9 de jun. de 2014

O uso de animais em pesquisas científicas


Esse fato gera as seguintes indagações: é lícito e ético o uso de animais em pesquisas científicas? À luz do Espiritismo, como analisar tal questão?
Frise-se, de início, que a religião espírita nos ensina a amar os animais, porque são nossos irmãos, e, como seres sencientes (dotados da capacidade de sentir, dores ou prazeres), merecem respeito e proteção. O Espiritismo ainda nos elucida que os animais têm princípios espirituais (almas rudimentares – usa-se a palavra espírito ou alma quando o ser espiritual já atingiu o reino hominal, da razão) e que, um dia, através da lei divina da reencarnação e da imortalidade da alma, atingirão o reino hominal e, como nós, alcançarão o patamar de Espíritos puros, portanto, os animais também estão submetidos à lei do progresso.
De outro lado, não podemos desprezar o valor dos avanços científicos, sobretudo na área da qualidade de vida, através da descoberta de curas e tratamentos de doenças, que nos permitam maior longevidade, facultando ao Espírito maior aproveitamento da experiência evolutiva que o corpo enseja.
As pesquisas científicas, na área da farmacologia, também possibilitam a descoberta de medicamentos que amenizam nossos sofrimentos na Terra.
Não ignoremos que os avanços científicos se dão por permissão e misericórdia divina, a fim de tornar a vida na Terra menos áspera. Ademais, em havendo o merecimento coletivo, muitos cientistas, através de inspiração superior, conseguem identificar a cura para determinadas doenças, erradicando-as da Terra.
Na atual fase evolutiva da Terra, como ajustar esses interesses? De um lado, há a necessidade das pesquisas e de outro, o respeito aos animais.
Há uma passagem conhecida no Evangelho (Marcos, 5:1 a 13), na qual Jesus, ao passar pelo cemitério de Gadara, se depara com um obsidiado que era atormentado por muitos Espíritos, que se denominaram “legião”. Quando Jesus intercede amorosamente em favor do obsidiado, cessando a influência espiritual perniciosa, os Espíritos perturbadores perguntam ao Mestre se poderiam “entrar” numa vara de porcos que estava na proximidade, e Jesus consente.
Ao consentir, Jesus nos ensina que a vida humana tem prioridade sobre a vida dos animais.
Todas as vezes que estiverem em jogo ambas as vidas, obviamente, devemos dar preferência
à vida da criatura humana, que está no topo do ecossistema.
Apenas a título de registro doutrinário, enfatize-se que os Espíritos obsessores não podiam “entrar” no corpo dos animais, aliás, nem em nossos corpos, porque a influência espiritual se dá mente a mente.
Consta que os porcos se agitaram e correram para o mar, onde se afogaram, não porque os Espíritos adentraram neles, mas porque os animais fazem registros anímicos rudimentares, de forma que os porcos sentiram a vibração pestilenta e de baixo teor daquele grupo de Espíritos e se agitaram em desespero, vindo a correrem na direção do mar.
Diante da proteção maior que se dá à vida humana, podemos concluir que são válidas as pesquisas científicas que visam a melhoria da qualidade de vida do ser humano, e, em sendo necessário para essas pesquisas, pode-se utilizar a cobaia animal, mas com limites éticos.
Recomendo a leitura do capítulo Ciências Médicas e Biológicas à Luz do Espiritismo, do livro Atualidade do pensamento espírita, ditado pelo Espírito Vianna de Carvalho, através da mediunidade de Divaldo Pereira Franco, que trata das questões relacionadas à engenharia genética, à embriologia e à zoologia.
O referido benfeitor espiritual aborda com muita elevação a questão dos limites éticos nas pesquisas científicas, dizendo que:
Toda vez que as aspirações humanas se transformarem em alienação perturbadora, objetivando interferir nos códigos genéticos para verdadeiras aventuras, a licitude da experiência deve ceder lugar aos impositivos de uma ética trabalhada com rigor, a fim de que as vidas animais e humanas sejam poupadas às aberrações, que muitas mentes desequilibradas, de ontem como de hoje, têm tentado realizar em diversas culturas [...].
De acordo com a lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008, o uso de animais em atividade de ensino e pesquisa é autorizado no Brasil. Cabe ao Concea (Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal), regulamentado pela mesma lei, zelar pelo cumprimento das normas relativas à utilização humanitária dos animais, além de estabelecer quais instituições
podem fazer os testes e monitorar o desenvolvimento de novas técnicas que reduzam a utilização dos animais pela ciência.
Registre-se, também, que muitos cientistas se utilizam de outras técnicas para fazer algumas pesquisas na área da saúde, não sendo necessária a cobaia animal, como a cultura de célula do próprio ser humano, a análise genômica e sistemas biológicos in vitro.
Todavia, a Ciência afirma que, em determinadas pesquisas ou em determinado ponto da investigação científica, surge como indispensável o uso de cobaias animais, a fim de que se possam testar medicamentos, vacinas e outras pesquisas, protegendo os seres humanos de compostos nocivos ou ineficientes.
Dessa forma, conjugando as orientações do Espírito Vianna de Carvalho na citada obra e os preceitos doutrinários do Espiritismo, podemos concluir que as pesquisas com cobaias animais são aceitas desde que:
1) sejam importantes para a saúde humana, evitando-se aquelas de pouca relevância ou repetições de outros trabalhos científicos já comprovados;
2) não visem o estudo de questões meramente estéticas, porque não seria digno e razoável, por exemplo, usar a cobaia animal para testes de cosméticos e outros produtos que visam apenas o embelezamento do ser humano;
3) não seja possível sua execução através de outras metodologias;
4) não visem a manipulação genética em animais, exceto quando tenham por objetivo o melhoramento da qualidade da raça do próprio animal, evitando-lhe a fragilidade e as enfermidades que decorrem do meio ambiente ou de fatores hereditários.
(Op. cit., Vianna de Carvalho.) Concordo, ainda, com a Sociedade Mundial de Proteção Animal, WSPA (sigla em inglês), a qual, por meio de sua assessoria de imprensa, frisa que, quando há necessidade verdadeira e sem alternativa de se usar animais em experimentações e testes, “essa utilização deve ser regulada e supervisionada por um comitê de ética e bem-estar”. Para eles, além de anestesia e equipe treinada, os testes devem, de todas as formas, poupar os animais de “injúrias físicas e psicológicas, incluindo medo e estresse crônicos, a dor, a fome e outros sofrimentos evitáveis”.
Assim sendo, conforme  Vianna de Carvalho, não ignoremos que:
[...] A vida na Terra, por enquanto, obedece, de certo  modo, à Lei de destruição,  mediante a qual a sobrevivência de um ser depende da  morte de outro [...]. Não obstante, o ser humano é precioso, porque nele transitam os  Espíritos que já alcançaram  uma faixa superior de entendimento da vida [...].
Logo, caberá ao homem perceber que as doenças decorrem de sua imperfeição moral, pelo que deverá investir principalmente na vivência da lei de amor, a fim de que, no futuro, as doenças sejam erradicadas, não sendo mais necessário o uso de cobaia anima
Alessandro Viana Vieira de Paula

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