Matéria
publicada no Jornal Mundo Espírita - outubro/2004
Narra
João, o quarto cronista da Boa Nova, no capítulo 21, versículo 25 do seu
Evangelho que: "Muitas outras coisas, porém, há ainda que fez Jesus; as
quais, se se escrevessem uma por uma, creio que nem no mundo todo poderiam
caber os livros que delas se houvessem de escrever."
Marcos
escreve em seu capítulo 9:37 a 39, a respeito da atitude de João ordenando a um
homem que parasse de curar obsedados, em nome de Jesus, porque não pertencia ao
círculo do Nazareno.
É Léon
Tolstoi que realiza o resgate da personagem através da psicografia abençoada de
Yvonne Pereira, narrando-nos que, mesmo muito jovem, aquele personagem era
visto a seguir Jesus, onde quer que Ele se encontrasse.
Moreno, de
olhos cinzentos e sonhadores, cabelos negros e abundantes que iam até à altura
do pescoço, barba pequena, negra como a cabeleira, sempre tratada e limpa,
vestia uma túnica de algodão azul escuro, alpercatas gregas e um manto marrom.
A tiracolo
trazia, de um lado, um saco de couro de carneiro onde guardava, envoltos em
retalhos de linho muito alvo, dois roletes de madeira, espécie de carretéis, um
deles sempre suprido com papiros, utilizados para a escrita pelos intelectuais
da época, conforme o uso grego, estiletes, sais coloridos e uma espécie de
flauta, um pífano. Do outro lado, em outro saco trazia um alaúde.
Ele era
visto sempre sozinho. Jamais falava e difícil seria dizer de sua nacionalidade.
Poderia ser egípcio, não fosse a cor dos olhos. Talvez fosse mesmo grego, dadas
as particularidades dos apetrechos para a escrita.
Seguindo
Jesus, o moço do manto marrom procurava se sentar, no chão, ou em um banco
improvisado com uma pedra, ou na soleira de uma porta e punha-se a escrever o
que ouvia.
À noite,
na pensão modesta a que se recolhesse ou no celeiro de alguma casa particular,
ele desenrolava os papiros e, à luz de uma candeia de azeite, tudo relia.
Estudava mesmo, até alta madrugada, fazendo anotações, comentários em outros
retalhos de papiros ou peles de ovelhas, colecionando tudo caprichosamente. É
como se, em sua mente, já se estivesse delineando algo que surgiria bem mais
tarde, o livro.
Muito
erudito, escrevia em grego, ou aramaico ou latim e por vezes, compunha versos,
acerca do que ouvira e vira, pois mais de uma vez presenciou as extraordinárias
curas realizadas pelo Meigo Rabi.
Ele estava
presente, quando o chefe da sinagoga de Cafarnaum procurou Jesus,
suplicando-lhe ir à sua casa, pois sua filha, menina de 12 anos, estava presa
de febre violenta. Assistiu, assim, à cura da mulher portadora de terríveis
hemorragias.
Jesus,
então empurrado daqui e dali, aproximou-se tanto do jovem, nessa oportunidade,
que o Seu manto lhe roçou o rosto. Emocionado, o moço tomou da ponta do manto e
ali depositou um ósculo de veneração.
O Nazareno
voltou-se, fitou-o em silêncio e pousou por um único instante, Sua mão sobre a
cabeça do moço, abençoando-o. Os dois olhares se cruzaram. Nenhuma palavra foi
pronunciada.
Logo mais,
o alarido festivo anunciava que a filha de Jairo estava curada. Ali mesmo, o
jovem retirou o tubo de estiletes, os carretéis com os papiros, os sais
coloridos e escreveu sobre o que presenciara.
Alguns
dias depois, estando em uma praça aguardando a vinda de Jesus, o moço começou a
observar a quase multidão que também ali esperava. Por onde andariam Jesus e os
apóstolos?
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