16 de mai. de 2015

EXTREMISMO RELIGIOSO. FANATISMO E IGNORÂNCIA!


Intolerância religiosa, eis aí um gravíssimo nódulo cancerígeno do mundo contemporâneo. Esta semana, ao chegar a Israel, o papa Francisco expressou sua “profunda dor” pelo atentado contra o Museu Judaico de Bruxelas, que causou a morte de quatro pessoas, entre elas dois israelenses. Historicamente, os judeus tornaram-se alvo preferencial de perseguição religiosa ainda antes do fim do Império Romano, mas esta recrudesceu durante a Idade Média. A perseguição religiosa (ao judaísmo) atingiu níveis nunca vistos antes na História durante o século XX, quando os nazistas perseguiram milhões de judeus e outras etnias indesejadas pelo regime.
O fanatismo religioso é marcado pela aversão a diferenças de crenças, resultando em perseguição à liberdade de credo e pluralismo religioso. Ódios que podem levar a prisões ilegais, espancamentos, sequestros, torturas, execução injustificada, negação de benefícios e de direitos e liberdades civis. Como ocorre na Nigéria, onde a maioria das pessoas do norte é muçulmana, “mas nem todas interpretam o Corão da mesma forma que o grupo extremista nigeriano Boko Haram. Em face desse radicalismo, muitos muçulmanos estão sendo convertidos ao Cristianismo.
Por causa da conversão dos muçulmanos ao Cristianismo, o Boko Haram começou atacar as igrejas cristãs porque estavam perdendo seguidores. Recentemente, milhares de pessoas foram assassinadas pelo grupo extremista. Sua ação mais notória ocorreu em 14 de abril de 2014, quando sequestrou 223 meninas e adolescentes no nordeste da Nigéria, onde o grupo é baseado. Nos últimos dois meses, o Boko Haram intensificou a sua campanha para transformar a Nigéria num estado islâmico que tem como principais alvos os civis.
Estudiosos afirmam que a rápida expansão do cristianismo e do Islã na África se deve, em grande parte, ao sentido religioso, ao respeito e à tolerância inerentes à cultura tradicional. Os africanos descobriram que essas novas religiões provenientes do exterior continham muitos aspectos das crenças fundamentais (Ser Supremo, culto aos mortos/antepassados, espíritos etc.) e dos valores (centralidade da pessoa, importância da comunidade, a caridade e o perdão) de sua própria experiência religiosa. Mas nem todos os convertidos interpretam dessa forma, e utilizam a crença para busca do poder político.

A violência entre grupos religiosos na República Centro-Africana atingiu recentemente um novo extremo, com relatos de canibalismo na capital do país, Bangui. Aí está ocorrendo intensa violência entre milícias cristãs e muçulmanas. O país de maioria cristã era governado por um presidente muçulmano que se elegeu com ajuda de milícias muçulmanas. Ele prometeu desmantelar as gangues que o ajudaram, mas não conseguiu. Em reação, cristãos montaram milícias próprias, e o país se afundou em um conflito religioso armado.
Atualmente, cerca de 80% dos conflitos armados que existem por todo mundo são decorrentes de questões religiosas. Em todo mundo estamos vendo o desenrolar de guerras e mais guerras em nome de algo que eles chamam de “fé”. Mas entenda a palavra “fé” que eles usam como: ambição, fanatismo, incredulidade, loucura ou falta da verdadeira FÉ!
Atentados suicidas têm matado muitas pessoas em Bagdad. Durante o regime de Saddam Hussein, os sunitas dominavam os aparelhos do Estado e das Forças Armadas, e os xiitas eram reprimidos. Quando o regime caiu, os xiitas assumiram o poder e o país entrou em colapso, num estado de quase guerra civil, com grupos armados sunitas e xiitas guerreando entre si.
A França foi o país que mais contribuiu para o aumento dos índices de intolerância religiosa na Europa, não só por causa das proibições em vigor contra vestuário religioso em espaços públicos, mas também devido ao assassinato, em 2012, de um rabino e de três crianças judias. Com o aumento da diversidade religiosa no Brasil, verifica-se um crescimento da intolerância religiosa, tendo sido criado até mesmo o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa [21 de janeiro], por meio da Lei nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007. Vários países ao redor do mundo incluíram cláusulas nas suas constituições proibindo expressamente a promoção ou prática de certos atos de intolerância religiosa ou de favorecimento religioso dentro das suas fronteiras.
A intolerância religiosa aumentou de modo geral durante o ano de 2012 em todos os continentes, exceto nas Américas. Temos a convicção de que, por trás dos novos fanatismos religiosos – católicos, evangélicos, espíritas, muçulmanos etc. – está o pendor místico do religioso que leva a uma cristalização da fé, desembocando numa falsa doutrina das virtudes. A base dos fanatismos é o medo – medo da liberdade, medo da vida, medo da cultura; medo, medo, medo, enfim, medo do mundo, que é encarado de um modo suspeito e hostil.
A Doutrina Espírita nos faz entender quem somos efetivamente, quem realmente é o ser humano em sua vocação e circunstância, visão que possibilita, por sua vez, a compreensão e a vivência de uma vida social moralmente correta a partir da qual podemos julgar com retidão se determinadas atitudes e ideias propostas por grupos religiosos e/ou políticos correspondem àquilo que o próprio Criador espera de nós.
Deus nos quer abertos para a realidade, para a beleza das coisas criadas, para a ventura transcendente da liberdade humana de buscar esse ou aquele caminho para Deus, e não acabrunhados pelo medo e, em última análise, cegos pelo fanatismo. Talvez com aquela cegueira suprema, apontada por Jesus Cristo: “Se fôsseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Vemos; por isso o vosso pecado permanece”.
Oremos pelo mundo!
Jorge Hessen

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