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12 de fev. de 2021

Autoperdão e obsessão

 



O emprego do autoperdão vem recebendo viva atenção nos meios espíritas: em palestras nos centros, transmissões ao vivo, as quais são disponibilizadas na WEB, artigos, entrevistas, ou seja, nos mais variados meios de divulgação e comunicação.
Rogério Miguez 

Tema realmente oportuno e relevante, com eficazes resultados para os seus reais utilizadores, pois pode proporcionar, quando pertinente, o reencontro com a paz interior, momentaneamente perdida pelo cometimento de graves atos e condutas perpetrados pelo infrator, distanciados do correto ordenamento divino.

Entretanto, é imperioso esclarecer que no desenrolar da existência, não há receitas mágicas, tudo desenvolve-se através do merecimento e do aproveitamento das lições oferecidas pela vida, traduzidas pelo resultado das boas obras efetivamente realizadas, ou seja: não há a lei do menor esforço.

Sem perceberem ter o emprego do autoperdão alcance e efeitos muito bem delineados, alguns iludem-se acreditando em poder, pelo uso continuado deste recurso, escapar das inevitáveis consequências de suas obras levianas, às vezes mesmo, maldosas.

Uma das possíveis formas de, infelizmente, autoenganar-se, alguns por desconhecimento, outros às vezes mesmo tentando subtrair-se das implicações de anteriores atitudes cometidas irrefletidamente, o indivíduo autoperdoa-se, na expectativa de poder iniciar nova caminhada livre do sentimento de culpa, sem nenhuma necessidade de expiar e reparar o mal realizado.

O autoperdão é uma ferramenta a ser utilizada em casos contundentes, onde o descumpridor dos eternos princípios divinos, se vê acuado diante de sua conduta, não encontra respaldo e apoio junto a seus amigos e familiares, e, diante de uma pressão interna cada vez maior, o autoperdão apresenta-se como uma válvula de alívio da insuportável pressão interna, permitindo ao que sofre as consequências do remorso e arrependimento profundos, reorganizar-se, tendo condições de retomar sua marcha evolutiva.

Eventualmente, o conflito interno experienciado pelo transgressor pode ser acentuado pela atuação incisiva de um Espírito ainda desorientado – o chamado obsessor - que, por razões diversas, ligou-se mentalmente ao transgressor da lei e, através de continuadas más sugestões especificamente direcionadas à questão em foco, martiriza ainda mais a vítima, fazendo crer que o delito foi gravíssimo, não havendo desculpa para o feito, em suma: o agressor cometeu uma falta irremissível.

Nesta situação, poder-se-ia argumentar que o autoperdão seria a solução ideal, liberando o obsidiado desta incômoda situação.

É fato que o autoperdão sincero, por parte daquele que se considera pecador, o ajuda muitíssimo a conviver com as consequências da ação indevida. Entretanto, se o vínculo obsessivo se estabeleceu por conta de uma prejudicial conduta direta ao Espírito desencarnado, por exemplo, a prática de um abortamento, o futuro reencarnante que se viu impedido de voltar ao mundo material poderá, se assim o decidir, iniciar um processo obsessivo, tentando vingar-se. Neste caso, apenas o autoperdão terá pouca ou nenhuma serventia para interromper o assédio do obsessor.

O único caminho com o poder de aliviar a vítima de seu algoz, nesta particular situação, seria a mudança de atitude do infrator, neste caso a mãe que, em geral, já havia prometido previamente, antes de reencarnar, receber aquele particular Espírito para uma jornada em nova existência familiar.

E qual seria a conduta adequada em um caso como o descrito, além de autoperdoar-se? Certamente a mãe poderia voltar-se a atividades envolvendo crianças sem pais, um orfanato, por exemplo, dedicando-se a cuidar de filhos alheios.

Outra opção seria assumir a manutenção material de uma criança abandonada em uma ONG dedicada a este tipo de atividade, suportando as despesas materiais que este órfão necessita para viver sob a tutela desta organização filantrópica. Não há necessidade em absoluto de levar a criança escolhida para a própria residência, pois muitas mães nem podem (possuem jornadas de trabalho extensas), é suficiente o compromisso de cuidar do filho alheio, com dedicação e responsabilidade.

Em nosso país é difundida a prática da contratação de serviços domésticos ajudando no funcionamento de um lar. Em muitos casos, esta pessoa que nos ajuda, a chamada diarista, possui filhos. Por qual razão não “adotar” estas crianças, caso os contratantes possuam recursos suficientes, provendo material escolar, brinquedos, vestimentas, ou mesmo algum apoio na alimentação destes filhos alheios?

O obsessor precisa observar um comportamento altruísta da mãe em relação ao próximo; isto é que o motiva a desfazer o laço obsessivo.

Entres tantas obras espíritas orientando neste sentido, podemos recordar literatura do século passado, onde se lê uma orientação geral para desanuviar as mentes culpadas:1

“Para desobstruir o caminho de nossa consciência culpada, devemos favorecer a libertação dos que suportam fardos mais pesados que os nossos, porque ajudando aos nossos semelhantes angariaremos o auxílio deles, fazendo-nos, ao mesmo tempo, credores do amparo daqueles Irmãos Maiores que nos estendem próvidos braços da Vida Superior”.

Em um caso de abortamento, quando a mãe desconhece as graves implicações desta conduta, a situação pode ser plenamente contornada por uma nova gravidez, quando, às vezes, o próprio Espírito não aceito no passado, pode apresentar-se mais uma vez para um novo tentame reencarnatório.

Este exemplo pode se estender a outras situações onde o transgressor da lei divina, por meio de uma simples atitude de autoperdoar-se, não logrará sucesso em acalmar-se internamente, e precisará agir de acordo com o delito perpetrado, reparando o mal realizado, e, certamente, a misericórdia de Deus sempre ajudará neste intento. 


Referência:

1 XAVIER, Francisco C. Instruções psicofônicas. Espíritos Diversos. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1955. cap. XII. Ante a reencarnação.

11 de fev. de 2021

Transtornos Mentais e Obsessão

 



Leopoldo Balduino, no livro “Psiquiatria e Mediunismo”, fala a respeito das manifestações psicopatológicas que, segundo pensamos, podem ser causadas ou intensificadas pela patologia da obsessão.

(p.65) O autor espiritual André Luiz confirma essa continuidade de corpo-mente em níveis bioquímicos ao afirmar que “nos traumas cerebrais da cólera, do colapso nervoso, da epilepsia e da esquizofrenia, como tantas outras condições anômalas da personalidade, vamos encontrar essas mesmas fermentações no campo das células, mas em caráter de energias degeneradas, que correspondem às turvações mentais que as provocam”.

Aqui poderia estar a causa primária de grande número de alterações psíquicas, inclusive das obscuras psicoses endógenas, até hoje impenetráveis à análise fenomenológica.

(p.70) A Posição Espírita vai além, ao advogar também a existência de elementos inconscientes localizados no corpo espiritual, com todo o repositório das experiências e vivências das encarnações pretéritas, além, é claro, das vividas no plano espiritual. De acordo com ela, as forças dinâmicas oriundas do inconsciente espiritual tanto podem ser de natureza positiva, saudável, tais como tendências, idéias ou habilidades inatas, como de natureza morbígena. Os gênios precoces, como Wolfgang A. Mozart, seriam um exemplo de vidas pregressas altamente evoluídas. Crianças portadoras de distúrbios, tais como autismo infantil , psicoses infantis, etc., podem representar o segundo grupo.

(p.88) Como, de acordo com a Posição Espírita, tais quadros ideativos delirante-alucinatórios podem ser encontrados também em personalidades espirituais, desprovidas de corpo físico, deduz-se que alguns quadros de natureza psicopatogênica têm o seu lócus no cérebro perispiritual. Provavelmente esse seria o caso das graves psicoses endógenas, as quais não demonstraram seus segredos às pesquisas anatomopatológicas, como já foi explicitado.

Alguns fenomenologistas interpretam esse transtorno no ato de integração significativa como secundário a um grave transtorno do eu. (...) Contudo, de acordo com Jung, o ego não seria mais que um complexo psicológico que, através do processo de individuação, pode ser dispensado, transferindo o foco da consciência para níveis mais interiores. (...) Contudo também é possível a existência de subpersonalidades inconscientes, fruto do processo de dissociação da consciência, ou ainda resquícios de vidas passadas.

(p.89) Assim, quando se diz que o significado de um delírio primário é não só estranho como impenetrável, deve-se tomar essa afirmativa como relativa à história pregressa da atual existência. Essa impenetrabilidade pode ser desfeita ao se considerar a possibilidade de eventos desencadeantes oriundos do plano espiritual ou do inconsciente espiritual, onde ficam armazenadas, segundo a Posição Espírita, todas as experiências da série insondável das anteriores encarnações. Além do mais, existe o estranho fenômeno das personalidades intrusas, ocasionando as denominadas obsessões espirituais.

Redação do Blog Espiritismo Na Rede 

7 de mai. de 2019

COMO IDENTIFICAR OS SINTOMAS FÍSICOS DE OBSESSÃO ESPIRITUAL?


É possível identificar os sintomas físicos de obsessão espiritual sem ajuda de um médium?
Sim, é possível! Mas não é algo simples de identificar. Os sintomas físicos de uma obsessão espiritual podem variar muito. Existem uma infinidade de sintomas que uma pessoa pode ter, caso submetida a um processo obsessivo.

Outro problema é que nem sempre este processo é rápido, pois muitas vezes o estado obsessivo é insidioso, ou seja, vai se completando aos poucos, e em seu estado mais crônico, o obsidiado pode estar bem debilitado ou disperso do seu estado, ou seja, ele não se dá conta dos sintomas, pois sua atenção estará voltada para outra questão.

Podemos, ainda, considerar o fato de “quem é o obsessor?”. Seria uma entidade com muitos conhecimentos sobre os processos obsessivos? ou seria um espírito mais ignorante, que pouco conhece suas faculdades e obsedia o indivíduo sem intenção de fazê-lo de fato?

Parecem ser perguntas bobas, mas elas podem fazer a diferença na hora de identificar sintomas físicos de obsessão espiritual. O espírito que o faz conscientemente e usa as ferramentas que ele sabe que são necessárias, logicamente saberá exatamente onde dispersar tais energias de baixa vibração, causando os sintomas que ele mesmo definiu como objetivo.

Pelo fato desses sintomas físicos se confundirem muito com situações não-obsessivas, torna interessante a presença do enfermo nos templos de oração (centros espíritas, por exemplo, no caso de uma pessoa espírita), não somente para que possa ser feita uma identificação mais precisa, mas também para um tratamento energético mais incisivo.

Outro motivo interessante é que a identificação desses sintomas poderia, sim, ser feita sem a presença de uma pessoa dotada de mediunidade, mas que a vítima do processo obsessivo tivesse um conhecimento mais apurado do assunto, ou seja, que saiba ou que tenha uma vivência dentro da área de discussão das obsessões, amplamente discutida dentro dos estudos espíritas.

Seja para identificação ou tratamento, com conhecimento ou não, nosso Mestre Jesus já nos advertia: “Orai e vigiai para não cairdes em tentação”.

Quais os sintomas físicos de obsessão espiritual mais comuns?

Existem vários sintomas comuns e que podem ser divididos categoricamente pela distribuição dos sistemas do organismo humano.

Sintomas no sistema nervoso: Irritação por pequenas coisas ou sem motivo aparente; tristeza sem motivo; pensamentos negativos repetitivos obsessivos; ansiedade generalizada; quadros depressivos (tristeza que dura várias semanas); pânico (síndrome do pânico); delírio; comportamento agressivo ou mudanças repentinas de comportamento; lentidão do raciocínio lógico; falta de concentração; ideias suicidas; dormência em partes do corpo; Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC); Bipolaridade; Esquizofrenia.

Sistema muscular: fraqueza corporal repentina e duradoura; dores musculares pontuais ou distribuídas pelo corpo todo

Outros: dores de cabeça; enxaquecas constantes; náuseas; vômitos; dores no estômago; pesadelos constantes.

Existem muitos outros, mas poderíamos passar horas listando, pois como dito, tudo depende da intenção do obsessor, que pode objetivar sintomas muito específicos, que nem mesmo tenha a ver com a saúde em si, mas que podem ser identificados na vida social das vítimas: dificuldades financeiras aparentemente sem fim, dificuldades de se relacionar com as pessoas etc.

Quais os sintomas e sinais físicos da chamada “obsessão espiritual complexa”?

Na literatura temos muitos exemplos desse tipo de obsessão e a descrição das suas causas. Um desses relatos está na obra Aruanda, escrita pelo médium Robson Pinheiro e ditada pelo espírito Ângelo Inácio.


No trecho abaixo, o espírito de João Cobú explica para Ângelo detalhadamente esse tipo de obsessão. Ambos estão observando o trabalho minucioso dos “cientistas das trevas”, como chamam espíritos que se dedicam a criar tecnologias para propósitos de obsessão espiritual à distância:

— Estamos num laboratório, meu filho — falou pausadamente. — Creio que você pode imaginar o que se passa por aqui. Cientistas com objetivos sombrios se encontram neste, recanto, encoberto pelas rochas e cavernas, e armam as bases de suas operações. Desenvolvem aqui uma tecnologia diabólica, já que têm a disposição a força mental e o tipo de matéria fluídica necessária, abundante no plano astral.

— De posse desses elementos, tudo fica mais fácil na execução de seus planejamentos. Criam chips, implantes e outros tipos de aparelhos microscópicos, que poderão ser utilizados para atender a diversas solicitações, envolvendo processos obsessivos complexos. A tônica de grande parte dos aparelhos é sua atuação no sistema nervoso de suas vítimas, onde despejam, ou melhor, minam uma carga tóxica ou fluido mórbido, em caráter mais ou menos regular.

— Outros são implantados no duplo etérico, a partir do qual determinam o colapso das energias vitais de seus hospedeiros. Há ainda modelos destinados a implantes no perispírito de suas cobaias, os quais podem levar ao coma e, em casos mais graves e duradouros, ao desencarne de suas vítimas.

Como vimos, o implante desses chips no perispírito dos encarnados podem levar a serias consequências. Sejam emitir estímulos que lhes provoquem dores, que emitam sentimentos, pensamentos ou emoções deletérias e, até quem sabe, lhes conduzir ao desencarne.

16 de out. de 2016

Como evitar a obsessão


A perniciosa influência de um Espírito obsessor pode levar a criatura humana ao estado depressivo, e até mesmo ao suicídio. A pessoa sente vontade de chorar, sem motivo algum; passa a ter sentimentos de tristeza, desânimo e idéia fixa em situações deprimentes; e, por fim, pode ter a idéia de se matar. Há inclusive casos em que o obsidiado sente vontade de beber, fumar ou de usar outras drogas compulsivamente.

É bom esclarecer que no mundo espiritual tanto vivem os bons quanto os maus Espíritos, influenciando as criaturas humanas no dia-a-dia. Os bons nos ajudam e nos influenciam para o bem, como, por exemplo, o benfeitor espiritual Bezerra de Menezes, que foi bondoso médico na Terra e continua nos ajudando espiritualmente por amor ao Cristo.

Já os maus Espíritos podem influenciar os encarnados com as suas vibrações malévolas e pensamentos negativos, desde que a pessoa abra brechas através de sua má conduta. Eles agem pelo desejo de vingança, ou pela vontade simplesmente de absorverem as emanações fluídicas de pessoas que fazem uso de bebidas alcoólicas, ou de outras drogas.

Por isso mesmo é que, em todos os casos nos quais há tais influências espirituais obsessivas, a prece direta a Deus é o mais poderoso meio que está à disposição do obsidiado. Aliás, Allan Kardec, n’O Evangelho segundo o Espiritismo, apresenta diversas preces que podem ser feitas por eles.

O processo obsessivo é sempre bilateral, ou seja, é a própria pessoa encarnada que oferece campo para o Espírito obsessor agir. Não basta, portanto, o Espírito obsessor desejar fazer o mal ou induzir a pessoa ao erro se ela estiver vigilante, pois o Espírito nada conseguirá.

Enfim, para a pessoa se libertar das malignas companhias, ela, além de orar, precisa também mudar seu comportamento moral. A primeira coisa a fazer é seguir a recomendação de Jesus, ou seja, perdoar os inimigos. Também é importante praticar a caridade, e abandonar todos os vícios. Afinal, quem muda seu proceder para o bem atrai para si a companhia dos bons Espíritos, liberta-se dos maus e, com isso, consegue a cura da obsessão.

GERSON SIMÕES MONTEIRO

2 de dez. de 2013

A Criança Obsidiada

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“Aliás, não é racional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Não se vê em crianças dotadas dos piores instintos, numa Idade em que ainda nenhuma influência pode ter tido a educação?
Donde a precoce perversidade, senão da inferioridade do Espírito, uma vez que a educação em nada contribuiu para isso?” (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec questão 199-a.)
Crianças obsidiadas suscitam em nós os mais profundos sentimentos de solidariedade e comiseração.
Tal como acontece ante as demais enfermidades que atormentam as crianças, também sentimos ímpetos de protegê-las e aliviá-las, desejando mesmo que nada as fizesse sofrer.
Pequeninos seres que se nos apresentam torturados, inquietos, padecentes de enfermidades impossíveis de serem diagnosticadas, cujo choro aflito ou nervoso nos condói e impele à prece imediata em seu benefício, são muita vez obsidiados de berço. Outros se apresentam sumamente irrequietos, irritados desde que abrem os olhos para o mundo carnal. Ao crescer, apresentar-se-ão como crianças-problemas, que a Psicologia em vão procura entender e explicar.
São crianças que já nascem aprisionadas — aves implumes em gaiolas sombrias —, trazendo nos olhos as visões dos panoramas apavorantes que tanto as inquietam. São reminiscências de vidas anteriores ou recordações de tormentos que sofreram ou fizeram sofrer no plano extrafísico, antes de serem encaminhadas para um novo corpo. Conquanto a nova existência terrestre se apresente difícil e dolorosa, ela é, sem qualquer dúvida, bem mais suportável que os sofrimentos que padeciam antes de reencarnar.
O novo corpo atenua bastante as torturas que sofriam, torturas estas que tinham as suas nascentes em sua própria consciência que o remorso calcinava. Ou no ódio e revolta em que se consumiam.
E as bênçãos de oportunidades com que a reencarnação lhes favorece poderão ser a tão almejada redenção para essas almas conturbadas.
A Misericórdia Divina oferecerá a tais seres instantes de refazimento, que lhes chegarão por vias indiretas e, sobretudo, reiterados chamamentos para que se redimam do passado, através da resignação, da paciência e da humildade.
Na obra “Dramas da Obsessão”, Bezerra de Menezes narra a vida de Leonel, que desde a infância apresentou crises violentas, evidenciando a quase possessão por desafetos do pretérito. Este mesmo Leonel, já adulto e casado, acompanhou a espinhosa existência de sua filha Alcina, que como ele era obsidiada desde o berço.
Crianças que padecem obsessões devem ser tratadas em nossas instituições espíritas através do passe e da água fluidificada, e é imprescindível que lhes dispensemos muita atenção e amor, a fim de que se sintam confiantes e seguras em nosso meio. Tentemos cativá-las com muito carinho, porque somente o amor conseguirá refrigerar essas almas cansadas de sofrimentos, ansiando por serem amadas.
Fundamental, nesses casos, a orientação espírita aos pais, para que entendam melhor a dificuldade que experimentam, tendo assim mais condições de ajudar o filho e a si próprios, visto que são, provavelmente, os cúmplices ou desafetos do pretérito, agora reunidos em provações redentoras. Devem ser instruídos no sentido de que façam o Culto do Evangelho no Lar, favorecendo o ambiente em que vivem com os eflúvios do Alto, que nunca falta àquele que recorre à Misericórdia do Pai.
A criança deve ser levada às aulas de Evangelização Espírita, onde os ensinamentos ministrados dar-lhe-ão os esclarecimentos e o conforto de que tanto carece.
O número de crianças obsidiadas tem aumentado consideravelmente. Há bem pouco tempo chegaram às nossas mãos, quase simultaneamente, cinco pedidos de orientação a crianças que se apresentavam todas com a mesma problemática de ordem obsessiva.
Um desses casos era gravíssimo.
Certa criança de três anos e alguns meses vinha tentando o suicídio das mais diferentes maneiras, o que lhe resultara, inclusive, ferimentos: um dia, jogou-se na piscina; em outro, atirou-se do alto do telhado, na varanda de sua casa; depois, quis atirar-se do carro em movimento, o que levou os familiares a vigiá-la dia e noite. Seu comportamento, de súbito, tornou-se estranho, maltratando especialmente a mãe, a quem dirigia palavras de baixo calão que os pais nunca imaginaram ser do seu conhecimento.
Foram feitas reuniões de desobsessão em seu benefício, quando se verificaram as origens do seu estado atual. Atormentada por muitos obsessores, seu comprometimento espiritual é muito sério.
As outras crianças mencionadas tinham sintomas semelhantes: acordavam no meio da noite, inconscientes, gritando, falando e rindo alto, não atendiam e nem respondiam aos familiares, nem mesmo dando acordo da presença destes.
Todas são menores de cinco anos.
Com a terapêutica espírita completa, essas crianças melhoraram sensivelmente, sendo que três retornaram ao estado normal.
por Suely Caldas Schubert, Do livro: Obsessão e Desobsessão.

10 de set. de 2013

A OBESIDADE DIANTE DA OBSESSÃO, DO VAMPIRISMO E DA AUTO-OBSESSÃO

obesidadeNo Brasil, as doenças relacionadas à obesidade custam aos cofres públicos quase 500 milhões de reais, anualmente, segundo levantamento realizado pela UnB – Universidade de Brasília. Outra Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2009 assinalou que 21,7% dos brasileiros, na faixa etária entre 10 e 19 anos, apresentam obesidade. Ao todo, há quase 15 milhões de brasileiros rechonchudos. O número equivale a quase metade dos gordos existentes nos Estados Unidos. (1)
Estamos perante uma epidemia mundial. O governo de Dubai (Emirados Árabes Unidos) está oferecendo ouro (isso mesmo, ouro!) como recompensa para incentivar as pessoas a perderem peso e levarem um estilo de vida mais saudável. Para cada quilograma perdido, os participantes receberão um grama de ouro, que atualmente vale em torno de quarenta e cinco dólares (cerca de cem reais), mas para receber o prêmio é necessário perder no mínimo dois quilogramas. O programa de governo árabe reflete o aumento da preocupação das autoridades dos países do Golfo Pérsico com a taxa crescente de obesidade da população devido à vida sedentária e consumo descomunal de alimentos fast-food. (2)
Pesquisando aqui e alhures sobre a “obesidade”, esbarramos com alguns textos curiosos, que inobstante excêntricos, revelaram-se atraentes. A exemplo do texto de Andrew Oitke, um suposto catedrático de Antropologia, em Harvard, que teria divulgado o livro “Mental Obesity” (!?)…(3), que segundo os leitores, tem insurgido contra as áreas da educação, jornalismo e relações sociais em geral. O hipotético livro “Obesidade mental” consigna, dentre outros incisivos contextos, que décadas atrás a humanidade tomou consciência dos perigos do excesso de gordura física por causa da alimentação desregrada. Todavia, e poucos se dão conta, há abusos no campo da informação e conhecimento que estão criando problemas tão ou mais sérios que adiposidade física.
A sociedade está mais empanturrada de preconceitos que de gorduras protéicas; mais intoxicada de lugares-comuns que de hidratos de carbono. Os cozinheiros desta volumosa “fast food” intelectual são os jornalistas e colunistas, os editores da informação e filósofos, os romancistas e diretores de cinema. Nessas dantescas perversões alimentares, os telejornais e telenovelas são os hamburgers do espírito, as revistas e romances são os pudins da imaginação. Com uma “alimentação intelectual” tão carregada de adrenalina, romance, violência e emoção, é normal que as pessoas nunca consigam uma vida saudável e equilibrada depois de ingeri-la.
Notemos: um jornalista alimenta-se hoje quase exclusivamente de cadáveres de reputações, de detritos de escândalos, de restos mortais das realizações humanas. A informação das pessoas aumentou, mas é um conjunto de banalidades. Não é surpresa que, no meio da prosperidade e abundância, as grandes realizações do espírito humano estejam em decadência. A família é contestada, a tradição esquecida, a educação abandonada, a cultura banalizada, o folclore entrou em queda, a arte é fútil, paradoxal ou doentia. Floresce a pornografia, a arrogância, a imitação, a insipidez, o egoísmo. O homem moderno está adiposo no raciocínio, gostos e sentimentos. Cremos que a sociedade precisa menos de passeatas, reformas, desenvolvimento, progressos do que de dieta mental.
Voltemos ao tema. A obesidade é uma doença crônica, grave, de custos elevados em todas as áreas da existência humana – individual e social. Especialmente a do tipo visceral está associada ao diabetes mellitus e a doenças coronarianas em homens e em mulheres. Os níveis crescentes de sobrepeso estão associados à incidência aumentada de alterações endócrincas, artrite de mãos e joelhos, doenças de vesícula biliar, apneia do sono, alterações dos lipídeos sanguíneos, alterações da coagulação e alguns tipos de neoplasias, como câncer de mama e de endométrio em mulheres, e câncer de cólon em homens.
Do ponto de vista espírita, cremos que a obesidade pode decorrer de fatores genéticos preponderantes e até mesmo das influências de espíritos vingativos. Embora a obesidade não seja classificada como um transtorno psiquiátrico, entendemos que a extensão dos efeitos da obsessão pertinaz (vampirismo) pode induzir a transtornos psíquicos levando o obsedado à ingestão exagerada de alimentos e acentuar-lhe os problemas emocionais (ansiedade, temores e fobias).
Allan Kardec, em o Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 28, define obsessão como sendo a “ação persistente que um Espírito mau exerce sobre um indivíduo.” (4) A obsessão é sempre um processo mantido, contínuo, persistente em que as forças em demanda estão se afrontando num processo bem estabelecido. O obsessor estará atuando sobre o encarnado em alguns flancos: mente a mente, através da constrição mental; perispírito a períspirito, através do envolvimento fluídico que poderá levar o corpo físico a degenerar.
Comer exageradamente pode induzir alguém à obsessão (vampirismo). A gula pode ser matriz de obsessão relacionada à satisfação de vícios e paixões. “Vampiro”, na definição de André Luiz, “é toda entidade ociosa que se vale indevidamente das energias alheias”. (5) A vampirização ocorre através de espíritos corrompidos, apegados a certas emoções materializadas, quando se aproximam dos encarnados, portadores dos mesmos vícios, para sugarem as suas emanações vitais. Destarte, a atitude de fumar, beber em excesso, falar mal dos outros (maledicência), da agressividade, da avareza, da sensualidade, da ingestão exagerada de alimento poderá estabelecer vínculos com entidades vampirizadoras, sugadoras das energias essenciais do obsedado.
Há ainda as obsessões anímicas, que são causadas por uma influência mórbida residente na mente do próprio paciente. Por causa de vícios de comportamento, ele cultiva de forma doentia pensamentos que causam desequilíbrio em sua área emocional. Muitas tendências auto-obsessivas são provenientes de experiências infelizes ligadas a vidas passadas. Angústia, depressão, mania de perseguição ou carências inexplicadas podem fazer parte de processos auto-obsessivos.
O auto-obsediado costuma fechar-se em seus pensamentos negativos e não encontra forças para sair dessa situação constrangedora. Esse posicionamento mental atrai Espíritos vingativos que, sintonizados na mesma faixa psíquica, agravam a situação. Não podemos olvidar que a imprudência e o ócio se responsabilizam por múltiplas enfermidades, como sejam obesidade, os desastres circulatórios provenientes da gula, as infecções tomadas à carência de higiene, os desequilíbrios nervosos nascidos da toxicomania e a exaustão decorrente de excessos vários. De modo geral, porém, a etiologia das moléstias perduráveis que afligem o corpo físico e o dilaceram guarda no corpo espiritual uma das suas matrizes.
Jorge Hessen
Retirado do site: aluznamente.com.br
Referências bibliográficas:
(1) Disponível em http://aconteceemsergipe.blogspot.com.br/2013/03/doencas-associadas-obesidade-custam.html acesso em 17/08/13
(2) Disponível em http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/07/130719_peso_ouro_obesidade_dubai_jp.shtml acesso em 15/08/13
(3) Não encontramos na Web o nome da editora, local e ano de publicação.
(4) Kardec Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, RJ: Ed. FEB, 1999, cap. 28
(5) Xavier, Francisco Cândido. Missionários da Luz, ditado pelo espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 1990

23 de jul. de 2013

Da Obsessão e da Possessão




56. A obsessão consiste no domínio que os maus Espíritos assumem sobre certas pessoas, com o objetivo de as escravizar e submeter à vontade deles, pelo prazer que experimentam em fazer o mal.

Quando um Espírito, bom ou mau, quer atuar sobre
um indivíduo, envolve-o, por assim dizer, no seu perispírito, como se fora um manto. Interpenetrando-se os fluidos, os pensamentos e as vontades dos dois se confundem e o Espírito, então, se serve do corpo do indivíduo, como se fosse seu, fazendo-o agir à sua vontade, falar, escrever, desenhar, quais os médiuns.

Se o Espírito é bom, sua atuação é suave, benfazeja, não impele o indivíduo senão à prática de atos bons; se é mau, força-o a ações más. Se é perverso e malfazejo, aperta-o como numa teia, paralisa-lhe até a vontade e mesmo o juízo, que ele abafa com o seu fluido, como se abafa o fogo sob uma camada d’água.

Fá-lo pensar, falar, agir em seu lugar, impele-o, a seu mau grado, a atos extravagantes ou ridículos; magnetiza-o, em suma, lança-o num estado de catalepsia moral e o indivíduo se torna um instrumento da sua vontade. Tal a origem da obsessão, da fascinação e da subjugação que se produzem em graus muito diversos de integridade.

À subjugação, quando no paroxismo, é que vulgarmente dão o nome de possessão.

É de notar-se que, nesse estado, o indivíduo tem muitas vezes consciência de que o que faz é ridículo, mas é forçado a fazê-lo, tal como se um homem mais vigoroso do que ele o obrigasse a mover, contra a vontade, os braços, as pernas e a língua.

57. Pois que os Espíritos existiram em todos os tempos, também desde todos os tempos representaram o mesmo papel, porque esse papel é da natureza e a prova está no grande número que sempre houve de pessoas obsidiadas, ou possessas, se o preferirem, antes que se falasse de Espíritos, ou que, nos dias atuais, se ouvisse falar de Espiritismo, nem de médiuns.

É, pois, espontânea a ação dos Espíritos, bons ou maus; a destes produz uma imensidade de perturbações na economia moral e mesmo física, perturbações que, por ignorância da verdadeira causa, atribuíam a causas errôneas.

Os Espíritos maus são inimigos invisíveis, tanto mais perigosos, quanto da ação deles não se suspeitava. Desmascarando-os, o Espiritismo revela uma nova causa de certos males da Humanidade. Conhecida a causa, não mais se procurará combater o mal por meios que já se sabem inúteis; procurar-se-ão outros mais eficazes.

Ora, que foi o que fez se descobrisse aquela causa? A mediunidade. Foi pela mediunidade que esses inimigos ocultos traíram a sua presença; ela foi para eles o que o microscópio foi para os infinitamente pequenos: revelou todo um mundo.

O Espiritismo não atraiu os maus Espíritos: desvendou-os e forneceu os meios de se lhes paralisar a ação e, por conseguinte, de afastá-los.

Não foi ele quem trouxe o mal, visto que o mal existe desde todos os tempos; ele, ao contrário, dá remédio ao mal, apontando-lhe a causa. Uma vez reconhecida a ação do mundo invisível, ter-se-á a explicação de um sem-número de fenômenos incompreendidos e a Ciência, enriquecida com o conhecimento dessa nova lei, verá abrir-se diante de si novos horizontes.

Quando chegará ela a isso? Quando deixar de professar o materialismo, porquanto o materialismo lhe detém o vôo, opondo-lhe intransponível barreira.

58. Pois que há Espíritos maus que obsidiam e Espíritos bons que protegem, perguntam muitos se os primeiros são mais poderosos do que os segundos.

Não é que o bom Espírito seja mais fraco; o médium é que não tem força bastante para alijar de si o manto que lhe atiraram em cima, para se desprender dos braços que o enlaçam e nos quais, cumpre dizê-lo, às vezes se compraz.

Neste caso, compreende-se que o bom Espírito não possa levar vantagem, pois que o outro é preferido. Admitamos, porém, que a vítima deseje desembaraçar-se do envoltório fluídico que penetra o seu, como a umidade penetra as roupas.
Esse desejo nem sempre bastará. A própria vontade nem sempre é suficiente.

Trata-se de lutar contra um adversário. Ora, quando dois homens lutam corpo a corpo, aquele que dispõe de mais fortes músculos é que abate o outro. Com um Espírito tem-se de lutar, não corpo a corpo, mas Espírito a Espírito e é ainda o mais forte que triunfa.

Aqui, a força reside na autoridade que se possa exercer sobre o obsessor e essa autoridade está subordinada à superioridade moral. Esta é como o Sol que dissipa o nevoeiro pela potencialidade dos seus raios.

Esforçar-se por ser bom, por se tornar melhor se já é bom, por purificar-se de suas imperfeições, por, numa palavra, elevar-se moralmente o mais possível, tal o meio de o encarnado adquirir o poder de mandar sobre os Espíritos inferiores, para os afastar. De outro modo estes zombarão das suas injunções.

Entretanto, objetar-se-á, por que os Espíritos protetores não lhes ordenam que se retirem? Sem dúvida, podem fazê-lo e algumas vezes o fazem. Mas, permitindo a luta, deixam ao atacado o mérito da vitória. Se consentem que se debatam criaturas que, sob certos aspectos, têm seus merecimentos, é para lhes experimentar a perseverança e para levá-las a adquirir mais força no campo do bem. A luta é uma espécie de ginástica moral.

Muitas pessoas prefeririam certamente outra receita mais fácil para repelirem os maus Espíritos: por exemplo, algumas palavras que se proferissem, ou alguns sinais que se fizessem, o que seria mais simples do que corrigir-se alguém de seus defeitos. Sentimos muito; porém, nenhum meio eficaz conhecemos de vencer-se um inimigo, senão o fazer-se mais forte que ele.

Quando estamos doentes, temos que resignar-nos a tomar um medicamento, por muito amargo que seja; mas, também, se tivermos tido a coragem de bebê-lo, como nos sentimos bem e fortes! Temos pois que nos persuadir de que não há, para alcançarmos aquele resultado, nem palavras sacramentais, nem fórmulas, nem talismãs, nem sinais materiais quaisquer.

De tudo isso riem-se os maus Espíritos e não raro se comprazem em indicar alguns, tendo sempre o cuidado de afirmá-los infalíveis, para melhormente captarem a confiança daqueles a quem querem iludir, porque, então, estes, confiantes nas virtudes do processo aconselhado, se entregam sem receio.

Antes de pretender, quem quer que seja, domar um
Espírito mau, precisa cuidar de domar-se a si mesmo. De todos os meios de adquirir-se força para chegar a isso, o mais eficiente é a vontade secundada pela prece, a prece do coração, entenda-se, e não a de palavras, das quais a boca participa mais do que o pensamento.

Precisamos pedir ao nosso anjo guardião e aos bons Espíritos que nos assistam na luta; não basta, porém, lhes peçamos que afastem o Espírito mau; devemos lembrar-nos desta máxima: ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará e rogar-lhes, sobretudo, a força que nos falta para vencermos os nossos maus pendores, que são, para nós, piores que os maus Espíritos, porquanto são esses pendores que os atraem, como a podridão atrai as aves de rapina.

Orando também pelo Espírito obsessor, retribuir-lhe-emos com o bem o mal que nos queira e nos mostraremos melhores do que ele, o que já é uma superioridade. Com perseverança, acaba-se as mais das vezes por induzi-lo à posse de melhores sentimentos e a transformá-lo de perseguidor em amigo grato.

Em resumo:

A prece fervorosa e os esforços sérios que a criatura faça por melhorar-se constituem os únicos meios de ela afastar os maus Espíritos, que reconhecem como seus senhores aqueles que praticam o bem, enquanto que as fórmulas lhes provocam o riso, do mesmo modo que a cólera e a impaciência os excitam. Precisa o perseguido cansá-los, demonstrando-se mais paciente do que eles.

Por vezes acontece que a subjugação avulta até ao ponto de paralisar a vontade do obsidiado, do qual nenhum concurso sério se pode esperar. Aí, principalmente, é que a intervenção de terceiros se torna necessária, quer por meio da prece, quer pela ação magnética. Mas, também a força dessa intervenção depende do ascendente moral que os interventores possam ter sobre os Espíritos; se não valerem mais do que estes, improfícua será a ação que desenvolvam.

A ação magnética, no caso, tem por efeito introduzir no fluido do obsidiado um fluido melhor e eliminar o do mau Espírito. Ao operar, deve o magnetizador objetivar duplo fim: o de opor a uma força moral outra força moral e produzir sobre o paciente uma espécie de reação química, para nos servirmos de uma comparação material, expelindo um fluido com o auxílio de outro fluido.

Dessa forma, não só opera um desprendimento salutar, como igualmente fortalece os órgãos enfraquecidos por longa e vigorosa constrição.

Compreende-se, em suma, que o poder da ação fluídica está na razão direta não somente da energia da vontade, mas, sobretudo, da qualidade do fluido introduzido e, segundo o que deixamos dito, que essa qualidade depende da instrução e das qualidades morais do magnetizador.

Daí se segue que um magnetizador ordinário, que atuasse maquinalmente, apenas por magnetizar, fraco ou nenhum efeito produziria.

É de toda a necessidade um magnetizador espírita, que atue com conhecimento de causa, com a intenção de obter, não o sonambulismo ou uma cura orgânica, porém, os resultados que vimos de descrever.

É, além disso, evidente que uma ação magnética dirigida neste sentido não pode deixar de ser muito proveitosa nos casos de obsessão ordinária, porque, então, se o magnetizador tem a auxiliá-lo a vontade do obsidiado, o Espírito se vê combatido por dois adversários em lugar de um.

Cumpre também dizer que amiúde se atribuem aos Espíritos maldades de que eles são inocentes. Alguns estados doentios e certas aberrações que se lançam à conta de uma causa oculta, derivam do Espírito do próprio indivíduo.

As contrariedades que de ordinário cada um concentra em si mesmo, principalmente os desgostos amorosos, dão lugar, com freqüência, a atos excêntricos, que fora errôneo considerar-se fruto da obsessão. O homem não raramente é o obsessor de si mesmo.

Acrescentemos, por fim, que algumas obsessões tenazes, sobretudo em pessoas de mérito, fazem às vezes parte das provações a que essas pessoas estão sujeitas. Acontece mesmo que a obsessão, quando simples, é uma tarefa imposta ao obsidiado, qual a de trabalhar pela regeneração do obsessor, como um pai pela de um filho vicioso.

Em geral, a prece é poderoso meio auxiliar da libertação dos obsidiados; nunca, porém, a prece só de palavras, dita com indiferença e como uma fórmula banal, será eficaz em semelhante caso. Faz-se mister uma prece ardente, que seja ao mesmo tempo uma como magnetização mental. Pelo pensamento, pode-se encaminhar para o paciente uma corrente fluídica salutar, cuja potência guarda relação com a intenção.

A prece, pois, não tem apenas por efeito invocar um auxílio estranho, mas exercer uma ação fluídica. O que uma pessoa, só, não pode fazer, podem-no, quase sempre, muitas pessoas unidas pela intenção numa prece coletiva e reiterada, visto que o número aumenta a potencialidade da ação.

59. A experiência comprova a ineficácia do exorcismo, nos casos de possessão, e provado está que quase sempre aumenta o mal, em vez de atenuá-lo. A razão se encontra em que a influência está toda no ascendente moral exercido sobre os maus Espíritos e não num ato exterior, na virtude das palavras e dos gestos. O exorcismo consiste em cerimônias e fórmulas de que zombam os maus Espíritos que, entretanto, cedem à autoridade moral que se lhes impõe.

Eles vêem que os querem dominar por meios impotentes, que pensam intimidá-los por um vão aparato e, então, se empenham em mostrar-se os mais fortes e para isso redobram de esforços. São quais cavalos espantadiços que dão em terra com o cavaleiro inábil e que obedecem quando topam com um que os governa. Ora, aqui, quem realmente
manda é o homem de coração mais puro, porque é a ele que os bons Espíritos de preferência atendem.

60. O que pode um Espírito fazer com um indivíduo, podem-no muitos Espíritos com muitos indivíduos simultaneamente e dar à obsessão caráter epidêmico. Uma nuvem de maus Espíritos invade uma localidade e aí se manifestam de diversas maneiras. Foi uma epidemia desse gênero
que se abateu sobre a Judéia ao tempo do Cristo. Ora, o Cristo, pela sua imensa superioridade moral, tinha sobre os demônios ou maus Espíritos tal autoridade, que bastava lhes ordenasse que se retirassem para que eles o fizessem e, para isso, não empregava fórmulas nem gestos ou sinais.

61. O Espiritismo se funda na observação dos fatos que resultam das relações entre o mundo visível e o mundo invisível.

Estando na ordem dos da natureza, esses fatos se produziram em todas as épocas e abundam principalmente nos livros sagrados de todas as religiões, pois que serviram de base à maioria das crenças.

Por não os terem os homens compreendido, é que a Bíblia e os Evangelhos apresentam tantas passagens obscuras e que foram interpretadas em sentidos diferentes. O Espiritismo traz a chave que lhes facilitará a inteligência.

Allan Kardec

Obras Póstumas
Primeira Parte – Manifestações dos Espíritos VII -Caráter e Conseqüências Religiosas das Manifestações dos Espíritos

Loucura, Suicídio e Obsessão




V. — Certas pessoas consideram as idéias espíritas como capazes de perturbar as faculdades mentais, pelo que acham prudente deter-lhes a propagação.

A. K. — Deveis conhecer o provérbio: “Quem quer matar o cão — diz que o cão está danado.”

Não é, portanto, estranhável que os inimigos do Espiritismo procurem agarrar-se a todos os pretextos; como este lhes pareceu próprio para despertar temores e suscetibilidades, empregam-no logo, conquanto não resista ao mais ligeiro exame. Ouvi, pois, a respeito dessa loucura, o raciocínio de um louco.

Todas as grandes preocupações do espírito podem ocasionar a loucura; as ciências, as artes, a religião mesmo, fornecem o seu contingente. A loucura provém de um certo estado patológico do cérebro, instrumento do pensamento; estando o instrumento desorganizado, o pensamento fica alterado.

A loucura é, pois, um efeito consecutivo, cuja causa primária é uma predisposição orgânica, que torna o cérebro mais ou menos acessível a certas impressões; e isto é tão real que encontrareis pessoas que pensam excessivamente e não ficam
loucas, ao passo que outras enlouquecem sob o influxo da menor excitação.

Existindo uma predisposição para a loucura, toma esta o caráter de preocupação principal, que então se torna idéia fixa; esta poderá ser a dos Espíritos, num indivíduo que deles se tenha ocupado, como poderá ser a de Deus, dos anjos, do diabo, da fortuna, do poder, de uma ciência, da maternidade,
de um sistema político ou social. É provável que o louco religioso se tivesse tornado um louco espírita, se o Espiritismo fosse a sua preocupação dominante.

É certo que um jornal disse que se contavam, só em uma localidade da América, de cujo nome não me recordo, 4.000 casos de loucura espírita; mas é também sabido que os nossos adversários têm a idéia fixa de se crerem os únicos dotados de razão; é uma esquisitice como outra qualquer. Para eles, nós somos todos dignos de um hospital de doidos, e, por conseqüência, os 4.000 espíritas da localidade em questão eram considerados como loucos.

Dessa espécie, os Estados Unidos contam centenas de milhares, e todos os países do mundo um número ainda muito maior. Esse gracejo de mau gosto começa a não ter valor, desde que tal moléstia vai invadindo as classes mais elevadas da sociedade.

Falam muito do caso de Vitor Hennequin, mas se esquecem que, antes de se ocupar com os Espíritos, já ele havia dado provas de excentricidade nas suas idéias; se as mesas girantes não tivessem então aparecido (as quais, segundo um trocadilho bem espirituoso dos nossos adversários, lhe fizeram girar a cabeça), sua loucura teria seguido outro rumo.

Eu digo, pois, que o Espiritismo não tem privilégio algum, nesse sentido; mas vou ainda além: afirmo que, bem compreendido, ele é um preservativo contra a loucura e o suicídio.

Entre as causas mais numerosas de excitação cerebral, devemos contar as decepções, os desastres, as afeições contrariadas, as quais são também as mais freqüentes causas dosuicídio. Ora, o verdadeiro espírita vê as coisas deste mundo de um ponto de vista tão elevado, que as tribulações não são para eles senão os incidentes desagradáveis de uma viagem.

Aquilo que em outro qualquer produziria violenta comoção, afeta-o mediocremente. Ele sabe que os dissabores da vida são provas que servirão para o seu adiantamento, se as sofrer sem murmurar, porque sua recompensa será proporcional à coragem com que as houver suportado. Suas convicções dão-lhe, pois, uma resignação que o preserva do desespero e, por conseqüência, de uma causa incessante de loucura e de suicídio.

Ele sabe, além disso, pelo espetáculo que lhe dão as comunicações com os Espíritos, a sorte deplorável dos que abreviam voluntariamente os seus dias, e este quadro é bem de molde a fazê-lo refletir; também é considerável o número dos que por esse meio têm sido detidos nesse funesto declive. É um dos grandes resultados do Espiritismo.

Em o número das causas de loucura, devemos também colocar o medo, principalmente do diabo, que já tem desarranjado mais de um cérebro. Sabe-se o número de vítimas que se tem feito, ferindo as imaginações fracas com esse painel que, por detalhes horrorosos, capricham em tornar mais assustador.

O diabo, dizem, só causa medo às crianças, é um freio para corrigi-las; sim, como o papão e o lobisomem, que as contêm por algum tempo, tornando-se elas piores que antes, quando lhes perdem o medo; mas, em troca desse pequeno resultado, não contam as epilepsias que têm sua origem nesse abalo de cérebros tão delicados.

Não confundamos a loucura patológica com a obsessão; esta não provém de lesão alguma cerebral, mas da subjugação que Espíritos malévolos exercem sobre certos indivíduos, e que, muitas vezes, têm as aparências da loucura propriamente dita. Esta afecção, muito freqüente, é independente de qualquer crença no Espiritismo e existiu em todos os tempos. Neste caso, a medicação comum é impotente e mesmo prejudicial.

Fazendo conhecer esta nova causa de perturbação orgânica, o Espiritismo nos oferece, ao mesmo tempo, o único meio de vencê-la, agindo não sobre o enfermo, mas sobre o Espírito obsessor. O Espiritismo é o remédio e não a causa do mal.

Livro: O Que é o Espiritismo?
Capítulo I

Curas das Obsessões



Escrevem-nos de Cazères, a 7 de janeiro de 1866:

“Eis um segundo caso de obsessão, que tomamos a nós e levamos a bom termo no mês de julho findo.

A obsidiada tinha vinte e dois anos; gozava de saúde perfeita; entretanto, de repente foi acometida de um acesso de loucura.

Os pais a trataram com médicos, mas inutilmente, pois o mal, em vez de desaparecer, tornava-se mais e mais intenso, a ponto de, durante as crises, ser impossível contê-la.

Vendo isto os pais, a conselho dos médicos, obtiveram sua internação num hospício de alienados, onde seu estado não apresentou qualquer melhora.

Nem eles nem a doente jamais haviam cogitado do Espiritismo, que nem conheciam; mas, tendo ouvido falar na cura de Jeanne R… de que vos falei, vieram procurar-nos e saber se algo poderíamos fazer por sua filha infeliz. Respondemos nada poder garantir antes de conhecer a verdadeira causa do mal.

Consultados em nossa primeira sessão, os guias disseram que a jovem era subjugada por um Espírito muito rebelde, mas que acabaríamos trazendo-o ao bom caminho e que a cura conseqüente nos daria a prova desta afirmação.

Assim, escrevi aos pais; residentes a 35 km de nossa cidade, dizendo que a moça seria curada e que a cura não demoraria muito, sem, contudo, precisarmos a sua data.

“Evocamos o Espírito obsessor durante oito dias seguidos e fomos bastante felizes para mudar suas más disposições e fazê-lo renunciar a atormentar a vitima. Com efeito, a doente ficou curada, como os guias haviam anunciado.

“Os adversários do Espiritismo repetem incessantemente que a prática desta doutrina conduz ao hospício. Ora! nós lhes podemos dizer, nesta circunstância, que o Espiritismo dele faz sair aqueles que lá haviam entrado”.

Entre mil outros, este fato é uma nova prova da existência da “loucura obsessional”, cuja causa é outra que não a loucura patológica, e ante a qual a ciência falhará enquanto se obstinar em negar o elemento espiritual e sua influência sobre a economia.

Aqui o caso é bem evidente: uma jovem, de tal modo apresentando os caracteres da loucura, a ponto de se enganarem os médicos, e que é curada a léguas de distância, por pessoas que jamais a viram, sem nenhum medicamento ou tratamento médico, pela só moralização do Espírito obsessor.

Há, pois, Espíritos obsessores cuja ação pode ser perniciosa à razão e à saúde. Não é certo que se a loucura tivesse sido ocasionada por uma lesão orgânica qualquer, esse meio teria sido impotente?

Se se objetasse que essa cura espontânea pode ser devida a uma causa fortuita, responderíamos que se se tivesse de citar apenas um fato, sem dúvida seria temerário daí deduzir a afirmação de um principio tão importante, mas os exemplos de curas semelhantes são muito numerosos.

Não são o privilégio de um indivíduo e se repetem todos os dias em diversos lugares, sinal indubitável de que repousa sobre uma lei da natureza.

Citamos várias curas do mesmo gênero, notadamente em fevereiro de 1864 e janeiro de 1865, que contém duas relações completas eminentemente instrutivas.

Eis um outro fato, não menos característico, obtido no grupo de Marmande.

Numa aldeia a algumas léguas dessa cidade, havia um camponês atingido por uma loucura tão furiosa, que perseguia as pessoas a golpes de forcado, para as matar, e que, em falta de pessoas, atacava os animais do galinheiro. Corria incessantemente pelos campos e não voltava mais para casa. Sua presença era perigosa; assim foi fácil obter autorização para o internar no hospício de Cadillac.

Não foi sem vivo pesar que a família se viu obrigada a tomar esse partido. Antes de o levar, tendo um dos parentes ouvido falar das curas obtidas em Marmande, em casos semelhantes, foi procurar o Sr. Dombre e lhe disse: “Senhor, disseram-me que curais os loucos. Por isso vim vos procurar.” Depois contou-lhe de que se tratava, acrescentando: “Como vedes, dá tanta pena separarmo-nos desse pobre J…, que antes quis ver se não havia um meio de o evitar.”

– “Meu bravo homem, disse-lhe o Sr. Dombre, não sei quem me dá esta reputação; é verdade que algumas vezes consegui dar a razão a pobres insensatos, mas isto depende da causa da loucura. Posto não vos conheça, não obstante verei se vos posso ser útil.”

Tendo ido imediatamente com o indivíduo a casa de seu médium habitual, obteve do guia a certeza de que se tratava de uma obsessão grave, mas que com perseverança ela chegaria a termo. Então disse ao camponês: “Esperai ainda alguns dias, antes de levar o vosso parente à Cadillac vamos ocupar-nos do caso; voltai de dois em dois dias para dizer-nos como ele se acha.”

No mesmo dia puseram-se em ação. A princípio, como em casos semelhantes, o Espírito mostrou-se pouco tratável; lentamente acabou por se humanizar e, por fim, renunciou a atormentar aquele infeliz.

Um fato muito particular e que declarou não ter qualquer motivo de ódio contra aquele homem; que, atormentado pela necessidade de fazer o mal, havia-se agarrado a ele como a qualquer outro; agora reconhecia estar errado, pelo que pedia perdão a Deus.

O camponês voltou depois de dois dias, e disse que o parente estava mais calmo, mas ainda não tinha voltado para a casa e se ocultava nas sebes. Na visita seguinte, ele tinha voltado, mas estava sombrio e mantinha-se afastado; já não procurava bater em ninguém.

Alguns dias depois, ia a feira e fazia seus negócios, como de hábito. Assim, oito dias haviam bastado para o trazer ao estado normal, e sem nenhum tratamento físico. É mais que provável que se o tivessem encerrado com os loucos ele houvesse perdido a razão completamente.

Os casos de obsessão são tão freqüentes que não é exagero dizer que nos hospícios de alienados mais da metade apenas tem a aparência de loucura e que, por isto mesmo, a medicação vulgar não tem efeito.

O Espiritismo nos mostra na obsessão uma das causas perturbadoras da economia e, ao mesmo tempo, dá-nos o meio de a remediar: é um de seus benefícios. Mas como foi reconhecida essa causa, senão pelas evocações? Assim, as evocações servem para alguma coisa, digam o que disserem os seus detratores.

É evidente que os que não admitem a alma individual, nem a sua sobrevivência, ou que, admitindo-a, não se dão conta do estado de Espírito após a morte, devem olhar a intervenção de seres invisíveis, em tais circunstâncias, como uma quimera; mas o fato brutal dos males e das curas lá está.

Não poderiam ser levadas a conta da imaginação as curas operadas a distância, em pessoas que jamais foram vistas, sem o emprego de qualquer agente material.

A doença não pode ser atribuída a prática do Espiritismo, desde que atinge os que nele não acreditam, bem como crianças que dele não tem qualquer idéia. Entretanto, aqui nada há de maravilhoso, mas efeitos naturais, que existiram em todos os tempos, que então não eram compreendidos, e que se explicam do modo mais simples, agora que se conhecem as leis em virtude das quais se produzem.

Não se vêem, entre os vivos, seres maus atormentando outros mais fracos, até os deixar doentes e até matá-los, e isto sem outro motivo senão o desejo de fazer mal?

Há dois meios de levar a paz à vítima: subtraí-la a autoridade de sua brutalidade, ou neles desenvolver o sentimento do bem. O conhecimento que agora temos do mundo invisível no-lo mostra povoado dos mesmos seres que viveram na Terra, uns bons, outros maus.

Entre estes últimos, uns há que se comprazem ainda no mal, em conseqüência de sua inferioridade moral e ainda não se despojaram de seus instintos perversos; eles se encontram em meio a nós como quando vivos, com a única diferença que, em vez de ter um corpo material visível, tem-no fluídico, invisível; mas não deixam de ser os mesmos homens, no sentido moral pouco desenvolvidos, buscando sempre ocasiões de fazer o mal, encarniçando-se sobre os que lhes são presa e que conseguem submeter a sua influência.

Obsessores encarnados que eram, são obsessores desencarnados, tanto mais perigosos quanto agem sem ser vistos. Afastá-los pela força não é fácil, visto que não se pode apreender-lhes o corpo.

O único meio de os dominar é o ascendente moral, com cuja ajuda, pelo raciocínio e sábios conselhos, chega-se a os tomar melhores, ao que são mais acessíveis no estado de Espírito que no estado corporal.

Desde o instante em que são trazidos a renunciar voluntariamente a atormentar, o mal desaparece, quando causado pela obsessão. Ora, compreende-se que não são as duchas nem os remédios administrados ao doente que podem agir sobre o Espírito obsessor.

Eis todo o segredo dessas curas, para as quais nem ha palavras sacramentais, nem formulas cabalísticas: conversa-se com o Espírito desencarnado, moraliza-se-o e educa-se-o, como se teria feito em sua vida.

A habilidade consiste em saber tomá-lo pelo seu caráter, dirigir com tato as instruções que lhe são dadas, como o faria um instrutor experimentado. Toda a questão se reduz a isto:

Há ou não Espíritos obsessores?

A isto responde-se o que dissemos acima: Os fatos materiais lá estão.

Por vezes perguntam por que Deus permite que os maus Espíritos atormentem os vivos. Com tanto mais razão poder-se-ia perguntar por que permite que os vivos se atormentem entre si. Perdem-se muito de vista a analogia, as relações, a conexão que existe entre o mundo corporal e o mundo espiritual, que se compõem dos mesmos seres em dois estados diferentes. Aí está a chave de todos esses fenômenos reputados sobrenaturais.

Não nos devemos admirar mais das obsessões do que das doenças e outros males que afligem a humanidade; fazem parte das provas e das misérias devidas a inferioridade do meio, onde nossas imperfeições nos condenam a viver, até que estejamos suficientemente melhorados para merecer dele sair.

Os homens sofrem aqui as conseqüências de suas imperfeições, porque se fossem mais perfeitos aqui não estariam.

Revista Espírita – 1866

11 de jul. de 2013

Obsediados e Subjugados




Muito se tem falado dos perigos do Espiritismo.

É de notar-se, entretanto, que os que mais gritam são exatamente os que quase só o conhecem por ouvir dizer.

Já refutamos os principais argumentos que lhe são opostos; a eles, pois, não voltaremos; acrescentaremos apenas que se quiséssemos proscrever da sociedade tudo quanto pode oferecer perigo e dar margem a abusos, não saberíamos muito o que haveria de restar, mesmo daquelas coisas de primeira necessidade, a começar pelo fogo, causa de tantas desgraças; depois as estradas de ferro, etc. etc.

Se se admitir que as vantagens compensam os inconvenientes, o mesmo deve acontecer com tudo o mais: a experiência indica pari passu as precauções que devem ser tomadas para nos garantirmos contra os inevitáveis perigos das coisas.

Na verdade o Espiritismo apresenta um perigo real, mas não é aquele que se supõe; é preciso ser-se iniciado aos princípios da ciência para bem compreendê-lo.

Não nos dirigimos àqueles que lhe são alheios; é aos próprios adeptos, àqueles que o praticam, pois que para estes é que há perigo.

Importa que o conheçam, a fim de se porem em guarda: Sabe-se que um perigo previsto é um perigo meio evitado.

Diremos mais: para quem quer que esteja bem informado da ciência, tal perigo não existe; existe apenas para aqueles que têm a presunção de saber, isto é, como em todas as coisas, para aqueles que não possuem a necessária experiência.

Um desejo muito natural em todos aqueles que começam a se ocupar do Espiritismo é ser médium, principalmente psicógrafo. É realmente o gênero que tem mais atração, dada a facilidade das comunicações e por ser o que melhor se desenvolve com o exercício.

Compreende-se a satisfação que deve experimentar quem, pela primeira vez, vê a própria mão formar letras, depois palavras, depois frases em respostas aos seus pensamentos.

Essas respostas que traça maquinalmente, sem saber o que faz, o mais das vezes estão fora de qualquer idéia pessoal, não lhe podem deixar nenhuma dúvida quanta à intervenção de uma inteligência oculta.

Assim, grande é a sua alegria de poder entreter-se com os seres de além-túmulo, com esses seres misteriosos e invisíveis, que povoam os espaços: parentes e amigos já não mais se encontram ausentes: se não os vê com os olhos nem por isso deixam de ali estar; conversam com ele, e ele os vê por pensamento; podem saber se são felizes, conhecer aquilo que fazem, o que desejam e trocar amabilidades.

Compreende que entre eles a separação não é eterna e faz votos para apressar o instante em que poderiam reunir-se num mundo melhor. E não é tudo. Quanto não pode saber através dos Espíritos que com ele se comunicam? Não irão eles levantar o véu de todas as coisas?

Agora já não há mais mistérios: não tem mais do que interrogar para tudo ficar sabendo.

Já vê à sua frente a antiguidade sacudir a poeira do tempo, escavar as minas, interpretar as escrituras simbólicas e fazer reviver a seus olhos os séculos passados.

Outro, mais prosaico, e pouco preocupado em sondar o infinito onde se perde o pensamento, cuida apenas em explorar os Espíritos em benefício de sua fortuna.

Os Espíritos que devem ver tudo e tudo saber não lhe podem recusar a descoberta de algum tesouro escondido ou algum segredo maravilhoso.

Quem quer que se dê ao trabalho de estudar a ciência espírita jamais deixar-se-á seduzir por esses belos sonhos.

Sabe de que se deve abster a respeito do poder dos Espíritos, de sua natureza e do objetivo das relações que com os mesmos o homem pode estabelecer.

Recordemos, para começar, e em poucas palavras, os pontos principais, que nunca devem ser perdidos de vista, porque são uma espécie de chave da abóbada do edifício.

1º – Os Espíritos não são iguais nem em poder, nem em conhecimento, nem em sabedoria.

Como não passam de almas humanas desembaraçadas de seu invólucro corporal, ainda apresentam uma variedade maior que a que encontramos entre os homens na Terra, por isso que vêm de todos os mundos, e porque entre os mundos a Terra nem é o mais atrasado, nem o mais adiantado.

Há, pois, Espíritos muito superiores, como os muito inferiores; muito bons e muito maus, muito sábios e muito ignorantes, há os levianos, malévolos, mentirosos, astutos, hipócritas, facetos, espirituosos, trocistas, etc.

2º – Estamos incessantemente cercados por uma nuvem de Espíritos que, nem por serem invisíveis aos nossos olhos materiais, deixam de estar no espaço, em redor de nós, ao nosso lado, espiando os nossos atos, lendo os nossos pensamentos, uns para nos fazer bem, outros para nos fazer mal, conforme eles próprios sejam bons ou maus.

3º – Pela inferioridade física e moral de nosso globo na hierarquia dos mundos, os Espíritos inferiores aqui são mais numerosos que os superiores.

4º – Entre os Espíritos que nos cercam há os que se ligam a nós, que agem mais particularmente sobre o nosso pensamento, aconselhando-nos, e cujo impulso seguimos sem nos apercebermos; felizes se escutarmos a voz dos bons.

5º – Ligam-se os Espíritos inferiores àqueles que os escutam, Junto aos quais têm acesso e aos quais se agarram.

Se conseguirem estabelecer domínio sobre alguém, identificam-se com o seu próprio Espírito, fascinam-no, obsidiam-no, subjugam-no e o conduzem como se fosse uma verdadeira criança.

6º – A obsessão jamais se dá senão por Espíritos inferiores. Os bons Espíritos não produzem nenhum constrangimento: aconselham, combatem a influência dos maus e afastam-se desde que não sejam escutados.

7º – O grau de constrangimento e a natureza dos efeitos que produzem marcam a diferença entre a obsessão, a subjugação e a fascinação.

A obsessão é a ação quase que permanente de um Espírito estranho, que leva a pessoa a ser solicitada por uma necessidade incessante de agir desta ou daquela maneira e de fazer isto ou aquilo.

A estreita subjugação é uma ligação moral que paralisa a vontade de quem a sofre, impelindo a pessoa as mais desarrazoadas ações e, por vezes, às mais contrárias ao seu próprio interesse.

A fascinação é uma espécie de ilusão produzida ora pela ação direta de um Espírito estranho, ora por seus raciocínios capciosos; e essa ilusão produz um logro sobre as coisas morais, falseia o julgamento e leva a tomar-se o mal pelo bem.

8º – Por sua vontade pode sempre o homem sacudir o jugo dos Espíritos imperfeitos, porque em virtude de seu livre arbítrio ele tem escolha entre o bem e o mal.

Se aquela ligação chegou a ponto de paralisar a vontade e se a fascinação é tão grande que oblitera a razão, a vontade de uma terceira pessoa pode substituí-la.

Antigamente dava-se o nome de “possessão” ao império exercido pelos maus Espíritos, quando sua influência ia até a aberração das faculdades.

Mas a ignorância e os preconceitos muitas vezes tomaram como possessão aquilo que não passava de um estado patológico.

Para nós a possessão seria sinônimo de subjugação.

Não adotamos este termo por dois motivos: primeiro porque implica a crença em seres criados para o mal e a ele votados perpetuamente, quando apenas existem seres mais ou menos imperfeitos e todos podem melhorar; segundo porque ele implica igualmente a idéia de tomada de posse do corpo pelo Espírito estranho, uma espécie de coabitação: ao passo que existe apenas uma ligação.

O vocábulo “subjugação” dá uma perfeita idéia. Assim, para nós não há “possessos”, no sentido vulgar da palavra; há simplesmente “obsidiados, subjugados e fascinados”.

Por idêntico motivo não usamos o vocábulo demônio na acepção de Espírito imperfeito, de vez que freqüentemente esses Espíritos não valem mais que os chamados demônios: é apenas por causa da especialidade e da perpetuidade que estão ligadas a este vocábulo.

Assim, quando dizemos que não há demônios, não queremos dizer que apenas existem bons Espíritos; longe disto: sabemos muito bem que os há maus e muito maus, que nos solicitam para o mal, armam-nos ciladas e isto nada tem de admirável, porque eles foram homens.

Queremos dizer que não formam uma classe à parte na ordem da criação, e que Deus deixa a todas as criaturas o poder de melhorar-se.

Bem assentado isto, voltemos aos médiuns.

Em alguns destes o progresso é lento, mesmo muito lento; por vezes submetem-se a uma rude prova, a sua paciência.

Noutros é rápido: e em pouco tempo chega o médium a escrever com tanta facilidade e, às vezes, com mais presteza do que faria em condições ordinárias.

É então que pode tomar-se de entusiasmo – e aí é que está o perigo, porque o entusiasmo enfraquece e com os Espíritos é necessário ser-se forte.

Parece um paradoxo dizer que o entusiasmo enfraquece. Entretanto nada mais certo.

Dir-se-á que o entusiasmo marcha com uma convicção e uma confiança que lhe permitem vencer todos os obstáculos, com o que haverá mais força.

Sem dúvida: mas nós nos entusiasmamos pelo falso tanto quanto pelo verdadeiro. Deixai que abundem as mais absurdas idéias do entusiasta e dele fareis tudo quanta quiserdes.

O objeto de seu entusiasmo é, pois, o seu lado fraco, pelo qual podereis sempre dominá-lo.

O homem frio e impassível, ao contrário, vê as coisas sem ilusões: combina, pesa, examina maduramente e não se deixa seduzir por subterfúgios.

É isto o que lhe dá força.

Os Espíritos malévolos sabem-no tão bem ou melhor do que nós; sabem também empregar isto em seu proveito, para subjugar os que desejam ter sob sua dependência; e a faculdade de escrever como médium lhes serve maravilhosamente, porque é poderoso meio de captar a confiança e assim não a desprezam, se não soubermos pôr-nos em guarda.

Felizmente, como veremos mais tarde, o mal traz em si o remédio.

Seja por entusiasmo e por fascínio dos Espíritos, ou seja por amor próprio, em geral o médium psicógrafo é levado a acreditar que os Espíritos que se lhe comunicam são superiores; e isto é tanto mais quanto mais os Espíritos, vendo sua propensão, não deixam de ornar-se com títulos pomposos, conforme a necessidade e, segundo as circunstâncias, tomam nomes de santos, de sábios, de anjos, da própria Virgem Maria e fazem o seu papel como atores, vestindo ridiculamente a roupagem das pessoas que representam.

Tirai-lhes a máscara e se tornam o que eram: ridículos. É isto o que se deve saber fazer, tanto com os Espíritos, quanto com os homens.

Da crença cega e irrefletida na superioridade dos Espíritos que se comunicam à confiança em suas palavras há apenas um passo; assim também entre os homens.

Se chegarem a inspirar essa confiança, alimentam-na por meio de sofismas e dos mais capciosos raciocínios, ante os quais freqüentemente a gente baixa a cabeça.

Os Espíritos grosseiros são menos perigosos: reconhecemo-los imediatamente e não inspiram mais que repugnância.

Os mais temíveis, em seu mundo, como no nosso, são os Espíritos hipócritas: falam sempre com doçura, lisonjeando as inclinações; são meigos, manhosos, pródigos em expressões carinhosas e em protestos de dedicação.

É preciso ser realmente forte para resistir a semelhantes seduções.

Perguntareis onde está o perigo se os Espíritos são impalpáveis? O perigo está nos conselhos perniciosos que dão, sob a aparência de benevolência; nos movimentos ridículos, intempestivos ou funestos que nos levam a empreender.

Já vimos alguns que fizeram certas pessoas andar seca e meca, em busca de coisas fantásticas, com o risco de comprometer a saúde, a fortuna e a própria vida. Vimo-los ditar, com a aparência de gravidade, as coisas mais burlescas e as máximas mais esquisitas.

Desde que convém dar o exemplo ao lado da teoria, vamos relatar a história de uma pessoa nossa conhecida, que se encontrou sob o domínio de uma fascinação semelhante.

O Sr. F., moço instruído, de esmerada educação, de caráter suave e benevolente, mas um pouco fraco e sem resolução pronunciada, tomou-se médium psicógrafo hábil com muita rapidez.

Obsediado pelo Espírito que dele se apoderou e lhe não dava repouso escrevia incessantemente.

Desde que uma pena ou um lápis lhe caía na mão, tomava-o num movimento convulsivo. Na falta de material, simulava escrever com o dedo, em qualquer parte onde se encontrasse: na rua, nas paredes, nas portas, etc.

Entre outras coisas, esta lhe era ditada:

“o homem é composto de três coisas: o homem, o mau Espírito e o bom Espírito.

Todos vós tendes vosso mau Espírito, que está ligado ao corpo por laços materiais.

Para expulsar o mau Espírito é necessário quebrar esses laços, para o que é preciso enfraquecer o corpo.

Quando este se acha suficientemente enfraquecido, o laço se parte e o mau Espírito vai embora, deixando apenas o bom.”

Em conseqüência desta bela teoria fizeram-no jejuar durante cinco dias consecutivos e velar a noite.

Quando estava extenuado, eles lhe disseram: “Agora a coisa está feita e o laço partido. Teu mau Espírito se foi: ficamos apenas nós, em quem deves crer sem reservas.”

E ele, persuadido de que seu mau Espírito havia fugido, teve uma fé cega em todas as suas palavras. A subjugação havia chegado a um ponto que se lhe tivessem dito para atirar-se a água ou partir para os antípodas ele o teria feito.

Quando queriam obrigá-lo a fazer qualquer coisa que lhe repugnava, era arrastado por uma força invisível. Damos um exemplo abaixo de sua moral, por onde o resto poderá ser julgado.

“Para ter melhores comunicações é necessário primeiro orar e jejuar durante vários dias, uns mais, outros menos. O jejum enfraquece os laços que existem entre o “Ego” e um demônio particular ligado a cada “ser” humano.

Este demônio está ligado a cada pessoa pelo invólucro que une corpo e alma. Este invólucro se enfraquece pela falta de alimento e permite que os Espíritos arranquem aquele demônio.

Então Jesus desce ao coração da pessoa possessa, em lugar do mau Espírito. Este estado de possuir Jesus em si é o único meio de atingir toda verdade e muitas outras coisas.

“Enquanto a criatura não conseguir substituir o demônio por Jesus não possui a verdade. Para tê-la é necessário crer. Deus não dá a verdade aos que duvidam: seria fazer algo de inútil e Deus nada faz em vão.

Como a maioria dos médiuns novos duvidam do que dizem e escrevem, os bons Espíritos, pesar seu, “por ordem formal de Deus, são obrigados a mentir e não têm outro jeito senão mentir até que o médium fique convencido”; mas assim que ele acredita numa dessas mentiras os Espíritos elevados se apressam em lhe desvelar os segredos do céu: a verdade inteira dissipa num instante essa nuvem de erros com que tinham sido obrigados a envolver o seu protegido.

“Chegando a este ponto, nada mais tem o médium a temer. Os bons Espíritos jamais o deixarão. Contudo, não deve crer que tenha sempre a verdade e só a verdade.

Seja para o experimentar, seja para o punir de faltas passadas, seja ainda para o castigar por perguntas egoísticas ou curiosas, os bons Espíritos lhe “inflingem convicções físicas e morais”, vindo atormentá-lo por ordem de Deus.

Por vezes esses Espíritos elevados se lastimam da triste missão que desempenham: um pai persegue o filho durante semanas inteiras, um amigo ao seu amigo, tudo para a grande felicidade do médium.

Então os Espíritos “nobres” dizem tolices, blasfêmias e até torpezas. É necessário que o médium resista e diga: Vos me tentais; sei que estou entre mãos caridosas de Espíritos ternos e afetuosos; que os maus já não podem aproximar-se de mim. Boas almas que me atormentais, não me impedireis de crer naquilo que me dissestes e que me haveis de dizer.

“Os católicos expelem mais facilmente o demônio (este rapaz era protestante) porque este afastou-se um instante no dia do batismo. Os católicos são julgados pelo Cristo e os outros por Deus.

E melhor ser julgado pelo Cristo. Os protestantes não tem razão de não admitir isto: assim é necessário que te tornes católico quanto antes. E enquanto não fizerdes isto, vai tomar água benta: será o teu batismo.”

Mais tarde, curado da obsessão de que era vítima, por meios que relataremos, nós lhe havíamos pedido que nos escrevesse esta história, fornecendo-nos também o texto dos preceitos que lhe haviam sido ditados.

Transcrevendo-os, inscreveu sobre a cópia que nos enviou: “Pergunto-me a mim mesmo se não ofendo a Deus e aos bons Espíritos transcrevendo tolices semelhantes.”

A isto nós lhe respondemos: Não. O senhor não ofende a Deus; longe disso, desde que agora reconhece a cilada em que caiu.

Se lhe pedi uma cópia dessas máximas perversas foi para marcá-las como elas merecem, desmascarar os Espíritos hipócritas e por em guarda quem quer que receba coisa semelhante.

Um dia fá-lo-ão escrever: “Morrerás esta noite.” E ele responderá: “Sinto-me muito aborrecido neste mundo; morramos se assim deve ser; nada mais peço; tudo quanto desejo e não sofrer.”

A noite adormece, crendo firmemente não mais despertar na Terra. No dia seguinte ficará muito surpreendido e mesmo desapontado por achar-se em seu leito habitual.

Durante o dia escreve: “Agora que passaste pela prova da morte, que acreditaste firmemente que ias morrer, és para nós como um morto: podemos dizer-te toda a verdade; saberás tudo.

Nada haverá oculto para nós; nada mais haverá oculto para ti. Tu és uma reencarnação de Shakespeare. Tua bíblia não é Shakespeare?

No dia seguinte escreve: “Tu és Satã”. – “Isto também é demais, objeta o Sr. F. – “Não fizeste … não devoraste o “Paraíso perdido”? Aprendeste a “Fille du diable” de Beranger. Sabias que Satã havia de converter-se. Não o pensavas sempre? Não o disseste? Não o escreveste?

Para converter-se ele se reencarna. – Concordo que eu tenha sido um anjo rebelde qualquer; mas o rei dos anjos…! – Sim, tu eras o anjo da intrepidez. Não és mau; tens um coração orgulhoso; e este orgulho que e necessário abater.

És o anjo do orgulho, que os homens chamam Satã. Que importa o nome? Foste o mau gênio da Terra. Eis-te humilhado … Os homens vão tomar o seu impulso …

Verás maravilhas. Enganaste aos homens; enganaste a mulher na personificação de Eva, a mulher pecadora. Está dito que Maria, a personificação da mulher sem manchas, esmagar-te-á a cabeça; Maria vai chegar. – Um instante depois escreve lenta e docemente.

“Maria vem ver-te. Ela que te foi procurar no fundo do teu reino de trevas, não te abandonará. Ergue-te, Satã; Deus está pronto para te estender a mão. Lê “O Filho Pródigo”. Adeus.”

Num outro dia escreve: “Disse a Eva a serpente: “Teus olhos abrir-se-ão e serás como os deuses. O demônio disse a Jesus: Dar-te-ei todo o poder. A ti eu digo, pois que acreditas em nossas palavras: nós te amamos; serás tudo … Serás rei da Polônia.

Persevera nas boas disposições em que te colocamos. “Esta lição levará a ciência espírita a dar um grande passo”.

Ver-se-á que os bons Espíritos podem dizer futilidades e mentiras para divertir-se a custa dos sábios.

Disse Allan Kardec que um péssimo meio de reconhecer os Espíritos era fazê-los confessar Jesus em carne. Eu digo que só os bons Espíritos confessam Jesus em carne; e eu o confesso. Dize isto a Kardec.”

Contudo o Espírito não teve pudor de aconselhar aos Sr. F. que imprimisse essas “belas máximas”. Se o tivesse feito, certamente as teria publicado, o que seria uma coisa errada, porque as teria distribuído como coisa séria.

Encheríamos um volume com todas as tolices que lhe foram ditadas e com as circunstâncias que se seguiram.

Entre outras coisas fizeram-no desenhar um edifício de tais dimensões que as folhas de papel, coladas umas às outras chegavam à altura de dois andares.

Observe-se que em tudo isto nada há de grosseiro ou de banal. É uma serie de raciocínios sofísticos, encadeando-se com a aparência de lógica.

Nos meios empregados para o embair há realmente uma arte infernal, e se nos tivesse sido possível relatar todas essas manifestações ver-se-ia até que ponto era levada a astúcia e com que habilidade para isso eram empregadas palavras melífluas.

O Espírito que representava o papel principal neste negócio dava o nome de François Dillois quando não se cobria com a máscara de um nome respeitável.

Mais tarde viemos a saber o que esse tal Dillois tinha sido em vida. Assim, nada havia que admirar em sua linguagem. Mas no meio de todo esse aranzel era fácil reconhecer um bom Espírito que lutava, fazendo de quando em quando ouvir algumas boas palavras de desmentido dos absurdos do outro.

Havia um combate, mas evidentemente a luta era desigual. O moço de tal modo se achava subjugado que sobre ele a voz da razão era impotente.

Notadamente o Espírito de seu pai lhe fez escrever as seguintes palavras:

“Sim, meu filho, coragem! Sofres uma rude prova, que será para o teu bem no futuro. Infelizmente no momento nada posso fazer para te libertar – e isto muito me custa. Vai ver Allan Kardec. Escuta-o; ele te salvará.”

Efetivamente, o Sr. F. veio procurar-me e, para começar, contou-me sua história e eu o fiz escrever em minha presença; desde o início reconheci sem dificuldades da manhã à noite a influência perniciosa sob que se achava, quer nas palavras, quer por certos sinais materiais que a experiência dá a conhecer, e que não nos podem enganar.

Voltou várias vezes. Empreguei toda a minha força de vontade para chamar os bons Espíritos por seu intermédio, toda a minha retórica para lhe provar que era vítima de Espíritos detestáveis; que aquilo que escrevia não tinha senso, além de ser profundamente imoral.

Para essa obra de caridade juntei-me a um colega, e, pouco a pouco, conseguimos que escrevesse coisas sensatas.

Tomou aversão àquele mau gênio, repelindo-o por vontade própria cada vez que tentava manifestar-se e lentamente os bons Espíritos triunfaram.

Para modificar as suas idéias, seguiu o conselho dos Espíritos de entregar-se da manhã à noite a um trabalho rude, que não lhe deixasse tempo para escutar as sugestões más.

O próprio Dillois acabou confessando-se vencido e exprimindo o desejo de se melhorar em nova existência; confessou o mal que tinha querido fazer e deu provas de arrependimento.

A luta foi longa e penosa e ofereceu ao observador particularidades realmente curiosas.

Hoje o Sr. F. sente-se livre e feliz; e como se tivesse deposto um fardo. Recuperou a alegria e agradece-nos o serviço que lhe prestamos.

Algumas pessoas deploram que haja Espíritos maus. Realmente não é sem um certo desencanto que topamos com a perversidade neste mundo, onde gostaríamos de encontrar apenas seres perfeitos.

Desde que assim o é, nada podemos fazer: é preciso tomar as coisas como elas são. É a nossa própria inferioridade que faz com que pululem em redor de nós os Espíritos imperfeitos.

As coisas mudarão quando nos tornarmos melhores, como acontece nos mundos mais adiantados.

Enquanto esperamos, e desde que nos achamos ainda nos “basfonds” do universo moral somos advertidos; cabe, então, pormo-nos em guarda e não aceitar sem controle tudo quanto nos dizem.

À medida que nos esclarece, a experiência deve tomar-nos circunspectos. Ver e compreender o mal é um meio de nos preservarmos contra ele.

Não seria cem vezes mais perigoso ter ilusões quanto à natureza dos seres invisíveis que nos rodeiam?

O mesmo se dá entre os homens, pois diariamente nos achamos expostos à malevolência e às sugestões pérfidas; são outras tantas provas, às quais a nossa consciência e a nossa razão nos oferecem os meios de resistir. Quanto mais difícil for a luta, maior será o mérito do sucesso. “Quem vence sem perigo triunfa sem glória.”

Esta historia que infelizmente não é a única de nosso conhecimento, levanta uma questão muito grave.

Perguntar-se-á se não é um aborrecimento para esse moço o ter sido um médium? Não terá sido tal faculdade a causa da obsessão de que foi vítima?

Numa palavra, não será uma prova do perigo das comunicações espíritas?

Nossa resposta é fácil e pedimos que a meditem cuidadosamente.

Não foram os médiuns que criaram os Espíritos. Estes existiam de todos os tempos e de todos os tempos exerceram sobre os homens uma influência salutar ou perniciosa.

Para isto, pois, não é necessário ser médium.

A faculdade medianímica não lhes é mais que um meio de manifestar-se; em falta dessa faculdade agem de mil e uma outras maneiras.

Se esse moço não fosse médium, nem por isso ter-se-ia subtraído à influencia desse mau Espírito, que, sem dúvida, lhe teria feito praticar extravagâncias, as quais teriam sido atribuídas a qualquer outra causa.

Felizmente para ele a sua faculdade de médium, permitindo que o Espírito se comunicasse por palavras, por estas o Espírito se traiu; elas permitiram conhecer a causa do mal, que poderia ter tido conseqüências funestas e que, como se viu, nos destruímos por meios muito simples e racionais e sem exorcismos.

A faculdade medianímica permitiu ver o inimigo, se assim nos podemos exprimir, face a face, e combatê-lo com suas próprias armas.

Pode, pois, dizer-se, com absoluta certeza, que foi ela quem o salvou; quanto a nós, fomos apenas o médico que, tendo julgado a causa do mal, aplicamos o remédio.

Grave erro seria pensar que os Espíritos não exercem sua influencia senão por comunicações verbais ou escritas.

Essa influência é de todos os instantes e a ela, tanto quanto os outros, e mais do que os outros, acham-se expostos aqueles que não acreditam nos Espíritos, pois não têm um instrumento de aferição.

A quantos atos infelizmente não somos levados e que teriam sido evitados se tivéssemos tido um meio de nos esclarecermos!

Os mais incrédulos não se apercebem de que dizem uma verdade quando, em relação a um homem que se desencaminha, proclamam: É o seu mau gênio que o empurra para a perdição.

Regra geral:

Quem quer que obtenha más comunicações espíritas, orais ou escritas, acha-se sob ma influencia.

Esta se exerce sobre ele, quer escreva, quer não, isto é, seja ou não seja médium.

A escrita fornece um meio de nos assegurarmos da natureza dos Espíritos que atuam sobre ele e de os combater, o que se faz com tanto maior sucesso quanto mais e conhecido o motivo que o leva a agir.

Se ele for bastante cego para não o compreender, outros podem abrir-lhe os olhos.

Aliás, não é necessário ser médium para escrever absurdos.

E quem nos diz que entre todas essas elocubrações ridículas ou perigosas não haverá algumas cujos autores são impulsionados por Espíritos malévolos?

Três quartas partes de nossas ações más e de nossos maus pensamentos são frutos dessa sugestão oculta.

Perguntar-se-á se se teria feito cessar a obsessão, caso o Sr. F. não fosse médium?

Certamente. Apenas os meios teriam diferido, conforme as circunstancias.

Mas então os Espíritos não teriam podido encaminhá-lo para nós, como o fizeram; e é provável que a causa tivesse sido posta de lado, de vez que não havia manifestação espírita ostensiva.

Toda criatura de vontade e simpática aos bons Espíritos pode sempre, com o auxílio destes, paralisar uma influencia perniciosa.

Dizemos que deve ser simpática aos bons Espíritos, porque se ela atrai os inferiores é evidente que não se caçam lobos com lobos.

Em resumo, o perigo não esta propriamente no Espiritismo, desde que este, ao contrário, pode servir de controle, preservando-nos daquilo a que, mau grado nosso, estamos expostos; o perigo está na propensão de certos médiuns para mui levianamente se crerem instrumentos exclusivos de Espíritos superiores e da espécie de fascinação que não os deixa compreender as tolices de que são intérpretes.

Aqueles mesmos que não são médiuns podem ser arrastados. Terminaremos este capítulo com as seguintes considerações:

1º – Todo médium deve prevenir-se contra o irresistível empolgamento que o leva a escrever sem cessar e até em momentos inoportunos; deve ser senhor de si e não escrever senão quando o quer;

2º – Não dominamos os Espíritos superiores, nem mesmo aqueles que, não sendo superiores, são bons e benevolentes; mas podemos dominar e domar os Espíritos inferiores.

Aquele que não é senhor de si não o pode ser dos Espíritos;

3º – Não há outro critério, senão o bom senso, para discernir o valor dos Espíritos.

Qualquer fórmula dada para esse fim pelos próprios Espíritos é absurda e não pode emanar de Espíritos superiores;

4º – Os Espíritos, como os homens, são julgados por sua linguagem; toda expressão, todo pensamento, todo conceito, toda teoria moral ou científica que choque o bom senso ou não corresponda à idéia que fazemos de um Espírito puro e elevado, emana de um Espírito mais ou menos inferior;

5º – Os Espíritos superiores têm sempre a mesma linguagem com a mesma pessoa e jamais se contradizem;

6º – Os Espíritos superiores são sempre bons e benevolentes; em sua linguagem jamais encontramos acrimônia, arrogância, aspereza, orgulho, basófia ou tola presunção: falam com simplicidade, aconselham e se retiram quando não são ouvidos;

7º – Não devemos julgar os Espíritos por sua forma material nem pela correção da linguagem, mas sondar-lhes o íntimo, perscrutar suas palavras, pesá-las friamente, maduramente e sem prevenção: qualquer fuga ao bom senso, à razão e à sabedoria não pode deixar dúvidas quanto à sua origem, seja qual for o nome com que se mascare o Espírito;

8º – Os Espíritos inferiores receiam os que lhes analisam as palavras, desmascaram as torpezas e se não deixam prender por seus sofismas; às vezes tentam erguer a cabeça, mas acabam sempre fugindo, quando se sentem mais fracos;

9º – Aquele que em tudo age tendo em vista o bem eleva-se acima das vaidades humanas, expele do coração o egoísmo, o orgulho, a inveja, o ciúme e o ódio, e perdoa aos seus inimigos, pondo em prática esta máxima do Cristo: “Fazer aos outros como quereria que fosse feito a si mesmo”; simpatiza com os bons Espíritos, enquanto que os maus o temem e dele se afastam.

Seguindo estes preceitos, garantimo-nos contra as más comunicações, contra o domínio dos Espíritos impuros e, aproveitando tudo quanta nos ensinam os Espíritos verdadeiramente superiores, contribuiremos, cada um por nossa parte, ao progresso moral da Humanidade.

Allan Kardec

Livro: A Obsessão