre os acontecimentos e os destinos da Humanidade.

Os Espíritos, freqüentemente, atestam sua presença por efeitos materiais. Esses efeitos nada têm de sobrenatural; não nos parecem tal senão porque repousam sobre bases fora das leis conhecidas da matéria. Uma vez conhecidas essas bases, o efeito entra na categoria dos fenômenos naturais; é assim que os Espíritos podem agir sobre os corpos inertes e fazê-los mover sem o concurso de nossos agentes exteriores. Negar a existência de agentes desconhecidos, unicamente porque não são compreendidos, seria colocar limites ao poder de Deus, e crer que a Natureza nos disse sua última palavra.

Todo efeito tem uma causa; ninguém o contesta. É, pois, ilógico negar a causa unicamente porque seja desconhecida.

Se todo efeito tem uma causa, todo efeito inteligente deve ter uma causa inteligente. Quando se vê o braço do telégrafo fazer sinais que respondem a um pensamento, disso se conclui, não que esses braços sejam inteligentes, mas que uma inteligência fá-los moverem-se. Ocorre o mesmo com os fenômenos espíritas. Se a inteligência que os produz não é a nossa, é evidente que ela está fora de nós.

Nos fenômenos das ciências naturais, atua-se sobre a matéria inerte, que se manipula à vontade; nos fenômenos espíritas age-se sobre inteligências que têm seu livre arbítrio, e não estão submetidas à nossa vontade. Há, pois, entre os fenômenos usuais e os fenômenos espíritas uma diferença radical quanto ao princípio: por isso, a ciência vulgar é incompetente para julgá-los.

O Espírito encarnado tem dois envoltórios, um material que é o corpo, o outro semi-material e indestrutível que é o perispírito. Deixando o primeiro, conserva o segundo que constitui para ele uma espécie de corpo, mas cujas propriedades são essencialmente diferentes. Em seu estado normal, é invisível para nós, mas pode tornar-se momentaneamente visível e mesmo tangível: tal é a causa do fenômeno das aparições.

Os Espíritos não são, pois, seres abstratos, indefinidos, mas seres reais e limitados, tendo sua própria existência, que pensam e agem em virtude de seu livre arbítrio. Estão por toda parte, ao redor de nós; povoam os espaços e se transportam com a rapidez do pensamento.

Os homens podem entrar em relação com os Espíritos e deles receberem comunicações diretas pela escrita, pela palavra e por outros meios. Os Espíritos, estando ao nosso lado e podendo virem ao nosso chamado, pode-se, por certos intermediários, estabelecer com eles comunicações seguidas, como um cego pode fazê-lo com as pessoas que ele não vê.

Certas pessoas são dotadas, mais do que outras, de uma aptidão especial para transmitirem as comunicações dos Espíritos: são os médiuns. O papel do médium é o de um intérprete; é um instrumento do qual se servem os Espíritos: esse instrumento pode ser mais ou menos perfeito, e daí as comunicações mais ou menos fáceis.

Os fenômenos espíritas são de duas ordens: as manifestações físicas e materiais, e as comunicações inteligentes. Os efeitos físicos são produzidos por Espíritos inferiores; os Espíritos elevados não se ocupam mais dessas coisas quanto nossos sábios não se ocupam em fazerem grandes esforços: seu papel é de instruir pelo raciocínio.

As comunicações podem emanar de Espíritos inferiores, como de Espíritos superiores. Reconhecem-se os Espíritos, como os homens, pela sua linguagem: a dos Espíritos superiores é sempre séria, digna, nobre e marcada de benevolência; toda expressão trivial ou inconveniente, todo pensamento que choque a razão ou o bom senso, que denote orgulho, acrimônia ou malevolência, necessariamente, emana de um Espírito inferior.

Os espíritos elevados não ensinam senão coisas boas; sua moral é a do Evangelho, não pregam senão a união e a caridade, e jamais enganam. Os Espíritos inferiores dizem absurdos, mentiras, e, freqüentemente, grosserias mesmo.

A bondade de um médium não consiste somente na facilidade das comunicações, mas, sobretudo, na natureza das comunicações que recebe. Um bom médium é aquele que simpatiza com os bons Espíritos e não recebe senão boas comunicações.

Todos temos um Espírito familiar que se liga a nós desde o nosso nascimento, nos guia, nos aconselha e nos protege; esse Espírito é sempre bom.

Além do Espírito familiar, há Espíritos que são atraídos para nós por sua simpatia por nossas qualidades e nossos defeitos, ou por antigas afeições terrestres. Donde se segue que, em toda reunião, há uma multidão de Espíritos mais ou menos bons, segundo a natureza do meio.

Podem os Espíritos revelar o futuro?

Os Espíritos não conhecem o futuro senão em razão de sua elevação. Os que são inferiores não conhecem mesmo o seu, por mais forte razão o dos outros. Os Espíritos superiores o conhecem, mas não lhes é sempre permitido revelá-lo. Em princípio, e por um desígnio muito sábio da Providência, o futuro deve nos ser ocultado; se o conhecêssemos, nosso livre arbítrio seria por isso entravado. A certeza do sucesso nos tiraria o desejo de nada fazer, porque não veríamos a necessidade de nos dar ao trabalho; a certeza de uma infelicidade nos desencorajaria. Todavia, há casos em que o conhecimento do futuro pode ser útil, mas deles jamais podemos ser juizes: os Espíritos no-los revelam quando crêem útil e têm a permissão de Deus; fazem-no espontaneamente e não ao nosso pedido. E preciso esperar, com confiança a oportunidade, e sobretudo não insistir em caso de recusa, de outro modo se arrisca a relacionar-se com Espíritos levianos que se divertem às nossas custas.

Podem os Espíritos nos guiar, por conselhos diretos, nas coisas da vida?

Sim, eles o podem e o fazem voluntariamente. Esses conselhos nos chegam diariamente pelos pensamentos que nos sugerem. Freqüentemente, fazemos coisas das quais nos atribuímos o mérito, e que não são, na realidade, senão o resultado de uma inspiração que nos foi transmitida. Ora, como estamos cercados de Espíritos que nos solicitam, uns num sentido, os outros no outro, temos sempre o nosso livre arbítrio para nos guiar na escolha, feliz para nós quando damos a preferência ao nosso bom gênio.

Além desses conselhos ocultos, pode-se tê-los diretos por um médium; mas é aqui o caso de se lembrar dos princípios fundamentais que emitimos a toda hora. A primeira coisa a considerar é a qualidade do médium, senão o for por si mesmo. Médium que não tem senão boas comunicações, que, pelas suas qualidades pessoais não simpatiza senão com os bons Espíritos, é um ser precioso do qual podem-se esperar grandes coisas, se todavia for secundado pela pureza de suas próprias instruções e se tomadas convenientemente: digo mais, é um instrumento providencial.

O segundo ponto, que não é menos importante, consiste na natureza dos Espíritos aos quais se dirigem, e não é preciso crer que o primeiro que chegue possa nos guiar utilmente. Quem não visse nas comunicações espíritas senão um meio de adivinhação, e em um médium uma espécie de ledor de sorte, se enganaria estranhamente. É preciso considerar que temos, no mundo dos Espíritos, amigos que se interessam por nós, mais sinceros e mais devotados do que aqueles que tomam esse título na Terra, e que não têm nenhum interesse em nos bajular e em nos enganar. Além do nosso Espírito protetor, são parentes ou pessoas que se nos afeiçoaram em sua vida, ou Espíritos que nos querem o bem por simpatia. Aqueles vêm voluntariamente quando são chamados, e vêm mesmo sem que sejam chamados; temo-los, freqüentemente, ao nosso lado sem disso desconfiar. São aqueles aos quais pode-se pedir conselhos pela via direta dos médiuns, e que os dão mesmo espontaneamente sem que lhes peça. Fazem-no sobretudo n a intimidade, no silêncio, e então quando nenhuma influência venha perturbá-los: aliás, são muito prudentes, e não se tem a temer da sua parte uma indiscrição imprópria: eles se calam quando há ouvidos demais. Fazem-no, ainda com mais bom grado, quando estão em comunicação freqüente conosco; como eles não dizem as coisas senão com o propósito e segundo a oportunidade, é preciso esperar a sua boa vontade e não crer que, à primeira vista, vão satisfazer a todos os nossos pedidos; querem nos provar com isso que não estão às nossas ordens.

A natureza das respostas depende muito do modo como se colocam as perguntas; é preciso aprender a conversar com os Espíritos como se aprende a conversar com os homens: em todas as coisas é preciso a experiência. Por outro lado, o hábito faz com que os Espíritos se identifiquem conosco e com o médium, os fluidos se combinam e as comunicações são mais fáceis; então se estabelece, entre eles e nós, verdadeiras conversações familiares; o que não dizem num dia, dizem-no em outro; eles se habituam à nossa maneira de ser, como nós à sua: fica-se, reciprocamente, mais cômodo. Quanto à ingerência de maus Espíritos e de Espíritos enganadores, o que é o grande escolho, a experiência ensina a combatê-los, e pode-se sempre evitá-los. Se não se lhes expuser, não vêm mais onde sabem perder seu tempo.

Qual pode ser a utilidade da propagação das idéias espíritas?

O Espiritismo, sendo a prova palpável, evidente da existência, da individualidade e da imortalidade da alma, é a destruição do Materialismo. Essa negação de toda religião, essa praga de toda sociedade. O número dos materialistas que foram conduzidos a idéias mais sadias é considerável e aumenta todos os dias: só isso seria um benefício social. Ele não prova somente a existência da alma e sua imortalidade; mostra o estado feliz ou infeliz delas segundo os méritos desta vida. As penas e as recompensas futuras não são mais uma teoria, são um fato patente que se tem sob os olhos. Ora, como não há religião possível sem a crença em Deus, na imortalidade da alma, nas penas e nas recompensas futuras, se o Espiritismo conduz a essas crenças aqueles em que estavam apagadas, disso resulta que é o mais poderoso auxiliar das idéias religiosas: dá a religião àqueles que não a têm; fortifica-a naqueles em que ela é vacilante; consola pela certeza do futuro, faz aceitar com paciência e resig nação as tribulações desta vida, e afasta do pensamento do suicídio, pensamento que se repele naturalmente quando se lhe vê as conseqüências: eis porque aqueles que penetraram esses mistérios estão felizes com isso; é para eles uma luz que dissipa as trevas e as angústias da dúvida.

Se considerarmos agora a moral ensinada pelos Espíritos superiores, ela é toda evangélica, é dizer tudo: prega a caridade cristã em toda a sua sublimidade; faz mais, mostra a necessidade para a felicidade presente e futura, porque as conseqüências do bem e do mal que fizermos estão ali diante dos nossos olhos. Conduzindo os homens aos sentimentos de seus deveres recíprocos, o Espiritismo neutraliza o efeito das doutrinas subversivas da ordem social.

Essas crenças não podem ser um perigo para a razão?



Todas as ciências não forneceram seu contingente às casas de alienados? É preciso condená-las por isso? As crenças religiosas não estão ali largamente representadas? Seria justo, por isso, proscrever a religião? Conhecem-se todos os loucos que o medo do diabo produziu? Todas as grandes preocupações intelectuais levam à exaltação, e podem reagir lastimavelmente sobre um cérebro fraco; teria fundamento ver-se no Espiritismo um perigo especial a esse respeito, se ele fosse a causa única, ou mesmo preponderante, dos casos de loucura. Faz-se grande barulho de dois ou três casos aos quais não se daria nenhuma atenção em outra circunstância; não se levam em conta, ainda, as causas predisponentes anteriores. Eu poderia citar outras nas quais as idéias espíritas, bem compreendidas, detiveram o desenvolvimento da loucura. Em resumo, o Espiritismo não oferece, sob esse aspecto, mais perigo que as mil e uma causas que a produzem diariamente; digo mais, que ele as oferece muito menos, naq uilo que ele carrega em si mesmo seu corretivo, e que pode, pela direção que dá às idéias, pela calma que proporciona ao espírito daqueles que o compreende, neutralizar o efeito de causas estranhas. O desespero é uma dessas causas; ora, o Espiritismo, fazendo-nos encarar as coisas mais lamentáveis com sangue frio e resignação, nos dá a força de suportá-las com coragem e resignação, e atenua os funestos efeitos do desespero.

As crenças espíritas não são a consagração das idéias supersticiosas da Antigüidade e da Idade Média, e não podem recomendá-las?

As pessoas sem religião não taxam de superstição a maioria das crenças religiosas? Uma idéia não é supersticiosa senão porque ela é falsa; cessa de sê-lo se se torna uma verdade. Está provado que, no fundo da maioria das superstições, há uma verdade ampliada e desnaturada pela imaginação. Ora, tirar a essas idéias todo seu aparelho fantástico, e não deixar senão a realidade, é destruir a superstição: tal é o efeito da ciência espírita, que coloca a nu o que há de verdade ou de falso nas crenças populares. Por muito tempo, as aparições foram vistas como uma crença supersticiosa; hoje, que são um fato provado, e, mais que isso, perfeitamente explicado, elas entram no domínio dos fenômenos naturais. Seria inútil condená-las, não as impediria de se produzirem; mas aqueles que delas tomam conhecimento e as compreendem, não somente não se amedrontam, mas com elas ficam satisfeitos, e é a tal ponto que aqueles que não as têm desejam tê-las. Os fenômenos incompreendidos deixam o camp o livre à imaginação, são a fonte de uma multidão de idéias acessórias, absurdas, que degeneram em superstição. Mostrai a realidade, explicai a causa, e a imaginação se detém no limite do possível; o maravilhoso, o absurdo e o impossível desaparecem, e com eles a superstição; tais são, entre outras, as práticas cabalísticas, a virtude dos sinais e das palavras mágicas, as fórmulas sacramentais, os amuletos, os dias nefastos, as horas diabólicas, e tantas outras coisas das quais o Espiritismo, bem compreendido, demonstra o ridículo.

Tais são, Príncipe, as respostas que acreditei dever fazer às perguntas que me haveis dado a honra em me endereçar, feliz se elas podem corroborar as idéias que Vossa Alteza já possui sobre essas matérias, e vos levar a aprofundar uma questão de tão alto interesse; mais feliz ainda se meu concurso ulterior puder ser para vós de alguma utilidade.

Com o mais profundo respeito, sou, de Vossa Alteza, o muito humilde e muito obediente servidor,

Allan Kardec

16 de abr. de 2014

A Geração Nova



Autor: Allan Kardec

Para que na Terra sejam felizes os homens, preciso é que somente a povoem Espíritos bons, encarnados e desencarnados, que somente ao bem se dediquem. Havendo chegado o tempo, grande emigração se verifica dos que a habitam: a dos que praticam o mal pelo mal, ainda não tocados pelo sentimento do bem, os quais, já não sendo dignos do planeta transformado, serão excluídos, porque, senão, lhe ocasionariam de novo perturbação e confusão e constituiriam obstáculo ao progresso. Irão expiar o endurecimento de seus corações, uns em mundos inferiores, outros em raças terrestres ainda atrasadas, equivalentes a mundos daquela ordem, aos quais levarão os conhecimentos que hajam adquirido, tendo por missão fazê-las avançar. Substituí-los-ão Espíritos melhores, que farão reinem em seu seio a justiça, a paz e a fraternidade.
A Terra, no dizer dos Espíritos, não terá de transformar-se por meio de um cataclismo que aniquile de súbito uma geração. A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança alguma na ordem natural das coisas.
Tudo, pois, se processará exteriormente, como sói acontecer, com a única, mas capital diferença de que uma parte dos Espíritos que encarnavam na Terra aí não mais tornarão a encarnar. Em cada criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado e inclinado ao mal, que antes nela encarnaria, virá um Espírito mais adiantado e propenso ao bem.
Muito menos, pois, se trata de uma nova geração corpórea, do que de uma nova geração de Espíritos. Sem dúvida, neste sentido é que Jesus entendia as coisas, quando declarava: «Digo-vos, em verdade, que esta geração não passará sem que estes fatos tenham ocorrido.» Assim decepcionados ficarão os que contem ver a transformação operar-se por efeitos sobrenaturais e maravilhosos.

A época atual é de transição; confundem-se os elementos das duas gerações. Colocados no ponto intermédio, assistimos à partida de uma e à chegada da outra, já se assinalando cada uma, no mundo, pelos caracteres que lhes são peculiares.
Têm idéias e pontos de vista opostos as duas gerações que se sucedem. Pela natureza das disposições morais, porém sobretudo das disposições intuitivas e inatas, torna-se fácil distinguir a qual das duas pertence cada indivíduo.
Cabendo-lhe fundar a era do progresso moral, a nova geração se distingue por inteligência e razão geralmente precoces, juntas ao sentimento inato do bem e a crenças espiritualistas, o que constitui sinal indubitável de certo grau de adiantamento anterior. Não se comporá exclusivamente de Espíritos eminentemente superiores, mas dos que, já tendo progredido, se acham predispostos a assimilar todas as idéias progressistas e aptos a secundar o movimento de regeneração.
O que, ao contrário, distingue os Espíritos atrasados é, em primeiro lugar, a revolta contra Deus, pelo se negarem a reconhecer qualquer poder superior aos poderes humanos; a propensão instintiva para as paixões degradantes, para os sentimentos antifraternos de egoísmo, de orgulho, de inveja, de ciúme; enfim, o apego a tildo o que é material: a sensualidade, a cupidez, a avareza.
Desses vícios é que a Terra tem de ser expurgada pelo afastamento dos que se obstinam em não emendar-se; porque são incompatíveis com o reinado da fraternidade e porque o contacto com eles constituirá sempre um sofrimento para os homens de bem. Quando a Terra se achar livre deles, os homens caminharão sem óbices para o futuro melhor que lhes está reservado, mesmo neste mundo, por prêmio de seus esforços e de sua perseverança, enquanto esperem que uma depuração mais completa lhes abra o acesso aos mundos superiores.
Não se deve entender que por meio dessa emigração de Espíritos sejam expulsos da Terra e relegados para mundos inferiores todos os Espíritos retardatários. Muitos, ao contrário, aí voltarão, porquanto muitos há que o são porque cederam ao arrastamento das circunstâncias e do exemplo. Nesses, a casca é pior do que o cerne. Uma vez subtraídos à influência da matéria e dos prejuízos do mundo corporal, eles, em sua maioria, verão as coisas de maneira inteiramente diversa daquela por que as viam quando em vida, conforme os múltiplos casos que conhecemos. Para isso, têm a auxiliá-los Espíritos benévolos que por eles se interessam e se dão pressa em esclarecê-los e em lhes mostrar quão falso era o caminho que seguiam. Nós mesmos, pelas nossas preces e exortações, podemos concorrer para que eles se melhorem, visto que entre mortos e vivos há perpétua solidariedade.
É muito simples o modo por que se opera a transformação, sendo, como se vê, todo ele de ordem moral, sem se afastar em nada das leis da Natureza.
Sejam os que componham a nova geração Espíritos melhores, ou Espíritos antigos que se melhoraram, o resultado é o mesmo. Desde que trazem disposições melhores, há sempre uma renovação. Assim, segundo suas disposições naturais, os Espíritos encarnados formam duas categorias: de um lado, os retardatários, que partem; de outro, os progressistas, que chegam. O estado dos costumes e da sociedade estará, portanto, no seio de um povo, de uma raça, ou do mundo inteiro, em relação com aquela das duas categorias que preponderar.
Uma comparação vulgar ainda melhor dará a compreender o que se passa nessa circunstância. Figuremos um regimento composto na sua maioria de homens turbulentos e indisciplinados, os quais ocasionarão nele constantes desordens que a lei penal terá por vezes dificuldades em reprimir. Esses homens são os mais fortes, porque mais numerosos do que os outros. Eles se amparam, animam e estimulam pelo exemplo. Os poucos bons nenhuma influência exercem; seus conselhos são desprezados; sofrem com a companhia dos outros, que os achincalham e maltratam. Não é essa uma imagem da sociedade atual?
Suponhamos que esses homens são retirados um a um, dez a dez, cem a cem, do regimento e substituídos gradativamente por iguais números de bons soldados, mesmo por alguns dos que, já tendo sido expulsos, se corrigiram. Ao cabo de algum tempo, existirá o mesmo regimento, mas transformado. A boa ordem terá sucedido à desordem.
As grandes partidas coletivas, entretanto, não têm por único fim ativar as saídas; têm igualmente o de transformar mais rapidamente o espírito da massa, livrando-a das más influências e o de dar maior ascendente às idéias novas.
Por estarem muitos, apesar de suas imperfeições, maduros para a transformação, é que muitos partem, a fim de apenas se retemperarem em fonte mais pura. Enquanto se conservassem no mesmo meio e sob as mesmas influências, persistiriam nas suas opiniões e nas suas maneiras de apreciar as coisas. Uma estada no mundo dos Espíritos bastará para lhes descerrar os olhos, por isso que aí vêem o que não podiam ver na Terra. O incrédulo, o fanático, o absolutista, poderão, conseguintemente, voltar com idéias inatas de fé, tolerância e liberdade. Ao regressarem, acharão mudadas as coisas e experimentarão a influência do novo meio em que houverem nascido. Longe de se oporem às novas idéias, constituir-se-ão seus auxiliares.

A regeneração da Humanidade, portanto, não exige absolutamente a renovação integral dos Espíritos: basta uma modificação em suas disposições morais. Essa modificação se opera em todos quantos lhe estão predispostos, desde que sejam subtraídos à influência perniciosa do mundo. Assim, nem sempre os que voltam são outros Espíritos; são com freqüência os mesmos Espíritos, mas pensando e sentindo de outra maneira.
Quando insulado e individual, esse melhoramento passa despercebido e nenhuma influência ostensiva alcança sobre o mundo. Muito outro é o efeito, quando a melhora se produz simultaneamente sobre grandes massas, porque, então, conforme as proporções que assuma, numa geração, pode modificar profundamente as idéias de um povo ou de uma raça.
É o que quase sempre se nota depois dos grandes choques que dizimam as populações. Os flagelos destruidores apenas destroem corpos, não atingem o Espírito; ativam o movimento de vaivém entre o mundo corporal e o mundo espiritual e, por conseguinte, o movimento progressivo dos Espíritos encarnados e desencarnados. É de notar-se que em todas as épocas da História, às grandes crises sociais se seguiu uma era de progresso.

Opera-se presentemente um desses movimentos gerais, destinados a realizar uma remodelação da Humanidade. A multiplicidade das causas de destruição constitui sinal característico dos tempos, visto que elas apressarão a eclosão dos novos germens. São as folhas que caem no outono e às quais sucedem outras folhas cheias de vida, porquanto a Humanidade tem suas estações, como os indivíduos têm suas várias idades. As folhas mortas da Humanidade caem batidas pelas rajadas e pelos golpes de vento, porém, para renascerem mais vivazes sob o mesmo sopro de vida, que não se extingue, mas se purifica.
Para o materialista, os flagelos destruidores são calamidades carentes de compensação, sem resultados aproveitáveis, pois que, na opinião deles, os aludidos flagelos aniquilam os seres para sempre. Para aquele, porém, que sabe que a morte unicamente destrói o envoltório, tais flagelos não acarretam as mesmas consequências e não lhe causam o mínimo pavor; ele lhes compreende o objetivo e não ignora que os homens não perdem mais por morrerem juntos, do que por morrerem isolados, dado que, duma forma ou doutra, a isso hão de todos sempre chegar.
Os incrédulos rirão destas coisas e as qualificarão de quiméricas; mas, digam o que disserem, não fugirão à lei comum; cairão a seu turno, como os outros, e, então, que lhes acontecerá? Eles dizem: Nada! Viverão, no entanto, a despeito de si próprios e se verão, um dia, forçados a abrir os olhos.

Livro: A Gênese, cap. 18 - Sinais dos Tempos -.