15 de fev. de 2021

Espiritismo na Fé

 

"E estes sinais seguirão aos que crerem; em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas." – Jesus. (Marcos, 16:17.)
Permanecem as manifestações da vida espiritual em todos os fundamentos da Revelação Divina, nos mais variados círculos da fé.
Espiritismo em si, portanto, deixa de ser novidade, dos tempos que correm, para figurar na raiz de todas as escolas religiosas.
Moisés estabelece contacto com o plano espiritual no Sinai.
Jesus é visto pelos discípulos, no Tabor, ladeado por mortos ilustres.
O colégio apostólico relaciona-se com o Espírito do Mestre, após a morte dEle, e consolida no mundo o Cristianismo redentor.
Os mártires dos circos abandonam a carne flagelada, contemplando visões sublimes.
Maomé inicia a tarefa religiosa, ouvindo um mensageiro invisível.
Francisco de Assis percebe emissários do Céu que o exortam à renovação da Igreja.
Lutero registra a presença de seres de outro mundo.
Teresa d’Ávila recebe a visita de amigos desencarnados e chega a inspecionar regiões purgatoriais, através do fenômeno mediúnico do desdobramento.
Sinais do reino dos Espíritos seguirão os que crerem, afirma o Cristo. Em todas as instituições da fé, há os que gozam, que aproveitam, que calculam, que criticam, que fiscalizam... Esses são, ainda, candidatos à iluminação definitiva e renovadora. Os que crêem, contudo, e aceitam as determinações de serviço que fluem do Alto, serão seguidos pelas notas reveladoras da imortalidade, onde estiverem. Em nome do Senhor, emitindo vibrações santificantes, expulsarão a treva e a maldade, e serão facilmente conhecidos, entre os homens espantados, porque falarão sempre na linguagem nova do sacrifício e da paz, da renúncia e do amor.
XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso. Pelo Espírito Emmanuel. FEB. Capítulo 174.


14 de fev. de 2021

Objetivo da Fé

 



"Alcançando o fim da vossa fé, que é a salvação das vossas almas." - Pedro. (I PEDRO, 1:9.)
"Qual a finalidade do esforço religioso em minha vida?" Esta é a interrogação que todos os crentes deveriam formular a si mesmos, freqüentemente.
O trabalho de auto-esclarecimento abriria novos caminhos à visão espiritual.
Raramente se entrega o homem aos exercícios da fé, sem espírito de comercialismo inferior. Comumente, busca-se o templo religioso com a preocupação de ganhar alguma coisa para o dia que passa.
Raciocínios elementares, contudo, conduziriam o pensamento a mais vastas ilações.
Seria a crença tão-somente recurso para facilitar certas operações mecânicas ou rudimentares da vida humana? Os irracionais, porventura, não as realizam sem maior esforço? Nutrir-se, repousar, dilatar a espécie, são característicos dos próprios seres embrionários.
O objetivo da fé constitui realização mais profunda. É a "salvação" a que se reporta a Boa Nova, por excelência. E como Deus não nos criou para a perdição, salvar, segundo o Evangelho, significa elevar, purificar e sublimar, intensificando-se a iluminação do espírito para a Vida Eterna.
Não há vitória da claridade sem expulsão das sombras, nem elevação sem suor da subida.
A fé representa a bússola, a lâmpada acesa a orientar-nos os passos através dos obstáculos; localizá-la em ângulos inferiores do caminho é um engano de conseqüências desastrosas, porque, muito longe de ser uma alavanca de impulsão para baixo, é asa libertadora a conduzir para cima.
XAVIER, Francisco Cândido. Vinha de Luz. Pelo Espírito Emmanuel. 14.ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1996. Capítulo 92.

13 de fev. de 2021

A Fé: Mãe da Esperança e da Caridade

 



Para ser proveitosa, a fé tem de ser ativa; não deve entorpecer-se. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus, cumpre-lhe velar atentamente pelo desenvolvimento dos filhos que gerou.
A esperança e a caridade são corolários da fé e formam com esta uma trindade inseparável. Não é a fé que faculta a esperança na realização das promessas do Senhor? Se não tiverdes fé, que esperareis? Não é a fé que dá o amor? Se não tendes fé, qual será o vosso reconhecimento e, portanto, o vosso amor?
Inspiração divina, a fé desperta todos os instintos nobres que encaminham o homem para o bem. É a base da regeneração. Preciso é, pois, que essa base seja forte e durável, porquanto, se a mais ligeira dúvida a abalar que será do edifício que sobre ela construirdes? Levantai, conseguintemente, esse edifício sobre alicerces inamovíveis. Seja mais forte a vossa fé do que os sofismas e as zombarias dos incrédulos, visto que a fé que não afronta o ridículo dos homens não é fé verdadeira.
A fé sincera é empolgante e contagiosa; comunica-se aos que não na tinham, ou, mesmo, não desejariam tê-la. Encontra palavras persuasivas que vão à alma. ao passo que a fé aparente usa de palavras sonoras que deixam frio e indiferente quem as escuta. Pregai pelo exemplo da vossa fé, para a incutirdes nos homens. Pregai pelo exemplo das vossas obras para lhes demonstrardes o merecimento da fé. Pregai pela vossa esperança firme, para lhes dardes a ver a confiança que fortifica e põe a criatura em condições de enfrentar todas as vicissitudes da vida.
Tende, pois, a fé, com o que ela contém de belo e de bom, com a sua pureza, com a sua racionalidade. Não admitais a fé sem comprovação, cega filha da cegueira. Amai a Deus, mas sabendo porque o amais; crede nas suas promessas, mas sabendo porque acreditais nelas; segui os nossos conselhos, mas compenetrados do um que vos apontamos e dos meios que vos trazemos para o atingirdes. Crede e esperai sem desfalecimento: os milagres são obras da fé. - José, Espírito protetor. (Bordéus, 1862.).

KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. FEB. Capítulo 19. Item 11. Livro eletrônico gratuito em http://www.febnet.org.br.

A Importância dos Bons Pensamentos

 


Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável.”

“A ação dos Espíritos sobre os fluidos espirituais tem conseqüências de importância direta e capital para os encarnados. Desde o instante em que tais fluidos são o veículo do pensamento; que o pensamento lhes pode modificar as propriedades, é evidente que eles devem estar impregnados das qualidades boas ou más, dos pensamentos que os colocam em vibração, modificados pela pureza ou impureza dos sentimentos.”

É através do pensamento que tudo começa. Somos muitos bilhões de espíritos encarnados e desencarnados pensando ao mesmo tempo, o tempo todo. O pensamento é alguma coisa. Não sabemos exatamente o quê, um tipo de energia, provavelmente. Mas ele é alguma coisa. Você, eu e mais os outros bilhões de espíritos enchemos o espaço com nossos pensamentos.

Assim como as ondas de rádio e televisão estão no ar, nossos pensamentos estão no ar. Quando você fala no seu telefone celular, sua voz é transformada em sinais elétricos que caminham como ondas de rádio, viajando pelo ar. Nossos pensamentos também viajam pelo ar. O número para o qual você liga é conectado com o seu aparelho, e sua voz chega até ele. Com nossos pensamentos acontece a mesma coisa. Quem estiver receptivo ao tipo de pensamento que emitimos, quem estiver aberto ao “sinal” característico do pensamento que emitimos, recebe nosso pensamento em sua mente. Nosso pensamento é captado como ideia ou emoção.

Você acha que isso é um exagero? Não é. É uma característica do período em que vivemos. Cem anos atrás não tínhamos nem dez por cento da população urbana que temos hoje. Vivemos num conglomerado de mentes, umas influenciando às outras. Um dos efeitos desse fenômeno é que todos nós somos cada vez mais sensíveis ao que nos cerca, ao meio em que vivemos, às pessoas com quem convivemos, aos ambientes que frequentamos.

Allan Kardec nos alertou que todos somos médiuns, não é? Pois hoje não é tarefa simples saber distinguir o que é pensamento nosso e o que é influência externa. A Terra e o espaço que a circunda está saturada de pensamentos. Você sabe tão bem quanto eu que a maior parte das pessoas não cultiva bons pensamentos. Você não precisa que eu lhe demonstre que a maioria dos pensamentos que nos cercam são pensamentos doentios, enfermiços, dolorosos. É nesse meio que nós vivemos. É no meio desse enorme peso mental que nós nos desenvolvemos e aprendemos.

A recomendação de Jesus, “orai e vigiai”, nunca esteve tão atual e necessária. Ao se descuidar dos seus pensamentos, ao deixar que seus pensamentos sigam seu curso livre, no piloto automático, você está permitindo que seu padrão vibratório baixe, dando abertura para que milhões de pensamentos de mesmo nível sintonizem com o seu. Não é à toa que a depressão já é chamada de “o mal do século XXI”. Ao menor descuido, seu padrão vibratório cai, e suas energias caem também.

A boa notícia é que ao manter seu pensamento elevado, sua influência sobre os que o cercam, encarnados e desencarnados, é muito benéfica. Muitos não sabem que funcionam como um oásis para espíritos sedentos de boas energias. Os desencarnados carentes de energia, que desconhecem seu estado de desencarnados ou que têm alguma dificuldade para seguir seu rumo, costumam se aproximar de encarnados de bom padrão vibratório. Buscam algum conforto, sentem-se bem com as energias positivas do encarnado vigilante de seus pensamentos.

Quando você vai ao centro espírita, ou quando contata com os espíritos trabalhadores, em suas orações ou durante o sono físico, muitos desencarnados carentes acompanham você e são encaminhados ao socorro e esclarecimento.

Nunca estamos sós. Somos úteis ou prejudiciais mesmo sem tomar conhecimento disso.

12 de fev. de 2021

Autoperdão e obsessão

 



O emprego do autoperdão vem recebendo viva atenção nos meios espíritas: em palestras nos centros, transmissões ao vivo, as quais são disponibilizadas na WEB, artigos, entrevistas, ou seja, nos mais variados meios de divulgação e comunicação.
Rogério Miguez 

Tema realmente oportuno e relevante, com eficazes resultados para os seus reais utilizadores, pois pode proporcionar, quando pertinente, o reencontro com a paz interior, momentaneamente perdida pelo cometimento de graves atos e condutas perpetrados pelo infrator, distanciados do correto ordenamento divino.

Entretanto, é imperioso esclarecer que no desenrolar da existência, não há receitas mágicas, tudo desenvolve-se através do merecimento e do aproveitamento das lições oferecidas pela vida, traduzidas pelo resultado das boas obras efetivamente realizadas, ou seja: não há a lei do menor esforço.

Sem perceberem ter o emprego do autoperdão alcance e efeitos muito bem delineados, alguns iludem-se acreditando em poder, pelo uso continuado deste recurso, escapar das inevitáveis consequências de suas obras levianas, às vezes mesmo, maldosas.

Uma das possíveis formas de, infelizmente, autoenganar-se, alguns por desconhecimento, outros às vezes mesmo tentando subtrair-se das implicações de anteriores atitudes cometidas irrefletidamente, o indivíduo autoperdoa-se, na expectativa de poder iniciar nova caminhada livre do sentimento de culpa, sem nenhuma necessidade de expiar e reparar o mal realizado.

O autoperdão é uma ferramenta a ser utilizada em casos contundentes, onde o descumpridor dos eternos princípios divinos, se vê acuado diante de sua conduta, não encontra respaldo e apoio junto a seus amigos e familiares, e, diante de uma pressão interna cada vez maior, o autoperdão apresenta-se como uma válvula de alívio da insuportável pressão interna, permitindo ao que sofre as consequências do remorso e arrependimento profundos, reorganizar-se, tendo condições de retomar sua marcha evolutiva.

Eventualmente, o conflito interno experienciado pelo transgressor pode ser acentuado pela atuação incisiva de um Espírito ainda desorientado – o chamado obsessor - que, por razões diversas, ligou-se mentalmente ao transgressor da lei e, através de continuadas más sugestões especificamente direcionadas à questão em foco, martiriza ainda mais a vítima, fazendo crer que o delito foi gravíssimo, não havendo desculpa para o feito, em suma: o agressor cometeu uma falta irremissível.

Nesta situação, poder-se-ia argumentar que o autoperdão seria a solução ideal, liberando o obsidiado desta incômoda situação.

É fato que o autoperdão sincero, por parte daquele que se considera pecador, o ajuda muitíssimo a conviver com as consequências da ação indevida. Entretanto, se o vínculo obsessivo se estabeleceu por conta de uma prejudicial conduta direta ao Espírito desencarnado, por exemplo, a prática de um abortamento, o futuro reencarnante que se viu impedido de voltar ao mundo material poderá, se assim o decidir, iniciar um processo obsessivo, tentando vingar-se. Neste caso, apenas o autoperdão terá pouca ou nenhuma serventia para interromper o assédio do obsessor.

O único caminho com o poder de aliviar a vítima de seu algoz, nesta particular situação, seria a mudança de atitude do infrator, neste caso a mãe que, em geral, já havia prometido previamente, antes de reencarnar, receber aquele particular Espírito para uma jornada em nova existência familiar.

E qual seria a conduta adequada em um caso como o descrito, além de autoperdoar-se? Certamente a mãe poderia voltar-se a atividades envolvendo crianças sem pais, um orfanato, por exemplo, dedicando-se a cuidar de filhos alheios.

Outra opção seria assumir a manutenção material de uma criança abandonada em uma ONG dedicada a este tipo de atividade, suportando as despesas materiais que este órfão necessita para viver sob a tutela desta organização filantrópica. Não há necessidade em absoluto de levar a criança escolhida para a própria residência, pois muitas mães nem podem (possuem jornadas de trabalho extensas), é suficiente o compromisso de cuidar do filho alheio, com dedicação e responsabilidade.

Em nosso país é difundida a prática da contratação de serviços domésticos ajudando no funcionamento de um lar. Em muitos casos, esta pessoa que nos ajuda, a chamada diarista, possui filhos. Por qual razão não “adotar” estas crianças, caso os contratantes possuam recursos suficientes, provendo material escolar, brinquedos, vestimentas, ou mesmo algum apoio na alimentação destes filhos alheios?

O obsessor precisa observar um comportamento altruísta da mãe em relação ao próximo; isto é que o motiva a desfazer o laço obsessivo.

Entres tantas obras espíritas orientando neste sentido, podemos recordar literatura do século passado, onde se lê uma orientação geral para desanuviar as mentes culpadas:1

“Para desobstruir o caminho de nossa consciência culpada, devemos favorecer a libertação dos que suportam fardos mais pesados que os nossos, porque ajudando aos nossos semelhantes angariaremos o auxílio deles, fazendo-nos, ao mesmo tempo, credores do amparo daqueles Irmãos Maiores que nos estendem próvidos braços da Vida Superior”.

Em um caso de abortamento, quando a mãe desconhece as graves implicações desta conduta, a situação pode ser plenamente contornada por uma nova gravidez, quando, às vezes, o próprio Espírito não aceito no passado, pode apresentar-se mais uma vez para um novo tentame reencarnatório.

Este exemplo pode se estender a outras situações onde o transgressor da lei divina, por meio de uma simples atitude de autoperdoar-se, não logrará sucesso em acalmar-se internamente, e precisará agir de acordo com o delito perpetrado, reparando o mal realizado, e, certamente, a misericórdia de Deus sempre ajudará neste intento. 


Referência:

1 XAVIER, Francisco C. Instruções psicofônicas. Espíritos Diversos. 2. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1955. cap. XII. Ante a reencarnação.

11 de fev. de 2021

Transtornos Mentais e Obsessão

 



Leopoldo Balduino, no livro “Psiquiatria e Mediunismo”, fala a respeito das manifestações psicopatológicas que, segundo pensamos, podem ser causadas ou intensificadas pela patologia da obsessão.

(p.65) O autor espiritual André Luiz confirma essa continuidade de corpo-mente em níveis bioquímicos ao afirmar que “nos traumas cerebrais da cólera, do colapso nervoso, da epilepsia e da esquizofrenia, como tantas outras condições anômalas da personalidade, vamos encontrar essas mesmas fermentações no campo das células, mas em caráter de energias degeneradas, que correspondem às turvações mentais que as provocam”.

Aqui poderia estar a causa primária de grande número de alterações psíquicas, inclusive das obscuras psicoses endógenas, até hoje impenetráveis à análise fenomenológica.

(p.70) A Posição Espírita vai além, ao advogar também a existência de elementos inconscientes localizados no corpo espiritual, com todo o repositório das experiências e vivências das encarnações pretéritas, além, é claro, das vividas no plano espiritual. De acordo com ela, as forças dinâmicas oriundas do inconsciente espiritual tanto podem ser de natureza positiva, saudável, tais como tendências, idéias ou habilidades inatas, como de natureza morbígena. Os gênios precoces, como Wolfgang A. Mozart, seriam um exemplo de vidas pregressas altamente evoluídas. Crianças portadoras de distúrbios, tais como autismo infantil , psicoses infantis, etc., podem representar o segundo grupo.

(p.88) Como, de acordo com a Posição Espírita, tais quadros ideativos delirante-alucinatórios podem ser encontrados também em personalidades espirituais, desprovidas de corpo físico, deduz-se que alguns quadros de natureza psicopatogênica têm o seu lócus no cérebro perispiritual. Provavelmente esse seria o caso das graves psicoses endógenas, as quais não demonstraram seus segredos às pesquisas anatomopatológicas, como já foi explicitado.

Alguns fenomenologistas interpretam esse transtorno no ato de integração significativa como secundário a um grave transtorno do eu. (...) Contudo, de acordo com Jung, o ego não seria mais que um complexo psicológico que, através do processo de individuação, pode ser dispensado, transferindo o foco da consciência para níveis mais interiores. (...) Contudo também é possível a existência de subpersonalidades inconscientes, fruto do processo de dissociação da consciência, ou ainda resquícios de vidas passadas.

(p.89) Assim, quando se diz que o significado de um delírio primário é não só estranho como impenetrável, deve-se tomar essa afirmativa como relativa à história pregressa da atual existência. Essa impenetrabilidade pode ser desfeita ao se considerar a possibilidade de eventos desencadeantes oriundos do plano espiritual ou do inconsciente espiritual, onde ficam armazenadas, segundo a Posição Espírita, todas as experiências da série insondável das anteriores encarnações. Além do mais, existe o estranho fenômeno das personalidades intrusas, ocasionando as denominadas obsessões espirituais.

Redação do Blog Espiritismo Na Rede 

10 de fev. de 2021

SONO E SONHO

 



André Luiz no livro “Mecanismos da Mediunidade”, psicografado por Chico Xavier, nos ensina:

Na maioria das situações, a criatura, ainda extremamente aparentada com a animalidade primitivista, tem a mente como que voltada para si mesma, em qualquer expressão de descanso, tomando o sono para claustro reman­çoso das impressões que lhe são agradáveis, qual criança que, à solta, procura simplesmente o objeto de seus caprichos.”

“Nesse ensejo, configura na onda mental que lhe é característica as imagens com que se acalenta, sacando da memória a visualização dos próprios desejos, imitando alguém que improvisasse miragens, na antecipação de acontecimentos que aspira a concretizar.”

Atreita ao narcisismo, tão logo demande o sono, quase sempre se detém justaposta ao veículo físico, como acontece ao condutor que repousa ao pé do carro que dirige, entregando-se à volúpia mental com que alimenta os próprios impulsos afetivos, enquanto a máquina se refaz.”

“Ensimesmada, a alma, usando os recursos da visão profunda, localizada nos fulcros do diencéfalo, e, plenamente desacolchetada do corpo carnal, por temporário desnervamento, não apenas se retempera nas telas mentais com que preliba satisfações distantes, mas experimenta de igual modo o resultado dos próprios abusos, suportando o desconforto das vísceras injuriadas por ele mesmo ou a inquietude dos órgãos que desrespeita, quando não padece a presença de remorsos constrangedores, àface dos atos reprováveis que pratica, porquanto ninguém se livra, no próprio pensamento, dos reflexos de si mesmo.”

“SONO E SONHO — Qual ocorre no animal de evolução superior, no homem de evolução positivamente inferior o desdobramento da individualidade, por intermédio do sono, é quase que absoluto estágio de mero refazimento físico.”

“No primeiro, em que a onda mental é simplesmente fraca emissão de forças fragmentárias, o sonho é puro reflexo das atividades fisiológicas. No segundo, em que a onda mental está em fase iniciante de expansão, o sonho, por muito tempo, será invariável ação reflexa de seu próprio mundo consciencial ou afetivo.”

“Evolui, no entanto, o pensamento na criatura que amadurece, espiritualmente, através da repercussão. Como no caso do sensitivo que, fora do envoltório físico, vai até ao local sugerido pelo magnetizador, tomando-se a ordem determinante da hipnose artificial pelo reflexo condicionado que lhe comanda as ideias, a criatura na hipnose natural, fora do veículo somático, possui no próprio desejo o reflexo condicionado que lhe circunscreverá o âmbito da ação além da roupagem fisiológica, alongando-se até ao local em que se lhe vincula o pensamento.”

“O homem do campo, no repouso físico, supera os fenômenos hipnagógicos e volta à gleba que semeou, contemplando aí, em Espírito, a plantação que lhe recolhe o carinho; o artista regressa à obra a que se consagra, mentalizando-lhe o aprimoramento; o espírito maternal se aconchega ao pé dos filhinhos que a vida lhe confia, e o delinquente retorna ao lugar onde se encarcera a dor do seu arrependimento.”

“Atravessada a faixa das chamadas imagens eutópticas, exteriorizam de si mesmos os quadros mentais pertinentes à atividade em que se concentram, com os quais angariam a atenção das Inteligências desencarnadas que com eles se afinam, recolhendo sugestões para o trabalho em que se empenham, muito embora, à distância da veste somática, frequentemente procedam ao modo de crianças conduzidas ao ambiente de pessoas adultas, mantendo-se entre as ideias superiores que rece­bem e as ideias infantis que lhes são próprias, do que resulta, na maioria das vezes, o aspecto caótico das reminiscências que conseguem guardar, ao retornarem à vigília.”

“Nesse estágio evolutivo, permanecem milhões de pessoas — representando a faixa de evolução mediana da Humanidade — rendendo-se, cada dia, ao impositivo do sono ou hipnose natural de refazimento, em que se desdobram, mecamicamente, entrando, fora do indumento carnal, em sintonia com as entidades que se lhes revelam afins, tanto na ação construtiva do bem, quanto na ação deletéria do mal, entretecendo-se-lhes o caminho da experiência que lhes é necessária à sublimação no porvir.”

André Luiz

Redação do Blog Espiritismo Na rede baseado na obra Mecanismo da mediunidade psicografia de Francisco Candido Xavier

9 de fev. de 2021

A questão da prisão perpétua

 



O Espiritismo tem, como sabemos, posição firme e clara sobre a questão da pena de morte. A visão da doutrina não se alinha a qualquer ato ou política pública que interrompa uma vida, até mesmo a de um criminoso contumaz. A adoção de tal solução, aliás, caracteriza sociedades tipicamente selvagens e intransigentes. Infelizmente, muitas nações não abdicaram ainda deste funesto procedimento.

Em contrapartida, a prisão perpétua representa um tratamento mais, digamos, humanizado para o delinquente. Há algumas semanas atrás, o jovem terrorista australiano Brenton Tarranti, responsável pelo assassinato de 51 pessoas nas mesquitas de Al Noor e Linwood na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia, ouviu impávido essa condenação.

Vale frisar que o impiedoso terrorista utilizou armas semiautomáticas no ataque – o que contribuiu para um grande número de vítimas fatais. Mais ainda: demonstrando imenso sadismo, ele ainda transmitiu ao vivo as imagens nas redes sociais. Cabe também recordar que as pobres vítimas estavam fazendo as suas tradicionais orações de sexta-feira quando o covarde ataque ocorreu. Diante das evidências, o juiz do caso assim proferiu a sentença: “Seus crimes são tão perversos que mesmo que ele seja mantido na prisão até a morte, isso não esgotará a punição e a sentença que eles exigem”. 

Em nosso país, um conhecido criminoso carioca, Elias Maluco (1966-2020), responsável pela morte, entre outros, do jornalista Tim Lopes (1950-2002), não suportando os rigores da extensa condenação, deu cabo da própria vida pela via do autocídio. Posto isto, cumpre ressaltar que as sociedades humanas não têm um programa único para indivíduos desse jaez. Dependendo do país, as condições do condenado podem ser mais ou menos amenas, mas não é uma regra absoluta. No Brasil, por exemplo, as longas condenações acabam sendo bem aliviadas dada a benevolência do nosso código penal com os criminosos de qualquer espécie. Mas no geral prevalece a condenação ao isolamento até o fim dos dias do delinquente na encarnação em decurso. Por representarem grande perigo à sociedade, terminam a vida sob regime total de confinamento.

Nesse sentido, não encontrei um texto absolutamente cristalino com referência a esse tema no âmbito da Doutrina Espírita. Desse modo, o que podemos concluir a respeito? Creio que o tópico é pertinente considerando a quantidade de Espíritos presentemente encarnados que militam nas fileiras das trevas e, assim sendo, responsáveis por crimes inomináveis. Contudo, por mais que se discorde de tal arranjo, também não se pode, por outro lado, deixar de reconhecer que “Graças à Lei de Causa e Efeito, cada um é aquilo que de si mesmo faz. Conforme age, assim recebe a resposta da Vida”, conforme pontua o Espírito Vianna de Carvalho, na obra Atualidade do Pensamento Espírita (psicografia de Divaldo Pereira Franco).

Corroborando esse raciocínio, Allan Kardec observa, no livro O Céu e o Inferno, que “O Espírito sofre, quer no mundo corporal, quer no espiritual, a consequência das suas imperfeições. As misérias, as vicissitudes padecidas na vida corpórea são oriundas das nossas imperfeições, são expiações de faltas cometidas na presente ou em precedentes existências”. Assim sendo, ter a supressão da liberdade parece ser uma justa punição ao protagonista de crimes cruéis. Afinal, ao não saber conviver de maneira pacífica e respeitosa com os seus semelhantes, revela, pois, o seu instável caráter e grau de imperfeição.

Devemos ter sempre em mente que respeitar a vida, aliás, é dever de todos nós e em todas as circunstâncias. E quem demonstra inaptidão para tal comprometimento merece, sim, a justa punição. Ademais, a solidão de uma cela – por mais dura que possa ser tal experiência – certamente deverá conduzir o infeliz infrator das leis de Deus a refletir sobre a sua conduta desviada. As longas e penosas horas de isolamento provavelmente o levarão a repensar a sua conduta criminosa; a privação de movimentar-se livremente o incitará a valorizar a alegria de tão significativa concessão divina; a impossibilidade de se relacionar amiúde com os seus semelhantes, o farão considerar a riqueza do contato humano.

Assim sendo, tomando ciência de tais bênçãos, outrora menosprezadas, o Espírito delinquente inicia a dura jornada rumo à luz. Despertando para a necessidade de cultivar uma vida espiritualmente saudável, ele se equipa, por extensão, para os futuros e indispensáveis reajustes às leis divinas no plano material.

Anselmo Ferreira Vasconcelos