17 de mar. de 2014

Amor, a regra de ouro (parte 1)


Sergito de Souza Cavalcanti
Retirado do livro “Além das Estrelas”

“Os que amam vivem, os demais são mortos que caminham.”

Um fariseu estudioso das leis mosaicas, querendo experimentar Jesus, pergunta-lhe: “Mestre, qual é o grande mandamento da lei?”
  
Ao que Ele responde:

 “Amarás o Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este é: amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.”1

 A definição consiste exatamente na comparação “como a ti mesmo”, é uma das comparações entre as mais belas frases do ensino do Mestre Jesus. Os encarnados no orbe são seres em diferentes fases evolutivas, numa escala que varia ao infinito. Jesus se dirigiu a todos indistintamente, iniciando por aqueles cujo amor ainda não ultrapassou a matéria, e então usa o símbolo concreto, material: coração (“de todo teu coração”). Segue além, dirigindo-se aos que já amam além da matéria, o amor que toca a alma (“de toda a tua alma”), e finaliza, dirigindo-se àqueles que já atingiram o amor-entendimento, o amor-razão (“de todo o teu espírito, ou entendimento).

Essa idéia encontra-se já desenvolvida em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XI, item 8, quando o espírito Lázaro diz:

 “O amor resume toda a doutrina de Jesus, porque é a doutrina por excelência e os sentimentos são os instintos elevados à altura do progresso realizado. No seu ponto de partida, o homem só tem instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o amor é o requinte do sentimento. Não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que reúne e condensa em seu foco ardente todas as aspirações e todas as revelações sobre-humanas. A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres e extingue as misérias sociais.”

 Os instintos são a germinação e os embriões dos sentimentos.
 Prossegue Fénelon em O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 9:

 “O amor é de essência divina. Desde o mais elevado até o mais humilde, todos vós possuís, no fundo do coração, a centelha desse fogo sagrado. Esse germe se desenvolve e cresce com a moralidade e com a inteligência e, embora freqüentemente comprimido pelo egoísmo, é a fonte das santas e doces virtudes que constituem as afeições sinceras e duradouras e que vos ajuda a transpor a rota escarpada e árida da existência humana e a felicidade durante a vida terrena. Os mais rebeldes e os mais viciosos deverão reformar-se quando presenciarem os benefícios produzidos pela prática deste princípio: “Não façais aos outros o que não quereis que os outros vos façam, mas fazei, pelo contrário, todo o bem que puderdes.” 

 Léon Denis disserta doce e sinceramente sobre o amor:

  “O amor é uma força inexaurível, renova-se sem cessar e enriquece, ao mesmo tempo, aquele que dá e aquele que recebe. É pelo amor, sol das almas, que Deus, mais eficazmente, atua no mundo.”

 Essa passagem evangélica ficou conhecida como a famosa “Lei de ouro”, consubstanciada em três tipos de amor inseparáveis: o amor a Deus, o amor ao próximo e o amor a nós mesmos.

Amar a Deus de todo o coração, de toda nossa alma e de todo o nosso entendimento está expresso no dever que cada um de nós, seus filhos, temos: o de amá-lo, com toda força de nosso espírito. Deus é nosso Pai de bondade e sabedoria. A quem tudo devemos e Ele quer sempre a nossa felicidade. Infelizmente, na fase evolutiva em que vivemos, não podemos entendê-lo em sua plenitude, entretanto podemos estar certos de que tudo o que nos acontece, absolutamente tudo, seja uma injustiça, uma ingratidão, uma traição ou uma maldade, tem sua razão de ser. Ele é bom e justo também. Aliás, é o único Ser que sabe equilibrar bondade e justiça com precisão absoluta, porque é perfeito.

Amar a Deus não é amar um velhinho com expressão venerável, sentado numa nuvem, como muitas vezes O encontramos nas abóbadas de muitos templos religiosos. Amar a Deus é fazer a Sua vontade que é a de que nos amemos uns aos outros como Jesus nos amou.

O apóstolo João diz mesmo que: “Se alguém disser: amo a deus e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê”.2
  
Portanto, é impossível amar a Deus sem amarmos nosso irmão. O próximo é a ponte que nos liga à divindade. Deus é nosso Pai amoroso, no entanto, na fase evolutiva em que nos situamos, não podemos compreendê-lo em sua plenitude. Como entender um Ser que é muito mais que o infinito, que não tem início nem fim?

Amar a Deus é “amar nosso próximo como a nós mesmos”, e nessa “Lei de ouro” e divina está contida toda a lei e os profetas.

Os dez mandamentos entregues a Moisés no Monte Sinai, podem se resumir em um só: o grande mandamento do amor.

Quem ama ao próximo não mata, não furta, não trai, não adultera e nem pratica o mal, pois amar ao próximo é fazer aos outros o que gostaríamos de que os outros nos fizessem. O amor ao próximo está contido na lei de Deus porque, sendo ela todo amor e justiça, o nosso Pai, amando igualmente a todos, jamais poderá permitir que cheguemos até Ele sem passar pelo nosso próximo. Temos aqui a fraternidade aplicada, pois, se não queremos o mal para nós, igualmente não o devemos querer para o nosso próximo.

Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, diz: “Se o amor ao próximo é o princípio da caridade, amar aos inimigos é a sua aplicação sublime, porque essa virtude é uma das maiores vitórias alcançadas sobre o egoísmo e o orgulho.”
  
Em um momento inspirado do Sermão da Montanha, Jesus disse: “Ouviste o que foi dito: amarás o teu próximo e odiarás teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem e caluniam.”
  
É lógico que não se pode ter pelo inimigo a ternura que se tem para com um irmão ou amigo.

Amar aos inimigos é não ter contra eles, ódio, rancor ou desejo de vingança. É perdoar-lhes, sem segundas intenções e incondicionalmente, o mal que nos fazem; é não opor nenhum obstáculo à reconciliação. É desejar-lhes o bem em lugar do mal.

Embora a ênfase seja acerca de amar a Deus e ao próximo, a pessoa deve amar a si mesma. Amar a nós mesmos não quer dizer egoísmo recalcitrante, pois o amor não pode ser dividido, e o verdadeiro eu não pode ser separado de Deus ou do próximo. Ou a pessoa ama a Deus, ao próximo e a si mesma, ou não ama a nenhum deles. O povo judeu já admitia essas verdades no Velho Testamento quando recitava o “Shema” que continha essa “Lei de ouro”.

O amor a nós mesmos manifesta-se de três formas: espiritual, intelectual e materialmente. Espiritualmente, pela nossa transformação moral, pela mudança e renovação de atitudes.

O espiritismo propõe ao indivíduo um processo de evolução espiritual gradativa, mas constante. Nossa doutrina não é uma doutrina salvacionista, não salvaremos pela prática de rituais. O progresso depende de nossa luta íntima para superar o homem velho, cheio de vícios e defeitos para que possa surgir o homem novo, renovado pelo seu esforço, em domar seus defeitos e suas más inclinações.

Qualquer ser humano pode mudar de vida, mudando de atitude.

Intelectualmente, através da aquisição de conhecimentos, colaborando assim na obra de Deus, pois o homem que sabe está apto a elucidar seus semelhantes. Por isso não foi sem propósito que nosso insigne Codificador começou a sua obra com a exortação do: Amai-vos e instruí-vos.”

Materialmente, cuidando com esmero e carinho do corpo que é o templo sagrado do espírito, cuidando dos bens, da família que é o desdobramento ou a multiplicação do nosso próprio “eu”. O corpo por mais doente e disforme que seja, é uma bênção para o espírito cheio de culpas, que através dele se redime. Não fora assim, Paulo não teria dito: “Acaso não sabeis que vosso corpo é um santuário que está em nós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Agora, pois glorificai a Deus no vosso corpo”.3

Tratemos, nosso corpo com zelo, amor e carinho. Saúde é harmonia aliada às leis da natureza. Doença é desarmonia. As moléstias correm por conta do abuso que o organismo faz das leis da natureza. Abuso é moléstia, uso é saúde.

Quando nosso espírito está perfeitamente equilibrado, não há enfermidade que nos ataque. Cuidemos da mente para que nossa saúde se reflita no corpo.

Existe um consenso, entre todas as escolas da psicologia moderna, de que a auto-estima é o elemento mais crítico a afetar o desempenho humano.

Gostar de nós mesmos depende basicamente do que eu penso de mim mesmo. Auto-estima é como uma pessoa se sente a respeito de si mesma.

Na verdade, os indivíduos que têm aquilo que chamamos de complexo de superioridade são agressivos e dominadores, e aqueles que têm o que chamamos de complexo de inferioridade são inseguros e defensivos, estando em extremidades opostas da mesma aflição, isto é: baixa auto-estima. Ambos os tipos têm um complexo de “auto-imagem”, uma vez que não gostam muito de si mesmos.4

Outro aspecto da auto-estima e do autogostar, diz respeito às relações interpessoais. A maneira pela qual você se relaciona com os outros é diretamente afetada pela forma como se sente a seu próprio respeito. O resultado é que você é incapaz de amar ou gostar de outra pessoa mais do que ama ou gosta de si mesmo. Isso é apenas lógico, uma vez que você não pode esperar dar a alguém uma coisa que não tem.

Você também não pode permitir que qualquer outra pessoa o ame ou goste de você mais do que você mesmo. Em outras palavras, você não pode aceitar de outra pessoa tenha uma opinião a seu respeito que seja mais alta que aquela que você já tem e na qual acredita. Isso também é apenas lógico, uma vez que, um geral você dá mais valor às suas próprias opiniões do que as opiniões alheias.

Assim, à medida da sua auto-estima, o grau até o qual você gosta de si mesmo, determina tanto a qualidade como a extensão de todas as suas relações interpessoais. Você somente é capaz de manter boas relações com os outros e permitir que eles as tenham com você, na extensão em que gosta realmente de si mesmo.

A baixa auto-estima tem um efeito profundamente negativo sobre a personalidade e o comportamento humano. A maioria dos psicólogos acredita que a baixa auto-estima, mais do que qualquer outro fator isolado, é a causa da maior parte dos distúrbios psicológicos, a razão principal da epidemia de fracassos humanos e da resultante miséria em nossa atual sociedade. Testemunhos disso são o aumento no abuso de drogas e álcool, na criminalidade, na gravidez de adolescente, na violência doméstica, estupros, promiscuidade e abuso sexual de crianças. As pessoas que não aceitam a si mesmas como seres humanos valiosos, que têm baixas opiniões de si sempre manifestam suas frustrações e inseguranças nas interação com os outros pessoas.5

  • 1 Mt 22,35-40
  • 2. Jo 4,20
  • 3. 1Cor 19,20
  • 4. STAPLES, W. D. Pense como um vencedor. 1994
  • 5 STAPLES, W. D. Pense como um vencedor. 1994

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