12 de jun. de 2013

Os riscos do perfeccionismo

“Sede perfeitos [...].” – Jesus. (Mateus, 5:48.) Será que Jesus determinou uma sentença impossível para seus irmãos, ao propor que fôssemos perfeitos, assim como é perfeito o Pai que está nos Céus?

A compreensão profunda do que o Mestre quis dizer está diretamente relacionada ao que se entende por perfeição. Se ela for assimilada como algo sem mácula, um conjunto de atitudes absolutamente corretas, talvez tenhamos de enfrentar muitas dificuldades para alcançar o que o Cristo nos pede.

Falta ainda uma larga caminhada até o ser humano atingir esse nível de excelência. Por isso, seria interessante se, ao invés de se falar em perfeição, tratássemos de todas as possibilidades de melhoria progressiva a nosso alcance.

É preciso admitir as próprias imperfeições. Que somos ainda “fazedores de erros”. Que a perfeição absoluta não existe, e sim o alcance de uma condição evolutiva em que passamos a compreender com amplitude a perfectibilidade de Deus, conforme apregoam os Espíritos - autores de O Livro dos Espíritos.

Quando a criatura não consegue conviver em paz com os próprios limites, corre o risco de se perder em torno de problemas de fundo psicológico. Um deles é a conduta obsessivo-compulsiva.

O obsessivo é aquele que pensa e repensa constantemente sobre sua obsessão, seja ela qual for. O compulsivo sai do campo do pensamento e entra no da prática. Ele não somente faz, mas repete a ação de forma constante, como, por exemplo, lavar as mãos vinte vezes ao dia.

Esse tipo de pessoa costuma acreditar que se não valer alguma coisa, não vale nada. Se não é perfeito, é um fracasso. Dentre outras possíveis causas, isso pode também ser o resultado de uma programação feita na infância, com base na convivência com pais muito exigentes, que planejaram os filhos para serem perfeitos e sem manchas.

O problema é que o resultado final do perfeccionismo nunca é bom. É difícil encontrar alguém com esse perfil que se sinta satisfeito com o resultado final de algo que fez. Para ele, o feito poderia sempre ter ficado melhor, e essa consciência não o deixa ser integralmente feliz.

Para mexer na estrutura psíquica do perfeccionista, é preciso mudar uma crença básica dele, a de que seu valor é medido por seu desempenho e que os erros que comete diminuem a admiração que os outros têm por ele.

No fundo, a autocobrança pela eficácia absoluta é tão feroz que ele se torna concorrente severo de si mesmo, e quando chega nesse estágio, fica difícil que não mergulhe na incapacidade de ser tranqüilo e de se desculpar pelos deslizes naturais de pessoa imperfeita, que é.

Não há outra saída, senão a pessoa tornar-se consciente dos efeitos perversos do cativeiro em que se envolveu. Vulnerabilidade e experiências de aprendizado, em que errar é permitido, fazem parte de qualquer conquista e amadurecimento.

De acordo com a opinião de Emmanuel, “Deus permitiu que as quedas d’água existissem para que percebêssemos quanta força e renovação podemos extrair de nossas próprias quedas”. (Companheiro. 23. ed. IDE, cap. 12.)

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Felicidade é o resultado de uma relação sincera da pessoa com seus talentos e possibilidades de mudança. Cada um dá o que pode, com os recursos que tem à disposição no momento. O mais pode vir por acréscimo, se for da vontade superior, desde que os empenhos da criatura favoreçam o seu e o crescimento da comunidade a que pertence.

Todo erro faz parte do processo de aprendizagem. O único fracasso integral é aquele com o qual nada se aprende. Por isso, os sábios costumam dizer que o caminho se faz ao caminhar, e que ser feliz é resultado de um crescimento gradual, seguro e progressivo, bem diferente da perfeição instantânea, em que alguns acreditam, mas que nunca conseguem atingir.

Revista Reformador, Janeiro 2008

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