30 de jun. de 2019

O Espiritismo é Subversivo?



Por Jacques PeccatteAo contrário da idéia comum que torna o Espiritismo uma religião, os espíritas do Cercle Spirite Allan
Kardec, da França, não aceitam os conceitos demasiado simples, que não permitem refletir sobre a
evolução do mundo atual.
O Espiritismo deve integrar-se à vida de nosso tempo, a fim de questionar os eventos culturais, sociais e
políticos à luz de nosso conhecimento espírita.
Tudo o que acontece no planeta merece interesse e reflexão por parte de todos os seres humanos,
sobretudo hoje, porque vivemos mais ou menos conscientemente, num modo transnacional dentro do
qual a situação de cada país é interdependente dos outros. A globalização econômica é uma realidade
atual e a exploração dos países pobres pelos ricos segue, como nos tempos da colonização.
O Espiritismo de Allan Kardec nunca aceitou esse processo de injustiça nem a resignação diante das
misérias. É essencial que, dentro da atualização do Espiritismo, levemos em conta as evoluções coletivas
de nossas sociedades.
Vemos que no neoliberalismo atual, todas as partes da Terra são dependentes desse sistema mundial,
incapaz de procurar o bem-estar de todos. As desigualdades se ampliam a cada dia, desigualdades entre
os países e entre os indivíduos. A riqueza global aumenta consideravelmente e, paralelamente, a pobreza
é cada vez maior.
A filosofia espírita incorpora conceitos de solidariedade e de fraternidade que estão totalmente ausentes
das sociedade humanas, apenas na forma de organizações caritativas. Desgraçadamente a caridade é o
único meio de solidariedade que deve preencher as deficiências das sociedades fundadas no egoísmo. O
objetivo de cada sociedade deve ser o desenvolvimento econômico, o que é perfeitamente normal e
evidente, mas os países pobres estão condenados a abastecer os países ricos, sem benefícios nem

desenvolvimento. É um intercâmbio de sentido único.
Existe uma estratégia dos países desenvolvidos, em particular dos Estados Unidos, que consiste em
dirigir o mundo segundo seus próprios interesses e benefícios. É uma política muito evidente, por
exemplo, no tocante ao continente africano.
A geopolítica mundial não é estabelecida ao acaso. Não existe fatalidade, mas vontades muito bem
calculadas por parte dos poderes econômicos.
Como espírita, não posso calar-me diante dessas realidades. Se os habitantes da Terra são irmãos, como
aceitar tais diferenças? Penso que esses problemas fazem parte da filosofia espírita em seu aspecto
moral.
Não podemos nos contentar com uma moral individual dentro da qual cada um se preocupa com sua
família e de seu vizinho (que é, sem embargo, muito bom). Mas devemos também, como espíritas,
considerar o enfoque espírita dentro de uma moral universal. A famosa evolução intelectual e moral
definida por Kardec significa que não devemos esquecer o aspecto intelectual, quer dizer, uma
compreensão real do mundo atual, a fim de situar-se moralmente frente a um conjunto humano que sofre
de sua inferioridade geral.
Pensamos, aqui na França, que o papel do espírita moderno é refletir, falar, denunciar eventualmente e
participar da luta contra o mal, seja qual for a sua forma. Nesse sentido, segundo o título deste artigo,
penso que os espíritas podem ser subversivos, não aceitando uma resignação comum e nenhuma
fatalidade. Creio que o Espiritismo é uma luta contra todas as injustiças que constatamos na condição
humana, participando das mudanças e progresso do mundo.
Nos séculos passados, o poder foi essencialmente das religiões. Depois despertaram-se sistemas laicos,
um pouco mais democráticos. No século 19 foi fundado o Espiritismo por Allan Kardec. Mas,
lamentavelmente, constatamos que atualmente o Espiritismo não tem uma verdadeira influência cultural
intelectual e moral dentro das sociedades.
No conjunto, as religiões mantém uma influência preponderante em certos países. E os sistemas sociais e
políticos não avançam no sentido da participação. Qual poderia ser o papel do Espiritismo diante da
evolução das sociedades atuais no mundo? É uma pergunta que merece ser considerada e eu a
proponho a todos os espíritas preocupados com o futuro do planeta.
Fonte: Jornal de cultura espírita “Abertura”, maio de 2000, ano XIII, nº 148, Santos-SP.Jacques Peccatte, líder espírita francês, um dos fundadores e dirigentes do Círculo Espírita Allan
Kardec, de Nancy, França, é diretor-responsável e redator do periódico trimestral “Le Journal
Spirite”.
Retirado do site: http://www.viasantos.com/pense/arquivo/1321.html

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