30 de set. de 2015

“O ESPIRITISMO NÃO É, NO CONJUNTO, UMA DOUTRINA PÉTREA, INALTERÁVEL, PARADA NO TEMPO E NO ESPAÇO”.



Encontramos em A Gênese, no seu primeiro capítulo, item 55 a cristalina opinião do Codificador quanto ao caráter dinâmico progressista da doutrina espírita ao asseverar que “o Espiritismo, marchando com o progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas demonstrarem estar em erro sobre um certo ponto, ele se modificaria sobre esse ponto; se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”.
Consideramos aceitável e mesmo indispensável o zelo pela doutrina, no entanto, estranhamos a visão ortodoxa e, em alguns casos extremos, fundamentalista de alguns adeptos, mesmo que baseadas em opiniões de alguns respeitáveis pioneiros da doutrina no Brasil, que tendo deixado o corpo físico provavelmente repensaram seus paradigmas.
Prefaciando a excelente obra Perispírito e Corpo Mental de Durval Ciamponi, o também escritor Ary Lex, escreve que “o Espiritismo não é, no conjunto, uma doutrina pétrea, inalterável, parada no tempo e no espaço. Suas linhas mestras, estas sim, representam o que surgiu de mais perfeito na história das religiões e não serão alteradas, sob pena de o Espiritismo fracassar no papel de reformador da humanidade”.
A posição de Kardec e dos Espíritos Superiores responsáveis pela codificação está bem clara quando da revisão e ampliação de O Livro dos Espíritos em 1860, somente três anos após a primeira edição. As ciências hoje, mais que naquela época, seguem seu ritmo vertiginoso de investigações e descobertas comprovadas pelos seus métodos de pesquisa. Portanto, qual o motivo do engessamento de nossa visão sobre alguns conceitos doutrinários? O que é verdade divina é pura e imutável por excelência e não pertence a nenhuma doutrina. Onde se sustentar para uma defesa da pureza doutrinária baseada na intolerância?
Não se pode prescindir do espírito de investigação e estudo desta doutrina encantadora que nos cativou, sobretudo, pela sua capacidade de aliar razão e fé na construção de nossa religiosidade. Não podemos abrir mão da tríade de sustentação do Espiritismo: ciência, filosofia e religião, sob pena de vermos nossa doutrina caminhar capenga rumo ao museu das religiões onde já se encontram algumas e se destinarão todas as doutrinas estruturalmente  dogmáticas.
Lúcio Silva Cavaca

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